• Nenhum resultado encontrado

4. CONTEXTO EMPÍRICO DA PESQUISA

4.4 A I NDÚSTRIA DE M INERAÇÃO : B REVE PANORAMA DE A SPECTOS

4.4.1 Panorama da Mineração no Mundo

Ao longo dos anos a indústria de mineração passou por grandes crescimentos na produção global. Dois momentos podem ser destacados com um aumento substancial da produção quando comparados aos períodos anteriores. O primeiro acontece após a Segunda Guerra Mundial e o segundo a partir da década de 2000. O crescimento significativo na produção a partir da década de 2000 se deu pelo boom da indústria global de mineração caracterizado pelo aumento da demanda e dos preços, e, portanto, também ao aumento dos níveis de lucro.

A Figura 5 exemplifica esse fenômeno demonstrando o preço do minério de ferro durante o período de tempo 1985-2015. Os preços globais estavam deprimidos durante os anos 1990, mas aumentaram significativamente a partir de meados da década de 2000. A razão para a elevação dos preços foram a ascensão das taxas de crescimento das economias asiáticas, especialmente China. Os preços em alta tornaram as atividades de exploração mais atraente e aumentaram a rentabilidade de novos empreendimentos de mineração.

Figura 5. Evolução do preço do minério de ferro no período entre 1985-2015 (US$ por tonelada)

Fonte: IndexMundi (2016)

Consequentemente, a produção mineral a partir dos anos 2000, também, aumentou conforme demonstrado na Figura 6. Esse crescimento, no período entre 1985 e 2013,

Latina (51%) e África (46%). Na América do Norte o aumento da produção mineral foi menor, cerca de 10%. Ao contrário destes continentes que obtiveram crescimento, a Europa reduziu a produção mineral em cerca de 40%, de 1985 a 2013.

Figura 6. Produção mundial de minerais por continente entre 1984 e 2013 (milhões de toneladas)

* inclui minerais energéticos, ferro e ferroligas, não ferrosos, metais preciosos e não metais.

Fonte: Reichl, Schatz and Zsak (2015)

Cabe destacar na América do Norte, que os EUA, além de possuir uma parcela importante da produção mundial de mineração, mantém a posição de maior fornecedor de máquinas, equipamentos e outros insumos para a mineração (Urzúa, 2013). Vários países europeus, nomeadamente a Alemanha e o Reino Unido e, em menor medida Suécia, Finlândia e França, também possuem um papel de liderança como fornecedores, apesar de ter uma parcela muito reduzida da produção mundial de mineração. Canadá e principalmente Austrália apresentam-se como principais produtores de minerais e fornecedores para a indústria de mineração. Esses países desenvolveram atividades inovadoras significativas e foram responsáveis por uma participação dominante no fornecimento de tecnologia da indústria incorporada em equipamentos e serviços intensivos em conhecimento. A América do Sul e a Ásia mostram um grande contraste. Estas duas regiões emergiram como principais produtores de minerais, mas elas não se tornaram grandes produtores e fornecedores de máquinas, equipamentos, serviços e insumos intensivos em conhecimento para a indústria (Urzúa, 2013).

Apesar dessas informações demonstrarem que as atividades de mineração estão distribuídas ao longo de diferentes regiões, a maior parte das atividades ainda está

concentrada em um pequeno número de países. Cerca de 80% da produção de mineração metálica ocorre em apenas 12 países, e os restantes 20% são produzidos em cerca de 90 países (Reichl et al., 2015; Urzúa, 2013). A Figura 7 apresenta os principais países produtores minerais em 2013 por tipo de minério.

Figura 7. Principais países produtores minerais em 2013 (milhões de toneladas)

Fonte: Reichl et al., (2015)

A Figura 8 mostra o número de novas minas que abriram em diferentes categorias de países em todo o mundo ao longo do período 2000-2014. Ela exibe que, desde meados da década de 2000 o número de novas minas aumentou significativamente, e isso é particularmente o caso de países de alta renda, como a Austrália, Canadá, EUA, Rússia e Chile. Estes cinco países sozinhos foram responsáveis por 38% dos novos empreendimentos de mineração ao longo do período. O boom da mineração também levou a um investimento substancial em mineração em vários países de rendimento médio superior, incluindo o Brasil, África do Sul, México, China e Cazaquistão. Porém, em países de baixa renda, o aumento dos preços minerais não levou a um aumento semelhante nos investimentos em mineração. Algumas importantes exceções incluem a Índia, Gana e Congo (Söderholm & Svahn, 2015).

Figura 8. Número de novas minas abertas em diferentes países pela classificação de renda do Banco Mundial 2 entre 2000 e 2013 0 5 10 15 20 25 30 35 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Renda baixa e média-baixa Renda média-superior Renda alta

Fonte: Söderholm and Svahn (2015)

Cabe destacar que há mais de 2.500 minas produtoras de minérios metálicos usando métodos mecanizados no mundo, excluindo-se pequenas operações manuais e artesanais. Porém, treze minas a céu aberto no mundo produzem mais de 50 milhões de toneladas de minério por ano. Juntas representam mais de 20% do volume total de minérios metálicos produzidos anualmente no mundo. Uma centena de minas produz por volta de 10 milhões de toneladas por ano. As restantes, por volta de 2.400 minas, produzem em média, apenas 1,7 milhões de toneladas (Ericsson, 2012).

