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5. ARTIGO DE OPINIÃO, EDITORIAL E CARTA DO LEITOR

5.1 Análise do artigo de opinião nas versões 2009 e 2012

5.1.1 O artigo na versão 2009

5.1.1.2 Análise das Atividades de leitura do artigo de opinião na versão 2009

Esta seção analisa as 8 questões propostas pela coleção para explorar a compreensão do texto Como prevenir a violência dos adolescentes. Buscamos verificar até que ponto essas questões contribuem para que o aluno possa entender melhor o texto. Para isso, observamos em que medida as questões contemplam os aspectos globais e pontuais mobilizados na construção do texto. Essas questões orientam o leitor para ler criticamente o artigo?

QUADRO 4: Atividade de leitura: Como prevenir a violência dos adolescentes Questões

1 O texto foi publicado num momento em que a sociedade brasileira, abalada por um crime contra dois adolescentes (leia o boxe ―O texto e o contexto‖), discutia o tema da alteração na lei que determina a maioridade penal aos 18 anos. Os dois parágrafos iniciais do texto situam o tema naquele momento: o primeiro parágrafo cita o crime, e o 2º. trata da importância da prevenção contra violência. No 3º. Parágrafo, autora apresenta a ideia principal do texto, ou seja, ponto de vista dela a respeito da violência juvenil. Qual é a opinião da autora sobre a violência dos adolescentes, isto é, de que modo, na opinião dela, pode-se combater a violência e construir a paz social?

2 Num texto de opinião, a ideia principal defendida pelo autor precisa ser fundamentada com bons argumentos, isto é, com razões ou explicações. A ideia principal do texto lido é fundamentada por dois argumentos básicos. Observe os parágrafos de 4 a 12 e responda:

a. Quais são resumidamente, os argumentos básicos apresentados no texto?

b. Que marcas textuais (palavras ou expressões) indicam a introdução de cada um desses argumentos?

c. Que parágrafo(s) desenvolve(m) o primeiro desses argumentos?

d. E que parágrafo(s) desenvolve(m) o segundo argumento?

3 Os argumentos apresentados, lembra a autora, não são inventados por ela; ao contrário, são direitos garantidos por lei. O que o texto propõe para o cumprimento da lei?

4 Os três últimos parágrafos do texto retomam o tema em debate no momento da produção do artigo: a idade mínima da maioridade penal. A autora distingue as infrações leves ou moderadas de crimes hediondos. De acordo com a opinião da autora:

a. A criança ou o adolescente deve ir para a prisão por cometer infrações leves ou moderadas? Por quê?

b. A autora é favorável à alteração da idade de 18 anos para a maioridade penal?

c. E é favorável à manutenção da pena de três anos para os infratores que cometeram crimes hediondos? Por quê?

5 Num texto de opinião, o autor normalmente fundamenta seu ponto de vista com verdades e

opiniões (leia o boxe ―Verdade x opinião‖).

a. Identifique no texto verdades, isto é, dados objetivos que podem ser comprovados. b. Afirmações como: ―O tempo máximo de três anos de reclusão [...] deve ser revisto‖;

―Três anos [...] podem ser absolutamente insuficientes‖ são verdades?

6 Observa-se, no início do artigo, a chamada: ―A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor‖. Levante hipóteses: Qual o papel dessa chamada no texto?

7 Observe a linguagem do texto:

a. Que variedade linguística foi empregada: a variedade padrão ou uma variedade não padrão? Formal ou informal?

b. Considerando-se o tema, o veículo em que o texto foi publicado e o perfil do público

leitor, pode-se dizer que a escolha dessa variedade linguística foi adequada? Por quê?

8 Reúna-se com seus colegas de grupo e, juntos, construam um quadro com as principais características do gênero texto de opinião. Além dos aspectos formais, temáticos e linguísticos desse gênero, não deixem de mencionar sua finalidade e seu meio de circulação.

Fonte: Português Linguagens, versão 2009, v. 1, eixo ―Produção de texto‖, p. 272-273.

