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Uma Sequência Didática como proposta pedagógica para a discussão da

5 DISCURSOS DE PROFESSORES E PROFESSORAS DE CIÊNCIAS SOBRE A

5.3 Cai na prova? A homossexualidade no ensino de Ciências

5.3.1 Uma Sequência Didática como proposta pedagógica para a discussão da

Título sugerido para a SD: Homofobia: O que é? Quem a sofre? O que fazer para combatê-la?

Objetivo geral: Conhecer as concepções prévias dos/as alunos/as sobre a homossexualidade e a homofobia, assim como outros conceitos relacionados a esses fenômenos socioculturais, para que a partir delas, com o desenvolvimento da SD, seja possível problematizá-las e contribuir para a desconstrução de estereótipos e de preconceitos que contribuem para a manifestação da homofobia.

Procedimentos metodológicos: A SD proposta encontra-se dividida em etapas e serão necessários alguns encontros para que seja desenvolvida. Entendo que não é possível estimar quantos encontros serão necessários e tampouco o tempo para o desenvolvimento de cada etapa. Uma vez que a proposta é partir de manifestações de homofobia de um determinado contexto, diferentes demandas, questionamentos e discussões podem surgir durante o desenvolvimento da SD, o que impede a estimativa ou sugestão de tempo mínimo ou máximo. Portanto, para que os objetivos de cada etapa sejam atingidos, o/a professor/a deverá conduzir as discussões sem

que a preocupação seja o tempo ou número de encontros para o desenvolvimento das etapas da SD. Além disso, cada professor/a pode adaptá-la ao seu contexto, acrescentando, reduzindo e/ou modificando as etapas aqui propostas, fazendo-o da forma que considerar adequada em relação às demandas daquela comunidade escolar.

Etapa 1:

Objetivo: Promover nos/as alunos/as a percepção da homofobia como um problema social grave, por se tratar de violência, que ocorre até mesmo em ambiente escolar.

Será iniciada a problematização de algum vídeo que apresente cenas características de atitudes homofóbicas. A sugestão inicial é utilizar o videoclipe da música “Indestrutível”, que trata da homofobia e bullying (5 min, aproximadamente), de Pablo Vittar, tendo em vista ser uma artista envolvida nas questões LGBT16, ter visibilidade e representatividade, além de ser

maranhense. O vídeo mostra cenas que retratam a homofobia na escola. Após o término do vídeo, será solicitado aos/as alunos/as que mencionem em uma ou poucas palavras (palavras- chave) o que pode ser visto no vídeo, tanto explícita quanto implicitamente. Essas palavras serão transcritas na lousa pelo/a professor/a. Dentre todas elas, em conjunto com os/as alunos/as, serão selecionadas algumas, as que estão mais relacionadas ao problema representado no vídeo. A partir daí, será proposta a primeira atividade que fará parte da avaliação: os/as alunos/as anotarão as palavras selecionadas e descreverão suas concepções sobre cada uma delas; pesquisarão notícias sobre situações que envolvam homofobia para fazer uma breve descrição e relatar como enxergam a situação.

Observação: A princípio, a pesquisa sobre as notícias será realizada em casa, para entrega de toda a atividade no próximo encontro. Caso seja possível a utilização de smartphones ou outros dispositivos móveis em sala de aula, a pesquisa poderá ser realizada in loco ainda no 1º encontro, desde que haja tempo suficiente. Nesse caso, serão organizados grupos em que ao

16 O movimento LGBT através de ações sociais e políticas, vai de encontro ao preconceito, discriminação e intolerância contra pessoas que vivem sua sexualidade de forma distinta à do modelo heterossexual. Trata-se de uma luta, que objetiva o reconhecimento e implementação de direitos inerentes à pessoa humana, que possibilitem a vivência de LGBTs na sociedade sem que sejam prejudicados/as em consequência de sua orientação sexual. Muitos são os/as representantes da sociedade civil, empresários/as, políticos/as e artistas que se envolvem com as causas LGBTs, como é o caso da referida.

menos um/a dos/as integrantes tenha o dispositivo, a fim de pesquisar as notícias. Porém, a atividade deverá ser realizada individualmente.

Material: computador, projetor, lousa, giz (ou pincel) e smartphones (se for permitido o uso).

Etapa 2:

Objetivo: proporcionar um momento para que alunos/as possam apresentar suas visões e concepções prévias sobre homofobia e conceitos a ela relacionados, através de discussão.

