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4.3 Os Procedimentos Metodológicos

4.3.4 Análise dos Dados

Para Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p. 170) o processo de análise dos dados é “complexo, não-linear, que implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados que inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação”. De todo modo, caracterizo o momento da análise como sendo aquele em que confronto os dados obtidos com a literatura e, ancorada em minha visão de conhecimento, analiso as possíveis respostas à pergunta norteadora da pesquisa. Bogdan e Biklen (1999, p. 200) posicionam-se quanto a esse aspecto e entendem que

[...] os dados não são apenas aquilo que se recolhe no decurso de um estudo, mas a maneira como as coisas aparecem quando abordadas com um espírito de ‘investigação’. Tornar-se um bom investigador qualitativo é, em parte, aprender esta perspectiva; os detalhes específicos são pistas úteis para a compreensão do mundo dos sujeitos. A investigação qualitativa envolve pegar nos objetos e acontecimentos e levá-los ao instrumento sensível da sua mente de modo a discernir o seu valor como dados. Significa aperceber-se da razão por que os objetos foram produzidos e como também envolve saber quando descartar conjunto de dados como sendo de valor duvidoso e quando os manter.

No item a seguir faço comentários acerca da principal fonte de dados a ser analisada, o chat, por ter o maior número de participantes envolvidos, por conseguinte mais informações e por caracterizar momentos de interação simultânea a partir de interesses comuns: discutir as atividades de geometria espacial propostas e por se

tratar, também, do momento de produção matemática em que eu, enquanto pesquisadora, estive mais “presente”, uma vez que durante o processo de construção geométrica no Wingeom e da investigação realizada, a priori, não havia este envolvimento.

4.3.4.1 A Natureza do Discurso no Chat

Um chat ou sala de bate-papo é o "local" onde, geralmente, ocorre uma "conversa espontânea, mas que, devido às suas condições de produção via computador realiza-se com o suporte da escrita reestruturada, portanto, em outros moldes que não os de uma conversação que se realiza face a face" (BERNARDES e VIEIRA, 2005, p. 50). O chat é uma maneira de indivíduos, geograficamente separados, se comunicarem utilizando a fala escrita. Muitas vezes na comunicação via chat torna- se necessário desenvolver uma maior sensibilidade de "ouvir" e compreender o outro, uma vez que um momento de pausa (silêncio) pode ser entendido como uma recusa ao diálogo ou incompreensão do enunciado dirigido.

O texto escrito com as mídias lápis e papel e suas variações, na maioria das vezes carrega em si certa formalidade. Algumas normas da língua culta, como regras ortográficas, por exemplo, quase sempre são levadas em conta nesta forma de comunicação. Desde a alfabetização, ao escreverem suas primeiras palavras, as pessoas já o fazem seguindo certo padrão. O ato de escrever pode ser considerado uma manifestação cultural. Por esta razão, ele se transforma quando as tecnologias informáticas passam a integrar o processo de escrita.

Borba (2004b) acredita que a comunicação baseada na Internet, em particular no chat, gera um coletivo de humanos-com-Internet-sala-de-bate-papo..., o qual estende a idéia de Lévy (1993) com relação à oralidade primária e secundária. Para Lévy (1993) a oralidade primária é aquela utilizada para a comunicação estritamente oral, já a oralidade secundária surge com o advento da escrita, ou seja, a leitura da escrita. Sendo assim, a escrita produzida no chat ora se aproxima da comunicação escrita, ora da oralidade por se tratar de uma fala escrita. Diante disso, Borba (2004b)

afirma que a tecnologia digital possibilita a criação de uma escrita secundária ou uma oralidade terciária.

Essas transformações são decorrentes do fato de que normas, regras, formalidades, de maneira geral, não são características de um discurso no chat. O grande número de mensagens encaminhadas e em ritmo acelerado acaba gerando certa “liberdade” no interlocutor em utilizar-se de símbolos, abreviações, sinais, na tentativa estabelecer um diálogo o mais natural possível e deste modo até mesmo sentimentos são manifestados. Diante disso, considerar normas como sendo algo irrelevante não impede a comunicação no chat, pelo contrário, agiliza ainda mais o processo de comunicação e abre novas possibilidades.

Neste aspecto Souza (2003, p.118) espera que discursos realizados nesses moldes

[...] guardem principalmente um convite para olharmos as maneiras como a sedução irresistível exercida pelas oportunidades de comunicar-se levam os usuários de uma tecnologia recente a recriar os usos de uma tecnologia bem antiga, a escrita. Nessas conversações parece ser buscada a adequação de ambas as tecnologias aos requerimentos da organização das interações conversacionais.

As pessoas que se encontram em um chat estão dispostas a conversar, o que é possível por meio da escrita. Existem interesses comuns que as aproximam, como no caso deste curso. Neste sentido, uma nova oralidade e uma nova escrita se concretizam, uma vez que “os enunciados produzidos nas salas de bate-papo consistem em um novo estilo da língua” (BERNARDES e VIEIRA, 2005, p.81).

Enquanto escrita, existe um estilo muito particular que a difere daquilo que já se conheceu até hoje e, enquanto oralidade, surge uma voz desprovida de som que mesmo nestas condições, a entonação aparece nos exageros e repetições excessivas de fonemas. Borba (2004b, grifo do autor) diz que

A natureza do texto “escrito” na Internet é diferenciada, à medida que junta aspectos da oralidade e da escrita – já que apresenta a rapidez e informalidade da primeira e a ausência de explicação por gestos, olhares e sentidos da segunda – com uma linguagem cada vez mais multimídia, caracterizada pela inclusão de filmes, fotos e links variados.

Essa (com)fusão entre oralidade e escrita, mediada pelo computador, une as três tecnologias da inteligência (oralidade, escrita e informática) criando uma nova forma de agir, comunicar e produzir conhecimento. “Não se trata de suprimir uma ou outra modalidade de linguagem, mas de condensá-las e redirecioná-las, produzindo um novo estilo de linguagem que vai além da escrita alfabética, englobando os sistemas logográfico e semiótico” (BERNARDES e VIEIRA, 2005, p.82).

Os participantes do curso "Tendências em Educação Matemática", e em especial desta pesquisa, geraram um discurso com estas características e, neste caso, um discurso muito particular, o matemático. No próximo capítulo faço comentários acerca de como organizei esses dados para serem analisados e apresento a análise propriamente dita.

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Neste capítulo apresento os dados desta pesquisa, bem como sua análise. Os dados consistem, principalmente, das transcrições das três aulas online sobre discussão matemática que aconteceram no curso à distância de Tendências em Educação Matemática em 2005. Nestas aulas, além de textos relacionados a várias das tendências nesta área, foram discutidas atividades de geometria euclidiana espacial. Outros dados que também foram coletados na pesquisa, como os questionários, que foram enviados ao iniciar o curso, as discussões nos fóruns, os portfólios que contém as construções geométricas realizadas pelos participantes, e a ferramenta perfil do ambiente TelEduc, também foram considerados.

Juntamente com os trechos das "falas" dos participantes, trago minha compreensão dos mesmos, com base na seguinte pergunta:

Como se dá a produção matemática, em um ambiente virtual de aprendizagem, de um coletivo formado por humanos e não humanos?