• Nenhum resultado encontrado

4 METODOLOGIA

4.2 Análise dos dados

Para a análise das entrevistas, foi utilizada a análise de conteúdo a partir de Bardin (2011). De acordo com a autora, esse tipo de análise segue as seguintes etapas sequenciais: pré- análise; exploração do material; tratamento dos resultados e interpretação.

A pré-análise consiste na etapa de organização do material a ser analisado. Para Bardin (2011, p. 125) essa fase “tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas” e na qual é estabelecido um programa de análise que não precisa ser fixo, podendo ser introduzidos outros procedimentos durante a análise. Nessa fase, ocorre a preparação do material que, no caso desta pesquisa, consistiu na transcrição das entrevistas para serem

exploradas na próxima etapa e também na leitura flutuante de cada uma delas. A leitura flutuante “consiste em estabelecer contato com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações [...] Pouco a pouco a leitura vai se tornando mais precisa” (BARDIN, 2011, p. 126)

A segunda etapa é a exploração do material. “Esta fase, longa e fastidiosa, consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (BARDIN, 2011, p. 131). Nesta pesquisa, as entrevistas foram analisadas a partir de categorias. As “categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos [...] sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos” (BARDIN, 2011, p. 147). Segundo a autora, o processo de categorização pode ser feito a partir de categorias já fornecidas previamente, nas quais são repartidos os elementos, ou então as categorias podem surgir a partir da análise progressiva dos elementos. Nesta pesquisa, a princípio, tentou-se a utilização de quatro (4) categorias prévias construídas a partir do roteiro de entrevista. No entanto, com o resultado das leituras flutuantes e em profundidade, os dados não se mostraram condizentes com as categorias prévias, o que resultou na criação de oito (8) categorias definidas a posteriori, sendo que seis (6) delas foram percebidas como mais consistentes e condizentes com os objetivos desta pesquisa. São elas: “A homossexualidade é...” (C1), “Quem é o homossexual?” (C2), “Presença do tema na escola” (C3), “Percepções sobre a homofobia” (C4), “Numa aula de Ciências eu falaria...” (C5) e “Discutiria o tema da seguinte forma...” (C6).

As categorias foram organizadas em quadros (APÊNDICE C). Cada quadro é identificado pelo nome e código da categoria. Os trechos (falas) selecionados das entrevistas após as leituras e decomposição das mesmas, foram distribuídos entre as categorias e identificados pelos nomes fictícios atribuídos aos/as professores/as. Para a análise, foram selecionadas palavras (unidades de registro) de cada uma das falas. Tais palavras foram relacionadas a um determinado tema (unidade de contexto) destacados na coluna “Observações”. Para esta pesquisa, não foi utilizada a codificação para a contagem frequencial. Por ser uma pesquisa qualitativa, os objetivos envolvem saber quais são os discursos dos/as professores/as de Ciências, que estão relacionados à subjetividade dos/as entrevistados/as. E considerando que em relação ao discurso, é “preciso admitir um jogo complexo e instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de uma estratégia oposta” (FOUCAULT, 2015, p. 110), a análise se deu, de acordo com a relevância dos temas percebidos a partir dos discursos,

e não a partir daqueles mais frequentes, geralmente considerados significativos para a discussão.

A terceira etapa é o tratamento dos resultados e interpretação. Nessa fase, o/a pesquisador/a “tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos – ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas” (BARDIN, 2011, p. 131). Dessa forma, as falas selecionadas para esta pesquisa foram analisadas a partir dos Estudos Culturais em Educação e dos estudos Queer numa perspectiva pós-estruturalista de análise.

