A análise dos processos relativos a pesquisa feita no período de 2013 a 2018 das ações diretas de inconstitucionalidade julgadas no Tribunal de Justiça de Santa Catarina foi realizada buscando-se verificar as espécies de leis municipais mais contestadas no Estado de Santa Catarina. Essa verificação das espécies das leis se deu por meio dos dados coletados dos acórdãos proferidos pelo órgão julgador especial, sendo que outros dados podem ser relacionados na referida análise.
Diante disso, os pontos que serão verificados nessa análise dos dados são: (3) Ano, (4) município/origem, (5) região catarinense, (6) matéria do direito, (7) assunto, (8) alegação de desacordo constituição estadual, (9) alegação de desacordo com a constituição federal, (10) fere princípio constitucional, (11) declarada constitucional ou inconstitucional, (12) motivo da declaração de inconstitucionalidade, (13) motivo da constitucionalidade, (14) efeito e (15) sem resolução de mérito/impossibilidade controle concentrado.
No início da pesquisa no site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina foi constatado que há processos protocolados antes do período delimitado pela pesquisa, mas aparecem nesse intervalo pois foram julgados entre janeiro de 2013 a maio de 2018. Diante da situação, a pesquisadora resolveu analisar todos os processos julgados e não somente aqueles protocolados no período. Saliente-se que foram analisadas somente as ações diretas de inconstitucionalidade, sendo que nessa pesquisa nenhum outro tipo de ação foi verificada, mesmo que tenha alguma ligação com algum processo de inconstitucionalidade.
Nessa série de dados buscou-se verificar a quantidade de ações ajuizadas em cada ano do período da pesquisa. Assim dos 240 processos verificados a maior parte deles foram ajuizados em 2013 e 2014 representando respectivamente 23,7% dos processos conforme gráfico a seguir:
Gráfico 1 - Ano
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Se for realizado um comparativo entre os anos, pode-se verificar uma incidência maior de ações Direta de Inconstitucionalidade no ano anterior e no corrente ano eleitoral. Pode ser que não haja uma ligação direta entre a propositura das ações, questionamento de leis municipais inconstitucionais e o período eleitoral, mas foi um aspecto que chamou a atenção da pesquisadora diante dos dados coletados. Podendo ser um objeto de estudo para algum trabalho futuro.
A seguir, será apresentado um dado que não possui ligação direta com a pesquisa, ou seja, não influenciará nenhum resultado obtido, tampouco é objeto dessa pesquisa, mas será citado a título de informação. Nas 240 Ações direta de inconstitucionalidade verificadas atuaram 34 desembargadores relatores diferentes, sendo que 8 deles participaram de um número maior de processos, são eles: Lédio Rosa de Andrade, Jânio Machado, Salim Schead dos Santos, Ricardo Fontes, Paulo Roberto Camargo Costa, João Henrique Blasi, Moacyr de Moraes Lima Filho e Marcus Tulio Sartorato respectivamente.
Gráfico 2 - Relator
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Nesse próximo item, após a coleta dos dados foi possível identificar os municípios que mais tiveram Ações direta de inconstitucionalidade no período de 2013 a 2018. Deste modo, possibilitou a verificação dos municípios com a maior incidência de Ações direta de inconstitucionalidade, ou seja, aqueles com maior número de leis municipais questionadas em face a Constituição Estadual. Seguem os dados coletados:
Gráfico 3 – Munícipio/Origem
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Diante das informações coletadas, foi possível verificar que em 61 municípios catarinenses foram propostas Ações direta de inconstitucionalidade no período questionando a inconstitucionalidade de alguma lei municipal ou parte dela em face a Constituição Estadual, sendo que das 240 ações analisadas 19 foram propostas diretamente no Tribunal de Justiça do Estado de Santa. A capital do estado (Florianópolis) foi o município onde fora proposta maior número de ações neste período, com 71 ações, seguido de Blumenau com 8 ações; São Miguel do Oeste com 8 ações; e Balneário Camboriú com 6 ações direta de inconstitucionalidade. Quanto aos 19 processos propostos diretamente ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 12 destas ações versam sobre questão de Direito Administrativo, 2 de Direito Constitucional e 5 de Direito Tributário.
