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2.4 Metodologia de perícia contábil

2.4.2 Conteúdo

Em relação às formalidades, conforme por Lopes de Sá (2002), o conteúdo de uma perícia deve contemplar o enriquecimento das informações, visando à melhoria da qualidade de cada elemento que compõe a perícia.

a) Prólogo de encaminhamento

O laudo deve ser apresentado em forma de petição, dirigida ao Juiz, identificando-se a vara, a comarca, o número do processo, o requerente, o requerido, a natureza da ação e o perito judicial contábil. Deve ainda trazer uma exposição inicial, elucidando a história do processo em perícia, até mesmo para posicionar o julgador sobre o andamento do feito.

b) Quesitos

Segundo Caldeira (2000, p.35), quesitos “são os itens mais importantes do laudo”. Podem ser considerados os questionamentos dos fatos que o perito deve esclarecer, ou seja, o motivo da nomeação e qual o objetivo da perícia e a matéria objeto da perícia.

Esses questionamentos são formulados pelo Juiz ou pelas partes interessadas, constituindo o objetivo do trabalho desenvolvido. São importantes para orientar o perito contábil na elaboração do laudo pericial e identificam qual a metodologia deve ser adotada (exame documental, diligência, entrevista, etc.).

c) Respostas

As respostas devem ser simples, claras e objetivas, restringindo-se ao âmbito do questionamento do requerente. Schmidt (2000, p.42) menciona que, “para que uma perícia seja considerada de boa qualidade é necessário que apresente: objetividade, precisão, clareza, finalidade, concisão confiabilidade e plena satisfação da finalidade”.

As qualidades reportadas para uma perícia contábil, elucidadas por Schmidt (2000, p.42), são assim comentadas:

a) objetividade − o perito contábil deve ater-se à matéria examinada e não desviar da matéria que não é assunto do processo;

b) precisão − ir ao cerne da questão, apresentando respostas pertinentes e corretas ao quesito formulado;

c) clareza − utilizar uma linguagem acessível sem perder a terminologia tecnológica dos relatos;

d) finalidade − necessidade de não se deixar influenciar por terceiros, nem utilizar de informações que não tenham consistência competente;

e) concisão − evitar laudos cheios de assuntos prolixos que não sirvam para traduzir aproveitamento algum para as decisões;

f) confiabilidade − apresentar laudos periciais apoiados em elementos inequívocos e válidos legal e tecnologicamente;

g) plena satisfação da finalidade − coerência do resultado do trabalho com os motivos que o originaram.

As qualidades relacionadas devem ser lembradas pelo perito contábil no momento de elaboração das respostas aos quesitos, para que se produzam laudos de qualidade, atendendo às expectativas das partes envolvidas. Com isso, esses laudos podem efetivamente contribuir com a Justiça, representando a verdade dos fatos litigados, e, ainda, apoiar os juízes no veredicto das sentenças, que estão sob sua responsabilidade.

d) Considerações finais

Apresentam as informações mais relevantes sobre os fatos analisados. Constituem um resumo do trabalho do perito, organizado de forma a atender às finalidades. Brandimiller (1996, p.111) adverte que:

a conclusão deve ser objetiva e sintética, evitando-se repetir análises e comentários já apresentados. A conclusão refere-se exclusivamente ao trabalho pericial, ou seja, aos fatos controversos submetidos à elucidação pericial. Não cabe ao perito, nem aos assistentes, julgar a ação, sendo descabidas conclusões finais sob forma de julgamento.

Não só a conclusão, mas todo o texto do laudo contábil deve ser tratado de forma impessoal, na terceira pessoa do singular para referir-se a si mesmo, abstendo-se de oferecer opinião pessoal.

e) Assinatura do perito

Para que surtam os efeitos legais, e considerando-se também que um laudo de um perito contador merece fé pública, este deverá assinar o seu laudo e rubricar todas as páginas da peça. Ao final, deve apor o número de inscrição junto ao Conselho Regional de Contabilidade do Estado de sua jurisdição.

f) Anexos

São documentos que, ao serem analisados, julgados importantes, passam a fazer parte do laudo, servindo como referência em alguma citação de seu conteúdo, para esclarecer alguma dúvida. São esclarecimentos das matérias descritas nas respostas formuladas aos

quesitos, por meio de comprovações escritas que reforçam a opinião do perito, para a elucidação dos fatos.

g) Pareceres

A Lei n. 8.455/92, de 24 de agosto de 1992, passou a designar como parecer o trabalho do perito contador assistente. Esse se diferencia do perito contador judicial, porque é nomeado pelo Juiz, já o perito contador assistente está compromissado com a parte que o indicou. O seu trabalho pode ser feito em conjunto com o perito contador judicial, desde que não haja nenhuma discordância do ponto de vista técnico. Quando isso ocorre, os assistentes têm 10 dias para se manifestar a respeito dos pontos divergentes, apresentados pelo perito contador judicial.

O conteúdo do laudo pericial contábil deve servir de embasamento para o julgamento da controvérsia, em face dos eventos ou fatos que são submetidos à apreciação do profissional da Contabilidade.

Como se viu no início desta seção, a metodologia dos trabalhos periciais tende a variar de um processo para outro, adaptando-se à realidade de cada trabalho. Observa-se, entretanto, que a parte estrutural ou o embasamento legal segue um padrão, variando apenas a aplicação da lei para cada tipo de perícia. Os procedimentos, como o desenvolvimento dos trabalhos, a seriedade, a atenção, a perspicácia e o zelo para com a causa, também se fazem presentes em todos os processos. Por isso, aplica-se uma doutrina de linhas macro para todos os processos, respeitando-se a individualidade própria de cada um.

Neste capítulo procurou-se apresentar os fundamentos teóricos e legais da perícia contábil judicial. Nesse sentido elucidou-se os tipos de perícias previstos na legislação brasileira, particularizando as características das perícias contábeis judiciais cautelares, com a respectiva metodologia para sua realização. Com base nesta fundamentação apresenta-se, na seqüência, os estudos multicasos, com processos de falências e de inventários sucedidos com partilha de bens.

3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE PROCESSOS DE PERÍCIA CONTÁBIL JUDICIAL CAUTELAR

Os processos de perícia contábil judicial cautelar, que constituem objeto de descrição e análise neste capítulo, foram pesquisados nos arquivos do Fórum de Goiânia.

Vale destacar que em 2000 observou-se uma mudança de estrutura de diversas varas cíveis do Fórum de Goiânia. Essas passaram a tratar ao mesmo tempo de todos os assuntos judiciais protocolados na Justiça do Estado de Goiás. Isso significa dizer que todas as varas cíveis da Comarca de Goiânia estão aparelhadas para julgar os processos de todos os assuntos. Anteriormente a essa reestruturação os assuntos eram desenvolvidos por varas específicas, ou seja, os assuntos de famílias junto às Varas de Famílias e Sucessões. Os processos de falências junto às Varas de Falências e Concordatas. Da mesma forma para os demais assuntos.

Com essas alterações procurou-se dar maior agilidade na tramitação dos processos e obter rapidez no ciclo, da inicial até o julgamento. Isto propiciou um ganho de tempo, haja vista que se consegue pesquisar determinados processos muito mais rapidamente do que antes das mudanças.

Este capítulo destina-se a apresentar, inicialmente, uma descrição sintética dos processos de perícias contábeis judiciais cautelares, que se constituem de cinco estudos de casos. Na seqüência contempla-se a estrutura das perícias investigadas, o conteúdo que essas ofereceram, contemplando os quesitos das partes e também dos laudos periciais contábeis.