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Em concordância com a abordagem qualitativa, que foi a proposta neste estudo, e tendo em vista as questões de pesquisa levantadas, considerou-se adequado adotar-se a Análise de Conteúdo como técnica de análise de dados. Muito utilizada em pesquisas qualitativas, inclusive no Brasil, a Análise de Conteúdo ganhou destaque a partir dos trabalhos de Laurence Bardin, mesmo referencial adotado na presente pesquisa. De acordo com Bardin (2004, p. 37), a Análise de Conteúdo se constitui em:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Isto significa que várias técnicas são utilizadas de forma sistemática, para analisar e descrever o conteúdo das comunicações (geralmente textuais), permitindo inferências sobre os dados coletados. Essa sistematização característica da Análise de Conteúdo (AC) possibilita a produção de respostas aos questionamentos de pesquisa por meio de algumas etapas que a compõe: 1) pré-análise, 2) exploração do material, e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2004).

A fase 1 do procedimento de AC, pré-análise, consiste na organização do material, e é composta por algumas atividades:

(a) leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer o texto; (b) escolha dos documentos, que consiste na demarcação do que será analisado; (c) formulação das hipóteses e dos objetivos; (d) referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que envolve a determinação de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise (BARDIN, 2006 apud MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011, p. 735).

A fase de exploração do material, fase 2 do procedimento de análise, consiste na codificação do material, com base na identificação das unidades de registro (recortes do texto), e na definição das regras de contagem, visando à categorização do mesmo (BARDIN, 2006 apud SILVA; FOSSÁ, 2013). Por codificação entende-se a transformação, por recorte, agregação e enumeração, dos dados brutos do texto,

permitindo alcançar uma representação do conteúdo ou da sua expressão (BARDIN, 2004). Assim, todo material coletado é recortado em unidades de registro que são agrupadas tematicamente dando origem a uma primeira categorização (categorias iniciais), que por sua vez são agrupadas gerando as categorias intermediárias, e estas do mesmo modo, gerando as categorias finais, possibilitando a realização de inferências. A categorização consiste na:

classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 2004, p. 111).

A elaboração de categorias deve seguir alguns princípios, como exclusão mútua (cada elemento não pode pertencer a mais de uma categoria), homogeneidade (a mesma classificação deve ocorrer para todas as categorias), pertinência (as categorias devem estar adequadas ao material de análise), objetividade e fidelidade (as categorias devem ser claramente definidas) e produtividade (as categorias devem produzir resultados que permitam fazer inferências, novas hipóteses e obter dados exatos) (BARDIN, 2004).

A terceira fase envolve o tratamento dos resultados brutos, propor inferências e interpretações. Nesta fase faz-se a análise das categorias, identificando semelhanças e diferenças, resultando em interpretações inferenciais (BARDIN, 2006 apud SILVA; FOSSÁ, 2013; MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011). A partir daí é possível fazer análises estatísticas que sintetizam e evidenciam as informações fornecidas pela análise do conteúdo.

No caso da presente pesquisa, o documento analisado foi o conjunto das entrevistas gravadas em áudio, que foram transcritas obtendo-se um registro em forma de texto a partir de sua digitação. Após a leitura de todo o material (leitura flutuante) procedeu-se à codificação do mesmo. Cada entrevista recebeu o código P (de participante) e um número seguido a ele, que variou de 1 a 2019.

Para realização da codificação dos dados foi utilizado o Atlas TI 8, um software que se caracteriza por um conjunto de ferramentas que auxilia o pesquisador na análise qualitativa de dados, podendo estes ser em formato de textos, gráficos, áudios e

19 As entrevistas foram numeradas na sequência em que foram feitas. No entanto, como houve a exclusão de duas entrevistas, a numeração do material de análise ultrapassa o número 18.

vídeos. Primeiramente foi feito upload para o sistema de todas as entrevistas realizadas, com exceção das excluídas pelos motivos já apontados anteriormente. Em seguida, criaram-se no programa os códigos que seriam utilizados para posterior categorização dos dados. Os itens de análise, divididos em três grandes aspectos, e seus respectivos códigos são apresentados no Quadro 4 abaixo:

