• Nenhum resultado encontrado

Conforme abordado anteriormente, o controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo municipal foi inserido pela primeira vez em uma Constituição por meio da Emenda Constitucional n. 16, de 1965, sendo que na Constituição Federal a previsão foi realizada de forma expressa no texto, abordando a competência dos Estados em instituir a representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e municipais em face da Constituição Estadual (art. 125, § 2º). Assim, os Estados precisaram estruturar os sistemas de controle de constitucionalidade para conseguir proteger suas constituições97.

A Constituição Federal dispôs, no art. 125, § 2º, que os Estados organizarão sua Justiça, cabendo a cada um instituir a representação de inconstitucionalidade de atos normativos ou leis municipais ou estaduais em face da Constituição Estadual, sendo vedado a atribuição da legitimação para atuar a um único órgão98.

Quando o Estado atua conforme a competência prevista no art.125, § 2º, realiza com base no seu poder constituinte decorrente. Trata-se de poder constituinte limitado, sendo que princípios constitucionais não podem ser violados. Desse modo, cria-se a ideia de um subsistema de controle concentrado de constitucionalidade que permite ao Tribunal de Justiça

97 SOUZA, Luiz Henrique Boselli de. Controle de Constitucionalidade da Norma Municipal: doutrina e jurisprudência. Campinas: Servanda, 2014. p.171.

Estadual a declaração de inconstitucionalidade de uma lei estadual ou municipal em face da Constituição Estadual via ação direta99.

O Tribunal de Justiça é o protetor da constituição estadual, responsável em controlar a constitucionalidade dos atos normativos do poder público no âmbito estadual e municipal. Os parâmetros de controle são o início para a identificação da competência da Corte Estadual e a do Supremo Tribunal Federal quanto ao controle concentrado de constitucionalidade. Os entes federativos possuem liberdade legislativa, contudo, os procedimentos adotados para as ações de controle concentrado nas esferas da federação são análogos100, com referência a Lei n. 9.868

de 1999101.

Desse modo, necessário salientar que a competência concorrente de Tribunais estaduais e federais implica em algumas cautelas. Sendo declarada a inconstitucionalidade de direito municipal em face da Constituição estadual, com efeito erga omnes, se faz necessário o reconhecimento da ausência de qualquer processo ajuizado no Supremo Tribunal Federal que possua o mesmo objeto102.

Nesse contexto, também é necessário verificar a competência para o julgamento da inconstitucionalidade das normas municipais e estaduais, mesmo que em face da Constituição Estadual, quando houver reprodução de dispositivos da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal, em análise preliminar, se mostrou contrário à competência dos Tribunais de Justiça estaduais para julgar ações de inconstitucionalidade de normas estaduais e municipais em face de dispositivos de reprodução obrigatória. Isso porque os dispositivos seriam formalmente estaduais, porém substancialmente basilares da Constituição Federal103.

Contudo, em segundo momento, na sessão que julgou a Reclamação n. 383 no Supremo Tribunal Federal, o entendimento que prevaleceu foi contrário. O Min. Moreira Alves ao proferir seu voto consignou que:

99 CASTRO, Gina Gouveia Pires de. Controle de constitucionalidade de lei & ato normativo municipal: uma análise sobre seu funcionamento na Federação Brasileira. Curitiba: Juruá, 2016.p. 119.

100 SANTOS, Paulo Alves. Controle de constitucionalidade estadual: o caso do Tribunal de Justiça do Ditrito Federal e dos Territórios. Revista de Doutrina e Jurisprudência, Brasília Jul-Dez 2016, p. 101-124. Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=26&ved=0ahUKEwjy-

uuX5t3aAhVClpAKHb57BS44FBAWCEMwBQ&url=https%3A%2F%2Frevistajuridica.tjdft.jus.br%2Findex.p hp%2Frdj%2Farticle%2Fdownload%2F16%2F42&usg=AOvVaw3tYQWVBrcRKqnJSFEPoejU>. Acesso em: 28 abr. 2018.

101 BRASIL. LEI N. 9.868, DE 10 DE NOVEMBRO DE 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9868.htm>. Acesso em: 28 abr. 2018.

102 MENDES, Gilmar Ferreira.; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 1325 – 1326.

103 SOUZA, Luiz Henrique Boselli de. Controle de Constitucionalidade da Norma Municipal: doutrina e jurisprudência. Campinas: Servanda, 2014. p. 175.

