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2.3 Caracterização da perícia contábil judicial cautelar

2.3.3 Perícia contábil em inventários e partilhas de bens

A perícia judicial de futuro é também aplicada em processos de inventários sucedidos com a partilha de bens. Esses processos exigem levantamentos e apurações patrimoniais, em especial, quando acontece o falecimento de sócios ou titulares de empresas, ou quando morre uma pessoa, que tenha deixado bens a distribuir entre herdeiros. Todos esses trabalhos são precedidos de partilha de bens. Essa partilha pode acontecer amigavelmente ou litigiosa.

Em se tratando de levantamentos de situações, como o falecimento de um sócio, o trabalho deve ser aprofundado em toda a extensão da empresa, ou seja, deve ser feita análise dos valores tangíveis como também dos intangíveis. Desse modo, além do valor material, devem ser apurados: o valor do fundo de comércio, o valor de suas quotas, os seus créditos e os seus débitos e as contingências negativas e positivas.

Lopes de Sá (2002, p.168) informa que, “de acordo com as leis brasileiras, as contestações dos inventários e mesmo as não contestações exigem do juiz, nos casos em que também a lei define, a nomeação de perito para a avaliação e determinação dos bens a serem partilhados”. Nesses casos, a perícia pode acontecer na fase de instrução, quando se levam aos autos provas que irão subsidiar na formação da convicção do Magistrado para julgamento, ou seja, determinar o quinhão de cada herdeiro.

O artigo 1.003 do Código de Processo Civil estabelece que, “findo o prazo do art. 1.000, sem impugnação ou decidida a que houver sido oposta, o juiz nomeará um perito para avaliar os bens do espólio, se não houver na comarca avaliador judicial”. O artigo citado não deixa dúvidas quanto à necessidade da participação do perito contábil na avaliação do espólio. Quando a herança se referir a direitos ligados a empreendimentos, o parágrafo único do mesmo artigo diz que, “no caso previsto no artigo 993, parágrafo único, o juiz nomeará um contador para levantar o balanço ou apurar os haveres”. Neste caso, os quesitos formulados devem incluir análises da situação financeira e econômica da empresa, com base nos levantamentos realizados, o que não dispensa os modelos adotados em apurações de irregularidades, como nos casos de falências, concordatas e dissoluções de sociedades.

Lopes de Sá (2002, p.168) cita que, nas empresas, os itens básicos dos levantamentos devem abranger:

o valor real do patrimônio líquido, para apurar o valor real de quota; o valor de fundo de comércio sobre a quota se redundarem redução de capital ou transferência de quota a remanescentes; créditos em conta de retiradas; crédito em conta de lucros distribuídos; crédito em conta de antecipação para aumento de capital; crédito por suprimento de caixa; crédito por empréstimos à sociedade; crédito por venda de bens à sociedade; lucros do exercício, até a data, não levados à conta de resultado ou do sócio; ajustes monetários sobre contas de crédito e juros nas bases do mercado de capitais; outros direitos e créditos; débitos por empréstimos da sociedade; ajustes monetários e juros sobre débitos; débitos por antecipações de lucros retirados; débitos por pagamentos realizados pela sociedade em nome e por conta do de cujus; retenções de impostos de fontes e previdenciárias devidas pelo falecido e de responsabilidade de retenção por parte da empresa; débitos por antecipação de retiradas de pró-labore; bens de propriedade do de cujus e cedidos em comodato à empresa; bens de posse da empresa e cedidos ao falecido em regime de utilização ou comodato; direitos extracontábeis, mas identificáveis e já de conhecimento dos herdeiros; moedas estrangeiras também não registradas, mas de conhecimento dos herdeiros e dos demais sócios; seguros de vida realizados pela empresa em favor do sócio falecido; pecúlios feitos pela empresa em favor de seu sócio; lucros de participação societária em outra sociedade, ainda não creditados ou frutos de equivalência patrimonial ainda não apurados; contingências positivas e negativas apuráveis etc.

Nessa análise, deve ser esclarecida a abrangência do período a que se refere a vistoria, a confiabilidade dos registros encontrados, para evitar ocultação de haveres, redução do valor de quota por falseamento da situação ou até mesmo casos de mascaramentos patrimoniais.

Alberto (2002, p.114) ressalta que: “a perícia torna-se necessária, principalmente quando há menores herdeiros, pois que as curadorias, visando preservar o interesse daqueles, provavelmente requererão o exame, avaliação ou apuração pericial”. Na intenção de lesar os herdeiros, sobretudo quando houver menores, a sociedade pode provocar aparências de situações difíceis, como também dilapidar o patrimônio, com ações até criminais, na transferência dos bens.

Ao avaliar o espólio, o perito descreverá os bens com as suas características e indicará o estado em que se encontram, colocando o valor de cada um. Isso é muito importante até mesmo para se resguardar de possíveis interrogações por parte dos herdeiros.

De acordo com o artigo 1.009 do Código de Processo Civil, após a entrega do laudo de avaliação, “o juiz mandará que sobre ele se manifestem as partes no prazo de dez dias que correrá em cartório”.

De acordo com o artigo 1.010, do mesmo diploma legal, o Juiz poderá determinar outra avaliação, quando o laudo do perito não inspirar confiança ou quando após a avaliação os bens apreciados apresentarem defeitos que possam estar diminuindo o seu valor venal. Nessas questões de inventários, antes da partilha dos bens, havendo credores junto ao espólio, estes poderão requerer os seus direitos, com base no artigo 1.017 do Código de Processo Civil. Na petição, deverão constar as dívidas do espólio, devidamente comprovadas e autuadas em apenso aos autos do processo de inventário. Essas dívidas serão liquidadas por ordem do juízo do inventário.

O laudo será entregue antes da audiência de julgamento. Dele deverão constar todos os bens inventariados. Franco (1997, p.162) diz que inventário é demonstração analítica que descreve individualizadamente todos os bens patrimoniais, com suas características e os seus respectivos valores.

Em seguida, o partidor judicial do fórum, atendendo ao disposto no artigo 1.023 do Código de Processo Civil e com base no laudo do perito contábil, organizará um esboço de partilha encaminhando-o ao Juiz, que cumprirá o determinado no artigo 1.027 do mesmo diploma legal, cuja redação é a seguinte:

passada em julgado a sentença mencionada no artigo antecedente, receberá o herdeiro os bens que lhe tocarem e um formal de partilha, do qual constarão as seguintes peças:

I – termo de inventariante e título de herdeiro;

II – avaliação dos bens que constituíram o quinhão do herdeiro; III – pagamento do quinhão hereditário;

IV – quitação dos impostos; V – sentença.

Parágrafo único. O formal de partilha poderá ser substituído por certidão do pagamento do quinhão hereditário, quando este não exceder cinco vezes o salário mínimo vigente na sede do juízo; caso em que se transcreverá nela a sentença de partilha transitada em julgado.

Após a sentença e a declaração de transitado em julgado, decorrido os prazos recursais, o processo é arquivado, finalizando o processo de perícia cautelar. A seguir apresenta-se uma metodologia para a perícia contábil.