• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III DIALOGANDO COM AS OBRAS DE ELENOR KUNZ E SÁVIO

3.2 REINVENTANDO O ESPORTE POSSIBILIDADES DA PRÁTICA

3.2.1 Objetivo da Educação Física Escolar

Assis (2001), quando terminou seu curso de graduação acreditava que a Educação Física escolar deveria ser menos centrada especificamente no ensino dos esportes. Para que o mesmo não seja [...] “o único organizador das aulas e também não ser a Educação Física instrumento da instituição esportiva” (ASSIS, 2001, p. 8). Porém, qual é o objetivo de estudo da Educação Física escolar?

Assis (2001, p.11) traz o Coletivo de Autores (1992, p. 50) que define Educação Física como: [...] “uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal”.

Completa Assis (2001, p. 12) dando sua definição, na mesma perspectiva do Coletivo de Autores:

[...] a Educação Física é uma disciplina que trata pedagogicamente, na escola, do conhecimento da cultura corporal, tendo como objeto de estudo a expressão corporal como linguagem e o jogo, a dança, a ginástica, o esporte, o malabarismo, a mímica, entre outros, como “temas” ou “formas” da cultura corporal que constituem o seu conteúdo.

O autor chega a essa definição com o apoio teórico de Bracht e Caparroz que trazem reflexões das definições de Educação Física abordada como componente curricular da escola. Também levanta em sua tese o que Betti apresenta como objetivo da Educação Física escolar, incluindo o esporte como um dos seus principais conteúdos.

[...] introduzir o aluno no universo cultural das atividades físicas, de modo a prepará-lo para delas usufruir durante toda sua vida [...]. Devem-se ensinar o basquetebol, o voleibol (a dança, a ginástica, o jogo...) visando não apenas o aluno presente, mas o cidadão futuro, que vai partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais de atividade física . Por isso, na educação física escolar, o esporte não deve restringir-se a um “fazer” mecânico, visando um rendimento exterior ao individuo, mas tornar-se um “compreender”, um “incorporar”, um “aprender” atitudes, habilidades e conhecimentos, que levem o aluno a dominar os valores e padrões da cultura esportiva (BETTI, 1991, apud ASSIS, 2001, p. 114).

Em seguida, Assis (2001) cita Bracht (1997b) que diz, o que leva o esporte como conteúdo central da Educação Física escolar, ou seja, da cultura corporal tratada na escola, é a forte ligação da educação e saúde. Porém, [...] “esse discurso, já bastante criticado, não é prioritário no atual momento, graças principalmente, à importância econômica do esporte de alto rendimento” (ASSIS, 2001, p. 115).

3.2.2 Críticas ao Esporte

Pergunta Assis (2001, p. 09) “o esporte, forma cultural que ritualiza elementos fundamentais da sociedade capitalista como competição, a concorrência e o rendimento, pode participar de um projeto político-pedagógico emancipatório? Pode? Como pode?”.

Através dessa pergunta que Assis (2001) realiza em sua tese, me pergunto: se o fenômeno cultural esportivo, que é contemplado e manifestado dentro da sociedade de forma “visível” a todas as classes sociais, for banido da Educação Física escolar, pelas dúvidas e críticas se ela participa ou não de um projeto-político-

pedagógico emancipatório. Qual seria a função ou fundamentação da Educação Física estar presente na escola?

Assis (2001) separa as críticas feitas ao esporte em duas dimensões, uma é a relação de exclusividade (sem espaço para outros temas). A outra dimensão esta voltada para a função do esporte na escola, “na ideia de que o esporte que acontece na escola esta a serviço da instituição esportiva, na revelação de atletas” (ASSIS, 2001, p. 16). Também por outro lado, como função do esporte, servindo como crítica, a dimensão axiológica, que são os valores e sentidos que o esporte transmite, constrói, cria e recria.

Assis (2001) relaciona essas duas dimensões com a constituição de debates que configuram uma contraposição do esporte na escola e o esporte da escola, uma vez que a primeira dimensão crítica estaria a serviço das instituições educacional, através de seus valores educativos.

O autor afirma através de referência bibliográfica que o “esporte na escola” educa.