Nesse sentido, após a verificação dos municípios onde foram propostas ações diretas de inconstitucionalidade no período, foi possível identificar quais as regiões de Santa Catarina eles pertencem. Assim, com a separação e o agrupamento dos dados em consonância com a divisão das regiões catarinenses foi possível verificar e identificar quais regiões os municípios acima citados pertencem, possibilitando aferir quais regiões onde houveram maior
propositura de ações direta de inconstitucionalidade de leis municipais ou parte delas, no período foram:
Gráfico 4 - Região
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Desse modo, sendo possível verificar que foi a região da Grande Florianópolis onde houve maior propositura de ações direta de inconstitucionalidade no período de 2013 a 2018, seguido do Vale do Itajaí e Oeste Catarinense. Sendo que as ações propostas na Grande Florianópolis versavam sobre Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Trabalho e Tributário. Sendo possível verificar que a matéria do direito que versa a maioria das ações são temas ligados ao Direito Administrativo tais como separação de poderes, usurpação de competência, entre outros. Salienta-se que os artigos mais citados nas ações como justificativa de desacordo perante a Constituição Estadual serão apresentados ainda nesse capítulo. As matérias que versam as leis suscitadas inconstitucionais são:
Gráfico 5 – Matéria do Direito
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Se faz necessário salientar que nem em todos os municípios houve questionamento de leis municipais que versavam sobre todos os assuntos relacionados as matérias de direito acima citadas. Em seguida, dividiu-se os municípios quanto à relação com as matérias suscitadas no período:
Tabela 2 – Leis questionadas em relação a matéria por município
LEIS QUESTIONADAS EM RELAÇÃO A MATÉRIA POR MUNICÍPIO
Civil Ambiental Constitucional Trabalho Tributário Administrativo
Balneário Camboriú, Blumenau, Brusque, Capital, Herval d' Oeste, Jaraguá do Sul,
São José e Xanxerê.
Blumenau, Capital, Garopaba, Guaramirim, Joinville, Laguna, Rio
do Oeste e São Francisco do Sul
Biguaçu, Capital, Içara, São Francisco do Sul, Turvo e Tribunal de Justiça de SC
Lebon Régis e Capital
Barra Velha, Concórdia, Coronel Freitas,Biguaçu, Blumenau, Campos Novos,
Capital, Chapecó, Correia Pinto, Curitibanos, Gaspar, Herval d' Oeste, Imaruí, Itapiranga, Ituporanga, Joinville, Pinhalzinho, Porto
Belo, Santo Amaro da Imperatriz, São João Batista,
Turvo e Tribunal de Justiça de SC.
Anchieta, Araranguá, balneário Camboriú, Braço do Norte, Brusque, Camboriú, Barra Velha, Biguaçu, Blumenau, Campos Novos, Capital, Chapecó, Concórdia, Coronel Freitas, Correia Pinto, Curitibanos, Criciúma, Dionísio Cerqueira, Fraiburgo, Garopaba, Guaramirim,
Gaspar, Herval d' Oeste, Imaruí, Itapiranga, Ibirama, Içara, Indaial, Ipumirim, Itaiópolis, Itajaí, Itapema, Jaraguá do Sul,Ituporanga, Joaçaba, Lages, Lauro Muller, Lebon Régis, Mafra, Joinville, Pinhalzinho, Porto Belo, Palhoça, Santa Cecília, São Bento do Sul, São Domingos, São Francisco do Sul, Santo Amaro da Imperatriz, São João Batista, São José, São Lourenço do Oeste, São Miguel do Oeste, Seara, Tijucas, Urussanga, Videira, Xanxerê,
Turvo e Tribunal de Justiça de SC.
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Nesse sentido, pode-se verificar que as leis mais questionadas versam sobre assuntos relacionados ao Direito Administrativo, por exemplo: organização administrativa do município, atribuições de poder, delegação de competência/função, concessão, permissão e concessão de bens públicos especiais, estatuto dos servidores, aquisições de imóveis por compra e venda ou permuta, convênios, licitação, licença prévia do poder legislativo, criação de
gratificações, contratação de micro e pequenas empresas, reestruturação da câmara dos vereadores, contratação, criação de cargos efetivos e comissionados. Esse dado é importante pois pode revelar que a maioria dos vereadores eleitos não possuem uma compreensão básica do direito administrativo.
