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5. DESENHO E MÉTODO DA PESQUISA

5.4 P ROCEDIMENTOS PARA A NÁLISE DAS E VIDÊNCIAS E MPÍRICAS

5.4.1 Análise das Evidências sobre Capacidades Tecnológicas, Aprendizagem

Tecnológica e Implicações para a Performance Competitiva

Para a análise dos constructos, seguiu-se às atividades:

1. Realização da transcrição das entrevistas e observações do campo tanto da fase piloto quanto da fase definitiva.

2. Seleção das informações levantadas nos dados secundários, descartando as desnecessárias.

3. Cada entrevista e observação transcrita foi organizada por áreas tecnológicas às quais pertenciam (prospecção e pesquisa mineral, lavra e processamento mineral). 4. Realização de marcações diretamente na transcrição das entrevistas de trechos que representavam três constructos: (i) capacidade tecnológica; (ii) aprendizagem tecnológica; e (iii) implicações.

5. O mesmo foi feito para os dados secundários. Os trechos de textos (como livros, publicações internas da empresa, relatórios de sustentabilidade, etc.) eram marcados com post-its em diferentes cores para representar as diferentes áreas tecnológicas (prospecção e pesquisa mineral, lavra e processamento mineral) e diferentes constructos: (i) capacidade tecnológica; (ii) aprendizagem; e (iii) implicações.

6. Criação de matrizes com pequenos trechos extraídos das entrevistas e/ou dados secundários que representavam: (i) atividades desenvolvidas pelas empresas, (ii) o período em que a atividade ocorreu; e (iii) a respectiva fonte. Para cada área tecnológica e empresa foi gerada uma matriz. O Quadro 26 exemplifica a construção das primeiras matrizes de análise.

Quadro 26. Primeira matriz de análise dos dados coletados no campo

Área Tecnológica: Lavra

Atividade Período

(década) Fonte

Adaptação de tecnologia de

distribuição de carga no caminhão 2010

Entrevista Engenheiro Sênior

Entrevista Gerente de Infraestrutura de Mina Implantação de Benchmarking

Industrial 2010

Entrevista Gerente Geral de Engenharia, Manutenção, Inovação e Desenvolvimento de Ferrosos

Implantação e adaptação de correias

suspensas em cabos 2000

Entrevista Gerente Geral de Engenharia, Manutenção, Inovação e Desenvolvimento de Ferrosos

Desenvolvimento de robôs

lavadores de caminhão 2010 Entrevista Gerente de Infraestrutura de Mina Controle de máquinas via GPS 2010 Entrevista Engenheiro Junior

Adaptação da estratégia de

manutenção de perfuratrizes 2010 Entrevista Gerente de Infraestrutura de Mina Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa

7. Criação de novas matrizes que buscavam identificar as tecnologias específicas desenvolvidas/implementadas pelas empresas e os vários temas ou aspectos que surgiam em paralelo as tecnologias identificadas como por exemplo, motivadores ou fatores que influenciaram o desenvolvimento ou implantação de determinada tecnologia, as implicações que foram geradas pela tecnologia, como as tecnologias haviam sido desenvolvidas, etc. Foi gerada uma matriz para cada área tecnológica. O Quadro 27 exemplifica essa matriz.

A construção das matrizes iniciais foi fundamental para que o pesquisador tivesse domínio das evidências coletadas, bem como, tivesse uma primeira interpretação de que pontos ou aspectos da capacidade tecnológica e da aprendizagem (ex.: período de cobertura, fatores influentes, tipos de implicação) que poderiam ser cobertos pela pesquisa.

Quadro 27. Segunda matriz de análise dos dados coletados no campo

Tecnologia Perfuratriz autônoma

O que é? Equipamento capaz de se locomover e perfurar conforme um plano previamente definido, sem a necessidade de operador na cabine.

Quando? 2014

Parceiros Flanders (empresa americana), UFRGS, VALE

Como foi desenvolvida?

A Vale criou o projeto piloto na mina de Brucutu, comprou um equipamento que se adequasse a essa nova tecnologia e aí fez a parceria com a Flanders que trouxe as ideias delas e a Vale foi aportando recursos e implementando isso nos equipamentos. A Flanders desenvolveu isso, a Vale adquiriu esse equipamento e está multiplicando para outros projetos.

A Flanders ainda tem um contrato de assistência com a Vale. Então, a Flanders vem pra cá, faz à assistência técnica do equipamento e treina também os funcionários para utilizar. A Vale fez toda a toda a adaptação necessária no site. A Vale faz toda a implementação, ou seja, a Flanders traz o hardware e tem toda uma parte de introduzir isso na mina, uma parte de rede, de telecomunicações, tem uma parte de monitoramento visual por câmeras, que é implementado e desenvolvido pela Vale para que esse hardware possa comandar o equipamento de uma forma mais eficiente e uma parte de captura de informações desse monitoramento, onde tem uma central de controle, que visualiza tudo isso. Tudo o que foi desenvolvido (perfuratriz autônoma) não pode ser divulgado é de propriedade da Vale.

