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3 METODOLOGIA DO ESTUDO

3.5 Estratégias de pesquisa

3.5.2 Análise dos dados

Para Kozinets (2014), na netnografia a análise dos dados acontece ao mesmo tempo que a coleta deles. “Os dados são incessantemente convertidos e separados à medida que são registrados” (KOZINETS, 2014, p. 112) e sua análise se remete a uma abordagem indutiva.

Como técnica para análise dos dados foi utilizada a análise de discurso sócio- hermenêutica (ALONSO, 1998; KOZINETS, 2014). A análise do discurso “apoia-se na tripla tensão entre língua, sujeito e história” (MORALES, 2000, p.24), e vai além da linguística porque para realizar a análise leva em consideração todo o contexto que envolve o sujeito. Sociologicamente falando, a análise do discurso sócio-hermeneutica não é uma análise de textos, nem linguística, nem psicanalítica, nem semiológica. A análise do discurso sócio- hermeneutica busca a reconstrução dos sentidos micro e macro-sociais dos discursos, embasados na historicidade de suas proposições e na reconstrução dos atores inseridos no discurso (ALONSO, 1998). Essa técnica foi utilizada tanto para os dados obtidos pela observação quanto das entrevistas.

A análise hermenêutica traz uma interpretação que contexto do pesquisador também é levado em consideração, pois revela o sentido do preentendimento dele, mostrando que para qualquer interpretação há um link de contextos tradicionais entre intérprete e objeto. Existe uma relação de vivendo no mesmo mundo. Desta forma o preentendimento permite mais do que prende o pesquisador (ARNOLD; FISCHER, 1994).

Para Kozinets (2014), a interpretação hermenêutica apresenta uma forma mais interativa de análise de dados, quando os dados devem ser interpretados e reinterpretados, sempre que o

conhecimento do pesquisador for evoluindo. Arnold e Fischer (1994) comentam que para o texto hermenêutico possuir um construto coerente com uma análise crítica algumas características devem ser seguidas: sem contradições, bases relevantes de literatura, fácil interpretação, iluminador e frutífero, estimulante e persuasivo.

Para a análise dos dados da observação participante foi utilizado o armazenamento por computador, fazendo-se uso de planilhas (EXCEL), separadas por indivíduos, com registros das páginas capturadas em imagens e notas de campo da pesquisadora. Nestas pastas, ficaram registradas as análises de estratégias e táticas de Gerenciamento de Impressões detectadas nas publicações e as impressões da pesquisadora.

Embora ao final da observação os registros tenham apresentado um grande volume de fotos de viagem, o que se procurou analisar foi toda a publicação e não somente essas fotos. E também, não somente os textos das publicações. Considerando que embora as comunidades virtuais usem textos para se comunicar, é importante destacar que sua interação vai muito além de apenas trocas textuais. Portanto, o que a netnografia analisa não é o texto, mas a interação das pessoas pelo uso de meios mediados pela tecnologia. Sobre isso, Kozinets (2014, p.109) evidencia:

[...] a netnografia contribui pela adição de compreensão interpretativa valiosa, pela construção, por meio de foco e análise, do que está publicamente disponível na internet para formar um corpo conhecido e respeitado de conhecimento codificado.

Para as entrevistas, o processo de análise se aprofundou com o uso da proposta de ampliar mais o sentido da conversação, indo além do sentido pragmático das palavras, trazido por Mattos (2005), a análise do significado semântico-pragmático da conversação. Neste modelo de análise, procuram-se os significados de macrotexto (o núcleo da conversa), os significados incidentais relevantes (elementos que destoam da conversa) e os significados de contexto (elementos pressupostos e intrísecos). Esse processo se mostra eficaz para essa

pesquisa pela busca pormenorizada da verdade, como Mattos (2205, p. 826) evidencia: “Ora, é falso interpretar o que alguém ‘disse’ sem se perguntar também o que, na ocasião, ‘deu a entender’, o que sinalizava para além do que dizia, enfim, o que também fazia ao responder tais e tais perguntas”.

Para o processo de análise do significado semântico-pragmático, Mattos (2005) propõe cinco fases distintas e que foram seguidas com o máximo rigor possível pela pesquisadora:

Fase 1: recuperação. Esta fase representa o trabalho de recuperar as entrevistas. Ou seja, transcrevê-las, ouvir mais de uma vez, fazer anotações iniciais. Foi o momento de trazer as entrevistas para o formato textual, com a maior fidelidade possível na descrição. As transcrições de todas as entrevistas foram feitas pela própria pesquisadora.

Fase 2: análise do significado pragmático da conversação. Nesta fase, já com as entrevistas transcritas fidedignamente, foi realizada a primeira leitura de análise para extrair das falas o significado nuclear da resposta. Logo após essa identificação, foi realizada uma segunda leitura para extrair os significados incidentes. E por último, a terceira leitura foi realizada para identificar as suposições implícitas a respeito do contexto.

Fase 3: validação. Nessa fase, as entrevistas já analisadas foram enviadas a informantes, para que o significado nuclear das entrevistas fosse validado por entrevistados, evitando, assim, interpretações erradas e/ou extrapolação na interpretação por parte da pesquisadora.

Fase 4: montagem da consolidação das falas. Aqui foi realizada a consolidação das falas dos entrevistados. Foi elaborado um quadro com todas os significados nucleares, a fim de se identificar os pontos de intersecção nas respostas e nas perguntas.

Fase 5: análise dos conjuntos. Nesta última fase começou a produção textual das análises com todo seu potencial. Aqui foram analisados todos os conjuntos e subconjuntos percebidos nas entrevistas, além das “observações conclusivas e fatos de linguagem” (MATTOS, 2005, p. 842).

Após todo esse processo apresentado, os dados coletados na observação participante e nas entrevistas foram confrontados com o referencial teórico com o objetivo de responder à pergunta de pesquisa e às perguntas norteadoras. Isso configura o processo de triangulação de métodos que conforme Azevedo et al (2013, p.5) “envolve a combinação de diversos métodos, geralmente observação e entrevista, de modo a compreender melhor os diferentes aspectos de uma realidade e a evitar os enviesamentos de uma metodologia única”.