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3.6 ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.6.2 Análise dos dados

Bardin (2007) define que a Análise de Conteúdo é um procedimento técnico que busca obter inferências objetivas sobre os dados de determinado texto. Abrange um “conjunto de técnicas de análise das comunicações” (p. 27) com grande variedade de formas para serem aplicadas em qualquer comunicação, “qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo” (BARDIN, 2007, p. 28). Na sua função heurística, o uso dessa técnica de análise pode contribuir com a pesquisa, pois aumenta “a propensão à descoberta”, o propósito de “análise de conteúdo para ‘ver o que dá’” (p. 25). Aqui, “a descrição analítica funciona segundo procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens [...] trata-se, portanto, de tratamento da informação contida nas mensagens” (p. 29), em que as entrevistas e os documentos utilizados na comunicação de massa constituem alguns dos domínios possíveis de aplicação.

A Análise de Conteúdo das entrevistas e dos documentos desta pesquisa norteou-se pela descrição do método elucidado por Bardin (2007), resumido nas seguintes fases:

1) Primeira – Tem por objetivo sistematizar as ideias iniciais e proceder à organização dos documentos, por meio da escolha dos materiais que serão submetidos aos procedimentos analíticos, em função das hipóteses e objetivos traçados – constituição de um corpus. Efetua-se a elaboração de índices, elementos presentes no texto, “que a análise vai fazer falar” (p. 93) e indicadores (variável de inferência), que fundamentem a interpretação final do material. Desta forma, ocorre a primeira leitura para a preparação formal ou edição dos textos, pela organização e transcrição das entrevistas, assim como de todo material utilizado para coleta de dados (leitura flutuante), o que permite a reformulação das hipóteses.

2) Segunda – Nesta fase ocorre a exploração do material organizado, que se caracteriza por procedimentos de codificação dos dados. A codificação, em análise de conteúdo, corresponde à transformação sistemática dos dados brutos em unidades, com a finalidade de alcançar uma descrição exata das características relevantes do conteúdo.

É a busca pela existência de “um elo entre os dados do texto e a teoria do analista.” (BARDIN, 2007, p. 97). Aqui temos estabelecida a unidade de registro (UR) que corresponde à unidade de significação analisada no texto, pode estar no nível semântico (tema) ou linguístico (palavra, frase), por exemplo. Cada UR contém uma mensagem que expressa o modo como se apresenta a amostra e deve ser ordenada conforme o entendimento de quem as interpreta. Também se estabelece a unidade de contexto, que serve de unidade de compreensão para codificar a UR e corresponde ao segmento da mensagem (frase para a palavra e parágrafo para o tema), cujas dimensões são apropriadas para que se possa compreender a significação exata da UR.

Após a eleição das UR, “o que se conta” (p. 101) em referência ao texto, segue- se para a escolha da regra de enumeração “o modo de contagem” (p. 101), adotam-se indicadores/medidas (variável de inferência) que se apresentem apropriados, de acordo com os interesses da pesquisa (presença ou ausência, frequência simples ou ponderada, intensidade, direção, ordem e concorrência), conferem-lhes valores para produzir um sistema de categorias. Essa manipulação de mensagens explicitadas na UR investigada constitui o trabalho de inferência, de modo a atribuir-lhe um sentido.

3) Terceira – No contexto da Análise de Conteúdo existe um sentido a ser desvelado e relevado em um texto. Isto porque a descoberta dos seus conteúdos e das estruturas de suas mensagens representa uma realidade em si, compreensível e comum

para todos. Após a conclusão da etapa anterior, verifica-se que existem indicadores que permitem a elaboração de categorias:

A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, que reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns desses elementos. (BARDIN, 2007, p. 111)

A categorização tem como finalidade fornecer, por condensação, representação simplificada dos dados brutos que passam, desde então, a dados organizados, conforme uma lógica explicativa do que foi obtido. O critério de categorização pode ser semântico (categorias temáticas), onde todos os temas que significam um determinado fenômeno ficam agrupados na mesma categoria; sintático (os verbos, os adjetivos); lexical (classificação das palavras segundo o seu sentido) e expressivo (categorias que classificam as diversas expressões da linguagem).

A análise categorial diz respeito ao conjunto de técnicas da Análise de Conteúdo que funciona por operações de divisão do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos. A metodologia da Análise de Conteúdo prevê diversas técnicas de análise: análise de avaliação, análise da anunciação, análise da expressão, análise das relações, análise do discurso. Porém, a técnica de análise por categorização apresenta-se eficaz na análise da modalidade temática, na condição de se aplicar a discursos diretos e, por essa razão, eleita para análise dos dados desta pesquisa.

Optamos pela técnica de Análise de Conteúdo, modalidade temática (análise dos significados), cujo critério de categorização é semântico e significa a “contagem de um ou vários temas ou itens de significação, numa unidade de codificação previamente determinada.” (BARDIN, 2007, p. 73)

A análise temática “consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo escolhido.” (BARDIN, 2007, p. 99). Tema é a UR para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, tendências (variáveis inferidas), e surge, no texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia auxiliar da leitura. Como guia de leitura utilizamos a aplicação de referencial teórico, metodológico e analítico, representados pelos construtos da performatividade,

identidade e nas prescrições da Abordagem do Ciclo de Políticas (policy cycle approach), no recorte restrito ao contexto da prática.

Para desenvolver a análise priorizamos as interpretações e recriações realizadas em nível local (organizacional e pessoal), bem como os motivos e consequências que pudessem representar possíveis rejeições, alterações e transformações significativas nas propostas políticas originais. Buscamos compreender os papéis dos professores/gestores e de suas biografias na construção das implantações locais do Programa.

Com o propósito da interpretação da contraposição de ideias que levem a outras ideias, na busca de elementos conflitantes entre dois ou mais fatos para explicar uma nova situação decorrente desse conflito.

Neste sentido, o enfoque analítico dinamiza a emergência dos possíveis desdobramentos da categoria performatividade que serviram para confrontar essa formação implementada a partir das necessidades, expectativas e o sentido que os próprios gestores atribuem à sua profissionalidade mediante os requerimentos impostos ao seu desempenho nesse processo.

Assim, as categorias e análises foram construídas a partir dos pressupostos da performatividade desenvolvidos por Ball (2001, 2002, 2004, 2005, 2010) e relacionados à crise de identidades que Dubar (2005, 2006) tão precisamente aponta em suas obras. Os gestores da Educação Básica, no contexto da prática do trabalho gestionário, compartilham os símbolos de pertencimento, sentem a necessidade de reconhecimento constante, perseguem um ideal de realização quase inatingível para a maioria e as identidades de suas escolhas relacionam-se com outras, insufladas pelo ambiente externo a eles, pois as formas identitárias profissionais se configuram nas relações sociais e de trabalho.

Para tanto, reafirma-se que o referencial teórico formou-se pela articulação de duas categorias: performatividade e identidade, com foco principal na primeira em razão do objeto e objetivos desse estudo.