Algumas das empresas recém-entrantes mais ativas na mineração são originárias de economias emergentes. Mas em geral não são as economias emergentes que estão no controle da produção mineral (UNCTAD, 2007). Algumas das empresas de economias emergentes não são novas para o setor, mas, a partir dos anos 2000, alargaram os seus interesses tanto em termos geográficos quanto em termos de novos produtos - gerando aumento no número de Fusões e Aquisições (F&A) - como a Vale (que adquiriu a produtora de níquel Inco) e a Norilsk (que adquiriu minas de ouro na Rússia e na África do Sul, mais tarde vendidas por razões estratégicas). Outras iniciaram aproveitando-se de privatizações como um trampolim para uma posterior expansão global, como Vedanta da Índia. Empresas chinesas buscaram garantir sua demanda de matérias-

2

O Banco Mundial realiza a classificação de economias do mundo com base em estimativas do PIB per

capita: (i) Renda baixa: $ 1.035 ou menos; (ii) Renda média-baixa: entre $ 1.036 e $ 4.085; (iii) Renda

primas por meio de investimentos diretos em qualquer lugar do mundo. Por exemplo, a Chinalco adquiriu 12% da Rio Tinto durante a competição com a BHP Billiton em adquirí-la (Ericsson, 2012). O Quadro 11 apresenta as principais empresas mineradoras de acordo com o valor da produção das minas de metais não combustíveis.

Quadro 11. Ranking dos líderes de produção mineral por tipo de minério (2014) Tipo de minério 1a maior produtora do mundo 2a maior produtora do mundo 3a maior produtora do mundo Minério de ferro Vale 319,2 milhões de toneladas/ano Rio Tinto 280 milhões de toneladas/ano BHP Billiton 233 milhões de toneladas/ano

Níquel MMC Norilsk Nickel 274,2 kt/ano Vale 274 kt/ano BHP Billiton 154 kt/ano Carvão Coal India 431 milhões de toneladas/ano Shenhua Group 352 milhões de toneladas/ano Peabody Energy 198 milhões de toneladas/ano Cobre Codelco 1,841 milhões de toneladas/ano Freeport-McMoRan Copper & Gold Inc. 1,44 milhões de

toneladas/ano

BHP Billiton 1,1 milhões de

toneladas/ano Fonte: Relatórios das companhias

É interessante observar o papel da produção do minério de ferro no ranking apresentado. A VALE, que é a segunda maior produtora de níquel e a décima sétima produtora de cobre depende apenas marginalmente desses metais para a sua classificação. O minério de ferro e as pelotas representam cerca de 70% da receita operacional da empresa, portanto ainda é uma empresa pouco diversificada em termos de produto. Das principais empresas somente a Anglo American (que possui pouca participação na produção de minério de ferro), poderia ser classificada como realmente diversificada. Atualmente, das 15 maiores empresas, seis delas possuem mais de 50% da sua produção total sendo de minério de ferro (Ericsson, 2012). Em 2007 o minério de ferro contribuía com 20% da receita total das maiores empresas e o cobre dominava com 25% do total (PWC, 2013). Além da Anglo American, somente a Norilsk Nickel não está vinculada a um metal específico em mais de 50% de sua produção, que então poderia ser chamada de mineradora diversificada. Passado o boom das commodities, atualmente as maiores empresas estão aderindo a um movimento de atuação das operações mais próximas de casa e menos espalhadas. Austrália e Brasil são considerados os principais mercados emissores para o grupo das maiores empresas. A estimativa das receitas associadas a estes dois países aumentaram de 44% em 2007 para 63% em 2012 (PWC, 2013).

Em 2015 o preço de minério de ferro, por exemplo, teve a maior baixa dos últimos 10 anos (IndexMundi, 2016). A queda no valor do minério de ferro teve um impacto significativo nas principais empresas, como BHP Billiton, Rio Tinto e VALE, e cada uma tem seguido diferentes abordagens para lidar com a queda nos preços e excesso de oferta no mercado. De acordo com relatório da PWC (2015) a Rio Tinto continua empenhada em aumentar a oferta em cerca de 100 milhões de toneladas/ano, a BHP Billiton aumentou o prazo para alcance de seu objetivo de 290 milhões de toneladas/ano e a VALE permanece investindo US$ 17 bilhões em expansões, porém reterá 30 milhões de toneladas do mercado se os preços fracos persistirem (PwC, 2015). A Figura 9 apresenta a média de vida das minas de minério de ferro dando destaque para as principais empresas (BHP, Rio Tinto e VALE).

Figura 9. Média de vida das minas de minério de ferro (anos)

40 36 32 25 17 18 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 2013 2014 2015

Vale, BHP e Rio Tinto Outras principais empresas mineradoras

Fonte: PwC (2015)

De forma geral, a desaceleração nos preços das commodities minerais tem forçado as empresas a se focarem na redução de custos e na redução dos investimentos de capital – o minério de ferro foi o preço mais atingido, caindo de mais de US$ 160,00 em meados de 2011 para menos de US$ 40,00 a tonelada em meados de 2015 e a perspectiva global atual para os metais continua fraca devido à combinação de uma mais lenta taxa de crescimento econômico global, particularmente nos mercados emergentes, e sinais de um excesso de oferta de diversos produtos de base, principalmente de minério de ferro e carvão.