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Análise de dados e achados

3. MÉTODOS

3.2 Desenho do estudo

3.2.2.4 Análise de dados e achados

Concomitantemente à coleta, procedi à análise dos dados linha a linha, recortando as unidades de análise. Os códigos foram escritos procurando preservar a fala das entrevistadas na íntegra, formando frases com o uso de um verbo no gerúndio (indicando processo).

3.2.2.4.1 Análise dos dados

A codificação substantiva dos dados foi realizada por meio das codificações aberta, axial e seletiva.

3.2.2.4.1.1 Codificação aberta

O processo de análise se iniciou com a codificação aberta, em que as falas foram minuciosamente detalhadas, por meio do exame do conteúdo, linha por linha, após a digitação das gravações feitas com os sujeitos do estudo, de forma a elaborar os códigos (unidades de análise). Estes foram agrupados por similaridade e diferenças. Todos os dados foram passíveis de codificação: os dados foram codificados, comparados entre si e denominados em subcategorias e categorias (Figura 1 e 2).

Entrevista/Dados Brutos Códigos Preliminares Ela está presa! Poderia estar livre,

conhecendo a família e não está, poderia estar se aproximando da minha mãe, conhecendo a voz dela, do meu filho e não está; está só comigo.

- Percebendo que a filha está presa

- Reconhecendo a privação da filha com relação à família

- Preocupando-se com a entrega da filha - Preocupando-se com a construção dos

Aí a gente pensa e a hora de entregar? Eu vou ficar com ela aqui até os 6 meses e se ela não se acostumar com a minha mãe depois? Ela vai sofrer!

novos vínculos

- Visualizando o sofrimento que a filha passará

- Refletindo o período de permanência com a filha

- Pensando na liberdade da filha - Possibilitando a entrega para a mãe Figura1 – Quadro de exemplo de codificação aberta. Campinas, SP, 2018.

Agrupando Códigos Conceitos Provisórios

- Percebendo que a filha está presa

- Reconhecendo a privação da filha com relação à família

- Refletindo o período de permanência com a filha

- Pensando na liberdade da filha

- Tendo consciência da prisão da filha

- Preocupando-se com a entrega da filha - Visualizando o sofrimento que a filha passará

- Temendo a entrega e o sofrimento da filha

- Preocupando-se com a construção dos novos vínculos

- Possibilitando a entrega para a mãe

- Planejando a entrega para a mãe

Figura 2- Quadro de exemplo de agrupamento de códigos e atribuição de conceitos. Campinas, SP, 2018.

3.2.2.4.1.2 Codificação axial

A codificação axial é o conjunto de procedimentos pelos quais os dados são reagrupados de maneiras novas, sendo feitas as conexões entre as categorias. Busquei desvelar como as mulheres lidam com o problema, os significados que elas atribuem ao fenômeno estudado. Este processo demandou muitas horas na reordenação dos códigos, na busca da relação entre as categorias e na captação dos significados ali inclusos.

Conceitos Provisórios Códigos Conceituais - Tendo consciência da prisão da filha

- Temendo a entrega e o sofrimento da filha - Planejando a entrega para a mãe

- Vislumbrando e temendo a prisão e a separação da filha.

Figura 3- Quadro de exemplo de codificação axial. Campinas, SP, 2018.

3.2.2.4.1.3 Sistematizando o material empírico para a análise

A TFD coloca o pesquisador diante de uma variedade de dados, o que requer formas de mantê-los organizados e compreensíveis, possibilitando facilitar tanto o seu acesso quanto a sua visualização simultânea. Esta organização é necessária para a dinâmica analítica do ir e vir contínuo aos dados, pois, na TFD, o pesquisador trabalha ao mesmo tempo com os dados brutos (entrevistas), com os códigos e com as categorias, pela análise sistemática e comparativa.

As entrevistas foram transcritas por mim logo após serem realizadas, sendo digitadas, inseridas e identificadas por numeração crescente (Entrevista 1, Entrevista 2...), as entrevistas realizadas pela segunda vez, com duas participantes, foram identificadas conforme a mesma ordem numérica das entrevistas, seguidas da letra EN (Entrega) e pela data de sua realização.

Os três dispositivos (entrevista, diagrama e memorando) formaram a unidade analítica. No processo de entrevistas, foram elaborados diagramas para facilitar a leitura e a compreensão. Os memorandos também foram elaborados a partir do levantamento de hipóteses, durante o processo de coleta de dados.