[...] não é exato pretender-se que as normas constitucionais estaduais que reproduzem as normas centrais da Constituição Federal (e o mesmo ocorre com as leis federais ou até estaduais que fazem a mesma reprodução) sejam inócuas e, por isso, não possam ser consideradas normas jurídicas. Essas normas são normas jurídicas, e têm eficácia no seu âmbito de atuação, até para permitir a utilização dos meios processuais de tutela desse âmbito (como o recurso especial, no tocante ao art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil, e as ações diretas de inconstitucionalidade em face da Constituição Estadual)104.

Dessa forma, após o julgamento do caso acima apresentado, esse posicionamento passou a ser predominante no entendimento dessa corte, de forma que a orientação vigente do Supremo Tribunal Federal é no sentido que compete aos Tribunais de Justiça Estaduais processar e julgar as ações diretas de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal em face da Constituição Estadual mesmo que o assunto seja referente a reprodução de preceito da Constituição Federal105. Assim, o Supremo Tribunal Federal consagrou uma causa especial de

suspensão de processo no âmbito da Justiça Estadual, nos casos de tramitação concomitante com mesmo objeto nas duas cortes constitucionais, baseados em norma de reprodução obrigatória106.

No entanto, se faz necessário observar que a decisão pronunciada pela Justiça Estadual não possui força definitiva, ou seja, não há esgotamento em apenas uma decisão judicial, pois ainda é cabível a interposição de Recurso Extraordinário contra decisão do Tribunal de Justiça, desde que tenha sido apresentado pré-questionamento e encaminhado para o Supremo Tribunal Federal analisar a demanda107.

Nesse contexto, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes explica que:

Nada obsta a que o Tribunal de Justiça competente para conhecer da ação direta de inconstitucionalidade em face da Constituição estadual suscite ex-officio a questão constitucional – inconstitucionalidade do parâmetro estadual em face da Constituição Federal –, declarando, incidentalmente, a inconstitucionalidade da norma constitucional estadual em face da Constituição Federal e extinguindo, por conseguinte, o processo, ante a impossibilidade jurídica do pedido (declaração de inconstitucionalidade face a parâmetro constitucional estadual violador da Constituição Federal). Portanto, da decisão que reconhecesse ou não a inconstitucionalidade do parâmetro de controle estadual seria admissível recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, que tanto poderia reconhecer a legitimidade da decisão, confirmando a declaração de inconstitucionalidade, como

104 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação n. 383- SP. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86809>. Acesso em: 28 abr. 2018. 105 SOUZA, Luiz Henrique Boselli de. Controle de Constitucionalidade da Norma Municipal: doutrina e jurisprudência. Campinas: Servanda, 2014. p. 177.

106 MENDES, Gilmar Ferreira. O papel do Senado Federal no controle de constitucionalidade : um caso

clássico de mutação constitucional. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/953>. Acesso

em: 31 mar. 2018. p. 1327.

107 CASTRO, Gina Gouveia Pires de. Controle de constitucionalidade de lei & ato normativo municipal: uma análise sobre seu funcionamento na Federação Brasileira. Curitiba: Juruá, 2016. p. 121.

revê-la, para admitir a constitucionalidade de norma estadual, o que implicaria a necessidade de o Tribunal de Justiça prosseguir no julgamento da ação direta proposta108.

Desse modo, a partir da descrição acima, o assunto se trata de uma ação direta de inconstitucionalidade em face da Constituição Federal, visto que ao reproduzir preceito constitucional de observância obrigatória, a sentença proferida pela Justiça Estadual em relação ao óbice sobre a inconstitucionalidade entre lei ou ato normativo municipal e a Constituição Estadual que repete preceito federal, não possui força definitiva, já que conforme mencionado anteriormente é possível a interposição de recurso extraordinário, caso o pré-questionamento tenha sido suscitado previamente109. Assim, não se pode considerar uma separação absoluta

entre as jurisdições constitucionais estadual e federal110.

O controle concentrado de constitucionalidade estadual ainda gera discursões importantes acerca da temática. Por se tratar de assunto ainda pouco explorado pela doutrina especializada e jurisprudência, possui particularidades, e a partir delas efeitos são gerados em diversas esferas do ordenamento jurídico. Após essa breve explanação do controle de constitucionalidade estadual verifica-se o controle de concentrado de constitucionalidade municipal em face a Constituição Federal.

3.2 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE MUNICIPAL EM

Documentos relacionados