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Programa Escola de Gestores no formato de Curso de Especialização

CAPÍTULO IV: CONTEXTOS DA PRÁTICA

4.2 A FORMAÇÃO CONTINUADA NO CURSO DE GESTORES DA

4.2.4 Programa Escola de Gestores no formato de Curso de Especialização

Esta unidade de análise perfilou a ideia inicial de que o Programa Escola de Gestores da Educação Básica Pública no formato de Curso de Especialização contribuiu para o preparo técnico dos gestores escolares no sentido de incrementar a gestão da escola com saberes e práticas pedagógicas e de gestão para resultados. Ajudou a identificar prováveis interferências dos gestores escolares nesse processo e os elementos restritivos. Conforme revelam os relatos:

[...] Eu não via o curso como uma pós-graduação, mas como algo que iria estender meus conhecimentos e me ajudar, não só como profissional, mas como pessoa. Porque quer queira quer não, você não aprende aquilo ali só por aprender. Isso faz com que a gente cresça e eu não cresci só na questão profissional, no pessoal também, porque você olha para o outro não simplesmente como alguém que vai deter o conhecimento. [...]. (GET3)

Aqui nesta escola nós construímos o PPP este ano, após a formação na escola de gestores. Foi lá que aprendemos a construir um PPP. (GET1)

Quando eu entrei na escola, eu que elaborei em 2010 o primeiro PPP. Então eu já dominava muito bem o PPP e já sabia até quais eram os pontos em que precisávamos fazer as alterações. [...] Então o nosso PPP não teve problema, porque ele estava sempre sendo revisto. E daí na elaboração não teve problemas, na reelaboração após o curso de gestores, a partir das necessidades da escola. (GET2)

Os sentidos referidos pelos gestores escolares relativamente ao Programa ficaram por conta de sua capacidade de incrementar o conhecimento dos gestores na elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos (PPP). Os ideários dessa proposta de formação alertaram os gestores sobre o cumprimento das exigências normativas, ao mesmo tempo em que os capacitou na apropriação de métodos e técnicas para lidar com o planejamento da escola tendo em vista a melhoria do desempenho dos alunos nos processos avaliativos externos.

Ainda nos casos das escolas em que os gestores já dominavam o conhecimento técnico para a confecção de um PPP, mesmo antes da realização do curso, este também agregou valor no sentido de indicar a reelaboração do PPP em conformidade com as proposições apresentadas e adaptadas às demandas da escola.

Porém, ao mesmo tempo em que o curso agregou valor aos trabalhos dos gestores escolares, surgiram relatos carregados de frustrações e desesperanças sobre as possibilidades de que o curso poderia trazer mudanças e benefícios. A esse respeito os gestores GET1 e GET2 se manifestaram expondo:

[...] Os cursos são feitos com todas as turmas ao mesmo tempo. Aquele monte de gente, quando todos estavam juntos, todas as turmas, não tinha o menor rendimento, não tinha. Um amontoado de gente, todo mundo no celular, não tinha proveito nenhum. Eu tinha de ir mesmo, não tinha como não ir, mas todas as vezes que eu fui não agregou nada para mim. Foi frustrante e desesperador [...]. (GET1)

Se eu tivesse oportunidade de aproveitar melhor cada módulo que foi passado, acho que eu melhoraria muito profissionalmente, mas como ele foi feito de maneira aligeirada, acho que por todos os gestores, porque nós fizemos esse curso numa época de Ideb e tínhamos a prova Brasil, estávamos em implantação da ADE [...]. Então era muito impacto, muita coisa junto , mas eu fico olhando para aqueles módulos hoje e digo, mas gente, se eu tivesse mais tempo para absorver esses conhecimentos, seria bem melhor, mas não houve, não houve. [...] Você foi colocado num curso e tem o compromisso de cumprir o curso, independente se você absorveu ou não. (GET2)

Não obstante essas vicissitudes, as atividades desenvolvidas no curso colocaram os gestores escolares em contato com a gestão participativa. No trecho abaixo, o GET3 assegurou que isto foi possível por sua vivência no curso.

[... ], quando nós chegamos aqui, não existia PPP, descobrimos que tínhamos apenas 5 páginas que era um PPP e aí foi que nós sentimos a necessidade de convocar toda a comunidade, professores, pais, alunos. O curso nos proporcionou essa vivência, essa percepção. [...].

(GET3)

No momento em que os gestores escolares deflagraram mecanismos de democratização da gestão da escola, aludiram ao estabelecimento de ações conjugadas e paritárias entre gestores, professores, alunos e comunidade e provocaram a efetivação de cultura de participação e articulação das relações sociais que podem, deveras, contribuir para o fortalecimento da autonomia da escola. Autonomia no sentido daquilo que está preceituado na LDB 9394/96 instituindo que as escolas desenvolvam de forma coletiva seu PPP com o envolvimento da comunidade.

Essa perspectiva que demanda processos coletivos de participação e decisão poderia reverter à impotência dos gestores escolares para alcançarem os objetivos de democracia e divulgação do saber com os quais, porventura, sonharam e que esperavam concretizar com sua posição de comando na instituição escolar (PARO, 2002). Essa posição não é apenas estratégica, mas também contraditória em relação às funções que o gestor ocupa na chefia da escola. (PARO, 2000, 1999, 2010)

No rastro de uma escola transformadora é premente a transformação da escola que temos. Transformar o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola, desmistificar a hierarquia que prevalece entre o gestor e a

comunidade escolar, onde a figura de chefe historicamente contribuiu para manter imagem negativa da pessoa do gestor escolar, que é confundido com seu próprio cargo (PARO, 2002). A nova realidade política da gestão da escola autônoma exige do gestor escolar atitude no sentido de adaptação às novas práticas, para as quais se tornou imprescindível negociar as decisões.

Nesse sentido, foi possível perceber nos relatos dos entrevistados, que o PNEGEBP no formato de curso de especialização apresentou pujança. Enquanto estratégia para a gestão da escola, alertou para o necessário apoio sistemático de outros profissionais da educação que dão suporte ao trabalho. Trouxe novas proposituras para as práticas de trabalho dos gestores escolares e estimulou novo sentido para o trabalho que os aproximou das questões pedagógicas propriamente ditas, da escuta dos professores, dos alunos, da comunidade. Entretanto, alguns fatores determinantes, que se poderiam chamar de “logísticos” ou operacionais, foram distinguidos pelos sujeitos da pesquisa como impeditivos para seu pleno aproveitamento. Dentre os quais estão a formação de turmas com grande número de alunos e o fato de indicar vasta programação de conteúdos programáticos que não correspondiam na mesma proporção, à exiguidade do tempo previsto para a integralização.

4.3 OS GESTORES ESCOLARES FRENTE ÀS EXIGÊNCIAS DE DESEMPENHO E