• Nenhum resultado encontrado

3. BASE CONCEITUAL DA PESQUISA

3.6 O PERACIONALIZAÇÃO DOS C ONSTRUCTOS DA P ESQUISA

3.6.2 Aprendizagem Tecnológica (mecanismos de aprendizagem)

A operacionalização da aprendizagem neta pesquisa foi realizada por meio dos diversos mecanismos de aprendizagem que as empresas utilizam para adquirir, assimilar e melhorar/criar conhecimento para construção de capacidades tecnológicas. Em outras palavras, a aprendizagem tecnológica foi operacionalizada nesta pesquisa por meio da identificação e caracterização dos mecanismos de aprendizagem utilizados pela empresa.

Os mecanismos de aprendizagem podem ser classificados em dois tipos: (i) intraorganizacionais; e (ii) interorganizacionais. O primeiro refere-se aos mecanismos de aprendizagem que ocorrem internamente à empresa; o segundo trata-se daqueles que envolvem a empresa e outras organizações. Características que podem ser encontradas nos mecanismos de aprendizagem intraorganizacionais são: (i) variedade; e (ii)

impactos gerados para a acumulação de capacidades tecnológicas. Já para os mecanismos de aprendizagem interorganizacionais são: (i) variedade; (ii) parceiros; (iii) direção e origem dos fluxos de conhecimento envolvidos; e (iv) impactos gerados na acumulação de capacidades tecnológicas.

A variedade refere-se à forma dos mecanismos de aprendizagem utilizados para adquirir, assimilar, combinar, gerar e transferir conhecimentos que contribuem para a acumulação de capacidades tecnológicas. A variedade foi mensurada em termos da existência/inexistência de um mecanismo de aprendizagem. Estes podem ser: (i) intraorganizacionais, como por exemplo, treinamentos internos; e (ii)

interorganizacionais como P&D em parceria. O Quadro 3 apresenta algumas variedades de mecanismos de aprendizagem.

Quanto aos impactos gerados na acumulação de capacidades tecnológicas, estes referem-se inicialmente às novas atividades tecnológicas que a empresa passou a realizar e que foram substanciadas pelos mecanismos de aprendizagem. As atividades tecnológicas incluem qualquer tipo de atividade que contribui para o reforço ou acúmulo de novas capacidades tecnológicas da empresa. As atividades tecnológicas desenvolvidas são distintas de acordo com seus níveis de complexidade e novidade. No extremo inferior da complexidade e novidade, estão às atividades que são relativamente simples e estão associadas a atividades de produção, que representam, por exemplo, capacidade de produção básica (Nível 1). No extremo superior de complexidade e novidade estão, por exemplo, atividades de P&D que geram inovações com caráter de novidade para o mundo, como por exemplo, capacidade de inovação de liderança mundial (Nível 6) (ver Quadro 1) (Dantas, 2006). A combinação de diferentes mecanismos de aprendizagem corrobora a acumulação de diferentes níveis de capacidade tecnológica.

Tipo de parceiro refere-se à organização ou organizações que estão realizando o mecanismo de aprendizagem de forma conjunta com a empresa em análise, por exemplo, universidades, fornecedores, competidores, entre outros.

A direção refere-se ao curso predominante dos fluxos de conhecimento e envolvem a empresa em análise e outras organizações (parceiros). A direção dos fluxos pode se dar de forma unidirecional, bidirecional, e unilateral reversa (Ariffin 2000; Dantas & Bell, 2011). Fluxos unidirecionais são aqueles em que a direção predominante é unilateral do parceiro para a empresa em análise. Fluxos bidirecionais envolvem trocas de conhecimento nos dois sentidos entre a empresa em análise e os parceiros. E, fluxos unidirecionais reversos ocorrem quando os fluxos de conhecimento são possuem direção predominante unilateral da empresa em análise para o parceiro.

A origem dos fluxos refere-se à identificação da fonte do fluxo de conhecimento, por exemplo: (i) fornecedor; (ii) universidade; (iii) competidor; e (iv) a própria empresa em

análise, entre outros (Dantas, 2006). O Quadro 4 apresenta algumas caraterísticas dos mecanismos de aprendizagem.

Destaca-se que na análise das evidências empíricas, nem todos esses mecanismos de aprendizagem e características foram abordados em todas as funções e em todos os períodos, sendo apenas revelado o que emergiu das evidências do campo. Portanto, os mecanismos de aprendizagem e suas características, demonstradas nos Quadros 3 e 4, serviram de guia para a interpretação do papel da aprendizagem tecnológica na acumulação de capacidades tecnológicas.

Quadro 3. Variedades de mecanismos de aprendizagem que serviram de guia para a pesquisa

Variedade de mecanismos de

aprendizagem

Descrição do processo de aprendizagem tecnológica

Contratação de expertise

Processos para obter acesso a novos conhecimentos por meio da contratação de profissionais ou especialistas para produção, P&D, processos organizacionais e gerenciais, e/ou para desenvolver projetos.