Na Lei Eleitoral n. 12.034 de 2009176 em seu art. 11, IX, um dos requisitos para a
candidatura é o plano de governo, porém só para cargos de Prefeito, Governador de Estado e Presidente da República177. Esse dispositivo poderia ser estendido para outros cargos eletivos,
por mais que não haja uma obrigatoriedade de seguir o planejado na candidatura, estender para os demais cargos eletivos a fim de evitar a incompreensão das necessidades do local em que irá atuar e das noções básicas de direito. Em seguida será demonstrado quais as alegações de desacordo são suscitadas pelos municípios em relação as leis em face da Constituição Estadual. Com a leitura de cada acordão, foi possível verificar quais os motivos que estavam sendo alegados para questionar a constitucionalidade das leis municipais em face da Constituição Estadual e por consequência buscar a declaração de inconstitucionalidade destas perante o órgão julgador. Assim, conforme tabela abaixo é possível verificar todos os motivos alegados, quais sejam:
Tabela 3 – Alegação de Desacordo perante Constituição Estadual
ALEGAÇÃO DE DESACORDO - CONSTITUIÇÃO ESTADUAL - ARTIGOS SUSCITADOS
Artigo 50, § 2º, inciso II c/c o artigo 71, inciso IV art. 1.º
ART. 4º
ART. 32 e ART. 132, § 2º, II
ARTIGOS 32, 50, § 2º, INCISO VI, 71, INCISO IV, ALÍNEA "A", 120, § 2º, E 123, INCISOS I E III art. 111, V
Art. 32
ARTS. 50, § 2.º, I, 108, I, II, III E 125, II Arts. 111, inc. XII, e 141, incisos. II e III ART. 50, § 2º, III
ARTS. 32; 50, § 2º, INCISO VI; 71, INCISO IV, ALÍNEA "A"; E 123, INCISO I
Arts 40, INCISO IV, ALÍNEA "C" E 70 Art. 40, inciso XIX
Artigos 17 e 137, § 1º
Arts. 29, § 1º, I E II, ARTS. 32 E 50, § 2º, IV
Art. 8º, 32, 71, inciso II, 110, 111,120, § 2º e 123, inciso I Arts. 16, caput, e 21, I e IV
Arts. 50, § 2.º, VI, 71, IV, "A" Artigo 21, inciso I e §2º Art. 137, § 1º
Arts. 4.º, 16, CAPUT, E 23, INC. V
Art.1º, inciso II, 32, 50, §2º, incisos II e IV, 52, inciso I, e 71, inciso IV, alínea "a"
Art. 71, inc. IV
Arts 32, 50, § 2º, INCISO VI, 52, INCISO I, E 71, INCISO IV
Arts. 16 E 21, INCISO I Art. 21, I e VI
Arts. 50, § 2º, INCISO VI, E 71, INCISOS I E IV, ALÍNEA "A"
Art. 112, INCISOS I E II Art. 50, § 2º Art. 54, §4º
Arts. 16, CAPUT, 21, INCISO I, E 26, § 1º Arts. 10, VI, E 112, I e II
Art. 125, II
Arts. 32, 50 e 71, IV, 'a' Arts. 32, 50, §2º, VI, e 71, IV Art.. 21, I
Arts. 32, art. 50, § 2º, inciso VI, art. 71, inciso IV, art. 112, incisos I e VII
Art. 21, § 2º Arts. 112, 140 e 181
Arts.1º, 57, 125, II, §§ 1º e 4º; 127, incisos. II e III; 128, inc. III, alíneas a e b, inc. IV
Art. 141, INC. III
Arts. 50, § 2º, INCISO II e 52, INCISO I Arts. 16, 111, XII, E 141, III Arts. 83, f, e 85, VII Arts. 50, § 2º, I e no art. 52, I Art. 16
Art. 125, II, E 32
ARTS. 50, § 2º, INC. I, 107 E 125, INC. II Arts. 1º, I, 16, caput; 111, XII; e 141, caput, III Arts. 8º, inciso IV, 50, § 2º, inciso I, 108 e 125, inciso II Arts. 50, § 2º, II e IV; 71, I e II; 84 e 111
