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Análise dos dados referentes aos professores de EM da Diretoria de Ensino de Tupã

Capítulo 5 Resultados e Discussão

5.3 Análise dos dados referentes aos professores de EM da Diretoria de Ensino de Tupã

P12 entende que os trabalhos com projetos interdisciplinares devam ser

contextualizados e que os professores precisam tomar consciência disso. Eles devem se reunir por áreas e discutirem como cada disciplina irá trabalhar seu conteúdo de forma contextualizada (figura 12). Para ele, a interdisciplinaridade se realiza no dia-a-dia dos professores, nos encontros que eles têm nas escolas, nas conversas que mantêm, dentro e fora das HTPCs, onde uma disciplina, a partir de um determinado conteúdo, busca ajudar a outra a clarificar os conceitos. Segundo P12 isso tende acontecer naturalmente na escola;

porém no desenvolvimento de projetos, isso ocorre de maneira mais sistematizada. A interdisciplinaridade para P12 é algo que vai muito além de uma simples ajuda entre

professores; as disciplinas formam uma teia, um complexo disciplinar, em que os envolvidos falam a mesma linguagem.

No desenvolvimento de temas transversais defende que o professor deva compreender assuntos que não sejam específicos da sua disciplina. Para isso, ele deverá buscar ajuda com os professores de outras disciplinas.

Para P13 a interdisciplinaridade é o relacionamento de uma disciplina com outra,

uma colaboração que não fica apenas no tema proposto; há um objeto de estudo em comum e cada disciplina busca estudar o assunto dentro da sua especialidade, procurando esclarecer as situações (figura 13).

P13 defende que se o professor tiver uma formação em que as matérias são

independentes, não será possível fazer um trabalho interdisciplinar. Caso contrário, ele será realizado mais facilidade. Menciona que falta ao professor mais leitura e reflexão sobre a proposta dos parâmetros curriculares, no sentido de uma nova visão epistemológica. Destaca também o problema da mobilidade dos professores, através de ingressos, formas de atribuição de aulas. No seu entendimento não há estabilidade, nem mesmo para os professores efetivos. Entende que a metodologia de pesquisa ajuda em práticas como a interdisciplinaridade, lamentando sua ausência nos cursos de licenciatura. Ressalta que, sem essa noção, o professor ao fazer projetos acaba misturando tudo, ou seja, ele não sabe

86 discernir o objeto de estudo do conteúdo e os alunos saem prejudicados neste processo conturbado. é onde (3) (9) (8) (7) (6) (2) (4,5) (1) qu an do se dá se observa no en tan to está oco rre

no trabalho transversal, por exemplo, a profilaxia da

dengue, onde independentemente da disciplina, o professor de

Matemática vai ter que socializar com o de Biologia, com a Química; então ele vai ter que saber alguma coisa para falar com os alunos a

respeito disso

no dia-a-dia do professor, nos encontros que ele tem

nas escolas, nas conversas que eles mantém dentro e fora

das HTPCs

a forma mais fácil de se trabalhar com

projetos

nas três áreas do conhecimento, quando se faz a contextualização

os professores se reúnem por área e discutem onde a Matemática vai trabalhar, a Química, a Biologia de maneira

contextualizada

muito além de uma simples ajuda do professor

com o outro no fim tem que se formar

uma teia, formando um complexo disciplinar, em que todos falem a mesma

língua

a Química está falando em nº de Avogadro, que trata de potência; então ele pede para o professor

de Matemática, para trabalhar potência de dez isso acontece de maneira natural

A In te rd is ci pl in ar in ar id ad e no desenvolvimento de projetos, isso tende a acontecer de maneira

mais sistematizada

Figura 12: Mapa cognitivo – Interdisciplinaridade: uma

contextualização dos conceitos, segundo P12.

87

Figura 13: Mapa cognitivo –Contexto Escolar, segundo P13.