Treinamento

A concepção e/ou participação em treinamentos, seminários, visitas técnicas, cursos e aulas para a operação de tecnologias, utilização de novos processos, incorporação de novas técnicas ou para a realização de atividades inovadoras. Podem ser realizados internamente ou em parceria com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e etc.

Assistência técnica e consultoria

A prestação e/ou recebimento de assistência técnica, consultoria ou auditoria em matérias-primas, produtos, processos, software, sistemas, equipamentos, máquinas, laboratórios e tecnologias.

Testes e experimentações

Realização de atividades no chão de fábrica ou no campo, baseado em tentativa e erro, para a realização de melhorias incrementais em matérias- primas, produtos, processos, software, sistemas, equipamentos, máquinas e tecnologias. Este processo pode ser realizado de forma individual ou em parceria com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e etc.

Desenvolvimento e engenharia / Desenvolvimento baseado em engenharia

Realização de atividades de engenharia, engenharia reversa e projetos para concepção e desenvolvimento de matérias-primas, produtos, processos, software, sistemas, equipamentos, máquinas e tecnologias. Este processo pode ser realizado de forma individual ou em parceria com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e etc.

Arranjos organizacionais Refere-se à criação de estruturas gerenciais que dão suporte ao

desenvolvimento de atividades inovadoras.

P&D aplicado (curto prazo)

Realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento para criação de novas matérias-primas, produtos, processos, softwares, sistemas, equipamentos, máquinas e tecnologias. Este processo pode ser realizado de forma individual ou em parceria com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e etc.

P&D básico (longo prazo)

Realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento para explorar novos campos científicos, criação de conhecimento científico e tecnológico capaz de gerar tecnologias disruptivas que permitem a entrada em novas trajetórias tecnológicas e/ou criação de novos negócios. Este processo pode ser realizado de forma individual ou em parceria com universidades, institutos de pesquisa, fornecedores e etc.

Fonte: Adaptado de Dantas (2000); Figueiredo (2011), Yoruk (2009), Bell and Figueiredo (2012), Figueiredo et al. (2013) e Gonzalez (2016)

Quadro 4. Algumas características dos mecanismos de aprendizagem que serviram de guia para a pesquisa Tipo de mecanismo de

aprendizagem Variedade Impactos

Intraorganizacionais referem-se aos mecanismos

de aprendizagem que ocorrem internamente à

empresa.

Refere-se à forma como os mecanismos de aprendizagem ocorrem internamente à empresa.

Por exemplo: treinamento, desenvolvimento e engenharia, P&D.

Refere-se às novas atividades tecnológicas que a empresa passou a realizar e que foram substanciadas pelos mecanismos de aprendizagem. As atividades tecnológicas incluem qualquer tipo de atividade que contribui para o reforço ou acúmulo de novas capacidades tecnológicas da empresa.

Tipo de mecanismo de

aprendizagem Variedade Parceiro Direção e origem

Impactos para a acumulação de capacidades tecnológicas

Interorganizacionais referem-se aos mecanismos

de aprendizagem que envolvem a empresa e

outras organizações.

Refere-se à forma como os mecanismos de aprendizagem que ocorrem

em parceria entre a empresa em análise e

outras organizações. Por exemplo: contratação de expertise, treinamento, desenvolvimento e engenharia, P&D. Refere-se à organização ou organizações que estão realizando o mecanismo de aprendizagem de forma conjunta com a empresa

em análise. Por exemplo: universidades, fornecedores, competidores, entre outros. Direção refere-se ao curso predominante dos fluxos de conhecimento e envolvem a empresa em análise e outras organizações (parceiros). Por exemplo: unidirecional, bidirecional e unidirecional reverso.

A origem dos fluxos refere-se à identificação da fonte do fluxo de conhecimento. Por exemplo: fornecedor, universidade, competidor, a própria empresa em análise.

Refere-se às novas atividades tecnológicas que a empresa passou a realizar e que foram

substanciadas pelos mecanismos de aprendizagem. As atividades tecnológicas

incluem qualquer tipo de atividade que contribui para o reforço ou acúmulo de novas

capacidades tecnológicas da empresa. A combinação de diferentes mecanismos de aprendizagem corrobora a acumulação de diferentes níveis de capacidade tecnológica.

3.6.3 Implicações da Acumulação de Capacidades Tecnológicas para a

Performance Competitiva das Empresas

Esta Seção apresenta a operacionalização das implicações geradas pela acumulação de capacidades tecnológicas inovadoras para a performance competitiva da empresa. Cabe destacar que não é o foco da pesquisa investigar as implicações das capacidades tecnológicas, porém as mesmas foram analisadas de forma complementar.

