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4 Análise e discussão dos resultados

TÁTICAS APLICAÇÃO ÀS INTERAÇÕES EM REDES SOCIAIS VIRTUAIS, NAS POSTAGENS SOBRE VIAGENS

4.2 Análise das Entrevistas

4.2.3 Aspectos do Gerenciamento de Impressões

4.2.3.3 Tratamento de informações autênticas, cínicas e excludentes

Com base no que Carvalho e Grisci (2003) trouxeram, já apresentado no referencial teórico deste trabalho, as pessoas podem usar de três formas para interagir socialmente: de forma autêntica, ou seja, de forma sincera, inclusive por medo de ser desacreditado; de forma cínica, onde vai manipular as informações, pode até mentir, para terem certeza de um feedback positivo da audiência; e de forma excludente, fazendo edição das informações a serem emitidas. De todos os informantes, apenas os informantes 5 e 7 apresentaram no seu discurso um posicionamento pela forma autêntica, pois entendem que as pessoas que fazem parte de suas redes sociais já lhes conhecem pessoalmente e fazer qualquer manipulação seria muito arriscado e poderia levar a um feedback negativo da audiência. Isso confirma a posição de Hall, Pennington e Lueders (2015) ao afirmarem que a melhoria intencional e evidente de imagens virtualmente coloca em cheque a interação entre amigos cuja relação acontece online e off-line.

Não. Eu não manipulo foto. Normalmente eu já olho na hora, seu não gosto eu já deleto na hora. Eu nem fico tirando, tirando, tirando, pra depois escolher uma. Eu escolho as que eu já selecionei para publicar e tem muitas coisas que eu gostei, mas eu não publico (Informante 5).

Pela análise dos discursos, os informantes acreditam que a forma cínica é bastante comum no Facebook, embora apenas os informantes 1 e 9 tenham relatado experiências próprias deste tipo de comportamento. O informante 1 foi o único informante que admitiu usar photoshop nas suas fotos de viagem e ao ser indagado se ele não achava isso uma deslealdade com sua audiência ele não demonstrou entender essa ação como algo errado, pois para ele as pessoas devem melhorar sua imagem antes de ser publicada. Ele inclusive prefere deletar a foto que não lhe agrada que publicá-la fielmente como foi capturada.

(Então você não acha que manipular foto é desleal?) Não. Acho que é viável

e é um atrativo que as pessoas hoje estão galgando e melhorando pra que

as imagens no Facebook, nos aplicativos da internet, estejam melhores, mais apresentáveis [...] eu sou péssimo para tirar foto, então as fotos que eu vejo

que não ficou não ficou legal, que colocaram uma postagem lá que eu não gostei, aí eu vou deletando, vou tirando ou então faço uma modificação...coloco lá outro texto por cima daquele que estava, que eu não gostei, ou deleto mesmo a foto, ou coloco uma paisagem do lado, alguma coisa pra diferenciar (Informante 1).

O informante 8, embora não faça uso desta forma, faz uma ponderação ao julgar essas pessoas que usam. Para ele, as pessoas devem sim buscar postar apenas as informações sobre viagens que lhe agradam e não é errado ajustar a foto melhorando cor, luz. Mas, segundo ele, existe um limite para essa manipulação, sendo reprovado por quando o indivíduo altera sua imagem real mudando formato de corpo ou cor da pele, por exemplo.

(Tu não acha que é desleal maquiar a publicação só publicando as coisas boas?) Eu não sei se pode ser levado em conta como má fé. Porque a

experiência é dele, ele compartilha o que ele quer, e as pessoas acham o que querem. Se elas querem achar que aquela viagem é a coisa mais incrível

do mundo, é da imaginação delas. Ele não tá dizendo isso. Mas também não vejo ele com a obrigação de dizer “que bosta, foi horrível, deu tudo errado!”. E isso normalmente a pessoa não quer. Ela viajou, ela quer mostrar é que foi tudo lindo e maravilhoso. Por mais que não tenha sido. (O que tu acha das pessoas que fazem essas manipulações, inclusive usando photoshop?) Quando é uma retificação de luz, pra melhorar a imagem alguma coisa, eu não vejo problema. Mas tem pessoas que praticamente criam outro ser humano, usando ele como base e aí modifica completamente a pele, modifica algum sinal ou imperfeição, que acaba virando outra pessoa, e aí eu acho que é uma

forma de maquiar literalmente para enganar as pessoas e mostrar uma

aparência que as vezes você não tem de se sentir mais magro e mais bonito, e mentir pra se sentir melhor, coisa que não tem necessidade, as vezes querer criar uma felicidade que não existe (Informante 8).

Um exemplo padrão de como a forma cínica pode ser usada nas postagens de viagens foi relatada pela Informante 9, onde ela descreve que sofreu uma queda durante um passeio numa praia e mesmo com dor, machucada e com medo de cair novamente, continuou tirando fotos e fez de tudo para esconder esses sentimentos reais nas imagens. Esse comportamento só foi possível de identificar porque ela indicou, olhando apenas a foto, seria impossível chegar a essa conclusão.

