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7. ANÁLISE DE DADOS DE TEMPORAL EM SINES

7.4. Análise do Período Médio e da Direção Média

Os registos disponibilizados incluem informação sobre a direção associada ao período de pico, 𝑇ℎ𝑡𝑝, e do período médio de zero ascendente, 𝑇𝑧. Neste subcapítulo foram analisados estes

dois parâmetros de acordo com os registos obtidos em cada ocorrência identificada como temporal. Uma das propriedades sobre a ondulação que se torna importante de analisar é o período das ondas que se propagam na zona marítima de Sines. Esta característica é dada pela média dos períodos de zero ascendente observados em cada registo, sendo representada através do parâmetro 𝑇𝑧. Durante um registo são medidos vários períodos de período de onda, cada um dos quais definido segundo a metodologia do zero ascendente como o intervalo de tempo (medido em segundos) que decorre entre duas passagens sucessivas pelo nível médio da superfície no sentido ascendente. A média destes períodos (𝑇𝑧) observados durante um determinado intervalo de tempo serve como um valor representativo do período típico das ondas registadas durante esse tempo.

Foram analisados todos os registos recolhidos em toda a duração das 40 tempestades detetadas ao longo dos anos 2001 a 2010 considerando 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m, o que originou um conjunto

de 1048 eventos a partir dos quais se calculou os valores da relação 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠. Cada um destes valores corresponde a um determinado período médio, 𝑇𝑧, cujos valores estão representados pelos

pontos dispostos na Figura 5.13.

Figura 7.12: Valores da relação 𝐻𝑚𝑎𝑥 /𝐻𝑠 para o período médio de zero ascendente (𝑇𝑧) em condições de

tempestade entre 2001 e 2010, para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m

𝑇𝑧 (s)

𝐻𝑚

𝑎𝑥

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Observando a figura anterior, é possível constatar que existe uma concentração de grande parte dos valores do período médio num intervalo que pode ser definido entre aproximadamente 8s e 13s, e à medida que nos afastamos do intervalo de mencionado verifica-se que os valores tornam- -se cada vez mais dispersos. Observa-se também que o período médio mais elevado atingiu quase 18s. Isto indica que as ondas que ocorreram durante este registo em particular têm um período típico mais elevado do que as ondas pertencentes aos restantes registos.

A concentração da maioria dos valores de 𝑇𝑧 encontra-se também associada a uma gama de valores de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 que visualmente pode ser restringida entre cerca de 1,25 e 2,25. No entanto, o conjunto dos pontos que representam o período médio de onda não permite que se estabeleça com exatidão uma correlação direta entre os valores de 𝑇𝑧 e de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠, isto porque um determinado período médio (por exemplo 𝑇𝑧 = 10s) corresponde a valores de H𝑚𝑎𝑥/H𝑠 que abrangem todo o intervalo que anteriormente observado: 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠∈ [1,25 ; 2,25].

Por outras palavras, uma altura máxima de onda que seja muito superior a 𝐻𝑠 não

corresponde a períodos médios mais elevados ou mais baixos, e o inverso também é verdade, pelo que não se conlui que exista uma relação de dependência entre estes dois parâmetros. Assim, consegue-se apenas averiguar se estes parâmetros variam dentro de uma determinada gama de valores, o que de facto acontece e é visível na Figura 7.12.

Segundo o Instituto Hidrográfico, a direção associada ao período de pico, 𝑇ℎ𝑡𝑝, “representa a direção de origem do sistema de ondas predominante”. O período de pico (𝑇𝑝) é calculado pelo

método da análise espectral e permite caracterizar o período associado ao sistema de ondas predominante. A sua respetiva direção (𝑇ℎ𝑡𝑝), é medida em graus em relação ao norte geográfico,

com valor positivo no sentido da rotação dos ponteiros do relógio.

A Figura 7.13 ilustra uma rosa dos ventos com formato gráfico de radar, na qual estão indicados os valores da relação 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 dispostos em percentagem de acordo com a direção de incidência a que corresponde cada gama de valores de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠. Os valores de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 encontram-se

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Figura 7.13: Direção da ondulação incidente em coordenadas cartográficas para os valores de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠

calculados em condições de temporal, considerando 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m

Conhecendo os pontos cardeais e colaterais marcados na rosa dos ventos, procede-se à interpretação da figura anterior, que permite visualizar as direções de origem da ondulação incidente. Assim, observando a Figura 7.13 nota-se que a maior percentagem dos valores calculados para a relação 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 em condições de tempestade (cerca de 45%) tem origem entre

oés-noroeste (WNW) e noroeste (NW). A segunda percentagem mais elevada de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 é de

aproximadamente 28% e evidencia uma direção um pouco mais para oeste da anterior, ou seja, a ondulação vem da direção oés-noroeste (WNW).

A terceira maior percentagem observável através da Figura 7.13 vale cerca de 12% e tem uma proveniência ligeiramente mais a norte que as restantes, vindo da direção noroeste (NW). Observa-se também uma gama de valores (correspondentes a 8%) muito próximos de coincidirem com o eixo horizontal da direção oeste (W). Existe ainda uma percentagem residual de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 que se localiza ligeiramente a sul da direção oeste (W), perfazendo a totalidade dos 100% dos valores calculados de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠.

Com o objetivo de complementar a interpretação dos registos da direção indicados na Figura 7.13, associa-se as coordenadas cardeais provenientes da leitura da rosa dos ventos a uma medição obtida em graus. Neste sistema de medição o norte geográfico (N) corresponde a 360º, enquanto que as direções correspondentes aos restantes pontos cardeais são obtidas percorrendo a circunferência no sentido horário. Isto permite analisar a direção de incidência do sistema de ondas com maior precisão. Assim, apresentam-se na Figura 7.14 os valores medidos em graus do parâmetro que indica a direção do sistema de ondas predominante, 𝑇ℎ𝑡𝑝.

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Figura 7.14: Direção média, 𝑇ℎ𝑡𝑝, para os valores de 𝐻𝑚𝑎𝑥/𝐻𝑠 obtidos em condições de temporal, para

𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m

Observa-se uma densa concentração dos valores de 𝑇ℎ𝑡𝑝 entre 280º e 310º, e sabendo que o oeste (W) é equivalente a 270º e o noroeste (NW) corresponde a 315º, conclui-se que o sistema de ondas predominante na zona marítima de Sines é de facto proveniente de direções originárias de noroeste em relação à costa portuguesa.

Verifica-se também que existem alguns pontos dispersos em direções inferiores a 270º, alguns dos quais atingem quase 220º; estes valores indicam uma direção um pouco mais a sul de oeste mas constituem uma parte muito diminuta do total de dados, pelo que não é considerada na caracterização da origem do sistema predominante.

As medições da direção média (𝑇ℎ𝑡𝑝) recolhidas pelo ondógrafo localizado ao largo de Sines estão em concordância com o facto conhecido de que a costa oeste portuguesa é atingida por ondulações oriundas de NW e que são geradas no Atlântico Norte. Além disto, há que ter em conta que as condições de agitação marítima na costa ocidental estão associadas a ventos dominantes na zona oriental do Anticiclone dos Açores, que também contribuem para a ondulação proveniente da direção NW que se faz sentir na costa oeste portuguesa.

𝐻𝑚

𝑎𝑥

/𝐻𝑠

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