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Com o advento da Internet a sociedade tornou-se mais global, e por esta razão o mesmo ocorreu com o espaço. Ou seja, com a Internet é possível conceber um espaço imaterial (WERTHEIM, 2001), ou como Bachelard (1993) menciona, um espaço

que não é concreto. Esse último autor diz que as pessoas não mudam de lugar, mas sim de natureza. Não existe um ponto de referência e, simultaneamente, as pessoas se deslocam não em corpo, para os mais diversos lugares, transcendendo as leis da física.

Num sentido muito profundo, esse novo espaço digital está "além" do espaço que a física descreve, pois o ciberdomínio não é feito de partículas físicas, mas de bits e bytes. Esses pacotes de dados são o fundamento ontológico do ciberespaço, as sementes das quais o fenômeno global "emerge". A afirmação de que o ciberespaço não é feito de partículas e forças físicas pode ser óbvia, mas é também revolucionária (WERTHEIM, 2003, p.167).

Esta nova faceta do espaço, ainda em movimento, dá origem ao que se denomina ciberespaço. Para Lévy (1999) ele é um novo meio de comunicação que surgiu com a interconexão mundial de computadores e, segundo este autor, não se trata apenas de um suporte ou apoio material da comunicação, mas se constitui a partir de uma imensidão de informações, no qual os seres humanos “navegam” e se nutrem desse universo digital. O ciberespaço passou a fazer parte da vida diária de muitas pessoas de maneira a reorganizá-la e, ainda, reorganizar a sociedade de maneira geral. Santos (2004) diz que o espaço atual é global. O espaço se modifica para atender às necessidades ou transformações sociais. Apesar deste autor não estar se referindo a aspectos do ciberespaço, em particular, é possível fazer uma analogia com tal contexto, uma vez que o crescente uso da Internet vem acarretando mudanças sociais. Por exemplo, não há mais a necessidade de se deslocar até o banco para realizar diversas transações como: pagar contas, efetuar depósitos, transferências, solicitar saldo e extrato da conta etc. O banco está no mesmo lugar, mas se desloca, também, para a tela do computador que, em poucos minutos, estará confirmando que a operação foi realizada com sucesso. Esta forma peculiar de se comunicar é fruto da necessidade e, sobretudo das possibilidades dispostas à sociedade em um determinado momento histórico, o que resulta em uma seletividade histórica e geográfica (SANTOS, 2004).

O tempo de uma viagem, agora pode durar apenas um "clique", independente da distância que separa as pessoas, visto que se trata de uma outra geografia, na qual não importa se o clicar é para outro lado do mundo ou para a casa do amigo que mora na esquina. Kerchove (1997, p. 237), ao usar a metáfora "nômades telemáticos", ilustra

espaço e tempo e a oportunidade de estar em todos os lugares sem sair do lugar. As distâncias foram encurtadas, uma vez que o ciberespaço aproxima pessoas que estão geograficamente distantes. De acordo com Castells (2003, p.170), a Internet tem uma geografia própria e acrescenta, ainda, que ela

redefine distâncias, mas não cancela a geografia. Novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação.

Ao longo da história é possível notar que a estrutura social e a maneira como as pessoas se comunicam variam de acordo com as tecnologias e meios de difusão disponíveis em um dado momento. O tempo em relação à emissão de uma mensagem e o efetivo processo de recepção dependem da distância entre emissor e receptor. Por outro lado, a cibercomunicação ocorre independente da distância, pois a mensagem emitida pode ser recebida no tempo disponível de cada receptor ou em tempo real. Atualmente, o que se desloca é a informação e não necessariamente as pessoas (VIRILIO, 1996). Não faz mais sentido falar em "ponto de referência", pois no ciberespaço existem muitos caminhos, os quais levam a outros caminhos, e outros, e outros...

A WWW13 foi criada, com o objetivo de "implementar um espaço global de dados compartilhável, a que os pesquisadores do mundo inteiro pudessem ter acesso" (WERTHEIM, 2001, p.169). Contudo, ela tornou-se muito mais do que um espaço de pesquisa formal, e sim um ambiente cultural, social, educacional e de entretenimento. O que se nota é que ela assumiu um papel importantíssimo e é característica marcante da vida pós-moderna.

A partir da idéia de Lévy (2003), de que o espaço compreende ao mesmo tempo as mensagens, as representações que elas evocam, as pessoas que as trocam e a situação como um todo, tal como é produzida e reproduzida pelos atos dos participantes, Gracias (2003) considera o chat, em se tratando de comunicação no ciberespaço, um ambiente plástico, dotado de certa autonomia de ação e reação, como espaço de significações, onde há uma construção em comum a partir de diálogos,

debates e demais interações entre as pessoas. Nesse sentido, Lévy (2003) acredita que o crescimento do ciberespaço corresponde a um desejo de comunicação recíproca e de inteligência coletiva. Na inteligência coletiva, Lévy (2003) destaca a relação entre as pessoas, a socialização, contudo, o ser humano por si só é coletivo. Ou seja, assim como as tecnologias estão nos sujeitos, os sujeitos também estão nas tecnologias. Há uma moldagem recíproca que faz com que na inteligência coletiva, com relação ao aspecto cognitivo humano, exista uma forte influência de atores não humanos (BORBA e VILLARREAL, 2005).

É extremamente radical pensar um espaço que não seja físico. Neste aspecto, "ninguém (nem nada vivo) escapa inalterado desse novo mundo em que até o corpo torna-se opcional, pois algumas pessoas são mentes que existem apenas no Ciberespaço" (FRANCO, 1997, p. 74).

Wertheim (2001) resgatou a história das concepções ocidentais acerca do espaço a partir da Idade Média até a atual era digital. Ao que parece estamos a ponto de criar um dualismo entre espaço físico e o espaço telemático da Internet, o ciberespaço. Voltaremos a conceber um espaço físico para o corpo e um espaço "imaterial" como no período medieval? Em termos científicos, isso parece um retrocesso?

Vejo que não só espaços significativamente pequenos causam fobia, já que essa imensidão espacial, que é o ciberespaço, também sufoca, quase que causando uma agorafobia telemática, uma vez que ele vem crescendo intensamente e, diante disso, "quando estou on-line, a questão de 'onde' estou não pode ser plenamente respondida em termos físicos" (WERTHEIM, 2001, p. 30). Por outro lado, há autores, como Virilio (1996), que divergem e afirmam que

não fazemos nada mais do que pensar as dimensões que o olho é incapaz de ver, que o espaço e o tempo são para nós nada mais do que intenções, as ferramentas de percepção e de comunicação poderão realizar esse paradoxo

das aparências que consiste em comprimir a dimensão do universo em um efeito de encolhimento (VIRILIO, 1996, p. 43, grifo do autor).

Ainda não há consenso sobre as diversas concepções que existem. A verdade é que o ciberespaço é utilizado cada vez mais, muitas vezes quase que não é possível

viver fora dele, pelo fato de que as atividades diárias de grande parte das pessoas estariam comprometidas se isso acontecesse, e mesmo com toda essa importância que ele vem atingindo, elas mal conseguem entender sua dimensão.