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A centralidade que a gestão da escola assume neste contexto de mudanças é uma das discussões que trata das formas de gestão. Hoje, a LDB/ 9394/96 indica para as escolas a adoção da gestão democrática, deixando a cargo das equipes a responsabilidade maior de sua execução. No entanto, como esse processo é permeado por fatores constituintes da própria política educacional, faz-se necessário estudar e refletir sobre o que realmente esse modelo representa dentro da escola e em seu entorno. Como observa, com propriedade, Lima L. (1996), as mudanças sociais e escolares sendo influenciadas pelas mudanças ocorridas ao nível das decisões políticas centrais não seguem apenas essas regras impostas nem sempre se subordinam aos mesmos ritmos e condições.

A função do Estado sofreu inúmeras mudanças ao longo dos anos. No Brasil, não foi diferente, por exemplo, é possível ver que a reforma do Estado, empreendida na década de 1990, traz no seu bojo ideias de redemocratização que pressupõem a

participação popular, a descentralização e a garantia de direitos, que foram os princípios consolidados na Constituição Federal de 1988 – a chamada “Constituição Cidadã.” (FRANZESE, 2006)

Com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram, sendo uma das suas principais funções promover o bem-estar da sociedade. Nesta reconfiguração, o Estado necessita desenvolver estratégias, programas e planos em diferentes campos, tais como assistência social, saúde, educação. Sobre a questão da democratização da educação, afirma Tedesco (1995, p. 92):

Democratizar a educação seria uma condição necessária para a democratização social. Depois da Segunda Guerra Mundial, a expansão educativa foi considerada como uma necessidade para o crescimento econômico. Gastar em educação seria investir, tanto ao nível individual quanto social. Dessa forma, a democratização e o desenvolvimento econômico apareceram como os objetivos básicos da política educacional, e foi a partir dessa perspectiva que o funcionamento real dos sistemas educacionais existentes foi avaliado.

Além disso, há que se considerar que a implantação de políticas na perspectiva do modelo de gestão democrática e participativa, como bem explicita Mainardes 2007, p. 109) é um dos desafios, haja vista a necessidade de, por um lado, haver maior abertura no processo de formulação de políticas e, de outro, “um diálogo permanente entre os profissionais que atuam no contexto da prática e aqueles responsáveis pela produção do texto das politicas.”

A gestão democrática da educação é um princípio constitucional e educacional que precisa se efetivar para contribuir para a melhoria da qualidade do ensino. É um forte desafio a ser alcançado nas escolas, sejam as da rede municipal, estadual ou federal, em razão de ainda perdurar, incompreensões sobre sua importância e significado, bem como sobre sua operacionalização na prática escolar. Dourado (2007), em artigo que trata das políticas e gestão da educação básica no Brasil, dá ênfase aos limites e perspectivas quanto à implementação da gestão democrática e sinaliza que:

A gestão educacional tem natureza e características próprias, ou seja, tem escopo mais amplo do que a mera aplicação dos métodos, técnicas e princípios da administração empresarial, devido à sua especificidade e aos fins a serem alcançados [...] a escola, entendida como instituição social, tem sua lógica organizativa e suas finalidades demarcadas

pelos fins político-pedagógicos que extrapolam o horizonte custo- benefício [...] Nessa perspectiva, a articulação e a rediscussão de diferentes ações e programas, direcionados à gestão educacional, devem ter por norte uma concepção ampla de gestão que considere a centralidade das políticas educacionais e dos projetos pedagógicos das escolas, bem como a implementação de processos de participação e decisão nessas instâncias, balizados pelo resgate do direito social à educação e à escola, pela implementação da autonomia nesses espaços sociais e, ainda, pela efetiva articulação com os projetos de gestão do MEC, das secretarias, com os projetos político-pedagógicos das escolas e com o amplo envolvimento da sociedade civil organizada. (DOURADO, 2007, p. 924)

Pensada desse modo, gestão democrática na educação e nas escolas é uma meta difícil de acompanhar devido à falta de dados quali/quantitativos e de condições para sua efetivação. Nesse sentido, corrobora o pensamento de Paro (2007), para quem, no contexto participativo, a população escolar é entendida como titular dos direitos, oriundos de movimentos sociais e políticos que ocorreram nas últimas décadas na relação da escola com a comunidade. Ela é, acima de tudo, criadora de novos direitos.

Paro (2007) considera que um ambiente democrático se caracteriza necessariamente pela participação. Portanto, são muitos os desafios subjacentes à meta da gestão democrática, associada a critérios técnicos, dentre outros. Como exemplo, é importante citar a polêmica questão: qual é o processo democrático de provimento da função de diretor de escola já que, na maioria dos estados e dos municípios prevalece o método de indicação política?

Sendo assim, a gestão participativa ou democrática deve se dirigir para a formação de consciência cidadã, para o bem da sociedade. Em contexto que considere as ações dos gestores escolares a partir do reconhecimento de que “todo conhecimento é local e total […] constitui-se em redor de temas que em um dado momento são adaptados por grupos sociais concretos, como projetos de vida locais […].” (SANTOS B., 2010, p. 46)

A participação social nos procedimentos de construção da gestão democrática na educação e nas escolas é condição essencial para o êxito dos mesmos, na medida em que representa o liame apropriado entre os poderes públicos e os atores escolares para a consecução do processo educacional.

2.3 SITUANDO ASPECTOS DA POLÍTICA MUNICIPAL DE ENSINO NA