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7. ANÁLISE DE DADOS DE TEMPORAL EM SINES

7.1. Análise da Ocorrência de Temporais

As tempestades são fenómenos atmosféricos caracterizados por ventos fortes, acompanhados geralmente por elevada agitação marítima e precipitação.

No que respeita à agitação marítima, considerou-se nesta dissertação que se está na presença de uma tempestade quando a altura significativa de onda, 𝐻𝑠, iguala ou ultrapassa um

valor previamente estabelecido, denominado 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒. O estudo estatístico desenvolvido neste capítulo é baseado na análise dos registos temporais da agitação marítima, pelo que a altura significativa, 𝐻𝑠, representa o parâmetro estatístico 𝐻1/3, referente ao método do cruzamento com o nível zero (definido no subcapítulo 4.1).

Com base no conjunto de dados adquiridos pela estação ondógrafo Sines entre os anos 2001 e 2010, e fornecidos pelo Instituto Hidrográfico, fez-se uma avaliação das características dos temporais para dois valores diferentes de 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒, e estudou-se a influência da alteração do valor

deste parâmetro no que respeita às características de cada temporal. Na primeira situação, atribuíu- -se um valor de 5m a 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒, pois este é o valor referido na página online do IH como o limite usado na aquisição dos dados. Porém, o atual limite utilizado pelo IH na costa oeste portuguesa é de 4,5m, e no segundo caso de análise é este o valor considerado para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒. Em ambas as situações, além de ser estabelecido um valor para a altura significativa limite, 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒, foram ainda definidos outros critérios para a consideração de um conjunto de eventos como temporal:

 devem ter uma duração de pelo menos 6 horas;

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Aplicando estes critérios apresenta-se nas Figuras 7.1 e 7.2 o número de tempestades registadas e as suas respetivas durações, considerando neste primeiro caso que se está na presença de uma tempestade quando a altura significativa de onda é igual ou superior a 5m.

A Figura 7.1 indica que os anos de 2002 e 2003 foram os mais fustigados pela ocorrência de temporais, pois por cinco vezes constatou-se que a altura significativa de onda ultrapassou o valor predefinido de 5m. Por outro lado, durante os anos de 2004, 2005 e 2008 não se observou a ocorrência de quaisquer tempestades, pois nestes três anos os eventos registados não cumpriram os critérios estabelecidos para a ocorrência de temporais. No total dos 10 anos analisados verificou- -se a ocorrência de 24 temporais.

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Figura 7.2: Duração (em horas) de cada tempestade registada entre os anos 2001 e 2010,

para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 5m

Figura 7.1: Nº de tempestades que ocorreram em cada ano desde 2001 a 2010, para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 5m

Nº d e T em pe sta de s Dura çã o (h or as )

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Na Figura 7.2 é possível observar que ao longo do período de 10 anos as tempestades variam bastante na sua duração. A tempestade mais prolongada ocorreu no ano de 2001 durante o qual se verificou uma duração de quase 32 horas em que os eventos registados indicaram que a altura de onda significativa manteve-se acima ou em igualdade com 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒. Por outro lado, a tempestade de maior brevidade aconteceu no ano de 2010 e a sua duração foi de aproximadamente 7 horas. As barras a verde ilustradas na figura anterior representam a duração média das tempestades em cada ano. Esta média varia desde um máximo de 24 horas para o ano 2001 até um mínimo de aproximadamente 8 horas de duração para o ano 2010. Sabendo à partida que as tempestades são fenómenos atmosféricos de natureza aleatória, esta característica está refletida na quantificação da sua duração em horas, indicando que estas se prolongam por períodos de tempo bastante variáveis tal como se observa pela gama abrangente de valores representados graficamente na Figura 7.2.

Concluída esta análise, estudou-se neste segundo caso como se alteraria o número de ocorrências ao atribuir um valor diferente para a altura significativa limite, 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒, assim

estabeleceu-se desta vez que este parâmetro tem o valor de 4,5m de acordo com o que é aplicado atualmente pelo Instituto Hidrográfico. Para este caso, o número de tempestades e as suas respetivas durações estão representados nas Figuras 7.3 e 7.4.

Observando a Figura 7.3, conclui-se que a redução da altura significativa limite de 5m para 4,5m levou a que uma maior quantidade de alturas significativas igualasse ou suplantasse o valor estabelecido, como seria expectável. A diminuição de 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 em 0,5m provocou um aumento na ocorrência de temporais em 8 dos 10 anos sobre os quais foram disponibilizados os registos. Neste caso, apenas o ano de 2007 manteve o mesmo número de tempestades (2), ao passo que os anos de 2005 e 2008 que anteriormente não apresentavam tempestades indicam agora a ocorrência de uma em cada ano. Apenas o ano de 2004 continua sem qualquer ocorrência de temporais. O maior aumento no número de ocorrências destes fenómenos observou-se no ano de 2010, aumentando de 2 para 7 temporais e no ano de 2001 em que se verificou uma evolução de 3 para 7 tempestades.

Figura 7.3: Nº de tempestades que ocorreram em cada ano desde 2001 a 2010, para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m

Nº d e T em pe sta de s

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Conclui-se que o valor 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m provocou na globalidade do período de 10 anos um crescimento de 60% no número total de eventos de tempestade registados, que na anterior análise somava 24 enquanto nesta situação atingem um total de 40 temporais.

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Em relação à duração destes fenómenos, a observação da Figura 7.4 permite concluir que ao reduzir o valor de H𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒, a duração das tempestades aumentou, tal como tinha sido observado para o número de ocorrências. Enquanto na anterior análise a tempestade mais longa prolongou-se por 32 horas e ocorreu no ano de 2001, nesta situação a maior duração foi de 42 horas, sendo verificada na 5ª tempestade do ano de 2002. Observou-se também uma alteração no tempo da tempestade mais curta, pois a interpretação da Figura 7.2 permitiu concluir que a duração menor tinha sido de 7 horas (para uma tempestade de 2010); por outro lado a Figura 7.4 indica que as tempestades mais breves ocorreram em 2001 e prolongaram-se por 6 horas, o que corresponde ao limite mínimo que tinha sido estabelecido como critério de definição de temporal. Na Figura 7.4 estão ilustradas barras verdes que simbolizam a duração média calculada para as tempestades em cada ano. Observa-se uma duração média máxima de sensivelmente 21 horas no ano 2001, enquanto que a menor duração média vale aproximadamente 8 horas e aconteceu no ano de 2005 (neste caso, a média corresponde à duração de um único evento de temporal identificado neste ano). Comparando estes valores com os resultados da Figura 7.2, percebe-se que a alteração de 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒

teve pouco influência na duração média das tempestades, uma vez que os valores mais altos e mais baixos desta média estão bastante próximos dos valores extremos indicados na Figura 7.2.

Figura 7.4: Duração (em horas) de cada tempestade registada entre os anos 2001 e 2010,

para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m Dura çã o (h or as )

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Portanto a diminuição de 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 de 5m para 4,5m levou a que a duração medida em horas abrangesse uma gama mais variada de valores, o que se observa pelo aumento da duração dos temporais mais longos e pelo decréscimo na duração das tempestades mais breves quando comparadas com as observações feitas para 𝐻𝑠,𝑙𝑖𝑚𝑖𝑡𝑒 = 4,5m.