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3. MÉTODOS

3.2 Desenho do estudo

3.2.1.2 Conceitos

De acordo com o Interacionismo Simbólico, o indivíduo não responde apenas na interação com o ambiente, mas sim, ao interpretar e definir uma situação57. O indivíduo assume uma postura ativa na interação consigo e com o outro, a partir de perspectivas simbólicas que se modificam a cada interação, com atribuição de novos significados. Alguns conceitos são utilizados no IS e são imprescindíveis para sua compreensão: símbolo, self, mente, assumir o papel do outro, ação humana e linguagem. Todos esses conceitos constituem a interação social, construída à medida que as pessoas interagem, com significados para si e para aquele com quem se interage.

Para George62, “conceitos são palavras que descrevem objetos ou acontecimentos e constituem os componentes básicos da teoria”. Os conceitos do IS se entranham em um constante ir e vir, procurando atribuição de significados às experiências vividas.

3.2.1.2.1 Sociedade

A sociedade, para o IS, é um caminho ativo entre a pessoa e o grupo social. A associação humana ocorre quando cada pessoa percebe a intenção dos atos do outro e elabora sua resposta de acordo com aquela intenção. Charon60 define a sociedade como uma forma de vida coletiva, em que as pessoas interagem, assumem o papel do outro, interpretando a sua ação. Assim, pode acertar os seus atos.

O coletivo humano é feito de pessoas que têm “selfs” (isto é, que fazem indicações para si mesmas); cuja ação individual é uma construção através da percepção (noting) e da interpretação das situações em que age; a ação coletiva é a junção de ações individuais formadas pelas interpretações que os indivíduos atribuem aos atos dos outros57.

Em relação à sociedade, segundo Blumer 57, há duas concepções centrais do IS. A primeira refere que as pessoas, individual ou coletivamente, agem de acordo com os significados dos objetos do seu mundo; a segunda, que a agregação das pessoas acontece em um processo, onde se faz e onde se interpretam informações de um para com o outro.

3.2.1.2.2 .Self

Mead58, ao dizer que o ser humano possui um self, enfatiza que, assim como o indivíduo age socialmente com relação a outras pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo. Isto significa dizer que a pessoa pode tornar-se objeto de seus próprios atos. O self é formado através das definições concebidas por outros, que servirão de direção para ver-se a si próprio e tornar-se objeto de suas próprias ações dentro da sociedade; ele é desenvolvido no processo da experiência social como resultado de suas relações neste processo. A partir da ideia de que o ser humano pode atuar em relação aos outros, ele pode fazê-lo em relação a si mesmo.

Para Mead54, o desenvolvimento do self inicia-se em um estágio de imitação por parte da criança. Logo após, a criança passa a assumir o papel de outros em relação a si própria. A isso, Mead chama de “o outro generalizado ou papel coletivo”, pois a criança adquiriu ao longo de sua associação com os outros58.

Para o IS, o ser humano possui um self, que constitui um processo social analítico de dois elementos: o eu e o mim. O ato é o resultado da interação entre esses dois elementos. O self representa um curso social no interior do indivíduo, envolvendo o "eu" e o "mim". O "eu" é o indivíduo como sujeito, a tendência impulsiva, não socializada, espontânea, desorganizada e imprevisível do indivíduo; é a reação do organismo às atitudes dos outros e que provoca o “mim”. O “eu” se constitui antes de ele ser submetido ao controle das definições e expectativas dos que o cercam, o “eu” não se sujeita às regras socialmente estabelecidas e aceitas. O “eu” é a propulsão espontânea do ato humano. O “mim” é a série de atitudes organizadas, compreensivas; é a pessoa da qual se tem consciência; é o self social, construído pela interação do ser humano, cuja ação é guiada pelas definições e expectativas dos outros, em seu convívio, com o objeto que surge na interação, representando o outro generalizado, que é a comunidade ou grupo social organizado. O comportamento do ser humano é um processo contínuo em que o “eu” é o impulso inicial e propulsor do ato, enquanto o “mim” é o norte que o direciona54.

3.2.1.2.3 Mente

É a interação social que, usando os cérebros, forma a mente. A mente, segundo Haguette58, baseada em Mead54, enquanto processo, se manifesta sempre que o ser humano

interage consigo mesmo, utilizando símbolos significantes. A mente surge do processo social em comunicação, contínuo e ininterrupto, sendo originária dele. O organismo, nesse processo social, escolhe os estímulos que lhe são relevantes para suprir suas necessidades, surgindo da interação com os outros, sendo dependente do self e dos símbolos. Toda a ação interativa simbólica em relação ao self é ação da mente.

Segundo Mead54, a conduta mentalmente controlada é possível, a partir da indicação feita pelo ser humano a si mesmo e aos outros, em determinada situação. Assim, a ação é a resposta desencadeada pela interpretação feita pelo indivíduo em interação com um objeto social. A mente é a ação simbólica que utiliza símbolos e os dirige em relação ao self48.