Quando observamos essas questões à luz dos aspectos globais indicados por Antunes (2010) como relevantes para análise de um texto, vemos que alguns desses aspectos são considerados pelas perguntas propostas pelo artigo de opinião, mas nem todos esses aspectos são explorados. Algumas perguntas possibilitam a exploração de mais de um aspecto. Por exemplo, o aluno é levado a reconhecer o universo de referência do texto Como prevenir a violência dos adolescentes ao resolver as questões 1, 4, 5 e 7. O Quadro 5 indica em quais questões cada um dos aspectos da dimensão global foi explorado.

QUADRO 5: Aspectos da dimensão global nas atividades artigo versão 2009

Dimensão Global no eixo da coerência.

Questões 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 a. O universo da referência X X X X b. Unidade semântica X X X X X X X X c. Progressão do tema X X X X d. Propósito comunicativo X

e. Os esquemas de composição: tipos e gêneros X X X X X X X

f. A relevância informativa. X X X X

A questão 1 ajuda o aluno a construir o universo de referência do texto, a observar sua unidade semântica e a perceber seus esquemas de composição. Como se pode observar, é uma questão contextualizada e esse contexto, fomenta a inserção de diferentes conhecimentos. O enunciado traz ao leitor a informação de que o texto parte de um fato real, concreto, do seu cotidiano. A questão orienta o aluno a ler a informação do boxe, que pode trazer mais elementos para orientar a leitura. O tema é situado e apresentado de forma implícita ao leitor. Já se percebe o teor temático que será abordado, da direção argumentativa assumida. Além disso, como o enunciado da questão delimita os parágrafos, primeiro, segundo e terceiro, direciona o olhar do aluno tanto para a organização temática do texto quanto para seus esquemas de organização. Ao mesmo tempo situa o posicionamento da autora. Subtende-se que o texto segue uma progressão temática preocupando-se com esse encadeamento, e que foi estruturado nessa perspectiva.

A questão 2 permite explorar a unidade semântica, progressão do tema, esquema de composição e relevância informativa. Ao introduzir a questão, O LD inicia com uma asserção: ―Num texto de opinião, a ideia principal defendida pelo autor precisa ser fundamentada com bons argumentos‖. Com isso, já especifica para o aluno que se trata de um gênero de opinião, e lhe apresenta uma das características desse gênero: a presença de argumentos. O enunciado também já indica que há dois argumentos e onde eles estão. O trabalho do aluno é ir em busca desses argumentos, fazendo uma leitura de localização, mas ao localizar, deve conseguir apresentá-los de modo resumido. Para isso, o aluno terá que ler o texto novamente com mais atenção porque a habilidade de resumir pressupõe uma compreensão global do texto. Essa releitura implicará em uma retomada das informações do tema, do universo de referência e do campo discursivo de origem, de circulação do texto, além de perceber as relações com outras vozes. Nos argumentos explicitados pela articulista, é possível perceber a presença das vozes evocadas por ela. O aluno deverá saber relacionar diversos aspectos pontuais, como o uso dos dêiticos pessoais, espaciais e temporais e a relação dessas expressões com elementos do contexto; a ocorrência de paráfrases e suas marcas indicativas; as marcas de ironia; as marcas do envolvimento do autor frente ao que é dito; a forma (direta ou indireta) de como o interlocutor está presente ou apenas suposto; as falas que se fazem ouvir; os diferentes usos e correlações dos tempos e modos verbais; o nível de maior ou menor formalidade da linguagem utilizada; a presença de sinais que indicam a distribuição das informações sem itens, em pontos distintos. Todos esses aspectos pontuados podem ser retomados através da releitura. A questão 2, em sua primeira subpergunta, exige que o aluno

seja capaz de um conjunto complexo de operações. O sucesso do aluno nas outras duas subperguntas depende da identificação correta dos dois argumentos básicos, pois aí ele apenas terá de localizar as marcas que indicam a introdução dos argumentos e os parágrafos em que se desenvolvem. Como se pode perceber, a questão 2, do mesmo modo que a primeira, permite o trabalho com diferentes recursos do texto, como os já mencionados também na primeira questão. Aparentemente, presume-se que se trata de uma questão de mera localização, e com resposta direta. No entanto, ela exige uma gama de conhecimentos que envolvem processos inferenciais complexos, como demonstrado acima. É uma questão que certamente necessita de uma forte mediação do professor em sala de aula.

