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Quanto aos dispositivos legais que orientam as políticas públicas municipais de meio ambiente, a principal diferença constatada está no processo de revisão e atualização das legislações. Apesar de ter iniciado o licenciamento cinco anos após o município de Vitória, Cariacica promoveu a revisão em 2018, trazendo inovações aos procedimentos de licenciamento ambiental como a emissão da Licença de Impacto Determinado e o prazo estendido da licença de operação de 4 para 10 anos. Vitória, apesar da tentativa de revisão em 2011, continua com a legislação que já dura mais de duas décadas.

Apesar da premissa de garantir celeridade aos processos de licenciamento, a licença por auto declaração vem sendo questionada, pois não considera as sensibilidades e peculiaridades do meio, como condições geológicas, e socio – econômicas podendo colocar em risco a efetiva proteção do meio ambiente.

O critério adotado para enquadramento das atividades passíveis de licenciamento ambiental é um ponto divergente considerando os procedimentos em cada município. entre os municípios. Em Vitória, é definido pelo tamanho da área que o empreendimento ocupa e pelo número de funcionários. Cariacica, por sua vez adota critérios diferentes de acordo com o tipo de atividade. Para PRCs, é a capacidade de armazenamento de combustíveis.

A utilização da área como parâmetro para enquadramento de todas as atividades é genérica e não estabelece uma relação diretamente proporcional aos impactos que determinada atividade pode causar. Pode-se ter uma área grande para um posto de combustível, porém, a capacidade de armazenamento de combustíveis pode ser pequena. Ou, ao contrário, pode-se ter uma área total pequena com tanques de armazenamento maiores.

Em Vitória, ressalta-se ainda a falta de menção quanto à exigência de tratamento e monitoramento dos efluentes do lavador de veículos, mesmo havendo legislação estadual que obriga a implantação do sistema. Isto se mostra preocupante, visto que quatro dos cinco postos analisados desenvolvem a atividade de lavagem de veículos e não possuem sistema de tratamento para os efluentes.

Quanto à remoção e substituição dos tanques de combustíveis, em Vitória não foram identificadas nos postos em estudo informações sobre a vida útil e troca dos tanques de combustível. Segundo a coordenação de licenciamento de Vitória, a norma técnica que regula a remoção e substituição dos tanques é orientada pela instrução da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), porém nela não consta o período de troca dos tanques.

Os processos de licenciamento ambiental em ambos os municípios são arquivados em meio físico. Porém, em Vitória, em 2017, com a promulgação do Decreto nº 16.972, foi estabelecido que os processos administrativos de licenciamento ambiental fossem realizados através de meio eletrônico, pelo sistema digital SIGAVIX (http://sigavix.vitoria.es.gov.br). Através desse portal é possível fazer o protocolo eletrônico de cumprimento de condicionantes e até mesmo abertura de novos processos de licenciamento. Entretanto, o decreto não menciona a conversão dos processos físicos já existentes para o meio eletrônico.

Segundo a coordenação do licenciamento ambiental de Vitória, os empreendimentos que já possuíam processo físico não foram obrigados a migrar para o sistema eletrônico. Os postos em estudo, quando questionados sobre o processo eletrônico, foram unânimes em dizer que não conheciam o sistema e que todos os protocolos de cumprimento de condicionantes eram feitos na secretaria de meio ambiente no setor de protocolo.

Para Wilke (2010), o uso da tecnologia da informação e comunicação é um dos meios para se alcançar a eficiência na gestão pública. A informatização é uma ferramenta que promove diversas facilidades como acesso instantâneo e remoto de documentos, promove maior transparência do órgão público com a sociedade e auxilia no acompanhamento de prazos.

Durante a pandemia do coronavírus, a prefeitura de Vitória determinou, através da publicação do Decreto nº 18.088/2020, que todos os processos administrativos sejam feitos pelo meio eletrônico. Assim, passa a ser obrigatório que todos os procedimentos, protocolos de cumprimento de condicionantes e abertura de novos processos de licenciamento sejam feitos on-line (VITÓRIA, 2020).