Precisamos entender que as atitudes normas e valores que o individuo assume através do processo de socialização através do esporte estão relacionados como sistemas de significados e valores mais amplos, que se entendem para além da situação imediata do esporte. [...] assim, como vimos, realmente o esporte educa. Mas, educação aqui significa levar o individuo a internalizar valores, normas de comportamento, que lhe possibilitarão se adaptar à sociedade capitalista. Em suma, é uma educação que leva ao acomodamento e não ao questionamento. Uma educação que ofusca, ou lança uma cortina de fumaça sobre as contradições da sociedade capitalista (BRACHT, 1986, apud ASSIS, 2001, p. 17).

A partir dai Assis (2001) expõe a questão “abandonar ou reinventar o esporte?”. O autor entende que existe uma impossibilidade de não considerar o esporte como tema da Educação Física escolar. Pois, o esporte em uma abordagem crítico-superadora e “aceito como fenômeno social, é preciso ser questionado em suas normas, suas condições de adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o pratica, cria e recria” (ASSIS, 2001, p. 27). E que a prática do esporte seja adquirida pela população como um direito de um bem social, para que possam usufruir dele.

Assis (2001) retraça a gênese do esporte, destacando a importância da sociologia/história estarem associado a um entendimento da prática esportiva. O

autor traz em sua tese nesse entendimento as dificuldades da sociologia do esporte que:

[...] desenhada pelos sociólogos, ela é desprezada pelos esportistas. [...] a lógica da divisão social do trabalho tende a se reproduzir na divisão do trabalho científico. Assim, de um lado existem pessoas que conhecem muito bem o esporte na forma prática, mas que não sabem falar dele, e, de outro, pessoas que conhecem muito mal o esporte na prática e que poderiam falar dele, mas não se dignam a fazê-lo, ou o fazem a torto e direito (BOURDIEU, 1190, apud ASSIS, 2001, p.72).

Nesse enfoque, está clara a importância da sociologia do esporte ter vínculo com a historicidade do fenômeno, podendo assim articular vivências das pessoas, tanto prática como teórica.

Assis (2001) concorda com Kunz (2004), quando menciona que a literatura sempre esteve assente nas propostas teórico-práticas ao nível de desenvolvimento concreto da realidade da escola, que por fim, tem a finalidade de contribuir para o avanço das reflexões/produções didático-pedagógico do esporte e da Educação Física.

3.2.3 Conceito de Esporte

O esporte para Assis (2001) está presente em toda a sociedade. No Brasil é difícil dizer que alguém não tenha uma ideia comum de falar sobre o fenômeno esportivo ou entendê-lo. Mesmo quem diz não gostar do esporte, é atingido pela grande mobilização que o país realiza, através dos meios de comunicação de massa, nas transmissões das enormes competições nacionais e internacionais que o país participa, e em especial a copa do mundo de futebol.

O autor diz que o esporte está sendo manifestado, fortemente na sociedade, ou seja, nas ruas, nas praças, nos estádios, nos parques, nos clubes, enfim. Porém, não é na escola que o esporte estabelece uma relação especial, pois [...] “é ali que o conhecimento produzido pelo homem é pedagogizado e tratado metodologicamente para que o aluno venha aprendê-lo ou apreendê-lo” (ASSIS, 2001, p. 06).

Nesse enfoque o termo esporte:

[...] refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo surgida no âmbito da cultura européia por volta do século XVIII,

e que com esta, expandiu-se para todos os cantos do planeta. No seu desenvolvimento consequente no interior desta cultura, assumiu o esporte suas características básicas, que podem ser sumariamente resumidas em: competição, rendimento físico-técnico, record, racionalização e cientifização do treinamento (BRACHT, 1989c, apud ASSIS, 2001, p. 18).

Porém para Assis (2001), responder a pergunta “o que é esporte?” em uma concepção reflexiva de tratamento do mesmo dentro da escola, seria abordar explicações e entendimentos para a compreensão do esporte. Assim respondendo, [...] “não o que é/mas como foi, como está e o que pode vir a ser” (ASSIS, 2001, p. 71) o esporte da escola.

