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Capítulo 3 – Estudo exploratório

3.1 As perspetivas dos atores do EE (stakeholders)

3.1.3 Análise dos dados

Os stakeholders entrevistados reconhecem a importância do empreendedorismo na região do Baixo Ave. A autarquia, na pessoa do Doutor Sérgio Humberto, tem uma visão abrangente no âmbito territorial, social e político. A autarquia considera que a economia social e as atividades culturais e criativas são áreas determinantes para o desenvolvimento do empreendedorismo no concelho e na região. É reconhecido o trabalho de projeção dos atores culturais e criativos no concelho e elogiado o contributo prestado às comunidades. Fica por explicar a necessidade de influência autárquica ao nível da programação cultural e a importância desta para a valorização da cidade e sensibilização da população.

Os participantes do ensino estão a par das ações protagonizadas pelas Câmaras Municipais e referem a existência de inúmeras iniciativas na região. No entanto, estas iniciativas não existem na mesma quantidade nas escolas; nem sempre o empreendedorismo é tema de discussão nas salas de aula.

Os empreendedores da economia privada reconhecem o papel das autarquias na promoção do empreendedorismo, mas preferem o contacto com as Associações Empresariais pois consideram terem os recursos necessários e apropriados às suas necessidades. Acrescente-se que muito do trabalho ainda é realizado pelos próprios empreendedores e o apoio profissionalizado parece não ter o impacto idealizado. Não há uma prática comum na elaboração dos planos de negócio ou na utilização de instrumentos de controlo que permitam antever o rumo do negócio. Destaca-se o networking como uma das grandes vantagens para as start-ups, ou seja, a possibilidade de o empreendedor integrar uma rede profissional de contactos que é simultaneamente beneficia a sua empresa e as restantes empresas incubadas.

Quando confrontados com o tema da dinâmica empreendedora no concelho e na região, os participantes partilham a perspetiva de que o tecido empresarial apresenta focos de mudança, mas ainda existem problemas que precisam de ser solucionados. Embora os entrevistados da economia privada não o refiram diretamente, existe a necessidade de inovar mais e melhor, de assumir o risco e de combater o mimetismo nas várias áreas de

atividade. As grandes empresas sediadas na região primam mais pela criação de emprego do que propriamente pela inovação, provavelmente por não existirem condições plenas de competitividade e mão de obra qualificada. Quanto às Associações Empresariais, a autarquia tem uma visão positiva do projeto de incubação que desenvolve conjuntamente com a Associação Empresarial do Baixo Ave. Os restantes stakeholders veem as associações como as instituições mais capazes no que diz respeito à promoção do empreendedorismo.

De acordo com os participantes da economia privada, a cultura empreendedora existe no seio da comunidade empresarial, no entanto, não ficou claro se esta cultura se estende à comunidade em geral. Apenas um participante apontou a ausência de valores empreendedores como um obstáculo ao empreendedorismo, tendo mencionado o individualismo, o egoísmo e a falta de interação e cooperação como alguns dos fatores que impossibilitam o desenvolvimento dos negócios. Todos os participantes assumem a importância de estimular o espírito empreendedor e de o promover na comunidade do Baixo Ave.

As barreiras ao empreendedorismo têm diferentes origens e variam de acordo com cada participante. A burocracia é apontada como o principal impedimento na realização dos negócios e no desenvolvimento da atividade empreendedora. Contudo, os participantes elogiam o papel das autarquias que, nos últimos anos, se têm esforçado para eliminar essa mesma barreira. Por outro lado, a informação necessária aos empreendedores nem sempre está disponível ou se encontra sistematizada. No mundo em que vivemos, a informação é amplamente partilhada, mas pouca gente parece saber ao certo de alguma coisa. As autarquias e as associações empresariais podem ter aqui um papel preponderante e tomar algumas medidas por forma a agilizarem os processos em curso.

A relação entre o setor público e privado é tida como positiva por todos os participantes. É esperado que ambos trabalhem conjuntamente na promoção do empreendedorismo e que procurem eliminar as principais barreiras à criação de empresas. A autarquia ressalva as ações desenvolvidas que não só beneficiam os empreendedores, mas também promovem a imagem do concelho.

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Os stakeholders do ensino reconhecem a necessidade de promover o empreendedorismo em todos os níveis de ensino. Verifica-se que os alunos do ensino regular não estão vocacionados neste sentido e que o corpo docente não tem uma formação específica nesta área. No ensino profissional, existe a ideia de que com o “saber fazer” se empreende, mas permanece a dúvida: será este modo de empreendedorismo realmente inovador? As iniciativas existentes nas escolas são tidas como empreendedoras, mas nem sempre o empreendedorismo é considerado como linha condutora fundamental. O empreendedorismo tem sido introduzido gradualmente pelos professores e os pais, tendo a autarquia participado sobretudo com ações de sensibilização e a introdução de novos projetos.

A maioria dos participantes considera que as associações empresariais são o ator com mais responsabilidade na direção/liderança do ecossistema empreendedor, ainda que esta se possa realizar conjuntamente com as autarquias. Estas são vistas como atores de grande proximidade às comunidades, tornando-se imprescindíveis na promoção do empreendedorismo. As autarquias não têm de participar na esfera económica, mas devem, com o seu contributo, permitir que os restantes atores se interrelacionem. A coexistência dos setores público e privado é mencionada inúmeras vezes, embora permaneça a dúvida se existem atores privados com tempo e disponibilidade para assumirem essas responsabilidades. Além disso, a falta de confiança entre as partes, é um fator que assombra grande parte dos ecossistemas empreendedores e que coloca em causa a sustentabilidade e legitimidade da rede.

3.2 O projeto Lince.Trofa: caracterização e diagnóstico