A UFRGS detém alguns conhecimentos de como aplicar/utilizar algumas tecnologias de mensuração por exemplo, a UFRGS auxilia a Vale na implementação junto aos nossos profissionais, orientando como usar a tecnologia. O pessoal da UFRGS vem para as minas da Vale fazer este auxílio. Então principalmente a Vale capta tecnologias diferentes de outras minas e outras empresas, empresas de tecnologia principalmente. Então, o que já está pronto a Vale traz, o que não está pronto a Vale está desenvolvendo. A UFRGS auxilia nesse processo de prospecção de tecnologia, implantação da tecnologia e treinamento do pessoal da Vale.

Em um workshop, uma área da Vale desenvolveu uma estratégia de manutenção diferente para as perfuratrizes, então outras áreas se interessaram. As outras áreas interessadas buscaram informações junto com a área que desenvolveu que passou todo o material (a receita de bolo). Então, houve a implantação dessa nova estratégia de manutenção em outras áreas.

Decisão de escolha dos parceiros

Através de pesquisa de campo do grupo de mineração da Vale, identificou-se as principais empresas que trabalhavam com essa tecnologia, feito isso visitou-se operações no mundo que trabalhavam com essa tecnologia e aí trouxe-se a tecnologia que estava mais comprovada, que era da Flanders e se montou todo um projeto piloto.

A UFRGS foi escolhida principalmente devido ao Prof. Jair Koppe. Na década de 90, ele esteve na Universidade de Queensland, na Austrália, trabalhando em um projeto similar ao Mine to

Mill (que inclui as perfuratrizes também) nas minas australianas.

Implicações

-Elimina a necessidade de marcações manuais dos locais dos furos, aumentando a produtividade e reduzindo o número de pessoas próximas a equipamentos em movimento;

-Possui sistema de controle inteligente, que garante a operação otimizada dentro dos limites técnicos da perfuratriz, e com reação instantânea a perturbações do processo, como por exemplo, o travamento da ferramenta de perfuração (haste);

-Conta com o recurso de proteção de borda, que permite ao projetista da malha de perfuração delimitar limites virtuais dentro dos quais a perfuratriz irá operar com segurança; -Reduz o esforço das máquinas de carregamento e assegura melhoras no desempenho dos caminhões que transportam material.

-Aumento da produtividade em 10% e redução de horas paradas para manutenção em 8%.

-Aumento da vida útil do equipamento e redução de custos com manutenção, peças sobressalentes e explosivos.

Grau de novidade No mundo essa tecnologia começou na década passada, nos Estados Unidos, no Chile, basicamente, e no Brasil começou através do grupo da Vale, em 2014.

Fatores influentes Algumas jazidas da Vale saíram da parte friável e entrou-se na parte do compacto, ou seja, a parte da jazida que estava intemperizada chegou na rochação. Quando você chega nesta parte o processo de extração do mineral de interesse fica mais complexo, necessitando, então, de novas tecnologias.

Mecanismos de aprendizagem

envolvidos

Atividades colaborativa com fornecedores e universidades baseada em engenharia, engenharia reversa, projetos e design de novos e/ou melhoria de produtos, processos, software, sistemas, equipamentos e tecnologias.

Participação ativa com palestras/workshops em Universidades sobre o projeto (tecnologias desenvolvidas).

Realização de seminários internos para divulgação dos resultados de testes, implantações de novas tecnologias, etc. (reúne todas as minas, ocorre duas vezes por ano). O objetivo é de nivelamento entre as áreas para verificação do que as áreas estão fazendo de diferente, tanto em questões de equipamentos, produtos e processos.

Realização de workshops junto aos fornecedores e as áreas da Vale (ocorre duas vezes por ano). O objetivo é que os fornecedores mostrem o que eles estão fazendo (novidades). Treinamento de técnicos, engenheiros e especialistas

Programas de reciclagem de pessoas

Incentivos a programas de pós-graduação locais e internacionais Participação em feiras e fóruns locais e estrangeiros

Aquisição de conhecimento via assistência técnica

Fonte Entrevista Engenheiro Sênior; Entrevista Gerente de Infraestrutura de Mina; Entrevista Professor da UFRGS

Análise das Evidências sobre Acumulação de Capacidades Tecnológicas

Para realização da análise do processo de acumulação de capacidades tecnológicas, primeiramente, as evidências empíricas que representavam exclusivamente o constructo

capacidade tecnológica foram organizadas de forma sistemática à luz da matriz analítica de mensuração de capacidades tecnológicas desenvolvida para esta pesquisa (Capítulo 3). Para isso, foi construída uma tabela, onde as linhas representavam as áreas tecnológicas e as colunas o período no tempo em que atividades tecnológicas eram evidenciadas. Na confrontação entre linhas e colunas foram elaborados textos ampliados que descreviam projetos e/ou atividades tecnológicas desempenhadas pela empresa. Neste momento os dados das diversas fontes eram confrontados (triangulação) evitando, desta forma, distorções. Para realizar essa confrontação as informações coletadas eram lidas várias vezes. Buscava-se comparar e discernir as semelhanças e diferenças entre as informações de conteúdo similar de diferentes fontes. À medida que as informações não apresentavam discrepâncias, os textos que representavam atividades tecnológicas eram inseridos à tabela, empregando-se sempre que possível a linguagem utilizada pelos informantes. Em seguida, as evidências referentes às capacidades tecnológicas (atividades) foram organizadas e classificadas nos diferentes níveis de capacidade tecnológica de cada área pré-definidos no modelo analítico (ver Quadro 1), ao longo do período de cobertura da análise da pesquisa (1942-2015).

