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Tendo em vista que os diálogos analisados ocorreram no âmbito de uma organização, são elencados abaixo alguns pressupostos para a promoção da compreensão nos diálogos entre gestores de negócio e engenheiros de requisitos, com base em algumas orientações dadas por autores que abordam o diálogo nas organizações.

Como descrito na Introdução deste trabalho, a atividade de engenharia de requisitos é uma das mais críticas no processo de desenvolvimento de software, e a principal dificuldade é a compreensão entre os participantes desta atividade.

Ciente da negação de Bakhtin ao uso de fórmulas nos enunciados, cabe ressaltar que os pressupostos apresentados a seguir não são fórmulas que devem ser seguidas rigorosamente, pois cada relação entre gestores de negócio e engenheiros de requisitos acontece de forma diferente. São pressupostos que foram criados, principalmente, levando em consideração que os diálogos na atividade de engenharia de requisitos acontecem, geralmente, no âmbito das organizações.

Além disso, os próprios autores que abordam o diálogo nas organizações enfatizam que o diálogo não deve ser visto como uma fórmula, um conjunto de passos ou ingredientes, pois, deste modo, a criação de pensamentos inovadores e o compartilhamento de significados ficariam limitados. No entanto, a definição de objetivos no diálogo ajudará a direcionar a participação das pessoas, para que todos obtenham sucesso no diálogo.

5.1. RECONHECIMENTO E RESPEITO ÀS DIFERENÇAS DE CONTEXTOS SOCIAIS

O primeiro pressuposto diz respeito ao reconhecimento das diferenças entre os participantes do diálogo na atividade de engenharia de requisitos. É preciso, antes de tudo, que os participantes estejam cientes de que fazem parte de contextos sociais diferentes, com trabalhos e visões diferenciadas.

É preciso que os gestores de negócio tenham consciência de que os engenheiros de requisitos não conhecem do seu dia a dia, portanto, nem sempre possuem conhecimento sobre determinados termos que são utilizados apenas no meio de trabalho dos gestores de negócio. Da mesma forma, os engenheiros de requisitos não devem utilizar termos técnicos que são desconhecidos pelos gestores de negócio.

No entanto, no diálogo, ressalvadas as diferenças dos meios sociais a que pertencem, os participantes do diálogo devem assumir a igualdade no sentido hierárquico. Ou seja, os indivíduos não devem conter suas participações por estarem interagindo com outros indivíduos de nível hierárquico superior ou inferior, seja engenheiro de requisitos, ou gestor de negócio.

5.2. ABERTURA PARA COMPREENDER A VISÃO DO OUTRO

De acordo com Bokeno (2007), o diálogo deve começar com uma premissa fundamental: a de que há algo que não sabemos e que podemos aprender juntos uns com os outros. E para aprender e compreender sobre o assunto que está sendo tratado no diálogo, os autores que abordam o diálogo nas organizações defendem que os indivíduos devem se manter abertos para novas visões e novas possibilidades.

Desta forma, o que se sugere é que, para que haja compreensão, os engenheiros de requisitos e gestores de negócio se mantenham abertos para compreender a visão um do outro, mas não para aceitá-la sem questionamentos, uma vez que os questionamentos são imprescindíveis para um maior entendimento entre os indivíduos nos diálogos da ER.

Na atividade de engenharia de requisitos, questionar é uma tarefa essencial. Por isso, os engenheiros de requisitos devem reconhecer quando não compreendeu o assunto, e, por isso, não devem se intimidar em fazer tantos questionamentos quantos forem necessários ate atingir a compreensão necessária sobre o problema exposto pelo gestor de negócio.

5.3. COLOCAR-SE NO LUGAR DO OUTRO E RETORNAR AO SEU EU

Bakhtin destaca que, para que se possa compreender completamente a visão do outro, é preciso se colocar no lugar do outro de maneira verdadeira e concreta.

No entanto, e conforme exposto anteriormente, Bakhtin defende que a compreensão só pode ser alcançada quando, após colocarmos no lugar do outro, retornamos aos nossos lugares, ao nosso próprio eu, com nossa própria visão de mundo.

Desta forma, o que se recomenda é que engenheiros de requisitos e gestores de negócio devem colocar-se no lugar do outro. Mas, diferentemente do que defendem os autores que abordam o diálogo nas organizações, engenheiros de requisitos e gestores de negócio não devem manter-se o tempo inteiro no lugar um do outro para aceitar inteiramente a posição do outro. Recomenda-se que, após colocar-se no lugar do outro, engenheiros de requisitos e gestores de negócio devem imediatamente retomar o seu eu, para que possa alcançar a compreensão em sua plenitude.

5.4. OUVIR EFETIVAMENTE E EVITAR FALAS SOBREPOSTAS

Como explica Henricks (1998), é comum que as pessoas, ao ouvir o que as outras estão dizendo, façam julgamentos e definam respostas antes do término da fala do locutor. Este é um hábito que pode comprometer a compreensão do diálogo, por isso, deve ser evitado.

Os participantes devem ouvir efetivamente, de modo a permitir que o locutor conclua seus enunciados, evitando falas sobrepostas. Como explica Henricks (1998), o diálogo exige silêncios mais longos, para que seja dado tempo suficiente para que a informação seja absorvida.

Assim, os indivíduos devem evitar a sobreposição de falas, ao invés disso, tanto engenheiros de requisitos, quanto gestores de negócio devem ouvir o

enunciado um do outro do início ao fim, sem interrupções ou sobreposições de falas.

5.5. PRESENÇA DE UM FACILITADOR QUE MANTENHA O FOCO DAS REUNIÕES

Os autores que abordam o diálogo nas organizações recomendam a presença de “facilitadores” do diálogo. No caso da atividade de engenharia de requisitos, o que se sugere é que tenha sempre uma pessoa responsável por manter o foco da reunião, impedindo que os objetivos que foram planejados se percam ou não sejam atingidos. No entanto, o fluxo livre de ideias não deve ser desmotivado.

Este papel pode ser exercido por qualquer um dos participantes do diálogo, tanto gestor de negócio quanto engenheiro de requisitos. Além disso, a responsabilidade e a liderança também podem ser compartilhadas entre alguns participantes.

5.6. COMPARTILHAMENTO DE EXPERIÊNCIAS

Engenheiros de requisitos e gestores de negócio devem compartilhar suas experiências vividas no passado, pois, o compartilhamento de experiências concretas são mais fácil de serem compreendidas do que os conceitos abstratos.

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