Para o registro da análise dos dados, utilizamos tabela com duas colunas: a da esquerda, com os dados brutos (conteúdo na íntegra da entrevista); e, na coluna da direita, encontravam-se os códigos (Figura 1). A partir do agrupamento dos códigos, a coluna da esquerda foi utilizada para os códigos preliminares e a da direita para os códigos conceituais (Figura 2). Os códigos conceituais ocuparam a coluna da esquerda e, na coluna da direita, as categorias e subcategorias (Figura 3).

Para a análise, utilizamos memorandos e diagramas. Os memorandos são uma forma de registro cuja função é servir de fonte de informação e contêm produtos da análise. São analíticos e conceituais, em vez de descritivos, enquanto os diagramas são esquemas visuais. Os diagramas e os memorandos, como análise sistemática dos dados, concederam densidade e exatidão à teoria.

O processo de construção da teoria implica o registro do processo de análise, permitindo observar o desenvolvimento do conceito, gradualmente. Sendo assim, durante o processo de codificação das entrevistas, ideias, suposições e dúvidas que surgiram foram registradas em diagramas e memorandos. A seguir, são apresentados exemplos de memorando e diagrama utilizados neste estudo (Figuras 4 e 5).

Memorando

Data:05/05/2017 Situação: Entrevista 2

Uma história de violência sofrida pelo companheiro, seguida de gestação de risco e aprisionamento. Decidiu amamentar após conhecer a filhinha, inicialmente não desejou estar com ela na prisão, avaliava que seria melhor que ela fosse entregue para a família a ficar presa. Se refere a entrega como algo muito dolorido, impossível se preparar para entregar o seu filho, a dor é inevitável! A filha foi entregue para a sua irmã, que nunca a trouxe para vê-la, e assim o seu sofrimento e angústia não têm fim... Tristeza, fracasso, angústia, insegurança têm sido o seu dia a dia; desespero por não ver o bebê e não saber quando verá. O sofrimento trouxe o diagnóstico de depressão e precisou ser medicada.

Obs/Pesquisadora: Parece-me que a impotência força as decisões, escolhas obrigatórias que, posteriormente, esvaziam as progenitoras da vida que vislumbraram com seus bebês e as colocam, novamente, em uma condição de total impotência frente à ausência do filho, frente à solidão que vivem!

Figura 5- Diagrama Entrevista 14. Campinas, SP, 2018.

3.2.2.4.1.5 Codificação seletiva

Para Strauss e Corbin55, o primeiro modelo de codificação geral que o pesquisador precisa ter em mente é o denominado por modelo paradigmático. Ele estabelece uma relação entre as categorias, envolvendo, respectivamente, causa, fenômeno, contexto, condições intervenientes, estratégias de ação/interação e consequências. É a conexão entre as categorias que permite a construção da teoria.

A codificação seletiva consiste no desenvolvimento da categoria central, em relacioná-la com as outras categorias, pela análise sistemática.

Com o reconhecimento das categorias, o próximo passo foi o desenvolvimento do modelo de integração, que é a integração e a conexão entre as categorias, sistematicamente analisadas. Para desenvolver o modelo de integração, identifiquei as categorias indicativas da condição causal, do contexto, das condições intervenientes, das estratégias de ação das mães, e consequência. Nesta etapa, a atenção é voltada ao ir e vir nas etapas anteriores, agrupando e reagrupando as categorias55,70.

A categoria central consiste na ideia central ou no acontecimento sobre o qual o conjunto de ações/interações ocorre. O contexto é o específico conjunto de propriedades que dizem respeito a um fenômeno; ele representa o conjunto particular de condições, dentro das quais as estratégias de ação/interação são tomadas. As estratégias de ação/interação ocorrem

para realizar ou responder a um fenômeno. As condições intervenientes facilitam ou dificultam as estratégias, dentro de um contexto específico. As consequências são os resultados atuais ou potenciais da ação/interação; podem acontecer no presente ou no futuro. Essas consequências podem tornar-se parte de condições, afetando o próximo conjunto das ações/interações. As condições causais são eventos, acontecimentos que levam à ocorrência ou ao desenvolvimento do fenômeno55.

Para melhor compreensão e visualização dos dados, foram elaborados quadros e diagramas, que permitiram visualizar as conexões que foram estabelecidas entre as categorias. Eles são representações gráficas ou mensagens visuais das relações entre os conceitos, que facilitam e põem em evidência os escritos55. Os diagramas contribuíram no aprofundamento analítico do material e no direcionamento da minha reflexão.