Os Estudos Culturais, como suporte para a teorização, segundo Silva (2009), percebem a cultura como espaço no qual se dá a produção de significados disputados por grupos sociais em meio a relações de poder e resulta na produção de identidades sociais e culturais que tentam atingir a posição hegemônica. Nesse sentido, “os Estudos Culturais estão preocupados com questões que se situam na conexão entre cultura, significação, identidade e poder” (SILVA, 2009, p. 134). De acordo com o autor, os Estudos Culturais caracterizam o objeto de análise como sendo um “artefato cultural” que foi significado na cultura; resultado de uma construção social, cuja análise sob essa perspectiva concebe que, por meio das interações sociais, esse constructo é percebido de forma naturalizada e, por isso, objetiva “mostrar as origens dessa invenção e os processos pelos quais ela se tornou ‘naturalizada’” (SILVA, 2009, p.134). Portanto, nessa perspectiva, é possível desconfiar das produções da homossexualidade, da heterossexualidade em um determinado contexto cultural e também do currículo heteronormativo como sendo artefatos culturais, procurando desvendar suas origens e as relações de poder que os produziram (e produzem).

Os estudos Queer posicionam-se contra a ideia de normalização e tem como principal alvo a heteronormatividade (LOURO, 2015). A tradução do termo Queer está relacionada aos termos pejorativos direcionados a pessoas homossexuais, como bicha, viado, sapatão e também significa estranho, bizarro, excêntrico; termos estes que são tomados e apropriados por pessoas que não se enquadram na norma heterossexual para contestar, questionar e desestabilizar a heteronormatividade – que, ao se impor sobre os sujeitos, marginalizam aqueles que a ela não se submetem e que passam a ser abjetos (LOURO, 2015). Por questionar a normalização e, dentro de um modelo binário de ordem social heterossexual/homossexual, como sendo as únicas possíveis identidades, a teoria Queer questiona e desestabiliza tal binarismo, sugerindo uma política pós-identitária, que denuncia e questiona a fixidez das identidades. (LOURO, 2015). Nesse sentido, uma proposta queer para a educação consiste em estimular nos/as alunos a questionar a produção das identidades e diferenças, que tenta normalizar os sujeitos e produzir

a diferença para que os considerados normais possam ter sua existência supostamente superior justificada.

O pós-estruturalismo, como teoria cultural e social, analisa e problematiza os processos sociais e as relações que tentam fixar as identidades e as diferenças através de sistemas de linguagem, limitando-as a oposições binárias (SILVA, 2014). Através da ideia de cruzamento das fronteiras entre identidade e diferença, de hibridização entre elas, demonstra que é possível complicar e subverter a ideia de identidade, demonstrando que não são fixas e nem podem ser limitadas a oposições binárias (SILVA, 2014). E essa perspectiva é apropriada tanto pelos Estudos Culturais como os Queer para analisar, questionar e desestabilizar os processos de significação que naturalizam os sujeitos em identidades (hegemônica; natural; normal; heterossexual) e diferenças (abjeta; não- natural; anormal; heterossexual). Tal suporte teórico, para esta pesquisa, mostra-se relevante para perceber como a homossexualidade foi construída e em meio a quais relações de poder; desestabilizar a ideia da naturalidade da heterossexualidade; e, reconhecendo sua produção no contexto social e cultural por meio da linguagem – no caso, discursos das ciências médicas – problematizar a temática para a desconstrução de tais ideias que foram culturalmente e socialmente construídas.

A partir dessa perspectiva, as falas de professores/as, após a produção dos quadros de cada categoria, foram selecionadas para a interpretação e teorização. Para a construção do capítulo empírico que tem como título “Discursos de professores e professoras de Ciências sobre a homossexualidade”, as categorias foram organizadas duas a duas, por apresentarem aproximações entre elas consideradas pertinentes para a discussão dos resultados. Cada par de categorias consistiu em uma seção do capítulo empírico. Sendo um total de seis (6) categorias, organizadas em dupla, resultaram em três seções a saber: “Homossexualidade é...: concepções sobre a homossexualidade e o sujeito homossexual”, pela discussão das categorias C1 e C2; “Viadinho? Presente, Prof.! Qualira? Presente, Profa.! Sapatão?... Sapatão?...: a homossexualidade na escola”, pela discussão de C3 e C4; e “Cai na prova? A homossexualidade no ensino de Ciências”, pela discussão de C5 e C6.

5 DISCURSOS DE PROFESSORES E PROFESSORAS DE CIÊNCIAS SOBRE A