Fonte: Entrevista concedida em 21/03/2006. (7) (12) (6) (13) (8) (5) fa lta como oc or re nã o ain da qu e No Contexto Escolar é discutido o que é interdisciplinaridade

alguns componentes parecem que conseguem amarrar algumas coisas, mas a área de Ciências da Natureza, as coisas são mais

difíceis

o professor terá que refletir, através da leitura, o que está

nos PCNs

não vai ter uma parte epistemológica pra entender

certas situações

um problema sério que é a mobilidade dos professores, através de ingressos, formas de

atribuição de aulas, remoção não existe uma estabilidade no

quadro de professores permanentes

tempo para que os HTPC possam ter uma discussão

mais rica

en

88 Sobre o tempo que a escola dispõe (HTPCs), julga ser insuficiente para discussões de maior profundidade. Porém, ao que parece, os coordenadores de áreas conseguem fazer a interdisciplinaridade entre os professores das diferentes disciplinas, indicando como cada disciplina poderia trabalhar um determinado assunto. Ela também se faz nos corredores, na sala dos professores, onde há troca de informações. Menciona ainda que, alguns componentes curriculares parecem conseguir “amarrar” os conteúdos mais facilmente, com exceção da área de Ciências da Natureza Matemática e suas Tecnologias, que permanece como nó.

Para P13, a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade têm definições diferentes,

pois cada termo abrange uma instância de trabalho. Assim, a transdisciplinaridade ocorre quando alguns temas ou conteúdos permeiam todas as matérias obrigatoriamente, como nos temas transversais (figura 13A).

89 (15) (14) te m ocorre o mesmo (1) (2) (10) (11) (4) (3) (4,9) en tã o então po rq ue po ré m oc or re A Interdisciplinaridade

na troca de informações que eram feitas nos corredores das

salas dos professores era o momento de trocar

informações

às vezes não é possível devido a formação do professor, se ele é formado com a noção de que a sua matéria é independentemente

das outras, dificilmente ele fará um trabalho interdisciplinar

infelizmente na formação de licenciatura, não existe no currículo a metodologia de

pesquisa

essa formação é um bom recurso para a prática na sala de aula

fazer propostas sem essa noção de metodologia

de pesquisa, sem o devido estudo, o professor mistura tudo;

ele não sabe o que é objeto de estudo, e o que é conteúdo quando existe um tema e

cada disciplina está buscando estudar dentro da

sua especificidade. um objeto comum de estudo

Transdisciplinaridade alguns temas de conteúdos devem estar permeando todas as matérias obrigatoriamente, como exemplo, temos

os temas transversais em que todos os

componentes curriculares, independente do que

seja, tem que fazer alguma inserção

durante a apresentação do

trabalho

(17) (16)

Figura 13A: Mapa cognitivo – Interdisciplinaridade: uma concepção epistemológica,

segundo P13. Fonte: Entrevista concedida em

21/03/2006.

semelhantemente

A Multidisciplinaridade disciplina vai trabalhar sem a partir de um tema cada uma conexão do conteúdo

a um paciente que está doente e vários médicos fazem o diagnóstico, mas não conversam para buscar coletivamente a solução da

doença algo semelhante ocorre na

pesquisa, cada um levanta a sua hipótese, mas se a gente não amarrar essas hipóteses para a elaboração da tese; não há tese

quando a interconexão é

feita por um coordenador de

área, que vai encaixar o conteúdo no trabalho as disciplinas juntas buscam esclarecer uma situação

90 Para P14 os professores estão muito arraigados no conteúdo e trabalhando de forma

tradicional. Sobre a proposta de trabalhos interdisciplinares, ouviu falar, mas não leu nada a respeito, não participou de nenhuma palestra, ou fez algum tipo de curso. Para ele foi uma experiência nova, que julgou interessante, pois o professor poderia mudar um pouco sua metodologia de trabalho, despertando no aluno maior interesse. Considerando que hoje os grandes problemas são a motivação e o interesse, com trabalhos interdisciplinares pode-se resgatar o interesse do aluno pela escola, principalmente pelos conteúdos.

Com relação ao empobrecimento do conteúdo, em virtude de se trabalhar interdisciplinarmente, defende que não ocorre e pensa o contrário. Porém, ressalta que cabe ao professor contextualizar o tema do projeto com os conteúdos devidos. O professor tem que ter um certo “jogo de cintura”, experiência para contextualizar, ou seja, inserir os conteúdos no projeto. Habilidade que geralmente ele não domina, não tem formação e realmente não é algo tão simples de ser feito. Destaca que atualmente nas faculdades fala-se em interdisciplinaridade, mas na prática pouco ocorre.

Sobre a integração dos outros professores P14 defende que no início foi um pouco

difícil, pela resistência, mas com persistência, fornecendo livros, material de Internet; enfim material adequado, os demais professores acabam aderindo. Essa integração ocorria nas HTPCs, nos corredores, nas horas de folga, à noite, fora do horário de trabalho. Entretanto, não se dava entre todos os professores, mas entre os que estavam mais empenhados.

