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3. MÉTODO

3.2. ANÁLISE DE DADOS

Para alcançar o objetivo proposto neste trabalho, a análise dos dados coletados nesta pesquisa será realizada a partir das lentes teóricas de Bakhtin.

3 Um processo incremental é aquele que envolve a integração contínua da arquitetura do sistema

para a produção de suas versões, de maneira que cada nova versão incorpora os aprimoramentos incrementais em relação às demais. (Booch, Rumbaugh, Jacobson, 2005).

As análises dos diálogos gravados foram realizadas com base na metodologia da Análise da Conversação (AC). A Análise da Conversação é uma abordagem genérica utilizada para a análise da interação social, com base na organização estrutural das conversas, conforme explicam Heritage e Atkinson:

O objetivo central das pesquisas em análise de conversação é a descrição e explicação das competências comuns que os falantes usam para participar de interações inteligíveis e socialmente organizadas. Em sua forma mais básica, um de seus objetivos é descrever os procedimentos pelos quais os participantes se utilizam para descrever seus próprios comportamentos e aprender a lidar com o comportamento dos outros.

(HERITAGE e ATKINSON, 1984, p. 1).

Conforme esclarecem Silva, Andrade e Ostermann (2009), os dados coletados para as pesquisas realizadas sob a abordagem da Análise da Conversação, não devem ser advindos de um roteiro prévio com entrevistas ou questionários. Ao contrário, os dados devem ser coletados em ambientes naturais, do dia-a-dia, e a forma mais importante de obter esses dados é por meio de gravações de áudio das conversas dos participantes da pesquisa.

A transcrição das conversas também é requisito essencial da metodologia da AC. Desta forma, garante-se que outros pesquisadores terão condições de fazer suas próprias análises sobre o material coletado para a replicação da pesquisa. Além disso, a publicação dos dados coletados nas gravações possibilita que outras pesquisas sejam realizadas sob diferentes abordagens.

Na AC, essa sequência interacional é normativamente organizada, em que os falantes podem influenciar, ou mesmo restringir a conduta dos seus coparticipantes, e é essa organização que permite aos analistas da conversação uma maior compreensão empírica. (GOODWIN e HERITAGE, 1990).

Tendo em vista que cada conversação possui suas particularidades, que mudam em razão das circunstâncias e do contexto a que está inserida, a AC apresenta um modelo para a conversação baseado no sistema de tomada de turno, que emprega técnicas com base na regra “fala um de cada vez”. (MARCUSCHI, 1999).

A regra “fala um de cada vez” leva em consideração que, de uma maneira geral, as pessoas não falam todas de uma vez. Normalmente, uma espera a outra acabar de falar para então começar a falar. Da mesma maneira, em uma conversação não é somente uma pessoa que fala durante todo o tempo, os participantes revezam as falas. Desta forma, a conversação se mantém organizada de forma disciplinada.

Entretanto, pode haver, em algumas conversas, as falas simultâneas e sobreposições. Para estes casos a AC emprega técnicas de tomada de turno, em que estes momentos são descritos com sinais indicadores de tal ocorrência. Ver Apêndice I com os sinais utilizados na transcrição de conversa com base no método de Análise de Conversação.

A distribuição da conversação em tomada de turnos é um mecanismo chave utilizado para a organização estrutural da conversação, de forma a facilitar o trabalho de quem irá realizar a análise da conversação em questão.

Cabe esclarecer que esta não é uma pesquisa de análise de conteúdo, uma vez, a análise de conteúdo trabalha com operações estatísticas, o que não faz parte desta pesquisa, que possui caráter estritamente qualitativo.

Bardin (2009) apud Silva e Assis (2010), explicam a análise de conteúdo: De acordo com Bardin (2009), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de investigação que, através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações. As categorias que serão utilizadas como unidades de análise são submetidas a operações estatísticas simples ou complexas dependendo do caso. (SILVA e ASSIS, 2010, p. 5).