Tem uma foto minha em Jericoacoara... Essa foto da pedra eu estava

morrendo de medo! [...] uma (pedra) lá em cima, uma que eu tô encostada

assim, não sei se você viu... Porque a gente sobe uma montanha, e quando eu cheguei naquela pedra me arrependi de ter subido. Porque, minha filha, é

assim ó! [mostrou a mão verticalmente] Um morro! Porque antes a gente foi pela beira da praia, você viu um bocado de pedra? Eu levei uma queda

naquela pedra que me arranhei daqui até aqui (mostrou as costas), todinha.

[A entrevista continuo e depois de uns 5 minutos dela procurando no celular] Olha é essa aqui ó! [mostrando a foto] Ó eu aqui, encostando, mas eu tava com medo...Olha essa menina aqui, eu falei “meu Deus, essa menina é doida”, ela foi lá pro canto pra tirar numa selfie...o aqui tá vendo? Isso aqui é um

abismo! (mesmo depois que tu caiu, tu continuou tirando foto?) Continuei!

Você vê que eu não tirei a canga de jeito nenhum! (Informante 9).

Figura 27 (4): Fotografia indicada pela Informante 9, apresentando comportamento cínico na postagem de fotos.

Neste caso relatado pela Informante 9, vemos a tática de GI de Alardeamento, que proclama ausência de associação com postagens sobre viagens que tem uma imagem desfavorável para a audiência. O fato dela esconder o sentimento de dor e medo numa imagem para que o registro da viagem seja sempre positivo revela sua preocupação com a informação que ela quer passar para a audiência.

A forma excludente foi a mais descrita pelos informantes como um uso habitual nas postagens sobre viagens no Facebook. Primeiro quando revelam que se acharem que estão feios na foto, ao invés de manipulá-la, eles simplesmente a deletam, e segundo quando excluem interações consideradas como negativas à suas publicações, como exemplifica a Informante 2.

(Se você sair mal na foto você publica?) Na maioria das vezes não (risos). Eu olho a foto, porque você tem a facilidade de ver a foto na hora, né? ‘Não, não ficou boa’. Então você tira uma só do lugar e publica (risos). (Você já chegou a excluir algum comentário que você achou que não foi positivo?) Tiro. Em qualquer situação. Seja foto de viagem, seja um compartilhamento,

se alguém fizer um comentário ofensivo eu vou tirar e muito provavelmente eu vou deixar de seguir. Aquele ‘denuncie’ do Facebook eu

uso constantemente (Informante 2)

Sobre as interações consideradas como negativas, o informante 5 também se posicionou dizendo que quando elas acontecem podem denigrir a sua imagem e por isso é melhor excluí-la.

Isso aconteceu uma vez. De uma postagem que eu não gostei e eu apaguei. Apaguei mesmo. Achei que foi um desaforo, tinha uma conotação como seu tivesse roubando, uma coisa assim, aí eu disse: “Não, vou nem comentar! ”, apaguei o comentário. (Você acha que essa mensagem ia denegrir tua imagem?) eu achei que iria. Eu ia ter que me retratar. E eu não gosto de

discussões pela rede social. Acho que essas coisas têm que ser resolvidas

pessoalmente, frente a frente, e não em público, e é individualmente também, não assim... um a um, e não em público. Nem público, assim no meio de outras pessoas, e nem em redes sociais. Então se quer resolver alguma coisa, a gente tem que resolver nós dois. Aí eu não entro em discussão, mas também se eu achar que ta me atingindo de maneira negativa e que isso é grave, eu

considero grave, eu deleto (Informante 5).

Ainda faz parte do comportamento excludente quando os informantes relatam sobre arrependimento de postagens. Alguns relatam que já se sentiram mal por terem feito postagens sem planejamento e assumem que já chegaram a fazer edição da postagem, ou até mesmo a exclusão dela, para diminuir o resultado negativo ou se retratar com a audiência.

Eu já postei coisas que depois eu me arrependi, aí eu volto àquilo, como eu

vejo que a internet ela tá muito voltada pra minha vida profissional, pessoal, quando eu faço a segunda análise e eu faço “não tá legal... tá legal pros meus amigos...”, mas não tá legal como profissional, aí eu vou e apago (Informante 4).

Eu faço um filtro (das fotos), porque eu tiro muitas (ênfase) fotos. Às vezes eu tiro 4, 5 fotos da mesma coisa em ângulos diferentes e aí eu escolho como for melhor. Por iluminação, por ângulo, seja lá o que for, eu tiro várias fotos

e deixo a que ficou melhor, seleciono e posto as que ficaram melhores. O resto eu descarto (Informante 8).