• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III DIALOGANDO COM AS OBRAS DE ELENOR KUNZ E SÁVIO

3.1 TRANSFORMAÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA DO ESPORTE – ELENOR

3.1.5 Metodologia de Ensino dos Esportes

Kunz (2004, p, 36), diz que ao invés de tratar o esporte direcionando para o “simples desenvolvimento de habilidades e técnicas do esporte, numa concepção crítico-emancipatória, deverão ser incluídos conteúdos de caráter teórico prático”.

Com certeza a teoria se relaciona com a prática de forma geral, ou seja, trabalha o fenômeno esportivo de uma forma que permita aos alunos melhor organizarem a sua vivência e capacidade de conhecer, estudar e entender as modalidades esportivas, movimentos e jogos de acordo com suas possibilidades e necessidades.

Nesse mesmo enfoque, Kunz (2004) traz uma adaptação das possibilidades metodológicas de ensino, voltadas para o trabalho produtivo de treinar habilidades e técnicas:

[...] interação social que acontece em todo o processo coletivo de ensinar e aprender, mas que deve ser tematizado enquanto objetivo educacional que valoriza o trabalho coletivo de forma responsável, cooperativa e participativa. [...] outro aspecto importante a ser considerado é a própria linguagem. Na Educação Física a tematização da linguagem, enquanto categoria de ensino, ganha importância maior, pois não só a linguagem verbal ganha expressão, mas todo o “ser corporal” do sujeito se torna linguagem, a linguagem do “se movimentar-se” enquanto diálogo com o mundo (p. 37).

Essa adaptação é relacionada “na constituição de um processo de ensino, com conteúdos, métodos e objetivos do ensino” (KUNZ, 2004, p. 38).

Tabela 1 – Metodologia: trabalho interação e linguagem

Trabalho Interação Linguagem

Aspecto dos conteúdos Ter acesso a conhecimentos e informações de relevância e sentido para a aquisição de habilidades ao esporte de acordo com o contexto.

Ter acesso a relação esportivo-culturais, vinculadas à cultura do movimento do contexto social. Ter acesso a conteúdos simbólicos e linguísticos que transcendem o contexto esportivo.

Aspectos do métodos Possibilitar o acesso a estratégias de aprendizagem, técnica, habilidades específicas e capacidades físicas. Capacitação para assumir conscientemente papéis sócias e possibilidade de reconhecer a inerente possibilidade de se- movimentar Aperfeiçoamento das relações de entendimento de forma racional e organizada.

Aspecto dos objetivos Capacitar para o mundo dos esportes, movimentos e jogos de forma efetiva e

autônoma com vistas à vida futura relacionada ao lazer e ao tempo livre.

Capacitar para um agir solidário, cooperativo e participativo. Desenvolver capacidades criativas, explorativas, além da capacidade de discernir e julgar de forma crítica.

Competência Objetiva Social Comunicativa

Baseando-se nesse modelo metodológico de ensino que Kunz (2004) constituiu, com apoio teórico de Mayer (1987) e Habermas (1981), conclui:

Vê-se assim, que o conteúdo para o ensino dos esportes na Educação Física não pode ser apenas prático. A realidade do esporte deve constantemente ser problematizada para tornar transparente o que ela é e saber decidir sobre o que ela poderia ser. Por isso, além de análises críticas do esporte, deve ser oferecida a oportunidade de tematizar o esporte de diferentes formas, através de programas e outros cursos específicos. Isso, naturalmente, traz exigências novas. O ensino aqui pretendido não é um ensino “fechado” que se concentra na aprendizagem de destrezas técnicas para o rendimento esportivo e nem ensino “aberto” para atender, na maior parte, os interesses do aluno – que são reais. [...] Esse deve ser um ensino que se movimenta constantemente em um “abrir” e “fechar” de suas relações metodológicas (p. 39).

Kunz (2004), diz ser muito importante observação da linguagem nas aulas de Educação Física, tanto a linguagem do movimento (expressão corporal), quanto à linguagem comunicativa verbal. “O uso da linguagem no processo de ensino deve ser orientada para que o aluno aprenda a passar do nível de “fala comum”, para o nível do discurso” (KUNZ, 2004, p. 42).

E no discurso “[...] devem ser partilhadas as chances de participação nas ações de fala, onde todos têm as mesmas chances de expressar suas ideias, suas intenções e seus sentimentos” (HABERMAS, apud, KUNZ, 2004, p. 42).