À luz dos estudos de Torres-Vargas (2006) e Figueiredo (2014) a operacionalização das

implicações para a performance competitiva da empresa geradas pela acumulação de capacidade tecnológica se deu em termos de: (i) desempenho inovativo e inventivo e seus benefícios; (ii) desempenho operacional, ambiental e de saúde e segurança; (iii) implicações para novos negócios; e (iv) implicações para geração de conhecimento para além das fronteiras da firma.

Baseando-se em Figueiredo (2014) o desempenho inovativo e inventivo refere-se a atividades inovadoras que geram benefícios concretos para as empresas e podem ser como: (i) implementação de atividades inventivas, medidas em termos de patentes, protótipos, etc.; e (ii) implementação de inovações. Estas foram classificadas com grau de novidade mundial e local.

Associados à implementação de inovações estão os benefícios gerados por estas inovações, ou seja, a sua implicação para o desempenho operacional, ambiental e de saúde e segurança. O desempenho operacional refere-se à mensuração de parâmetros técnicos específicos de cada indústria, como produtividade, qualidade do processo,

qualidade dos produtos, etc. (Figueiredo, 2014). O desempenho ambiental tem sido

baseado em tecnologias do tipo “ganha-ganha” que reduzem os custos e danos

ambientais, tais como economia de energia, redução de emissão de poluentes, etc. (Figueiredo, 2014). O desempenho em saúde e segurança relaciona-se a garantia da integridade física e da saúde dos empregados (ex.: redução de acidentes de trabalho, redução de afastamentos). Indicadores que auxiliaram na avaliação do desempenho

operacional e ambiental estão baseados no estudo de Nader, Tomi e Passos (2012) que identifica indicadores-chave de desempenho utilizados na indústria de mineração (Quadro 5). Estes indicadores foram diferenciados por áreas tecnológicas.

Quadro 5. Exemplos de indicadores de desempenho operacional e ambiental Áreas

Tecnológicas da empresa

Exemplos de Indicadores Operacionais* Exemplos de Indicadores Ambientais*

Pesquisa e Prospecção

 Aumento da razão entre a suficiência de reserva e a quantidade de minério liberado (produção), essa razão indica o tempo necessário para as reservas se esgotarem (tempo);

 Aumento do percentual de atendimento do plano anual de prospecção (%);

 Aderência ao orçamento planejado (%);

 Aumento da produtividade da mão de obra total (mão de obra direta e mão de obra indireta) (produção/hora);

 Aumento dos valores de reservas (provadas e prováveis) (toneladas).

 Diminuição do número de não conformidades de meio ambiente, refere-se à diminuição do número de não atendimento aos critérios políticos- ambientais e de sistema de gestão ambiental da empresa;  Diminuição do custo da energia (R$). Lavra

 Diminuição da taxa de falha (produção/falha);  Diminuição de taxa de desligamento forçado: é uma

medida da probabilidade de uma unidade geradora não estar disponível devido a desligamentos forçados (probabilidade);

 Aumento da disponibilidade física de equipamentos: disponibilidade é o percentual de tempo que um equipamento ou instalação ficou à disposição para o desempenho de sua função nominal (%);

 Diminuição da distância média de transporte (m);  Diminuição do índice de horas extras de

manutenções (manutenções/total de horas de manutenção).  Redução na emissão de CO2 (toneladas métricas);  Diminuição do número de não conformidades de meio ambiente, refere-se à diminuição do número de não atendimento aos critérios políticos- ambientais e de sistema de gestão ambiental da empresa.  Redução no consumo de água. Processamento mineral

 Aumento da recuperação mássica: representa o que é recuperado do material inicial, sendo relativa à quantidade de minério na saída da mina (%);

 Aumento da recuperação metalúrgica: representa a porcentagem de recuperação dos minérios descartados no rejeito do processo (%);

 Aumento da produtividade da mão de obra total (produção/hora);

 Aumento do coeficiente de qualidade das matérias- primas.  Diminuição do custo unitário de meio ambiente (R$);  Diminuição do consumo específico de energia (kWh).  Redução no consumo de água.  Redução de resíduos. * Os indicadores são apresentados a partir de uma leitura que demonstra implicações positivas para a competitividade da empresa.

Fonte: Adaptado de Nader et al. (2012)

No que tange às implicações para novos negócios, buscou-se identificar oportunidades geradas para entrada em novos negócios tanto pela VALE quanto por empresas parceiras. Ressalta-se que as oportunidades avaliadas deveriam ser resultado de atividades tecnológicas realizadas ou de capacidades acumuladas pela VALE.

Por fim, implicações para geração de conhecimento para além das fronteiras da empresa foram mensuradas a partir de produções acadêmicas geradas por atividades tecnológicas desenvolvidas pela empresa, como por exemplo, teses, dissertações e artigos científicos. Ademais, também foram consideradas aqui implicações para formação e qualificação de massa crítica.

CAPÍTULO 4