Alunos/as sentados/as em círculo ficarão à vontade para compartilhar as notícias de manifestações homofóbicas que pesquisaram e suas visões sobre a situação, além das suas concepções sobre as palavras selecionadas na aula anterior. Por envolver a problemática da homofobia, supomos que o próprio termo e outros relacionados à temática (como preconceito, discriminação, homossexual, gay, homossexualidade) possam aparecer, já que se tratam de atitudes contra pessoas vistas como homossexuais. A intenção é deixá-los/as livres para fazerem a exposição de suas concepções, evitando a interferência do/a professor/a em dizer o que está certo ou errado. Ao final da discussão, as atividades serão recolhidas.

Material: espaço da sala de aula.

Etapa 3:

Objetivo: Desconstruir estereótipos que marcam os sujeitos.

Serão projetadas imagens de pessoas: homens e mulheres, sozinhos/as ou acompanhados/as por outros homens e mulheres, que possam ser casais heterossexuais, ou homossexuais, amigos, pai e filho, mãe e filha, homens másculos que sejam heterossexuais e outros gays, homens nem tão masculinizados que podem ser heterossexuais e outros gays, mulheres delicadas que sejam heterossexuais e outras lésbicas, mulheres vistas como masculinizadas que sejam heterossexuais e outras lésbicas; homens e mulheres atuando em suas profissões que podem ser vistas como de homem ou de mulher e com isso definir suas identidades sexuais. Enfim, uma série de imagens na qual alunos/as poderão olhar e dizer

(julgar) se tal pessoa é homossexual ou heterossexual, se um é casal heterossexual ou homossexual. Para cada imagem, será anotada na lousa, na ordem de apresentação, a opinião dos/as alunos/as sobre a sexualidade de cada pessoa da imagem. Posteriormente, as imagens serão apresentadas novamente, mas com a verdadeira identidade com a qual cada pessoa se identifica. Ao comparar com as identidades identificadas pelos/as alunos/as listadas na lousa, serão analisados os acertos e erros, a fim de demonstrar que os estereótipos não se sustentam. Assim é possível relacionar a homofobia não só a homossexuais e transgêneros, mas também a pessoas heterossexuais que possam ser vistas como homossexuais. Pode-se também com isso compreender que a aparência ou jeito de ser de uma pessoa pode motivar atos de violência tão graves que podem levar à morte.

Material: computador, projetor, lousa e giz (pincel)

Etapa 4:

Objetivos: Compreender que o sujeito homossexual como é visto hoje foi produzido através do discurso das ciências médicas; desnaturalizar a ideia do determinismo biológico da sexualidade que aponta para a heterossexualidade como natural e, por isso, normal, enquanto a homossexualidade seria anormal.

Alunos/as organizados em círculo serão questionados/as sobre desde quando essa ideia que temos sobre a pessoa homossexual e homossexualidade existe. Espera-se uma certa variedade de respostas. Após certa interação dialógica, o/a professor/a interfere para apresentar a visão de Michel Foucault (2015) sobre a construção da ideia do sujeito homossexual a partir das ciências médicas com a intenção de desnaturalizar a ideia da heterossexualidade como o natural e desconstruir a visão da homossexualidade como anormal, uma vez que tal conceito foi construído pela ciência. Considero importante também a apresentação das ideias sobre a produção discursiva das identidades e diferenças apresentada por Silva (2014). Nessa ideia aquele que o é (heterossexual) descreve aquele que não o é (homossexual). Sendo o que ele é (heterossexual) caracteriza a sua identidade. Ao descrever o outro, ou seja, o que ele não é (homossexual) caracteriza a diferença. A identidade (heterossexual) assim produzida nas relações de poder, é vista como normal e positiva, enquanto a diferença (homossexual) é por este desqualificada e vista como anormal e negativa. Tal construção de identidade pode ser

ampliada para outras situações que vão além da sexualidade, como raça, etnia, gênero, classe, entre outras.

Material: espaço da sala de aula.

Etapa 5:

Objetivo: Apontar para a não sustentação dos preconceitos que movem as atitudes homofóbicas, após a desconstrução e desnaturalização dos conceitos e estereótipos.

