CAPÍTULO V DIÁLOGO DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DA OBRA DE
5.5 METODOLOGIA DO ENSINO DOS ESPORTES
Kunz (2004) se direciona para uma metodologia de ensino dos esportes, baseando-se na transformação didático-pedagógica através de um ensino crítico- emancipatório, a importância de incluir conteúdos teórico-práticos é fundamental e esta fortemente relacionada as metodologias de ensino do RC onde é levantado, tanto no aspecto de desenvolvimento de habilidades técnicas, como conteúdos de aspecto teórico e prático.
A abordagem da técnica, da tática, e das regras levantada por Assis (2001) em sua tese, também tem forte relação com a forma que o RC tem como proposta de ensino dos esportes. O RC quando separa os esporte nos subeixos “esportes para saber praticar”, “esportes para conhecer”, “conhecimentos técnicos” e os “conhecimentos críticos”, levantam claramente nas competências e conteúdos a relação com as propostas dos autores, onde podem ser observados na figura 1 desse trabalho.
Quando Kunz (2004) diz através das categorias trabalho, interação e linguagem, representadas por Mayer (1987), que o ensino dos esportes na Educação Física não pode ser apenas prático, novamente esta relacionado com a proposta do RC, pois a concepção teórico-prático é contemplada nas competências e conteúdos abordados nos RC.
A competência comunicativa que Kunz (2004) tematiza através da linguagem, torna-se importante na execução dos conteúdos e competências do RC, pois a interpretação crítica do esporte abre possibilidades de criação e transformação do mesmo.
O que não pode ficar de “fora” é os exemplos que Kunz (2004) relaciona em sua obra de “situações de ensino”. Onde sua forma de tematização/execução serve de exemplo para a reflexão da área, também como incentivo para nos desfiarmos em criar possibilidades e propostas de ensino da Educação Física.
O ensino do conteúdo esporte relacionado pelas obras de Kunz (2004), Assis (2001) e o Referencial Curricular Lições do Rio Grande (2009), estabelecem possibilidades de ensino que são relevantes para a Educação Física escolar. Na concepção crítico-emancipatória, os conteúdos de esportes desenvolvem uma certa liberdade no aluno, ou seja, ele se sente capaz de vivenciar ou executar as habilidades motoras. E isso, tanto nos saberes corporais como nos saberes conceituais está abordado essa abordagem com conteúdos de caráter teórico- prático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse trabalho foram levantadas as possíveis discussões sobre o esporte como prática pedagógica dentro da escola. Podemos observar várias posições dos autores sobre esse fenômeno contemporâneo abrangente. Porém, a conclusão dessa pesquisa foi desvendar como as propostas de ensino da Educação Física, em especial dos esportes, estão contribuindo para a prática pedagógica de ensino aprendizagem dos alunos.
O esporte como já foi dito, adquiriu uma hegemonia dominante na área da Educação Física. Podemos constatar esse significado pela transmissão de conhecimento que a bibliografia específica realizou até o momento. Porém, ainda deixa a “desejar”, pois nós professores estamos ensinando esporte como uma “cópia”, ou seja, modelo da representação do esporte da sociedade contemporânea.
O esporte da escola deveria ter seu próprio processo de ensino- aprendizagem. Deveriam existir propostas de ensino que são adequadas às vivências dos alunos em suas relações sociais, ou seja, utilizar a realidade esportiva que se apresenta na sociedade transformando-a para a realidade da comunidade escolar como forma de ensino.
Para transformar o esporte da escola a se tornar um conteúdo de Educação Física “apto” à perspectiva emancipatória de ensino, é preciso criticá-lo de forma que traga perspectiva para o aprendizado prático, assim formando um sujeito crítico capaz de transformar o esporte em seu contexto social.
Kunz (2004) diz que a estrutura básica para o ensino dos esportes apoiam- se em dois aspectos teóricos, o aspecto da teoria crítica e o aspecto da teoria instrumental. Entende que [...] “a teoria tem a capacidade de antecipar ações práticas” (p. 30).
Nesse enfoque, concordo plenamente com o autor. A teoria tanto crítica como instrumental, são de suma importância para o desenvolvimento do conhecimento do aluno no ensino dos esportes. A teoria ou aula teórica possibilita ao educando, ter uma visão “direta”, com um raciocínio mais adequado ao que se está sendo tematizado ou ensinado. Com isso, deve-se interagir a teoria com a prática para ambas se interligarem, de forma que ajude o educando a se constituir e entender a modalidade esportiva tematizada.
O ensino dos esportes deve ser de forma que leve o aluno a conhecê-lo, interpretá-lo e vivenciá-lo para nele intervier de modo a questioná-lo, criá-lo e transformá-lo para que mais pessoas possam usufruir desse fenômeno sociocultural. O aluno deve adquirir conhecimento e esclarecimentos, para entender suas relações sociais no meio em que vive. E o esporte da escola deve formar um cidadão capaz de identificar as diferentes expectativas da sociedade contemporânea, e possibilidades trabalhando assim nas aulas de Educação Física de forma educativa. Como por exemplo, o problema da discriminação dos sexos, onde os alunos formam turmas masculinas e turmas femininas.
Também podemos observar a diversidade de práticas corporais que o esporte tem privilégio de oferecer aos alunos, formas estas que compõe um campo enorme de conteúdos e temas que estão englobados nas representações culturais do esporte.
Esta na hora de se preocuparmos em aprimorar o ensino da Educação Física escolar voltada para o esporte, e construir mais referenciais e livros didáticos, que tenham propostas adequadas à realidade do esporte que está inserido na sociedade contemporânea.
Conclui Kunz (2004, p. 61):
O fim de tudo certamente só alcançaremos quando conseguirmos ensinar um esporte de tal forma que as nossas crianças possam crescer, desenvolver e tornar-se adultas através dele e, quando isso acontecer, quando se tornarem adultas, possam praticar esportes, movimentos e jogos como crianças.
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