Art. 112, II Art. 21, inciso I e § 2º
Arts. 32, CAPUT, 50, § 2º, VI, E 71, IV Arts. 32, 50, §2º, incisos III e VI, 111 e 113
Arts. 32 E 83, INCISO IV, "C"I Arts. 21, II, 50, § 2º, IV Arts. 111, 112, INCISO V Arts. 32 E 50, § 2º, INC. VI Art. 50, § 2º, VI Arts. 4º E 164, § 1º Art. 50, § 2º, incisos II, IV e V Art. 57, inc. IV
Art. 50, § 2º, incisos I e IV e art. 52, inciso I
Arts. 125, §2º E 128, INCISO II Arts. 32, 50, § 2º, IV, E 71, IV, "A"
Arts. 4.º, 16, 52, II, 78, caput, 97 e 98
Art. 118, § 1º, incisos I e II 125, § 4º
Art. 112, incisos I e II Art. 17 caput e 112, II Arts. 32, CAPUT, 50, § 2º, VI, E 71, IV, "A"
Art 50 Art. 29, inciso IV
176 BRASIL. LEI Nº 12.034, DE 29 DE SETEMBRO DE 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12034.htm>. Acesso em: 03 jun. 2018. 177 ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 6. ed. Salvador: JusPodivm, 2012. p. 323- 324.
ART. 16, CAPUT, ART. 23, V Arts. 1º, 4º, 12, 39, 40 Arts. 32, 50, § 2º, incisos III e VI Art. 16, Arts. 111, inc. XII e 141, inc. III Art.. 23, VI
Art.. 128, I
Arts. 4º, caput, e 27, inciso XIV
inc. III do § 3.º do art. 120, o § 2.º do art. 125 e o inc. IV do
Art. 12 e art. 32
Art. 16, "CAPUT", Art. 23, INCISOS II E V
Art. 4.º, caput, art. 125, § 2.º, art. 128, II e art. 141, III INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO TEXTO DA CARTA ESTADUAL Arts.50, § 2º, inc. II e 52, inc. I
Art. 128 Art. 128, inc. II
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Desde modo, após a verificação de todas as combinações de alegações realizadas, foi possível conferir que 5 artigos da Constituição Estadual foram os mais citados. Sendo eles: Art. 50 (59 vezes), Art. 32 (40 vezes), Art. 21(21 vezes), Art. 16 (19 vezes) e o Art. 125 (18 vezes). Os artigos citados versam sobre: os atos administrativos são públicos, salvo quando a lei, no interesse da administração, impuser sigilo; cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei; são Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário; a iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Procurador-Geral de Justiça e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição e o Estado de Santa Catarina e seus Municípios têm competência para instituir tributos178.
Ao analisar os motivos de inconstitucionalidade que estavam sendo suscitados perante a Constituição Estadual, observou-se que 53 dos 240 processos verificados também alegavam inconstitucionalidade da lei municipal perante a Constituição Federal. Na tabela a seguir, é possível verificar todos os artigos da Constituição Federal alegados nos processos de Ação direta de inconstitucionalidade verificados.
178 SANTA CATARINA. Constituição do Estado de Santa Catarina. Disponível em:
<http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2018_-_72_a_75_emds.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2018.