A questão 3, como a primeira e a segunda, reporta às características do gênero argumentativo: trazer outra voz ao nosso discurso, a fim de legitimá-lo. É também contextualizada, o que permite ir além do que está inscrito objetivamente no texto. Embora seja uma questão de localização, o seu contexto permite a retomada de conhecimentos de outro texto, que pode ser mencionada na correção. Ao responder a questão, o aluno, necessariamente, terá de observar as marcas de ironia, por meio de modalizadores de posicionamento, que remeterão às marcas do envolvimento do autor frente ao que é dito; à forma (direta ou indireta) de como o interlocutor está presente ou apenas suposto; as falas que se fazem ouvir, ao dizer que ―todos

esses direitos estão previstos na lei‖ traz à tona a voz da Constituição Federal. Como se pode perceber é uma questão que, embora trabalhe resposta objetiva de localização, permite o desenvolvimento de outras habilidades imprescindíveis na aprendizagem do aluno.

Na questão 4, também se faz presente, pressuposta no enunciado, uma característica do gênero artigo de opinião, a conclusão. Ao mencionar que o os três últimos parágrafos retomam o tema inicial, presume-se que aqui a conclusão se insere. A questão é organizada em três subperguntas a, b e c. Todas, aparentemente, permitem respostas diretas, de localização, mas, ao buscá-las, o aluno vai encontrá-las por meio de inferências. O universo de referência, a unidade semântica e esquemas de composição são aspectos globais mobilizados pela questão.

A questão 5, assim como as demais, evidencia características do gênero artigo de opinião, a sustentação da opinião por meio da construção dos argumentos. Ela é organizada por meio de duas subperguntas. Vale salientar a presença de um boxe, que serve como suporte teórico tanto para o professor como para o aluno. As perguntas apresentadas parecem ser de localização, mas na verdade implicam habilidades mais complexas, inferenciais. Na

subpergunta a a questão pede que o aluno identifique as verdades no texto. Esse ―identifique‖ pressupõe, além de localizar, um juízo de valor do aluno, uma análise crítica para buscar a resposta. O que é verdade? O que são dados objetivos, para o aluno? Na subpergunta b o enunciado apresenta o fato e pede que ele avalie.

Quanto aos aspectos globais, destacam-se, ao dizer que ―Num texto de opinião [...]‖ os elementos do enunciado retomam os conhecimentos prévios adquiridos com os exercícios anteriores (1 a 4), trazendo à tona os critérios encontrados nas questões anteriores, como: 1. o universo de referência; a direção argumentativa...; as representações...; os padrões de organização...; as particularidades da superestrutura...; seus recursos de encadeamento...; as particularidades da superestrutra de cada gênero...; seus esquemas de progressão temática.

Ao dizer no enunciado ―[...] o autor normalmente fundamenta o seu ponto de vista [...]‖, encontramos, 2. seu campo discursivo...; as representações, as visões de mundo, as crenças...; suas relações com outros textos, (essa especificamente na resposta, inserida no capítulo 5 e parte do 6, onde se encontra eco de outra voz que pode ser retomada na correção).

Diferentemente das demais, a questão 6 não traz característica do gênero artigo de opinião. Trabalha uma ideia apresentada pelo texto que será melhor explicada no início do 4º parágrafo. É uma questão com características globais, dentro da tipologia de Marcuschi (2005, p. 53-61), pois considera o texto como um todo e envolve processos inferenciais complexos. Para conseguir responder o aluno terá que ativar diferentes conhecimentos prévios de texto, de língua, contextual, enciclopédico. Dentro do aspecto global, encontramos o discernimento entre as ideias principais e aquelas outras secundárias e sua relevância comunicativa na exposição de dados... Ao enfatizar essa parte do texto, a atividade salienta a relevância comunicativa desse argumento utilizado por Zilda Arns e, ao mesmo tempo, deixa implícito o que é importante e o que é secundário dentro do texto. Ao buscar resposta para essa questão o aluno vai perceber aspectos tais como o uso de maior ou menor formalidade da linguagem utilizada. A linguagem utilizada é padrão culta registro formal. Se se atém ao restante do parágrafo em que se insere esse comentário, é possível observar: 2. os efeitos de sentido em que a autora usa uma gradação ao especificar como se constrói esse tecido social saudável e promissor.

