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Anteriormente à coleta de dados foi realizado contato com a direção da instituição e feita uma reunião com os diretores de área a fim de apresentar o projeto, seus objetivos, importância e procedimentos que seriam implantados para a realização da pesquisa. A partir da autorização concedida, os estudantes concluintes dos cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Engenharia de Computação foram convidados a participar da pesquisa. A coleta de dados ocorreu durante os meses de março e abril de 2017.

Dentre a população de estudantes concluintes dos três referidos cursos, os participantes foram selecionados de forma aleatória, por meio de um sorteio. Primeiramente foram listados os estudantes do décimo período, totalizando 232 (duzentos e trinta e dois) alunos. A cada um deles foi atribuído um número, ficando os estudantes do curso de Engenharia de Computação com os números de 1 a 52; Engenharia Elétrica, de 53 a 148; e

Engenharia Mecânica, de 149 a 232. A partir do site “sorteador.com.br” foram realizados três sorteios durante o mês de março e encaminhado e-mail aos estudantes, o qual aproximadamente 26% respondeu afirmativamente ao convite, número que foi suficiente e cumpriu o critério estabelecido a priori, de seis estudantes por curso. O convite foi redigido utilizando-se uma linguagem mais coloquial com o propósito de atrair a atenção dos estudantes e, assim, obter maior adesão à pesquisa. As entrevistas foram agendadas conforme disponibilidade do estudante e do espaço reservado na instituição, que se caracteriza por uma sala de reuniões que é utilizada pelo profissional de psicologia como sala de atendimento a estudantes e professores, sendo um espaço reservado, com boa iluminação e acomodação, mostrando-se adequado para a realização das entrevistas. Os encontros aconteceram de forma individual e foram gravados em áudio após o consentimento do participante.

No momento da entrevista, primeiramente foi estabelecido um rapport, sendo feita a apresentação da pesquisadora, do projeto e dos procedimentos que seriam adotados para a realização da entrevista, incluindo a autorização do participante para gravação em áudio de seu relato. Em seguida foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ao participante (apêndice B), no qual estavam descritos os objetivos do estudo, esclarecimento acerca da participação voluntária na pesquisa, do sigilo quanto aos dados coletados e da divulgação dos resultados apenas para fins científicos, de acordo com as diretrizes e normas dispostas na Resolução CNS 466/12. Todas as dúvidas em relação ao documento e aos procedimentos de pesquisa foram esclarecidas. O preenchimento e assinatura do TCLE, que confirma a participação do estudante na pesquisa, foram feitos em duas vias, ficando uma com o participante e outra com a pesquisadora. Em seguida, os estudantes foram convidados a responder as perguntas da entrevista, relatando o impacto de suas experiências de formação universitária sobre as disposições de pensamento crítico.

Após o registro dos dados de caracterização do estudante foi apresentado ao mesmo uma lista contendo as atividades promovidas pela instituição, ou que a mesma reconhece como importante atividade de formação (atividades complementares), e foi solicitado ao estudante que identificasse dentre estas atividades quais foram realizadas por ele durante seu curso. Outras atividades, que não constam nas listadas previamente, foram acrescentadas pelo estudante, conforme necessidade.

Em seguida foram apresentados ao participante os componentes da disposição de pensamento crítico, um a um, em cartões impressos. As disposições de pensamento crítico são as mesmas do teste CCTDI e foram elaboradas com base na definição proposta por Facione e Facione (1992) e no trabalho de Silva (2000), que utilizou os autores como referência. No

intuito de se evitar uma resposta permeada por um viés de desejabilidade social, optou-se por retirar o nome que descreve a disposição a ser analisada. Dessa forma, os estudantes receberam os cartões numerados de 1 a 7, contendo apenas a descrição das disposições de pensamento crítico, como segue:

1) é a tendência a desejar o melhor entendimento possível de qualquer situação. Pessoas com esta característica questionam fortemente, não ignoram detalhes relevantes e buscam razões e evidências mesmo que elas não suportem interesses e opiniões pessoais. O oposto é a propensão para ignorar razões verdadeiras e evidências relevantes, a fim de não ter de enfrentar ideias difíceis.

