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Análise do conteúdo do laudo pericial dos casos estudados

3.3 Conteúdo de perícias contábeis judiciais cautelares investigadas

3.3.5 Análise do conteúdo do laudo pericial dos casos estudados

Os laudos constantes dos processos que serviram de base para o desenvolvimento deste trabalho proporcionaram a visualização de algumas falhas no que se refere ao conteúdo. Não há como negar, porém, que esses foram de fundamental importância para que a Justiça pudesse julgar méritos quando essas peças periciais integraram os processos.

É necessário que se faça uma análise de cada caso estudado, para se observar a importância que a perícia representa para a Justiça no julgamento das causas atribuídas ao Poder Judiciário. Os casos estão elencados a seguir, na ordem numérica em que foram apreciados.

3.3.5.1 Estudo de caso n. 1

No que concerne ao prejuízo verificado contra a requerente, não pode ser atribuída qualquer culpa de omissão ou descaso por parte do perito contador, haja vista que sua nomeação só aconteceu depois de decorridos mais de 10 anos entre o início da ação de falência e a declaração de quebra pela Justiça. Esse fato permitiu que os requeridos pudessem extraviar valores para locais ignorados. A requerente, ainda que por tentativa, comunicou ao Juiz a retirada ilegal de mercadorias da requerida, não obtendo, porém, qualquer êxito.

No que se refere aos levantamentos patrimoniais, o profissional da Contabilidade foi impedido de realizar um trabalho mais detalhado sobre os bens, tendo em vista que não lhe foram apresentados o livro Diário e o livro Razão. Essas peças são exigidas por lei, conforme preceitua o art. 10 do Código Comercial Brasileiro, instituído pela Lei 556/50, de 25 de junho de 1850, que diz: “Todos os comerciantes são obrigados: I – a seguir uma ordem uniforme de contabilidade e escrituração, e a ter os livros, para esse fim necessário”. Os levantamentos dos valores patrimoniais ficaram restritos a inventários, até certo ponto fictícios, ou seja, apareceram apenas nos livros de controles de mercadorias, quando se verifica a parte física ou real pode-se deduzir que nenhum bem poderia ser ali encontrado.

Dessa forma, o que foi visto e analisado nesse caso foi um desenvolvimento pericial posicionado na mais pura verdade do fato, do que foi possível ser analisado. O desaparecimento da mercadoria pode ser em decorrência da lentidão da ação judicial, na determinação da realização da perícia ou outras providências cabíveis.

3.3.5.2 Estudo de caso n. 2

O estudo de caso n. 2 demonstra, em seu conteúdo, de modo bastante contundente, a importância que a perícia cautelar adquire ao ser realizada no momento oportuno. Neste caso o Ministério Público ressaltou a necessidade desse trabalho pericial. O perito, por sua vez, agiu de forma sensata, procurando comprovar os valores por intermédio de pessoas neutras ou desinteressadas do resultado final.

Os levantamentos do gado e de outros valores existentes na fazenda, situada em Mozarlândia, foram realizadas pelos fazendeiros locais, sob sua orientação. As avaliações de todos os imóveis inventariados foram realizadas pelo CRECI-GO, a pedido do próprio perito. Os valores disponíveis depositados em bancos foram levantados, por ordem judicial, após solicitação do perito à Justiça. Por fim, os veículos e supostas sucatas de veículos foram endereçadas ao avaliador oficial do Fórum de Goiânia, que se utilizou de seus próprios critérios para estabelecer um preço.

De posse de toda a documentação, o especialista concluiu o seu laudo pericial, acusando um valor de R$ 5.276.070,15, a ser inventariado e distribuído entre os herdeiros. Observa-se em comparação com o valor proposto pelo primeiro inventariante, de R$ 3.426.145,07, uma diferença de R$ 1.849.924,45 que estaria sendo desviada para a posse do herdeiro inventariante.

A perícia, nesse processo, cumpriu o seu principal papel, que é a busca da verdade. Tanto assim que o veredicto do Juiz, encarregado do julgamento da questão, nada diferenciou da sugestão de partilha de bens apresentada pelo perito, ou seja, o laudo foi a sustentação para que a sentença fosse deferida.

