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2 Referencial teórico

TÁTICAS/COMPORTAMENTOS DESCRIÇÃO/DEFINIÇÃO

2.2.1 Gerenciamento de impressões no ambiente virtual

O Gerenciamento de impressões também é alvo de estudos em ambientes online, onde os objetos de investigação remetem a identidade, autoestima, sites de encontros amorosos, relações de trabalho etc. (RIBEIRO; FALCÃO; SILVA, 2010; ELLISON, 2013; ELLISON; HEINO; GIBBS, 2006; HOGAN, 2010; ZARGHOONI, 2007; ZYTKO; JONES; GRANDHI, 2014; EMERY et al., 2014; HALL; PENNINGTON; LUEDERS, 2015; LANG; BARTON, 2014; DEANDREA; WALTHER, 2011; CARRERA, 2012; LILLQVIST; LOUHIALA- SALMINEM, 2014; ROSENBERG; EGBERT, 2011).

Na verdade, os estudos apontam que o GI online é semelhante ao que acontece nas relações face a face, com uma ênfase maior às informações visuais dos atores. Ribeiro, Falcão e Silva (2010) afirmam que no ambiente online, quase todos escolhem se apresentar com aparência mais jovem, que atraia outros e que se mostrem estimulantes, bonitos, saudáveis, ou seja, gerando impressões sempre positivas.

Zarghooni (2007) lembra que as teorias de autoapresentação surgiram muito antes das redes sociais virtuais, e as pessoas que faziam o gerenciamento de impressões antes são as mesmas, só que agora elas têm uma nova ferramenta de autoapresentação e um novo cenário para interação social. Esse novo cenário, inclusive, traz uma:

[...] crescente consciência da possibilidade de se buscar informações públicas sobre determinado ator social nestes ambientes, o que coloca o usuário em um constante jogo de balanceamento entre o desejo de comunicar, expor e

construir sua identidade de um lado e o medo da perda deste controle ou receio sobre a privacidade, de outro (RIBEIRO; FALCÃO; SILVA, 2010, p. 5).

Uma das características que diferenciam a autoapresentação em redes sociais virtuais da realizada no relacionamento face a face é que no virtual se pode “investigar, editar e revisar” (ZARGHOONI, 2007, p.4) as autoapresentações antes de torná-las públicas. Rosenberg e Egbert (2011) afirmam que os usuários de redes sociais virtuais criam perfis estratégicos para influenciar como os outros os percebem, e por isso, no Facebook, o GI é parte integrante e indispensável da comunicação.

Como uma comunidade de rápido crescimento, o Facebook tem se tornado um espaço para interação social entre adolescentes, jovens e adultos de diferentes locais do planeta. Stenros, Paavilainem e Kinnunem (2011) consideram essa rede social virtual um meio de comunicação em plena evolução e Burke e Kraut (2014, p. 4194) afirmam que sites como o

Facebook “são componentes cheios de significados num portfólio de comunicação entre

amigos”. E o que o faz um caso mais excitante para estudos de gerenciamento de impressões é o novo comportamento de autoapresentação. O tato mediado por computador é tão novo que a psicologia social ainda não desenvolveu nenhum modelo sobre isso. Além disso, tudo que venha depois da abertura de uma conta no Facebook é essencialmente relacionado a autoapresentação (ZARGHOONI, 2007). O que torna essa autoapresentação virtual diferente é que ao invés de uma conversa “um-para-um”, acontece uma “um-para-muitos”, isto é, “embora as pessoas estejam aptas a desenhar um perfil para uma audiência específica, uma outra audiência no Facebook pode ser alcançada” (DEANDREA; WALTHER, 2011, p. 806).

Ribeiro, Falcão e Silva (2010) apresentaram quatro aspectos que somados compõem as imagens representacionais no ambiente online: (1) as informações oriundas da linguística e da estrutura narrativa construídos e adotados na circulação de imagens; (2) das descrições explícitas dos indivíduos; (3) das expectativas criadas pelos usuários; e (4) dos dispositivos técnicos à disposição do ator. Para eles:

[...] o processo de gerenciamento de impressões mostra-se sensível à influência situacional, propiciada tanto pela troca de expectativas sociais decorrentes do contato e da dinâmica interacional estabelecida quanto pelas particularidades (limitações e potencialidades) específicas do ambiente em que os interlocutores estão inseridos. (RIBEIRO; FALCÃO; SILVA, 2010, p.4)