Para P14 a interdisciplinaridade ocorria entre os professores, quando trocavam idéias

sobre como trabalhar os conteúdos, nas conversas, em todo momento (no intervalo, pelos telefonemas, na casa de um e do outro, na escola). Sobre a integração dos conteúdos, apesar de notar certas semelhanças, não houve qualquer discussão, pois se tratava de uma nova metodologia, não dando tempo para se discutir os conteúdos. Todavia, P14 afirma tê-la

discutido com os professores mais próximos da sua disciplina, no caso biologia e física. Essa discussão resumia-se em saber se os mesmos conteúdos não seriam trabalhados pelos professores (figura 14).

91 ocorre (10) (11) (8,9) (2) (3) (7) (6) (5) (1) po r i ss o

Figura 14: Mapa cognitivo - O Projeto Interdisciplinar, segundo P14. Fonte: Entrevista concedida em 17/10/2006.

ocorre incentivo po ré m po is atu alm en te po rq ue en tã o po rq ue po rta nto es tã o nã o au m en ta m Projetos

Interdisciplinares Os professores interdisciplinaridade A

atrapalham o conteúdo o interesse dos alunos pela escola e pelo conteúdo

ele não tem o hábito de fazer isso, ele não tem costume, ele não

tem formação; realmente não é fácil é uma questão

de formação

eles pregam a interdisciplinaridade, mas na

prática a gente vê que não é fácil com troca de idéias a todo momento, contatos telefônicos, estudo em casa, na escola houve a integração das disciplinas discuti com os mais próximos de mim...Biologia e Física a gente discutia muito, se você vai trabalhar; então eu não vou a questão da disciplina, acho que melhorou nas faculdades Projetos de Trabalhos Interdisciplinares nas HTPCs, nos corredores, nas horas de folga (4) (9) arraigados no conteúdo tradicional

tem que ter jogo de cintura, experiência para

contextualizar, para inserir o conteúdo no tema

92 Para P15 os projetos interdisciplinares têm a capacidade de relacionar conteúdos da

própria disciplina. No projeto do amendoim, por exemplo, trabalharam-se conceitos de mecânica, eletricidade e calor, ao mesmo tempo. No seu entendimento, o trabalho por projetos é mais atrativo para o aluno, pois ele vai a campo vivenciar as situações na realidade (figura 15). dessa forma permitem (6) (7) (8) (5) (4) (3) (1) (2) en tã o po ré m sã o po r i ss o on de oc or re Projetos Interdisciplinares

atrativos, porque você vai à campo trabalhar mecânica,

eletricidade, calor ao mesmo tempo, puxando

os conteúdos da disciplina

integração

a gente discute a etapa em que o projeto está e trocamos idéias sobre

como trabalhar

isso era estendido entre a disciplina da gente com a dos outros, havia dicas de sites para

os alunos pesquisarem sobre maquinário funcionamento,

gastos consumos etc.

o projeto foi inter e multidisciplinar teve encontros para se

discutir o projeto, mas eu acho que eram

insuficientes acho que para se fazer projetos tem que haver

mais encontros, mais tempo de discussão

Figura 15: Mapa Cognitivo – Projetos interdisciplinares: uma integração entre as áreas, segundo P15.

Fonte: Entrevista concedida em 21/06/2007.

conteúdos repetidos, como gases, por

exemplo, que é trabalhado na química

e na física, a gente decidia quem iria trabalhar

93 Com relação aos diálogos com os outros professores, P15 afirma que houve nos

encontros para se discutir o andamento do projeto, porém julga que foram insuficientes. Para ele, trabalhos dessa natureza necessitam de mais encontros, mais tempo de discussão. No entanto, destaca que nesses pequenos momentos, discutia-se sobre o andamento do projeto. Em muitos desses encontros, os professores trocavam sugestões de trabalho. Esses diálogos adentravam aos conteúdos específicos, evitando que eles fossem trabalhados repetidamente.