Após todas as discussões e desconstrução de estereótipos e da visão negativa da homossexualidade, sugiro a apresentação da animação Medo de quê? (MEDO..., 2011) para reflexão. Trata-se de um vídeo de aproximadamente 18 minutos, sem diálogos, que retrata a vida de um garoto que se percebe apaixonado por um outro rapaz e os medos vividos por uma pessoa (homofobia, rejeição de amigos e família) que não se enquadra no modelo de identidade sexual hegemônica. Mostra também que quando as visões negativas são superadas, todos podem ficar bem e felizes. Em seguida, será realizada uma discussão, a fim de analisar a que conclusões os/as alunos/as chegaram sobre o vídeo.

Posteriormente, será apresentada ou entregue por escrito a segunda atividade para a avaliação: a partir dos assuntos discutidos ao longo do desenvolvimento das etapas da SD, alunos e alunas farão, em casa, uma nova análise sobre a notícia que apresentaram na primeira atividade, descrevendo como veem a situação ao se apropriarem da desconstrução de conceitos. Também apresentarão novas descrições das palavras selecionadas no desenvolvimento da etapa 1. Além disso, elaborarão uma proposta para que seja possível combater e solucionar o problema da homofobia na escola e na comunidade, fundamentada no que foi discutido. A atividade deverá ser entregue no próximo encontro.

Material: computador e projetor.

Etapa 6:

Objetivos: discutir as apropriações dos/as alunos/as sobre o tema, após o desenvolvimento da SD; apresentar propostas para o combate à homofobia.

Alunos/as em círculo. Será aberto um diálogo para aqueles/as que se sentirem à vontade para falar sobre o que escreveram na atividade, sobre como veem o problema da homofobia a partir do que foi discutido nas etapas anteriores. Serão discutidas as propostas daqueles que quiserem apresentá-las, e em conjunto pensar como serão colocadas em prática. Nesse momento o restante da aula será dedicado às propostas, o que pode demandar mais encontros para tal. Findadas, as atividades serão recolhidas e avaliadas, comparando esta última com a atividade entregue no encontro subsequente à etapa 1, uma vez que deveria ter sido fundamentada nas discussões realizadas em aula.

Observação: Dependendo da quantidade e variedade de propostas (se serão de caráter individual ou se serão ações coletivas que podem ser desenvolvidas em forma de projeto na escola), pode surgir a necessidade de mais encontros para discuti-las.

Avaliação: A avaliação será realizada a partir da análise comparativa entre duas atividades escritas desenvolvidas. A primeira, iniciada no desenvolvimento da etapa 1 para ser entregue no encontro subsequente, consiste na descrição das concepções prévias sobre homofobia e outros conceitos que forem levantados após a exibição do vídeo no início da problematização e da pesquisa sobre uma situação de homofobia e as visões dos/as alunos/as sobre a situação. A segunda, apresentada na etapa 5 para ser entregue no encontro subsequente, consiste na descrição dos mesmos conceitos descritos na primeira atividade, porém fundamentada nas desconstruções e desnaturalizações discutidas durante a sequência didática. A comparação entre as duas atividades pode revelar até que ponto foi possível desconstruir os estereótipos e preconceitos relacionados à sexualidade. Também será avaliada a capacidade de apresentar propostas para a resolução do problema da homofobia na escola e comunidade.

Destaco aqui o fato de que compreender a desconstrução proposta por esta SD não significa mudança de atitude imediata em todos ou na maioria dos/as alunos/as. Mas a problematização se faz importante e necessária para proporcionar a eles/as reflexões e esclarecimentos sobre a temática, podendo posteriormente levá-los à condução de ações que valorizem as diferenças e diminuam as manifestações homofóbicas.

Entendo que o desenvolvimento desta SD com estudantes do ensino fundamental (entendendo que também pode ser desenvolvida com aluno/as do ensino médio) resulte em uma problematização direcionada à discussão e reconhecimento da homofobia como um problema social grave e que está presente na sociedade nas variadas instâncias e instituições, entre elas a

escola. Sendo a escola um ambiente plural, torna-se necessário trabalhar os olhares sobre a diferença, fazendo com que alunos/as compreendam o valor da convivência e do respeito ao outro. Mas como esse olhar é comumente negligenciado, a escola também se torna local para a produção e reprodução de preconceitos, em consequência do silenciamento dos/as educadores/as. No caso da homossexualidade, a prioridade heteronormativa é colocá-la como uma identidade sexual fora do padrão da sociedade hegemônica e assim a homofobia se manifesta de diversas formas e, muitas vezes, como também pude observar ao desenvolver esta pesquisa, é percebida de forma naturalizada.