2) é a tendência a permitir que outros expressem pontos de vista com os quais podemos não concordar. Pessoas com esta característica comportam-se com tolerância frente às opiniões dos outros, sabendo que frequentemente todos nós mantemos crenças religiosas, políticas, sociais, familiares, culturais e pessoais que fazem sentido apenas a partir de nossas próprias perspectivas. O oposto é a intolerância.

3) é a tendência de antecipar consequências. Pessoas com esta tendência empenham-se em antecipar os possíveis bons e os maus resultados de situações, escolhas, propostas e planos. O oposto é ser negligente com as consequências, não estar atento para o que ocorre quando são feitas escolhas ou aceitas ideias de forma acrítica.

4) é a tendência de empenhar-se em abordar os problemas de forma disciplinada, ordenada e sistemática. A pessoa com esta característica forte, mesmo não conhecendo um determinado caminho ou não sendo hábil em usar determinada estratégia de resolução de problemas, tem o desejo e a tendência a tentar se aproximar de questões e problemas de forma organizada e ordenada. O oposto é a tendência a ser desorganizado na solução de problemas.

5) é a tendência em confiar nos seus processos de raciocínio para resolver problemas e tomar decisões. Pessoas com esta característica acreditam na solidez dos seus próprios julgamentos e conduzem os outros para a resolução racional dos problemas. O oposto é a manifestação frequente de

relutância ao uso cuidadoso da razão e da reflexão na tomada de decisões.

6) é a tendência a querer saber sobre as coisas, mesmo que elas não sejam imediatamente ou obviamente úteis no momento. A pessoa com esta característica é ansiosa para adquirir novos conhecimentos e aprender as explicações sobre as coisas, mesmo quando as aplicações desse novo conhecimento não são imediatamente aparentes. O oposto é a indiferença intelectual.

7) é a tendência a ser prudente na tomada de decisão. Uma pessoa com esta característica esforçar-se para tomar decisões adequadas, mesmo face à complexidade das questões. Compreende que alguns problemas admitem mais de uma solução, e reconhece a necessidade de se alcançar uma conclusão mesmo em momentos de ausência de conhecimento completo. O oposto é o pensar imprudente, deixar de tomar decisões adequadas, teimosamente se recusar a mudar quando fatos e evidências poderiam indicar que se está enganado, ou rever opiniões sem boas razões para fazê-lo.

Cada número corresponde a uma disposição de pensamento crítico, sendo respectivamente: 1) Busca da verdade; 2) Mente aberta; 3) Analiticidade; 4) Sistematicidade; 5) Autoconfiança no pensamento; 6) Curiosidade; 7) Maturidade cognitiva. A definição de cada disposição foi lida e explicada ao estudante e em seguida foi solicitado que indicasse, entre as atividades realizadas por ele, aquelas que ele considerava que tiveram impacto sobre a disposição analisada.

Feito isto foi solicitado que o estudante descrevesse as mudanças ocorridas, com o intuito de caracterizá-las como de tendência positiva ou negativa. Cada experiência de formação foi analisada junto ao participante a fim de identificar as características dessas atividades que contribuíram para alterações naquela disposição.

Ao todo foram realizadas 20 entrevistas com estudantes concluintes do décimo período dos cursos de Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Engenharia de Computação. Duas entrevistas foram descartadas, pois em um caso o estudante não atendeu ao critério de seleção quanto à formação universitária, ou seja, o estudante já tinha realizado outro curso superior, não sendo esta sua primeira experiência de formação universitária. No outro caso a entrevista foi descartada em função de insuficiência e inconsistência de

informações para realizar a análise. O tempo médio de duração das entrevistas foi de 80 minutos, sendo a variação entre elas de 52 minutos a 126 minutos.