A prática ainda é uma medida sustentável, pois reduz a necessidade de emissão de papel e de grandes áreas para armazenamento. Além de tornar mais seguro o

arquivamento, pois, no meio físico os documentos ficam expostos a questões climáticas (umidade), ao próprio manuseio que ao longo dos anos compromete a qualidade do papel e até mesmo a acidentes que podem levar ao comprometimento de todo o material.

Em contrapartida, Cariacica apesar da revisão da legislação, não fez previsão para informatização dos processos de licenciamento ambiental. Durante a pandemia, a PMC suspendeu todas as atividades presenciais, assim os prazos de cumprimento de condicionantes foram automaticamente prorrogados, pois são realizados apenas em meio físico (CARIACICA, 2020).

No que tange as inspeções, em Cariacica são realizadas durante o período de renovação da licença, quando analistas ambientais vão ao empreendimento confrontar as informações apresentadas e garantir que a atividade se encontre dentro dos controles ambientais exigidos. Eles são acompanhados pela equipe de fiscalização ambiental. Assim, caso sejam verificadas irregularidades, os fiscais emitem o auto de infração.

Em Vitória, durante o período de renovação, é solicitado o Relatório de Cumprimento de Condicionantes (RCC). Porém, não são realizadas vistorias para averiguar a veracidade das informações. As visitas acontecem quando a Gerência de Controle Ambiental identifica irregularidades na análise dos RCC apresentados pelos PRCs no pedido da renovação e aciona a Gerência de Fiscalização para fazer as autuações. Ressalta-se ainda que os fiscais de Vitória não possuem atribuição exclusiva de fiscalização das condicionantes ambientais.

Ainda no que se refere ao acompanhamento de condicionantes, conforme Quadro 29, quando questionados, os proprietários dos postos de combustível foram unânimes ao afirmar que, durante a vigência da licença, não há visitas periódicas dos órgãos competentes em ambos os municípios.

Quadro 29 – Realização de vistorias, fiscalização pelos órgãos ambientais aos PRCs (continua)

Município Posto Vistoria órgão ambiental – durante

vigência da licença

Vistoria órgão ambiental – período de renovação da licença

Cariacica A Não Sim

Cariacica B Não Sim

Cariacica C Não Sim

Cariacica D Não Sim

Cariacica E Não Sim

Quadro 29 – Realização de vistorias, fiscalização pelos órgãos ambientais aos PRCs (conclusão)

Município Posto Vistoria órgão ambiental – durante

vigência da licença

Vistoria órgão ambiental – período de renovação da licença

Vitória G Não Não

Vitória H Não Não

Vitória I Não Não

Vitória J Não Não

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

De forma geral, nos dois municípios não foram encontrados nem nos dispositivos legais, nem junto aos órgãos, detalhamentos sobre uma metodologia de acompanhamento de cumprimento das condicionantes.

Considerando o licenciamento como instrumento preventivo à danos ambientais, o potencial poluidor e o número de postos de combustível nos municípios, é razoável concluir que o acompanhamento do cumprimento das condicionantes é uma atividade estratégica das secretarias de meio ambiente.

Neste contexto, questiona-se a efetividade do processo de licenciamento ambiental dos municípios em estudo. Qual o sentido de solicitar ao empreendedor atividades de controle com periodicidades mensais e anuais, se a análise do cumprimento só é feita no período de renovação? Se o controle de efluentes está fora do padrão exigido, a sociedade fica à mercê da vontade do proprietário em adequar-se aos padrões exigidos no menor tempo possível.

Bezerra (2017) aponta situação semelhante no município de Serra – ES, onde não há estrutura para acompanhamento periódico das condicionantes e as análises de documentos e relatórios são feitas apenas no período de renovação das licenças.

Cavalcanti (2011, p.21), explora essas deficiências da gestão ambiental pública no Brasil. Ele diz que o grande problema está associado não à inexistência de dispositivos legais ou inconsistência constitucional, mas à falta de efetividade das normas constitucionais, “assim como da alocação de recursos materiais, de agentes públicos qualitativa e quantitativamente aptos a atender à necessidade de observância das normas jurídicas ambientais protetoras brasileiras”.

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