Para um entendimento maior do surgimento do esporte moderno, Assis (2001, p, 75-76) levanta alguns pontos consensuais que são verificados nos diversos textos da bibliografia do esporte:

- o esporte moderno surge na Inglaterra a partir do século XVIII; - surge da transformação de alguns jogos populares;

- as public schools têm um papel fundamental nesse processo, e

- da Inglaterra, o esporte se espalha por todo o mundo e torna-se a principal expressão da cultura corporal e das ocupações de lazer.

Para um detalhamento das características do esporte, Assis (2001, p. 84) cita Bracht (1991) que por sua vez escreve:

1) desenvolvimento de um treinamento racionalizado com métodos baseados na experiência em conhecimentos sistemáticos e científicos; 2) regulamentação das formas de movimento e aparelhos; 3) sistematização dos exercícios; 4) tecnificação na mensuração dos rendimentos, no desenvolvimento dos locais de prática, no desenvolvimento de comportamentos considerados corretos/eficientes; 5) especialização das atividades; 6) organização de competições; 7) mensuração precisa e quantificação para a objetivação dos rendimentos (principalmente para comparar rendimentos para além dos locais concretos, independentemente de tempo e local) e 8) crescente orientação no rendimento e na competição (crescente valorização de rendimentos individuais; almejar ser campeão, bater recorde; os rendimentos são divulgados compondo um ranking).

3.2.4 Objetivo do Esporte na Escola

Em sua tese, Assis (2001) levanta elementos que relacionam o esporte na abordagem crítico-superadora, onde destaca o seguinte:

3) a necessidade de transformá-lo na escola com algumas indicações de ordem geral: a) na escola, é preciso resgatar os valores que verdadeiramente socializa, privilegiam o coletivo sobre o individual, garantem a solidariedade e o respeito humano e levam à compreensão de que o jogo se faz com o outro e não contra o outro; b) o programa de esportes deve ser desenvolvido no entendimento da evolução dos jogos, desde o jogo com regras implícitas, do ato criativo espontâneo, até o jogo institucionalizado com regras específicas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71); c) a organização do conhecimento sobre o esporte deve evidenciar o sentido e o significado dos valores que inculca e as normas que o regulamentam dentro do nosso contexto sócioistórico; d) a organização do conhecimento não deve desconsiderar o domínio dos elementos técnicos e táticos, desde que não sejam exclusivos e únicos conteúdos da aprendizagem (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 41); d) o ensino do esporte deve possibilitar o seu entendimento como uma prática social construída historicamente, que pode ser criticamente assistida e alteradas, criativamente ensinada, exercitada e inclusive exercida na sua dimensão profissional (SOARES, TAFFAREL & ESCOBAR, 1992, p. 220, apud, ASSIS, 2001, p. 28).

Pode-se perceber que o autor tem muito apoio bibliográfico, principalmente da obra Metodologia do Ensino da Educação Física, porém, tratando do desenvolvimento do esporte, Assis (2001), traz uma série de aspectos que podem ser pensados e repensados dentro da escola e da sociedade contemporânea.

- A proliferação do esporte em outras camadas sociais, em função do surgimento de novas escolas para as classes médias e da redução da jornada de trabalho para as classes trabalhadoras; - a formação de clubes esportivos por pessoas interessadas como espectadoras ou executantes; - a uniformização de regras, necessidade de regulamentação para além do nível local, gerada pelo estabelecimento das “trocas” esportivas entre instituições escolares, regiões, clubes, etc.; - a criação de clubes regionais a partir de clubes locais e , depois, a criação das associações nacionais; - a eficiência dos esporte no direcionamento da violência, funcionando como um meio extremamente econômico para a mobilização, a ocupação e o controle dos adolescentes; - a universalização da instituição esportiva, por meio dos jogos olímpicos, veiculando a ideia do esporte como promotor do internacionalismo e da paz; - a ideia de igualdade de chances de vitória na rivalidade entre indivíduos, princípio fundamental do liberalismo (ASSIS, 2001, p. 82).

Nessas concepções, claramente podemos observar que é a própria sociedade que “ganha” com essa forma de vivência do fenômeno esportivo. Fazendo com que ele seja valorizado em suas relações sociais. Assis (2001) analisa o esporte na escola com base nas articulações feitas por Kunz, Filho e Vago, que dão suporte para a compreensão geral do esporte tematizado na escola.

Documentos relacionados