Após a classificação, foram construídas as primeiras representações gráfica para apresentar o processo de acumulação de capacidade tecnológica das diferentes empresas e áreas tecnológicas estudadas. Além disso, buscou-se representar a distribuição dessas capacidades para além das fronteiras das firmas.

Em seguida, voltou-se as entrevistas com objetivo de levantar informações para além dos constructos iniciais. A partir de trechos relevantes das entrevistas sobre outros temas/constructos foram criadas categorias ou conceitos que representavam aquele trecho. O objetivo era buscar informações que pudessem estar demonstrando algo interessante, que ainda não havia sido identificado e que influenciou o processo de acumulação de capacidades tecnológicas. Estas evidências auxiliaram e ajudaram a fundamentar explicações a respeito de como foram construídas as capacidades tecnológicas da empresa.

Por fim, foram elaborados relatórios apresentando as evidências de forma neutra, porém, já eram apontadas as primeiras possíveis interpretações e análises das evidências coletadas.

Análise das Evidências sobre Aprendizagem Tecnológica

Na análise da aprendizagem tecnológica, foram construídas três matrizes, uma para cada área tecnológica (prospecção e pesquisa mineral, lavra e processamento mineral). Cada

matriz foi estruturada em linhas e colunas, onde as colunas representavam períodos de tempo e as colunas representavam a aprendizagem tecnológica, ou seja, os mecanismos de aprendizagem e suas características (ver Quadro 28). Nesta fase da análise já era possível averiguar certa disparidade na quantidade e qualidade dos mecanismos de aprendizagem entre as áreas tecnológicas, o que corroborava a heterogeneidade encontrada no acúmulo de capacidades tecnológicas entre as áreas e sinalizava a relação muito estreita entre aprendizagem e capacidade tecnológica. Durante a análise, o Quadro 4, apresentado no Capítulo 3, serviu de orientador na identificação de

Quadro 28. Exemplo de matriz de análise do constructo aprendizagem tecnológica

Prospecção e

Pesquisa Mineral 1942-1997 1998-2010

Mecanismo de aprendizagem

Tipo de fluxo de conhecimento: Externo Tipo de fluxo de conhecimento: Externo

Variedade: Consultoria Variedade: Desenvolvimento

baseado em engenharia Parceiros: Terraservice Projetos

Geológicos

Parceiros: Azevedo & Travassos Petróleo

Direção e origem: Predominantemente

unidirecional do parceiro para a VALE. Direção e origem: Bidirecional. Impacto: Introdução das melhores

tecnologias de prospecção existentes no mundo e de novos conceitos de geologia exploratória. Contribuiu para acumulação de capacidades tecnológicas de produção avançada (Nível 2).

Impacto: Adaptação de equipamento de perfuração da área de petróleo e gás para mineração. Contribuiu para acumulação de capacidades

tecnológicas de inovação intermediária (Nível 4).

Mecanismo de aprendizagem

Tipo de fluxo de conhecimento: Interno Tipo de fluxo de conhecimento: Externo

Variedade: Treinamento (grupos de apoio)

Variedade: Testes e Experimentações e Desenvolvimento baseado em engenharia

Parceiros: Colaboradores da VALE de diferentes áreas (geologia econômica, geoquímica, economia mineral e geofísica)

Parceiros: Fornecedor americano

Direção e origem: Bidirecional entre

todos os envolvidos Direção e origem: Bidirecional

Impactos: Melhor coordenação e análise das várias informações e dados dos projetos da VALE. Contribuiu para acumulação de capacidades tecnológicas de inovação básica

(Nível 3)

Impactos: Teste e experimentações com equipamento relacionado a gradiometria gravimétrica e adaptação do equipamento à aeronave da VALE.

Contribuiu para acumulação de capacidades tecnológicas de inovação intermediária (Nível 4)

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa

Posteriormente, foram gerados relatórios apresentando as evidências de forma neutra sobre aprendizagem tecnológica, já destacando a relação entre a aprendizagem e suas implicações na acumulação de capacidades tecnológicas. O desenvolvimento da matriz e do relatório possibilitou a realização de uma primeira classificação de conjuntos de processos de aprendizagem com diferentes níveis de capacidade tecnológica de forma sistemática em cada uma das fases analisadas para cada área tecnológica.