Tabela 4 – Alegação de Desacordo perante a Constituição Federal ALEGAÇÃO DE DESACORDO - CONSTITUIÇÃO
FEDERAL - ARTIGOS SUSCITADOS Art. 22, I
Art. 2º Art. 144, § 6º Arts. 37, inciso XXI, e 175 Arts. 135 caput
Arts. 2º, 22, inciso XXVII e 37, inciso XXI art 150, I
Art. 5º, XXXIV, "a" E "b" Arts. 37, II, 61, § 1º, II, "A" E "C" Arts. 37, XXI E 175 Art. 30, INCISOS I E II Art.66, §4º
Arts. 37,caput e inciso II, E 39, § 1º ART. 61
Art. 37, IV Arts. 145, II, E 2º Art. 22, XXVII e ART. 30, II Art 37, incisos II e IX Art. 2º e art. 20 Art. 37, INC. XI
Art. 61, § 1º, inciso II, alíneas "a" e "c" Art. 5º, XXXIV, B
Art.145, § 2º
Arts. 1º, inciso IV, 22, inciso XII, 30, incisos I, II e VIII, 170, inciso IV, 176 e 225, § 2º Art. 37, inc. IX Art. 111, inciso V Art.128, inciso II Art. 30, II Arts.. 150, III e IV Art. 40 § 4º
Art. 169, caput, e § 1º, inciso I ART. 29
Art. 150, III, c, com a redação dada pela EC 42/03 Arts. 7º, IV, 18, caput, e 60, § 4º, I, Arts. 37, inciso II, e 84, incisos II e XXV Art. 175
Arts. 37, caput, 61, § 1º, inc. II, letra 'b' Arts. 2º E 166, § 4º
Arts. 5º e 227 Art. 145, inciso II Art. 37, inciso II
Arts. 37, caput, 61, § 1º, inc. II, letra "b" Arts. 61, § 1º, INC. II, LETRA "A" E 63, INC. I Fonte: Elaboração da autora (2018)
Desta forma, foi possível verificar que 5 artigos da Constituição Federal foram os mais citados entre os 53 processos que suscitaram inconstitucionalidade da lei municipal em face da Constituição Estadual e Federal. Os artigos mais citados da Constituição Federal são: Art. 22 (competência privativa da União) citado 4 vezes, Art. 30 (competência dos municípios) citado 4 vezes, Art. 37 (administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) citado 13 vezes, Art. 61 (iniciativa das leis complementares e ordinárias) citado 6 vezes e o Art. 150 (limitação ao poder de tributar) citado 4 vezes.
Sendo assim, também foram verificadas que algumas ações diretas de inconstitucionalidade não apenas suscitam inconstitucionalidade das leis municipais em face a Constituição Estadual e Federal, mas da mesma forma feriram princípios constitucionais. Na tabela a seguir, é possível verificar os princípios suscitados:
Tabela 5 – Princípios constitucionais que não foram observados QUAIS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
NÃO FORAM OBSERVADOS PELAS LEIS MUNICIPAIS
Princípio da Isonomia tributária Princípio da anterioridade Princípio da igualdade Princípio da legalidade Princípio da legalidade tributária Princípio da moralidade administrativa Princípio da razoabilidade
Princípio da reserva de lei Princípio da separação de poderes
Princípio da separação dos poderes e princípio da isonomia
Princípio da simetria
Princípio meio ambiente ecologicamente equilibrado Princípios capacidade contributiva e da vedação do confisco
Princípios da excepcionalidade e temporariedade Princípios da Impessoalidade e obrigatoriedade de licitação
Princípios da Independência e harmonia entre os poderes
Princípios da Isonomia e impessoalidade Princípios da isonomia e reserva legal
Princípios da Isonomia tributária e da capacidade contributiva
Princípios da legalidade e da impessoalidade Princípios da publicidade e da democracia participativa
Princípios proporcionalidade e da razoabilidade Princípios reserva da administração e separação entre os poderes
Princípios separação, da harmonia entre os poderes e da reserva da administração
Princípios simetria e da autonomia dos poderes Princípios Solidariedade, isonomia, legalidade, razoabilidade e dignidade da pessoa humana
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Nesse sentido, dos 240 processos verificados, em 41 deles houveram alegações de que princípios constitucionais não foram observados, portanto as leis municipais estariam em desacordo com eles. Dos princípios elencados na tabela acima os mais citados nos processos foram: Isonomia (7 vezes), Legalidade (6 vezes), Separação dos poderes (6 vezes) e Harmonia entre os poderes (4 vezes). Desse modo, fazendo um comparativo com as leis mais suscitadas inconstitucionais que versam sobre o Direito Administrativo não seria algo improvável que esses princípios também estariam sendo violados, uma vez que fazem parte, norteiam essa matéria do direito.
Nos últimos 5 anos (2013- 2018) 240 Ações direta de inconstitucionalidade foram propostas e julgadas pelo órgão especial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Lembrando que conforme informado no início do capítulo da presente pesquisa, há ações propostas anteriormente, porém julgadas no período que também foram verificadas.