Talvez o sucesso do trabalho pericial, além da honestidade encontrada no laudo, tenha sido a transparência aplicada na realização de todas as etapas. Permitiu-se o acompanhamento em tudo o que foi feito, desde a contagem ou pesagem dos animais e visitas a outros Municípios de interesse do espólio, até o encerramento dos trabalhos, com a respectiva entrega do laudo ao protocolo da Justiça. Por isso mesmo, não se registrou nenhum questionamento, solicitação de esclarecimentos ou contestações das partes. Dessa forma, a afirmativa de que a perícia alcançou o seu objetivo social é verdadeira.

3.3.5.3 Estudo de caso n. 3

A exemplo do laudo do estudo de caso n. 1, o trabalho pericial deste caso n. 3 serviu de posicionamento para tomada de decisão da Justiça. Foi frustrado, porém, o objetivo maior da perícia, que é a salvaguarda patrimonial. Entretanto, verificou-se que a responsabilidade do perito se fez presente, atendendo à Justiça em sua intimação. A frustração mencionada refere- se à caducidade entre a proposta da ação falencial e a efetiva nomeação do perito contábil.

No que tange à comprovação de valores, nada foi possível fazer, porque os livros próprios foram apresentados e os bens alegados terem sido avistados no pátio da empresa pelo Oficial de Justiça, na primeira tentativa de intimação dos requeridos, já não foram vistos pelo perito. Ficou evidenciado que o extravio daqueles bens aconteceu e que a Justiça não o impediu conforme pleiteava o representante da requerente.

O Ministério Público, sabedor da situação precária da massa falida, a declara falência frustrada, sugerindo, de acordo com o relatório do síndico, o encerramento do processo, após os cumprimentos das formalidades legais.

3.3.5.4 Estudo de caso n. 4

No processo n. 19920058181, de 12 de março de 1992, como já foi anunciado anteriormente, não houve a realização do laudo pericial. No entanto, quando se compara a sentença de falência prolatada pelo Juiz, percebe-se que a fundamentação do Magistrado não expressa a mesma convicção para a decretação da quebra da requerida, como verificada nos estudos de casos n. 1 e 3. A argumentação só se baseia no art. 1º da Lei da Falências, não tendo a mesma riqueza de detalhes como nos casos citados.

Dessa forma, acredita-se que o trabalho pericial, que não alteraria tanto as custas de um processo, poderia ser explorado em maior número de vezes, trazendo mais clareza para a conclusão das causas judiciais, sobretudo nos processos em que são necessárias as produções antecipadas de provas, como nas falências.

3.3.5.5 Estudo de caso n. 5

O laudo pericial deste estudo de caso, a exemplo do n. 2, foi providencial para os esclarecimentos dos fatos relacionados aos valores patrimoniais. Havendo ou não má-fé, a perícia, bastante objetiva e perspicaz, encontrou valores que não haviam sido arroladas na

massa a ser inventariada. Foram dois itens de valores significativos: um trator e o gado na fazenda.

No entendimento do Ministério Público, não houve má-fé e sim um lapso por parte do inventariante que, à época do inventário, já estava com idade superior a 90 anos e sua única família era os próprios herdeiros. Essas pessoas também dividiam o convívio de morar e viver, harmoniosamente, em uma única residência.

Os objetivos propostos para a perícia foram alcançados, foi possível trazer para o julgamento os valores reais da massa inventariada, sem prejuízo para as partes envolvidas. Caracterizou-se, mais uma vez, a necessidade da produção antecipada de provas, conforme prevê a legislação, valorizando-se a ação pericial contábil judicial cautelar nos processos de inventários, sucedidos com a partilha de bens.