Por mais que exista o gerenciamento de impressões em redes sociais virtuais, no

Facebook, as pessoas procuram não se distanciar muito das impressões que passam off-line,

visto que, segundo Zarghooni (2007), muitos usuários acreditam que as pessoas que mais visitam seus perfis neste site são também membros da sua rede social off-line, pois na maioria são pessoas que já se conheciam antes da interação online. Sobre isso, Hall, Pennington e Lueders (2015, p. 960) alertam que “embora os usuários sejam tentados a incrementar sua autoapresentação, amigos que são online e off-line mantém as autoapresentações em cheque” e isso só fortalece a necessidade de gerenciar a comunicação que se está desenvolvendo por este canal e fazendo o GI pode-se equalizar o risco entre desafio e oportunidade para quem emite e para quem recebe informações pessoais. DeAndrea e Walther (2011) defendem que as pessoas usam as redes sociais virtuais para manter relacionamentos com pessoas com quem já tinham relacionamentos e, por isso, espera-se que os perfis online sejam genuínos e que as autoapresentações sejam consistentes com a verdade conhecida previamente.

Desta forma, entender gerenciamento de impressões virtuais pode trazer implicações na maneira de entender outros fenômenos, como autoestima, bem-estar subjetivo, ansiedade social e formação de identidade. Parece haver um consenso que a identidade off-line afeta a identidade

online (ZARGHOONI, 2007). Rosenberg e Egbert (2011, p. 1) dizem que “entender como o GI

funciona num ambiente virtual é imperativo para pesquisadores que estão interessados na dinâmica dos relacionamentos interpessoais modernos”.

Leary (1993) apresenta uma lista de táticas de gerenciamento de impressões, das quais quatro se mostram relevantes para o gerenciamento de impressões mediado por computador,

são elas: (1) autodescrição, (2) expressão de atitude, (3) comportamento não-verbal e (4) associações sociais.

Para Zarghooni (2007), a autodescrição é provavelmente a forma mais sincera de controlar a autoapresentação de alguém no ambiente virtual, porque os outros têm oportunidades limitadas de checar a informação com a realidade. Ainda segundo este autor, destas táticas, a que mais é encontrada no Facebook é o comportamento não-verbal, mais especificamente a aparência física, pois estas podem ser evidenciadas em fotos postadas. Com isso infere-se que a relação entre aparência física e autoapresentação eficiente pode ser relevante para o Facebook.

Isso pode sugerir que as pessoas consideram fotos como importantes formas de autoapresentação. Hall, Pennington e Lueders (2015, p. 959) afirmam que “através do compartilhamento de imagens e informações via atualização de status, fotos e perfil, os usuários do Facebook constroem uma autoimagem para sua rede social”. Ainda sobre postagem de fotos, Lang e Barton (2014) defendem que quando um usuário posta uma foto no seu perfil, primariamente a foto serve como uma ferramenta de projeção para expressar e apresentar o indivíduo, e somente depois serve como uma ferramenta de memória.

O que se pode questionar é quanto à questão da leitura das expressões corporais, que não são possíveis de ter em caso de interação por mensagens textuais online, e sobre isso Zarghooni (2007) destaca que para tentar possibilitar a impressão de expressões foram desenvolvidas dicas visuais como os smileys (faces simples feitas em digitação como e: P) e depois os emoticons (smileys gráficos). “Eles são bastante importantes para a tática de expressão de atitude, pois expressões emocionais como sarcasmo são mais difíceis de detectar sem a interação face a face” (ZARGHOONI, 2007, p.19).

Analisando as estratégias e táticas de gerenciamento de impressões apresentadas até aqui, percebe-se que várias podem ser aplicadas a pesquisas em ambientes virtuais. Assim, faz-

se a sugestão de análise de postagens de viagens, no ambiente virtual de interação social

Facebook, utilizando os quadros 1, 2 e 4 como guia para a realização de um método de pesquisa

que se encaixa com o objetivo deste estudo: a netnografia, que será melhor descrita e comentada mais adiante, no item onde serão apresentados os procedimentos metodológicos.

Agora, será discutido o que os estudos trazem sobre a formação do Eu a partir do olhar individual e, sobretudo, a partir das relações entre o homem e suas posses.

2.3 A concepção do Eu nos estudos do comportamento do