3.2.1.2.4 Ação Humana

A ação humana compreende um processo contínuo de tomada de decisões a partir da forma como o ser humano reconhece e interpreta o mundo. Em interação consigo mesma e com os outros, a pessoa é convidada a agir, construindo a sua ação. Littlejohn63 refere que os principais conceitos da obra de George H. Mead54, sociedade, self e mente, são “ênfases diferentes sobre o mesmo processo: o ato social”. O autor afirma que Mead considera o ato social “como a unidade básica de análise (...), consiste num gesto inicial de um indivíduo (encoberta ou abertamente) e uma resultante do ato, a qual é percebida ou imaginada por ambos na interação”.

Blumer57 defende que as quatro concepções centrais do IS, para a compreensão da ação social, são:

1- O ser humano, individual ou coletivamente, é preparado para agir com base nos significados dos objetos da sua vivência;

2- A associação das pessoas ocorre em um processo no qual elas fazem indicações umas para as outras e as interpretam;

3- Os atos sociais, sejam individuais ou coletivos, são construídos através de um processo, no qual os atores percebem e interpretam situações que os enfrentam;

4- As conexões dos atos que compreendem organização, instituições, não são inertes, mas se movem.

Blumer57 apresenta, também, que as pessoas têm um entendimento de como agir e de como o outro agirá, dividindo significados comuns e do que é esperado na ação dos outros, cujas ações se baseiam nestes significados. Essas ações são ajustadas a cada nova situação vivenciada por meio de um rito de definição e interpretação49.

3.2.1.2.5 Interação Social

Ao interagir, nos tornamos objetos sociais uns para os outros, usamos símbolos, há um direcionamento do self, ocorre a ação mental, são tomadas as decisões e compartilhamos perspectivas, ou seja, a ação será construída à medida que os atores forem interagindo, ajustando seus atos ao do outro, após os definirem e interpretarem.

Assim, definimos a realidade e a situação e assumimos o papel do outro, possibilitando condições para a continuidade da interação iniciada e manipulada pelo indivíduo. Para entender a natureza da interação, é preciso reconhecer a existência de todas essas atividades60.

O agir do ser humano está baseado no significado que ele depreende da própria vivência. A interação implica seres humanos agindo em relação uns aos outros e é simbólica, pois a ação de cada pessoa tem significado para o ator que a realiza e sofre a interpretação por aqueles em direção a quem o ator age57.

3.2.1.2.6 Assumir o papel do outro

Compreendemos o significado das ações das outras pessoas através da interação simbólica do “eu”, ou seja, pela utilização da mente e por assumir o papel do outro, imaginar o mundo a partir da perspectiva do outro. A capacidade de assumir o papel do outro é apreciada como condição à comunicação humana e à interação simbólica60. O ser humano assume o papel do outro a partir das perspectivas inferidas da ação do outro, como os outros agem, imaginando-se simbolicamente em seu lugar e compartilhando de seu significado54.

3.2.1.2.7 Símbolo

Este é o conceito central do IS, fazendo parte do pensamento e da conduta humana. O ser humano, durante suas interações, aprende e utiliza os símbolos para dar significado a si e ao outro. Os símbolos são uma classe dos objetos sociais, utilizados na representação e na comunicação de algo pelo indivíduo, sem os quais não poderíamos interagir com o outro.

Um objeto social só será símbolo quando for utilizado com o propósito de atribuir significado para si e para aquele com quem interage60.

3.2.1.2.8 Ser humano

Mead achava que deveríamos considerar o ser humano como parte da natureza, em constante mudança e o único capaz de entender, alterar e ajustar-se a natureza, por meio da construção e da descoberta. Porém, Mead não concordava com a ideia de considerar o comportamento como somente aquilo que podia ser visto. Ele defendia que, sem a compreensão de mente, sociedade e self, o comportamento humano não poderia ser compreendido pelo o que ele é. Mead se considerava um behaviorista social, interessado no ato social60.

Sob a concepção interacionista, o ser humano é visto como um organismo que responde a outros, fazendo e interpretando as indicações de outros. O ser humano possui um self, que significa ser um objeto da sua própria ação que age e guia as suas ações em direção a outros, com base no tipo de objeto que ele é para si mesmo.

Na abordagem do self, Blumer57 faz referência às ideias de Mead54, o qual enfatiza que, para se tornar um objeto para si mesmo, uma pessoa precisa ver-se a partir de fora. Isso é possível quando nos colocamos na posição do outro e agimos em direção a nós mesmos, a partir dessa posição. Construímos os objetos de nós mesmos, devido um processo de tomada de papéis 57.

Para o IS, o ser humano é um ator no mundo, colocando-se em uma posição diferente com o seu ambiente. Ele define o mundo no qual age, envolvendo escolhas conscientes, avalia as ações e direciona a ele mesmo60. O ser humano vive em um mundo simbólico. Para compreender seu comportamento, precisamos compreender o significado que tem uma ação para ele.

Neste estudo, o ser humano (a díade mãe-filho) é considerado como um ser social que confere significados às experiências que vive (suas interações com os objetos, com o outro e consigo mesmo) e que, a partir destes significados, gera suas ações e a forma como vive (em interação com o seu self e de acordo com sua mente), motivando e sendo motivado pelas outras pessoas com as quais interage, ações do seu self social (na sociedade prisional).