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O referencial curricular de Educação Física do Rio Grande do Sul (2009) sistematiza um conjunto de competências e conteúdos que esse componente curricular de ensino deve tratar dentro da escola. Levanta as devidas metodologias utilizadas para um conhecimento amplo na concepção teórico-prática abordado no interior da disciplina. O referencial desafia o leitor a refletir sobre o que realmente deve ser ensinado na Educação Física escolar.

No auge da ditadura militar em 1971, a Educação Física escolar passava por uma mera prática passiva de desenvolvimento da aptidão física. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/96) juntamente com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) contribuíram para a efetivação da Educação Física como componente curricular de ensino da escola. Nesses documentos fica clara a intenção de “levar os estudantes a experimentarem, conhecerem e apreciarem diferentes práticas corporais sistematizadas, compreendendo-as como produções culturais dinâmicas, diversificadas e contraditórias” (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, p. 113).

A Educação Física escolar tem como principal objetivo a educação do corpo, que, por sua vez, envolve todas as áreas do conhecimento. Na escola a forma de sentar, a forma de se movimentar e se expressar com o corpo dentro da sala de aula e no pátio, os regulamentos, os conteúdos e metodologias de ensino, eventos comemorativos, as filas, são exemplos de maneiras de como educar os corpos na Educação Física.

A Educação Física é um componente curricular responsável pela tematização da cultura corporal de movimento, que tem por finalidade potencializar o aluno para intervir de forma autônoma, crítica e criativa nessa dimensão social [...], tematize a pluralidade do rico patrimônio de práticas corporais sistematizadas e as representações a elas atreladas [...] deve possibilitar a releitura e a apropriação crítica dos conhecimentos da cultura corporal de movimento (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, p. 117-118).

As competências específicas da Educação Física servem como entendimento do objetivo da disciplina no currículo escolar, onde as principais são (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, p. 115-116):

- compreender a origem e a dinâmica de transformação das representações e práticas sociais que constituem a cultura corporal de movimento, seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual, e com os agentes sociais envolvidos com sua em sua produção (estado, mercado, mídia, instituições esportivas, organizações sociais, etc.);

- conhecer, apreciar e desfrutar da pluralidade das práticas corporais sistematizadas, compreendendo suas caraterísticas e a diversidade de significados vinculados à origem e à inserção em diferentes épocas e contextos socioculturais;

- conhecer e usar algumas práticas corporais sistematizadas, de forma proficiente e autônoma, para potencializar o envolvimento em atividades recreativas no contexto do lazer e a ampliação das redes de sociabilidade;

- utilizar a linguagem corporal para produzir e expressar ideias, atribuindo significados às diferentes intenções e situações de comunicação, e para interpretar e usufruir as produções culturais com base no movimento expressivo;

- interferir na dinâmica de produção da cultura corporal de movimento local em favor da fruição coletiva, bem como reivindicar condições adequadas para a promoção das práticas de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direto do cidadão.

A Educação Física esta orientada de acordo com o Referencial Curricular (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009, p. 116-117) para:

- participar das práticas corporais de movimento, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando o nível de conhecimento, as habilidades físicas e os limites de desempenho de si mesmo e dos outros;

- evitar qualquer tipo de discriminação quanto à condição socioeconômica, à deficiência física, ao gênero, à idade, à nacionalidade/regionalidade, à raça/cor/etnia, ao tipo de corpo, etc.;

- repudiar qualquer espécie de violência, adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade nas práticas corporais de movimento; - argumentar de maneira civilizada perante colegas, funcionários,

professores, equipe diretiva, pais, especialmente quando se deparar com situações de conflito geradas por divergências de ideias, de credo, de posição política, sobre preferencia estética, sexual, partidária ou clubística;

- contribuir de maneira solidaria no desenvolvimento de tarefas coletivas (práticas ou teóricas) previstas para serem realizadas pela turma;

- reconhecer e valorizar a aplicação dos procedimentos votados à prática segura em diferentes situações de aprendizagem nas aulas de Educação Física;

- saber lidar com as críticas construtivas feitas por colegas, pais e percebê-las como oportunidade de aprimoramento pessoal e do convívio em comunidade.

Na escola o ensino dos esportes (conforme o referencial curricular) deve ser mais voltado para os subeixos dos “esportes para saber praticar” do que para os “esportes para conhecer”, devido às características que a prática corporal domina na questão do tempo utilizável nas aulas, e assim as práticas específicas do esporte

sejam previstas no plano de estudos da escola no subeixo “esportes para saber praticar”.