QUADRO 4 - ITENS DE ANÁLISE E SEUS RESPECTIVOS CÓDIGOS

Alteração da disposição 1) Ocorrência da alteração da disposição 1a – Sim 1b – Não 1c – Não identificado 2) Direção da alteração da disposição 2a – Aumento 2b – Diminuição 2c – Ambivalência 2d – Inconsistência Características da atividade 3) Grupo ao qual a atividade pertence 3a – Disciplinas 3b – Estágio curricular 3c – TCC 3d – Atividades complementares 3e – Atividades extracurriculares 3f – Fatores externos 3g – Não identificado 4) Componentes da atividade 4a – Participantes 4b – Tarefas 4c – Conteúdo 4d – Contexto O papel da instituição na alteração das disposições

5) Intencionalidade 5a – Sim 5b – Não 6) Desenvolvimento da disposição 6a – Sim 6b – Não Fonte: o autor (2017)

Na sequência, o conteúdo das falas de cada um dos entrevistados foi analisado e categorizado. Este procedimento foi feito selecionando-se o conteúdo da fala e, pelo uso do mouse, arrastando-o até a categoria correspondente. Com isto, o conteúdo foi sendo agrupado nas categorias, ou seja, categorizado, criando uma relação entre eles. Em relação ao item 4, as categorias foram criadas a posteriori a partir do relato dos participantes. A criação destas categorias levou em consideração os elementos mais específicos das atividades que se mostraram determinantes na produção de alteração das disposições de pensamento crítico.

Ao realizar a categorização cada expressão selecionada foi também codificada para identificação da disposição a qual se referia. A codificação seguiu a seguinte estrutura: as disposições de pensamento crítico receberam numeral romano de I a VII, respeitando sua sequência de apresentação; logo após era identificado o participante pela letra P e do seu número correspondente; por fim, foi inserido o código At para denominação da atividade seguido de um número, que corresponde à ordem de identificação da atividade pelo estudante. Assim, a cada expressão selecionada precedia um código como este: I_P7_At1, por exemplo, no qual se identifica a disposição trabalhada (I), o participante (P7) e a atividade mencionada pelo estudante (At1).

Na análise qualitativa dos dados recorreu-se às falas dos estudantes para ilustrar os componentes da atividade que se mostraram responsáveis pelas alterações nas disposições de pensamento crítico. Na descrição dos resultados são apresentados os itens de análise e sua relação com as disposições de pensamento crítico. Apenas para o último aspecto analisado – o papel da instituição na alteração das disposições – não foi possível fazer uma análise dos itens para cada disposição, pois este aspecto levou em consideração a disposição de pensamento crítico de modo geral.

Para o tratamento quantitativo dos resultados foi analisada a frequência de ocorrência de alteração em cada disposição e em função dos estudantes; a frequência de respostas em relação à direção da alteração para cada disposição e em função dos estudantes; a frequência de atividades que tiveram impacto sobre as disposições e em função dos estudantes; o número de componentes que tiveram impacto sobre cada disposição e sua relação com o conjunto de atividades; e o total de atividades e componentes que tiveram impacto sobre as disposições de pensamento crítico.

6 RESULTADOS

Tendo como objetivo investigar o impacto das experiências de formação dos estudantes de Engenharia sobre as disposições de pensamento crítico, o presente estudo buscou entender, a partir do relato dos estudantes concluintes, as variáveis que interferem na alteração desta dimensão do pensamento crítico durante a graduação.

Nos resultados são apresentados dados referentes a cada uma das disposições separadamente, e da síntese de todas as disposições de pensamento crítico e organizados com a seguinte estrutura: 1) Ocorrência de alteração das disposições de pensamento crítico; 2) Direção da alteração das disposições de pensamento crítico; 3) Experiências de formação que tiveram impacto sobre a alteração das disposições de pensamento crítico; 4) Características das atividades que tiveram impacto sobre a alteração das disposições de pensamento crítico; e 5) O papel da instituição na alteração das disposições de pensamento crítico.