• Nenhum resultado encontrado

Current and lost diversity of cultivated varieties, especially cassava, under swidden cultivation systems in the Brazilian Atlantic Forest

A DIVERSIDADE MORFOLÓGICA VARIETAL DE MANDIOCA

4.3.2. Análise das características morfológicas das variedades.

Para a caracterização morfológica das variedades foram utilizadas dois métodos: a) nas roças dos agricultores, ou “in situ”, e b) em campo experimental, ou “ex situ”. O primeiro método foi executado entre os meses de março e maio de 2001 e o segundo entre os meses de março de 2001 e abril de 2002.

4.3.2.1. caracterização morfológica in situ.

Para a caracterização “in situ” foram selecionados caracteres que os agricultores apontavam como os mais importantes e significativos para diferenciar variedades. Foi feita uma listagem preliminar destes caracteres baseada nas indicações dos agricultores, guiada pela seguinte pergunta : “Fale-me sobre as diferenças que você reconhece para separar um tipo (variedade) de outro”. A partir destas indicações foram escolhidos os caracteres: cor do broto foliar, cor da folha, cor do cabo (pecíolo), cor da maniva (caule), cor da casca da raiz, cor da pele da raiz (periderme da raiz), cor da rama (polpa da raiz). Os caracteres apontados pelos agricultores são aqueles que correspondem a caracteristicas distintivas (ver modelo “selection for perceptual distinctiveness” de Boster 1985). Parte dos mesmos caracteres foi utilizado por Rogers e Fleming (1973), Boster (1984), Boster (1985), Cury (1993), Colombo (1997), Salick et al. (1997), Peroni (1998), Peroni (1999), e McKey et al. (2001).

Para o estudo numérico das características morfológicas é recomendado reduzir a influência da variação ambiental. Sánchez et al.(1993) enumeram três maneiras de evitar que o ambiente afete caracteres escolhidos para a taxonomia numérica: a) uso de campos experimentais; b) uso de locais comuns que partilham das mesmas características ambientais; e c) uso de caracteres de alta herdabilidade, ou seja, que pouco são influenciados pelo ambiente. Assim, foram limitados alguns caracteres quantitativos utilizados pelos agricultores, como tamanho, ou proeminência da cicatriz foliar (“olho”), e altura da planta.

Para a caracterização morfológica foram então conjugados os caracteres apontados pelos agricultores com caracteres já usados com sucesso na literatura, como por Salick et al. (1997), Peroni et al. (1999), Sambatti et al. (2001), Elias et al. (2001), e Fukuda e Guevara (1998). Deste conjunto foram incluídos, portanto, apenas os caracteres de alta herdabilidade, e considerados como qualitativos multi-estado ordenado (Sneath e Sokal,

1973) (Tabela 4.2). Para reduzir ainda mais as variações ambientais, foi dada preferência para avaliações em roças do primeiro ano de cultivo (mesma idade de uso) e, quando isso não era possível, foram considerados apenas os indivíduos com um ano de plantio. Os dados sobre fertilidade e estrutura física dos solos, destas roças de mesma idade, indicam para uma boa homogeneidade dentro de classes etárias de uso (Capítulo 1). Cabe ressaltar que para toda a caracterização morfológica foram considerados indivíduos adultos, avaliando-se o terço médio superior da planta. Este método de avaliação “in situ” foi utilizado com sucesso por Salick et al. (1997), Peroni (1998) e Peroni (1999). De 204 indivíduos de mandioca usadas pelos Amuesha no Peru, Salick et al. (1997) encontraram 39 fenótipos, considerando 80% de similaridade como nível de agrupamento mínimo, e Peroni (1998) encontrou consistência fenotípica e genética das variedades identificadas pelos agriculores caiçaras no sul do litoral paulista.

Um dos objetivos desta avaliação foi a participação ativa dos agricultores na avaliação do conjunto de variedades manejadas em suas roças. Assim, para cada indivíduo de mandioca avaliado, houve participação direta do agricultor na escolha dos estados que melhor definiam os caracteres avaliados.

Tabela 4.2. Caracteres e estados utilizados como descritores botânicos das variedades de

mandioca.

CARACTER SIGLA ESTADOS

FOLHAS:

Cor do broto foliar (CBF) 1 – verde; 2 - verde arroxeado; 3 – roxo

Cor da folha adulta (CFA) 1 - verde claro; 2 – verde; 3 - verde escuro; 4 – roxo

Cor do pecíolo das folhas adultas (CPE) 1 – verde; 2 - verde arroxeado; 3 – vinho; 4 - roxo Cor da base da nervura da folha (CBN) 1 – verde; 2 - verde arroxeado; 3 roxo

Morfologia do lóbulo foliar (MLF) 1 – linear; 2 – lanceolada; 3 – oblonga

CAULE:

Cor do caule jovem (CCJ) 1 – verde; 2 – alaranjado; 3 - verde claro com manchas roxas; 4 - verde com manchas roxas; 5 – verde escuro; 6 – vinho; 7 – roxo esverdeado; 8 – roxo

Cor do caule adulto sem a película externa (CCA) 1 – marrom claro; marrom alaranjado; 3 - marrom; 4 - marrom escuro; 5 – roxo

RAIZ:

Cor da película externa da raiz (CPR) 1 – creme; 2 - marrom claro; 3 – marrom; 4 – marrom escuro

Cor da casca da raiz sem a película externa (CCR) 1 – branca; 2 – creme; 3 – rosa (roxo claro); 4 - roxa

Cor da polpa da raiz (CPO) 1 – branca; 2 – creme; 3 – amarela

4.3.2.2. caracterização morfológica “ex situ”

De cada indivíduo avaliado “in situ” foi coletado uma estaca (maniva) para plantio em área experimental. Estas estacas foram trazidas para campo experimental do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”18 em Piracicaba, Estado de São Paulo. De cada estaca foram feitas 5 repetições, plantadas em sacos plásticos de 3 litros. Após 4 meses de desenvolvimento em sacos plásticos os indivíduos foram transplantados para campo experimental definitivo da ESALQ/USP, localizado no município de Anhumas, Estado de São Paulo a 70 km de Piracicaba. Na área

18 O Depto de Genética da ESALQ/USP conta com infraestrutura e experiência para manutenção de variedades de mandioca devido a sua coleção de variedades tradicionais e indígenas iniciada no início da década de 1990 por Paulo Sodero Martins (in memoriam), ex-professor deste Departamento.

experimental o plantio foi executado com 5 repetições espaçadas de 1,50m entre plantas e 1,50m entre linhas, onde cada 5 repetições compunham um tratamento (variedade).

Para a caracterização morfológica foram avaliados pelo menos 3 indivíduos de cada variedade e incluídos 5 caracteres quantitativos aos caracteres qualitativos utilizados na caracterização “in situ” (Tabela 1), totalizando então 13 caracteres. Os caracteres incluídos são: número de lóbulos foliares (NLF), comprimento do pecíolo (COP), largura do lóbulo médio (LLM), comprimento do lóbulo médio (CLM), e comprimento da filotaxia (CFI), ou seja, distância “entre-nós”. Na avaliação dos caracteres qualitativos foi observado sua constância em todas as 3 plantas, e para os caracteres quantitativos, foram escolhidas 3 folhas do terço médio superior de cada planta. Apenas para o caracter “comprimento da filotaxia” (CFI), foram feitas 9 medidas nas cicatrizes foliares de 3 plantas de cada tratamento.