Quando Kunz (2004) aborda a competência comunicativa, diz que através da linguagem o aluno vai entender, interpretar e criticar o fenômeno esportivo, que se insere na sociedade de maneira aberta à possibilidades de inserção do individuo no meio social.

Em uma concepção de problematização de ensino voltado para a Educação Física escolar, Kunz (2004, p. 74) destaca quais aspectos devem ser observados:

1. Evidenciar e esclarecer o problema básico na encenação do esporte; 2. Destacar a importância das situações de encenação e seu significado

individual e coletivo;

3. Favorecer a responsabilidade individual e coletiva no processo de encenação do esporte;

4. Aceitar diferentes soluções para as diferentes situações de encenação; 5. Orientar-se nas vivências e experiências subjetivas dos participantes,

Abordando esses aspectos, Kunz (2004) acredita que numa concepção crítico-emancipatória, a Educação Física brasileira esta sendo mais bem estruturada em um sentido de problematização. E assim, a prática educacional do esporte voltado não apenas para um saber-fazer, mas sim também, para um saber-pensar e um saber-sentir.

Mas agora, em um sentido amplo, Kunz (2004) tenta trazer o que realmente acontece nas aulas de Educação Física escolar.

O que o autor observa é a execução dos alunos vivenciarem [...] “os movimentos do esporte enquanto realizações de perfeições técnicas, de gestos estereotipados, de melhoria de força, na velocidade e na resistência” (KUNZ, 2004, p. 120).

Kunz (2004) diz que devem existir condições de possibilidade que permitam uma livre e espontânea forma de se expressar. E é na tematização da dança e a atividade lúdica que a expressão da natureza sensível, comunicativa, alegre e prazerosa do aluno é possibilitada nas aulas de Educação Física escolar.

Através disso o ensino escolar deve se basear numa concepção crítica, ou seja:

Tarefa da educação crítica é desenvolver as condições para que as estruturas autoritárias e a imposição de uma “comunicação distorcida” possam ser suspensas e encaminhadas no sentido de uma emancipação que corresponda à realidade. isso significa que o professor deverá promover o “agir comunicativo” entre seus alunos, possibilitado pelo uso da linguagem, para expressar entendimentos do mundo social, subjetivo e objetivo, da interação para que todos possam participar em todas as instâncias de decisão, na formulação de interesses e preferências, agir de acordo com as situações e as condições do grupo em que está inserido e do trabalho no esforço de conhecer, desenvolver e apropriar-se de cultura (KUNZ, 2004, p. 122).

O autor diz que o professor deve permitir e incentivar para

- Que os alunos descubram, pela própria experiência manipulativa, as formas e os meios para uma participação bem-sucedida em atividades de movimentos e jogos;

- Que os alunos sejam capazes de manifestar pela linguagem ou pela representação cênica, o que experimentaram e o que aprenderam, numa forma de exposição que todos possam aprender;

- Por último, que os alunos aprendam a perguntar e questionar sobre suas aprendizagens e descobertas, com a finalidade de entender o significado cultural dessa aprendizagem, seu valor prático e descobrir, também, o que ainda não sabem ou aprenderam (KUNZ, 2004, p. 124).

Para que ocorra a transformação didático-pedagógica do esporte, Kunz (2004) da exemplos em sua obra de “Situações de Ensino”, onde usa arranjos materiais para executar modalidades esportivas (atletismo). Na visão do autor o aluno não estará disputando com o adversário, cronômetro ou tempo, mas sim, com sigo mesmo ou contra seu próprio resultado com o material.

Kunz (2004) diz ser muito importante a elaboração de um formulário para realizar as devidas observações práticas dos alunos. As observações devem ser feitas no ponto de vista técnico e no ponto de vista da vivência subjetiva.

No registro de aspectos técnicos o professor sugere e os alunos observam, no companheiro, os erros na execução de uma atividade, que os professores de Educação Física conhecem tão bem, mas que normalmente passam ao aluno em forma de grito ou advertência: “Não flexiona tanto o joelho na hora do salto!”, etc. No registro dos aspectos subjetivos o praticante deve observar suas dificuldades do ponto de vista do medo, da insegurança e do nervosismo. No final dessas atividades em grupo o professor se reúne com o grupo inteiro, ou nos pequenos grupos, e discute com eles essas observações (KUNZ, 2004, p.145).

3.2 REINVENTANDO O ESPORTE. POSSIBILIDADES DA PRÁTICA

Documentos relacionados