Um dos motivos que justifica a utilização da AC neste trabalho é a convergência de ideias e teorias que a AC mantém com Bakhtin, não só no que diz respeito aos enunciados, mas também, e principalmente, em relação à visão social que ambos possuem sobre a interação entre os indivíduos.

Assim como é para Bakhtin, na AC as sentenças, ou enunciados, não devem ser analisados isoladamente, e sim dentro do contexto que os cercam. Segundo

Goodwin e Heritage (1990), em contraste com os processos que envolvem a análise isolada de sentenças, a AC tem insistido, desde a sua concepção, que as sentenças de interação nunca serão tratadas isoladamente, pois sentenças isoladas não são consideradas artefatos autossuficientes. Em vez disso, as sentenças (as entidades abstratas que são os objetos de investigação linguística) e declarações (o fluxo da fala produzido por participante da conversa) são entendidos como formas de ação situadas dentro de contextos específicos e projetadas com atenção específica para estes contextos. Para os participantes, e, consequentemente, para os analistas da conversação, o ponto de partida para a análise de qualquer enunciado é a conversa ou outra ação que emerge.

Neste sentido, Bakhtin defende que a linguagem é um fenômeno complexo que não pode ser devidamente estudado e avaliado se for delimitado e isolado dos fatores sociais que o cerca. Bakhtin coloca a contextualização do meio social como condição essencial para a compreensão da linguagem, pois todos os indivíduos que fazem uso da linguagem possuem um “horizonte social”, que os influencia diretamente na escolha das palavras que irão usar para exprimir seus pensamentos, interagindo e comunicando-se uns com os outros. (BAKHTIN, 2006)

Da mesma forma que em Bakhtin encontramos o conceito de enunciado, em que todo enunciado é considerado uma réplica, ou seja, é a resposta de outro enunciado, a AC possui o conceito de sequência interacional, que tem como premissa o reconhecimento de que cada ação de conversação encarna um "aqui e agora", cuja característica central é a regra de que a ação atual, como por exemplo, uma saudação ou uma pergunta, exige a produção de uma segunda ação que seja recíproca na primeira oportunidade possível após a conclusão da primeira. Desta maneira, os participantes da conversa poderão assegurar uns aos outros uma participação significativa em um contexto social de forma colaborativa e sustentada no mundo. (GOODWIN e HERITAGE, 1990).

As análises serão realizadas com base na metodologia adotada no trabalho de doutorado de Flávia Peres, apresentado em 2007 sob o título: “Diálogo e autoria: do desenvolvimento ao uso de sistemas de informação”.

Por meio de uma investigação qualitativa e interpretativa, Peres (2007) realizou uma investigação na enorme rede social que conecta desenvolvedores e usuários por meio de métodos e recursos da videografia e da Análise Interacional, utilizados para registros e análises das atividades de desenvolvedores de software e as atividades de uso dos softwares desenvolvidos na primeira fase das análises. (PERES, 2007, p. 6).

O método utilizado por Peres (2007) consiste no uso do jogo dos pronomes como recursos linguísticos, relacionando-os sempre ao contexto espaço-temporal de sua ocorrência e fazendo articulações dialógicas entre os enunciados dos participantes do diálogo. Desta forma, atentando para a relação entre as vozes de eu e tu no discurso, Peres (2007) evidencia a presença de um outro social, um outro-usuário e um outro-desenvolvedor.

Assim, para compreender a relação dialógica entre usuários e desenvolvedores, Peres (2007) identificou nos diálogos algumas marcas linguístico- discursivas, como os pronomes e categorias de pessoa eu e tu, dêiticos e modos dos verbos, utilizando recursos da linguística apresentado por vários autores como Benveniste, Possenti, Harré e Mühlhäusler, Granger, Bakhtin, Vygotsky.

Desta forma, e convergente com o trabalho de Peres (2007), para realização desta pesquisa foram identificadas marcas linguístico-discursivas, como pronomes, categorias de pessoa eu e tu e modos dos verbos nos diálogos analisados, que permitirão a exploração da relação de alteridade nos diálogos gravados.

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