Na análise do conteúdo dos laudos periciais dos estudos de caso, verificou-se a importância destas peças para a Justiça, particularmente no apoio para prolatar sentenças justas e verdadeiras. Percebeu-se, no tocante ao estudo de caso n. 4, em que não houve trabalho pericial, que a Justiça teve poucos argumentos, senão o próprio art. 1º do Decreto-lei 7.661/45, para concluir pela falência da requerida. Se houvesse o referido trabalho, certamente simplificaria para o Magistrado sua conclusão, pois a perícia representa a elucidação da verdade e não pairaria nenhuma incerteza na causa.

Cabe observar que, dos trabalhos constantes nos estudos de casos n. 1, n. 2, n. 3 e n.5, apesar de possuírem algumas falhas de apresentação ou de estrutura, não se pode fazer a mesma crítica em relação ao conteúdo. Verificou-se que nesses processos, os trabalhos periciais foram desenvolvidos com seriedade e clareza e alcançados os seus objetivos. Destaca-se aí o desempenho do perito contábil na perícia cautelar do caso n. 2, que conseguiu comprovar uma realidade diferente em relação aos valores iniciais propostos.

Neste capítulo, procurou-se fazer uma descrição do objeto dos processos de perícia, com enfoque nas perícias judiciais contábeis cautelares. Analisou-se, no decorrer desta pesquisa, a estrutura e o conteúdo que os laudos contábeis de perícias cautelares estudados possuem. Com base nessas constatações e na fundamentação teórica do estudo, na seqüência apresenta-se uma proposta de metodologia para o desenvolvimento de perícia contábil judicial cautelar, que vise a manter, sem avarias ou desintegrações, o patrimônio de entidades ou de pessoas.

4 METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO DE PERÍCIA CONTÁBIL JUDICIAL CAUTELAR PARA MANUTENÇÃO DO PATRIMÔNIO DE ENTIDADE

Neste capítulo, apresenta-se uma proposta de metodologia para elaboração de perícias contábeis cautelares judiciais, ou perícias contábeis judiciais de futuro, que preservam o patrimônio de entidades físicas ou judiciais. Essas perícias estão definidas na seção VI do CPC, que trata da produção antecipada de provas e também foram identificadas em processos de falências e de inventários sucedidos com partilhas de bens.

Para efetivação deste trabalho, inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica para expor os fundamentos teóricos e legais de perícias contábeis judiciais cautelares. Depois, buscaram-se os esclarecimentos por intermédio do estudo de multicasos, em ações julgadas pelo Poder Judiciário de Goiânia.

Deve-se esclarecer que, apesar das dificuldades encontradas em ter acesso a processos dessa natureza, para um aprofundamento maior no assunto, mesmo assim, foi possível encontrar alguns casos de perícia contábil cautelar no âmbito da justiça goiana. Com base nos processos estudados, verificou-se que a perícia cautelar não é utilizada de forma intensa em processos judiciais.

Mesquita (2002, p.65) diz que “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. Nesta pesquisa, em que se indagava a validade dos laudos periciais contábeis, observou-se que, dos 35 processos judiciais selecionados, somente 4 deles possuíam essas peças porém, de grande valia para a Justiça.

Com base na fundamentação teórica, apresentada no capítulo 2, e dos estudos de caso realizados, no capítulo 3, apresenta-se uma de metodologia de elaboração de perícia contábil judicial cautelar para manutenção do patrimônio de entidade. Desse modo, procura-se contribuir não só com os peritos contábeis, como também com os juristas e com o próprio Poder Judiciário, para que possam utilizar-se deste trabalho, com vistas ao esclarecimento de suas dúvidas.

Inicia-se evidenciando o entendimento de patrimônio da entidade, que no seu conceito mais amplo significa um conjunto de bens econômicos. Na seqüência, abordam-se os controles de salvaguarda do patrimônio da entidade, oriundos das atividades desenvolvidas pela Contabilidade para este fim. Em seguida, propõe-se uma sistemática para realizar o processo de perícia contábil judicial cautelar, prevista no Código de Processo Civil. Por fim, apresenta-se uma proposta de metodologia de elaboração de perícia contábil judicial cautelar

que poderá servir como referência aos profissionais da Contabilidade, especificamente no ramo das perícias cautelares.