No referencial curricular em Educação Física Lições do Rio Grande, o tema estruturador esporte é pensado em dois eixos, “saberes corporais” e “saberes conceituais”, dentro de cada um desses eixos são identificados mais detalhadamente dois subeixos relacionados aos saberes corporais “esportes para saber praticar” que:

[...] tem como propósito desenvolver durante as aulas um tipo de saber prático que leve à apropriação dos elementos necessários para participar, de forma proficiente e autônoma, de práticas corporais recreativas. Trata-se de um conjunto de conhecimentos que permite ao aluno “se virar” fora da escola em atividades ensinadas nas aulas de Educação Física: “dar para o gasto” em um joguinho entre amigos, saber fazer aquecimento e alongamento, entrar e sair de uma roda de capoeira, dar alguns passos de dança, entre tantos outros exemplos. Este subeixo explicita os conhecimentos necessários para “saber praticar” algumas das manifestações da cultura corporal de movimento (p. 120).

E “esportes para conhecer” que:

[...] evidencia os conhecimentos sobre as diferentes práticas corporais que também são acessíveis pela via da experimentação. São conhecimentos de “carne e osso” que não podem ser assimilados sem passar pela vivência corporal, sem “senti-los na pele”. São da mesma natureza do “saber praticar”, mas deles se diferenciam em função do nível proficiência almejado. Por exemplo, uma determinada arte marcial pode ser escolhida pelo professor como objeto de estudo de uma das unidades didáticas que tratam das lutas. Tal escolha implicará a proposição de um fazer corporal em aula que leve os alunos a conhecerem tal prática, mas sem a pretensão de investir em um nível de apropriação que lhes permita praticar, fora da escola, a arte marcial estudada (p. 120-121).

Já no eixo “saberes conceituais”, os subeixos são divididos em dois, “conhecimentos técnicos que,

[...] articula conceitos necessários para o entendimento das características e do funcionamento das práticas corporais em uma dimensão mais opera- cional. Aqui pode ser estudado, por exemplo, como se classificam os esportes de acordo com os princípios táticos, o efeito de determinado exercício físico no desenvolvimento de uma capacidade motora (p. 121). E os “conhecimentos críticos” que:

[...] trata do processo de inserção destas mesmas práticas corporais em determinados contextos socioculturais. Em linhas gerais, esse subeixo lida com temas que permitem aos alunos analisarem as manifestações da cultura corporal em relação às dimensões éticas e estéticas, à época e à sociedade que as gerou, às razões da sua produção e transformação, à vinculação local, nacional e global. Além disso, este subeixo contempla a reflexão sobre as possibilidades que os alunos têm (ou não) de acessar uma determinada prática no lugar onde moram, os recursos disponíveis (públicos e privados) para tal, os agentes envolvidos com o seu desenvolvimento, entre outros aspectos (p. 122).

No referencial curricular é organizado o tempo de cada tema estruturador para cada ciclo escolar, e no esporte o tempo é organizado da seguinte forma (p. 125):

Tabela 3 – Distribuição do porcentual: separando o esporte dos outros temas estruturadores da Educação Física

CICLO TEMA ESTRUTURADOR

ESPORTE

OUTROS TEMAS ESTRUTURADORES (ginástica, jogo motor, lutas, práticas corporais expressivas,

práticas corporais junto à natureza, atividades aquáticas,

práticas corporais e sociedade/saúde). 5ª e 6ª 50% 50% 7ª e 8ª 44% 56% 1º 44% 56% 2º e 3º 40% 60%

Fonte: Referencial Curricular – Lições do Rio Grande (2009).

Mas para isso o professor deve observar o tempo disponível e o tempo necessário para que o aluno aprenda. É preciso contemplar a diversidade do mundo esportivo, mesmo sua diversidade sendo ampla, e cada escola deve explicitar, em seu plano de estudo, o tempo previsto para cada tema estruturador.

A abordagem das competências e conteúdos do tema estruturador esporte é elaborada no referencial para os ciclos de uma forma muito bem estruturada, com claras e objetivas metodologias de ensino, usando estratégias e uma ampla diversidade de formas de tratar os “saberes corporais” e os “saberes conceituais”.

A proposta é organizada nos subeixos (esportes para saber praticar, esportes para conhecer, conhecimentos técnicos e conhecimentos críticos), onde são organizados as competências e os conteúdos de acordo com o ciclo, para que o professor tematize as referidas modalidades de acordo com o contexto da escola.

Figura 1 – Mapa de competências e conteúdos – esportes

CAPÍTULO V DIÁLOGO DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DA OBRA DE

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