A questão 7 não é contextualizada como a maioria das outras atividades; por outro lado, traz características relativas ao gênero artigo de opinião como elas, quando se refere à variedade linguística, ao tema, ao veículo em que o texto foi publicado. É organizada em duas

subperguntas, sendo uma de localização e objetivamente descrita no texto a e b é mais global, pois permite processos inferenciais mais complexos. Num aspecto global, quando o enunciado pede para considerar o tema, ativa os conhecimentos prévios relativos 1. ao universo da referência; ao seu tema ou sua ideia central; à direção argumentativa; o discernimento entre ideias principais e aquelas outras secundárias. Sua relevância comunicativa, grau de adequação desse nível à situação comunicativa; 2. ao pedir para considerar, o veículo em que o texto foi publicado e o perfil do público leitor, implica uma retomada do campo discursivo de origem ou de circulação; sua adequação às especificidades dos destinatários envolvidos e o grau de adequação desse nível à sua situação comunicativa. Também na resposta a essa questão alguns aspectos pontuais terão de ser observados. Tem-se: 1. Na subpergunta b referência à forma (direta ou indireta) de como o interlocutor está presente, ao pedir que o leitor considere o veículo em que o texto foi publicado e o perfil do público leitor; 2. ao mencionar na subpergunta a. que variedade foi empregada, perceber a presença das marcas das especificidades de uso da oralidade ou da escrita e o nível maior ou menor de formalidade da linguagem utilizada.

Por fim a última questão, a oitava, traz peculiaridades que a diferencia das outras: a. não apresenta contextualização, b. em vez de salientar, no enunciado, características do gênero artigo de opinião, a questão solicita que os alunos construam um quadro com essas características. Espera-se que o aluno perceba essas pistas deixadas pelos enunciados e consiga relacioná-las bem como elaborar o conceito de gênero.

Outro aspecto que cabe salientar é que nos enunciados apresentados não há uma explicitação clara em relação à finalidade do gênero e ele foi solicitado. Por inferência é possível perceber na questão dois, quando ele diz que ―num texto de opinião‖, a ideia principal defendida pelo autor precisa ser fundamentada com bons argumentos. É, portanto, esperado que o aluno manifeste essa habilidade e, mais, que seja ainda capaz de interpretar por meio dos fatos apresentados que no gênero o articulista discute, analisa, clarifica, um assunto controverso e busca a adesão do leitor para o seu ponto de vista, sua adequação às especificidades dos destinatários envolvidos; c. a atividade sugere um trabalho em equipe, troca de habilidades. Como se pode observar, através dessa análise das questões propostas pela coleção para exploração do texto de Zilda Arns, o gênero artigo de opinião foi consideravelmente trabalhado em sua forma composicional, em atividades que de certo modo favorecem à retomada do texto, a inferências, à reflexão, à antecipação, à formulação de hipótese e

posicionamentos. Todavia, o porquê, para quê, quando e onde, concernentes à função social do gênero, que conforme Marcuschi (2008) é a essência do ensino deste, não foi priorizada, nesse estudo do gênero. Basta observarmos o quadro 5 e verificaremos onde estão as maiores incidências nos aspectos formais e organizacionais do texto.

Tais atividades, não priorizadas, contribuirão para dificultar a participação efetiva do aluno, concluinte do Ensino Médio da rede pública, como agente social crítico, frente às questões sociais polêmicas, de sua comunidade, quando lhe for permitido à participação, uma vez que não lhe foi oportunizado o ensino desse gênero como prática social historicamente constituída. Ademais, não trabalhar a função do gênero traz outras implicações, como: desconhecer o porquê da existência desse gênero e para quê ele existe, quais as suas consequências de uso e como reagir a elas, que implicam em não saber que como cidadão ele pode posicionar-se frente à questões sociais controversas, dialogando com elas por meio da mídia, quando lhe for permitido tal uso.

Além disso, saber identificar as características do gênero não habilita esses leitores a colocá- lo em uso como prática social, visto que não conhecem os propósitos comunicativos, a relevância informativa e a sua relação com os outros textos, características imprescindíveis ao uso desse gênero.