• Nenhum resultado encontrado

Síntese da categoria central

4. RESULTADOS

4.3 Apresentando a Categoria Central

4.3.2 Síntese da categoria central

Portanto, na separação, encerra-se um período no qual a mulher, em cumprimento de sua sentença, pode viver a maternagem, um processo de cuidados apreendidos ou não anteriormente, mas que, na prisão, significam vida, dever e afetividade, contrapondo os significados de violência, pobreza e falta de afeto. A maternagem, considerando seus aspectos de objetividade e de subjetividade, permite cuidar da criança nas suas particularidades e singularidades, ainda que vivenciando a separação do filho por vir.

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL demanda articulação de saberes, aprendizagem, compartilhamento, mutualidade, construções e reconstruções para fazer o melhor para o seu filho, excedendo o rito involuntário do maternar, dos cuidados higiênicos ao amamentar. As experiências com o bebê são únicas e ricas em afeto. Efetivam o cuidado maternal, como atitude de ser e, às vezes, de vir a ser e, principalmente, continuar sendo mãe do seu filho.

Como consequência, vivenciando a separação do filho sugere ressignificar os modos de maternar e de entregar a criança numa relação de desejo, dor e de mudanças, pois não há como permanecer com o filho após o prazo estabelecido.

Assim, MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL sustenta-se como modelo teórico pela junção dos elementos contexto, condição causal, condições intervenientes, estratégias e consequências.

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL se inicia vivendo o diagnóstico e a gestação na prisão. Neste tempo de reclusão, a mulher passa por um processo de estar valorizando a família: a saudade como sofrimento e estímulo para sua reconquista, tendo o nascimento do filho como marco de novas decisões relativas à identidade materna. Assim, a mulher vai incorporando a identidade materna e a maternagem no sistema prisional.

Dependendo de experiências anteriores, expectativas e idealização da identidade materna e da maternagem, no cuidado ao filho, aos poucos vai se desvelando a maternagem diferente na prisão. Desta forma, a apenada, ao maternar, está aprendendo a ser mãe na prisão, descobrindo a maternagem. Também percebe que, no local reservado, está descobrindo a solidariedade no setor de amamentação e com os cuidados recebidos pelas companheiras, ao mesmo tempo em que está percebendo a identidade materna nos limites da prisão.

Em vista disso, essa mãe terá que ir adaptando-se aos limites da maternagem na prisão; para isso, tendo uma maternagem diferente na prisão e percebendo lacunas e temendo o não reconhecimento pelo filho após a separação. Essas condições, impostas pela situação prisional e pelas experiências vivenciadas, a levam a estar refletindo o ser mãe na prisão, para si e para o filho e, em vista disso, a estar reconhecendo e sofrendo pela culpa que sente pela prisão do filho e por perceber que ele sofre, assumindo e temendo os efeitos da história prisional para o filho, o que acaba sendo uma dor inevitável, pois a separação ocorrerá. Assim, a mãe se conforma ao fenômeno Maternar na Prisão.

Por estar expectando o amor e a identidade materna pelo filho, a mãe se encontra, durante a maternagem, em uma condição em que está sofrendo e frágil se fortalece na esperança do reencontro e reconhecimento pelo filho. Para não perder o reconhecimento e o amor do filho, essa mulher está confiando na mãe para preservar a identidade materna, arranjando alternativas para manter viva a identidade materna e vivendo para e pelo filho na prisão.

No entanto, a separação é inevitável, a menos que sua soltura coincida com o tempo de permanência de seu filho consigo. Desta forma, um dia, ela estará vivenciando a separação do filho e, nesse processo, vivenciará uma gama de diferentes sentimentos e emoções, tendo o coração acalentado quando recebe uma visita, notícias, fotos, se sentindo preterida pelo filho que prefere a avó, busca alternativas para manter viva a identidade materna, sempre refletindo sobre o que pensam os filhos sobre a ausência materna. Essas categorias e subcategorias configuram-se no fenômeno Separar-se do filho na prisão.

Portanto, Maternar na Prisão e Separar-se do filho na prisão são fenômenos que se imbricam ao estar MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL.

Em MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL, fragilizam-se os significados da maternagem, compreendida como vínculo afetivo do cuidado e do acolhimento ao filho por uma mãe, no ambiente prisional, por serem influenciados por sistemas de crenças pessoais, culturais, sociais e filosóficas que irão moldar os comportamentos conscientes ou não com relação à maternagem. Do mesmo modo, MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL, pelas suas interações locais, também influenciará na resposta materna em relação à maternagem, podendo ocorrer de modo a restringir ainda mais o papel materno, ampliando as dificuldades e transformando, na visão da mãe, o processo de maternar em uma identidade materna diferente.

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL é um processo dinâmico, que se faz, se desfaz e se refaz no dia a dia da prisão, requerendo condições maternas para vivenciá-lo. Trata-se de uma condição especial, vivenciada em condições especiais, visto que a díade precisa se adaptar e se readaptar às condições oferecidas, aos limites impostos e ao convívio posto, ao longo de todo o processo de maternagem e, posteriormente, pela privação do convívio.

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL é um conhecimento que se faz e se refaz no cotidiano, na capacidade materna em lidar e na impossibilidade de fazer escolhas. É uma teoria que se volta ao campo da totalidade do binômio e do meio onde vivem. Teoria que se estrutura pela subjetividade adaptando-se aos limites da maternagem na prisão e refletindo o ser mãe na prisão, para si e para o filho (condição interveniente) sensível ao sofrimento do sujeito e sua escuta, para a compreensão das relações entre a instituição carcerária, as companheiras de prisão e a família. É um modelo

teórico que sugere modos de ser e estar, agir e reagir, que se apoia nas relações familiares e locais, para a construção de subsídios e alternativas para a sua sustentação no processo de maternar, porque expectando o amor e a identidade materna pelo filho (estratégia) tem o objetivo de manter-se no papel materno, a despeito da distância que se colocará do filho, comprometendo-se com o cuidado materno e com a afetividade para com o filho, ainda consciente de que seguirá vivenciando a separação do filho (consequência).

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL é um modelo teórico que permite a compreensão do processo de maternar na prisão, a partir da experiência materna no contexto organizacional local, como cuidadora do filho, atendendo-o em suas particularidades. Para tal, expõe-se ao campo da subjetividade e dos anseios e modera a relação com o outro, intramuros, com o filho e com o mundo extramuros, expectando maternar na prisão e a sua continuidade após a soltura.

Então, expectando o amor e a identidade materna pelo filho orienta a vivência da maternagem na prisão. A consequência, vivenciando a separação do filho, figura como desfecho; contudo, atravessa todo o processo, requerendo reflexões, reações, planos, mudanças e, assim, acenando para o início e para o meio, podendo voltar a ser desfecho. É uma teoria ajustável e rígida, fundamentada em significados.

MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL pode contribuir para a vivência de diversos sentimentos e significados que se fazem e se refazem no cotidiano da prisão. A vivência vai da alegria à tristeza, da dor ao contentamento, da fala à escuta, do amor ao ódio, tornando cada experiência única, cada binômio ímpar, cada processo singular.

O processo de maternagem e as suas dimensões oportunizam-se pelo encontro dos arranjos pessoais e com o outro; se adicionam às condições oferecidas pela instituição prisional e pela legalidade. MATERNANDO NOS LIMITES DO TEMPO E DO SISTEMA PRISIONAL desenha-se pela dinâmica de elementos que se destoam e se complementam, sendo necessários para o progresso e a efetividade da maternagem na prisão e contribuindo para a desconstrução e a reconstrução de novos significados maternos, para a sua vida intra e extramuros.