Ao que tudo indica, de acordo com o levantamento realizado, os principais erros cometidos nas criações das leis municipais do Estado de Santa Catarina no período estão relacionados com a invasão de competência, defeitos decorrentes da ausência de convocação de audiências públicas, criação de taxas e tributos, problemas na separação dos poderes, criação de cargos, empregos e funções públicas e vicio de iniciativa fazendo com que 240 leis municipais fossem suscitadas inconstitucionais perante a Constituição Estadual e Federal, sendo que algumas chegaram a ferir princípios constitucionais.
A seguir é possível verificar o percentual de declaração de inconstitucionalidade e constitucionalidade das leis suscitadas conforme gráfico:
Gráfico 6 – A lei é constitucional ou inconstitucional?
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Dessa forma, foi possível verificar que das 240 leis municipais suscitadas inconstitucionais pesquisadas, 122 (50,8%) foram consideradas inconstitucionais porque estavam em desacordo com a Constituição Estadual ou ainda em desacordo com a Constituição Federal e ferindo princípios constitucionais; 30 (12,5%) foram consideradas constitucionais, pois não estavam em desacordo com o que foi suscitado; 41 (17,1%) consideradas parcialmente inconstitucionais, pois em algumas ações vários pedidos foram realizados, sendo que foram atendidos em parte; 1 ação (0,4%) está suspensa pois o Tribunal de Justiça de Santa Catarina aguarda a decisão do STF, sendo que a mesma ação foi proposta no âmbito estadual e federal e 46 (19,2%) ações foram extintas por falta de objeto, a norma teve sua eficácia exaurida ou foi editada enquanto aguardava o julgamento do processo, ou porque não foi possível realizar o controle de constitucionalidade pela via do controle concentrado.
Outro fator importante nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade é a modulação dos efeitos destas decisões, sendo que os termos em latim ex tunc e ex nunc são utilizados para estipular qual efeito a sentença proferida irá possuir. Assim, significam respectivamente desde o início e de agora em diante, para o futuro179. O efeito erga omnes é vinculante, ou seja, vale
contra todos indistintamente. Diante da pesquisa realizada, foi identificado os efeitos das decisões proferidas:
Gráfico 7 - Efeito
Fonte: Elaboração da autora (2018)
Sendo que na maioria dos processos (76,7%) os efeitos não foram citados, que pela prática jurídica pode-se dizer que em via de regra produzem efeito ex nunc mesmo não estando explícito na sentença. Quando citados, foi possível verificar que 10,8% produzem efeito ex tunc, 11,7% produzem efeito ex nunc explícito no acórdão, 0,8% produziram efeitos ex tunc e erga
omnes e nenhum acórdão foi proferido somente com o efeito erga omnes.
Dessa forma por meio da pesquisa realizada verificou-se que no Estado de Santa Catarina no período de 2013 a 2018 metade das leis municipais suscitadas via Ação direta de inconstitucionalidade foram declaradas inconstitucionais em face da Constituição Estadual e/ou Federal. Sendo que essas leis consideradas inconstitucionais versam sobre assuntos relacionados ao Direito Administrativo. Demonstrando assim, um alto índice de irregularidades na criação das leis municipais no Estado de Santa Catarina.
179 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário universitário jurídico. 21. ed. São Paulo: Rideel, 2017. p. 365
5 CONCLUSÃO
Este trabalhou buscou verificar quais espécies de leis municipais foram contestadas via ação direta de inconstitucionalidade no período de 2013 a 2018 no Estado de Santa Catarina. Sendo necessário frisar que em nenhum momento houve a pretensão de avaliar o conteúdo do julgamento realizado em cada processo. Desse modo, o objetivo foi apenas verificar quais espécies de leis suscitadas inconstitucionais em face a Constituição Estadual.
O controle de constitucionalidade é um mecanismo que permite a verificação das normas infraconstitucionais perante a Constituição Estadual e Federal. O mecanismo de controle de constitucionalidade foi ganhando espaço no decorrer do processo constitucional brasileiro, pois verificou-se a necessidade de aplicação desse instituto no ordenamento jurídico, que por sua vez reflete diretamente nas relações jurídicas entre o Estado e os indivíduos.