Para P16 a construção do novo Ensino Médio é uma expectativa de mudança total na

maneira de desenvolver o conteúdo e por conseqüência a obtenção de competências. Para tanto, o currículo que tinha o foco do ensino conteudista deixa de ser um fim em si mesmo, para ser um meio na obtenção das competências. Nessa nova proposta, o educando para ser o sujeito da ação, deve deixar a passividade predominante nas aulas expositivas, tornando- se o protagonista da aprendizagem. Uma metodologia voltada para a prática contextualizada, com o foco na resolução de situações-problema, em que o conteúdo é mobilizado para resolver situações reais. A interdisciplinaridade propicia ao projeto o fim da fragmentação do conhecimento. Uma interdisciplinaridade que não prescinde da disciplinaridade. Dessa forma, o professor tem condições de trabalhar o relacionamento das disciplinas de forma a torná-las mais atraentes para o aluno.

Para que tais mudanças se efetivem na prática, segundo P16 é necessário algumas

modificações: a primeira está relacionada com a formação dos professores, pois percebe-se algumas resistências a essa nova metodologia. A segunda diz respeito às condições de trabalho. O professor necessita de um maior número de horas-atividades, por exemplo, propiciando o encontro com os colegas. Para P16 essa é uma das condições indispensáveis a

94 po rta nto (9) (6) (8) (10,11) (7) (5) (3,4) (2) (1) en tã o entretanto porém em que atr av és porque ocorra

A Construção do Novo Ensino Médio

com interdisciplinaridade que irá trabalhar o projeto com o fim principal da

não fragmentação do conhecimento

com a prática da contextualização

é preciso que haja a disciplinaridade bem dominada para poder

haver uma interdisciplinaridade

o projeto permite essa flexibilização

o relacionamento entre as disciplinas torna-se mais

atraente para o aluno

da prática o aluno vai resolver situações-

problema

ele passa a ser sujeito da ação, saindo da passividade das aulas expositivas tornando-se protagonista

é preciso mexer na legislação da escola principalmente quanto ao

número de horas atividades, propiciando o encontro com os

colegas para haver trabalho coletivo

a obtenção de competências

o currículo que era conteudista deve ser um fim em si mesmo para

ser um meio para atingir competência

Figura 16: Mapa Cognitivo – O Novo Ensino Médio, segundo P16.

95 Sendo assim, para os professores do Ensino Médio em exercício, as condições estruturais na escola representam o principal impecilho para que a prática interdisciplinar aconteça. Revelam também o problema de domínio dos conteúdos e por isso, talvez, necessitem de uma prática coletiva para efetivar a interdisciplinaridade.

Para P12 a interdisciplinaridade deve se efetuar com a contextualização do que se

pretende ensinar. A forma de desenvolvê-la se dá na perspectiva dos professores, que se ajudam mutuamente no desenvolvimento do conteúdo na sala de aula. Defende uma integração dos envolvidos, a ponto dos participantes desenvolverem uma linguagem comum.

Já para P13, a interdisciplinaridade é uma inter-relação em que as disciplinas

procuram esclarecer situações, aumentando a compreensão do objeto de estudo. Para ele, o sucesso do trabalho está muito relacionado à concepção epistemológica do professor, estando diretamente ligada à sua formação. Com relação à sua efetivação na prática, ao que tudo indica, está na forma de como cada assunto vai ser abordado pelas disciplinas, o qual pode ser feito por uma orientação de um coordenador e pelas trocas de informações entre os professores.

Para P14 a interdisciplinaridade, ocorre quando há um diálogo entre os participantes,

o qual se dá no sentido de trocas, sobre quais conteúdos deverão ser trabalhados e a forma de desenvolvê-los. Com relação à prática interdisciplinar, julga ser difícil sua implementação e permanência, devido à formação tradicional do professor, ou seja, uma questão relacionada, eminentemente à sua concepção epistemológica.

Para P15 os projetos interdisciplinares têm a capacidade de relacionar conteúdos da

disciplina, com os das outras áreas do conhecimento. Essa integração vai desde estratégias até os tipos de conteúdos que devem ser trabalhados. Ao propor esse diálogo, P15 entende

que a interdisciplinaridade deva ser trabalhada entre professores. Com relação aos “espaços” de encontro, P15 afirma que eles existem, porém são insuficientes e destaca que

trabalhos dessa natureza necessitam de mais tempo de discussão.

Para P16 a interdisciplinaridade propicia o fim da fragmentação do conhecimento,

porém ela não prescinde da disciplinaridade. Dessa forma, o professor tem condições de trabalhar o relacionamento das disciplinas de forma a torná-la mais atraente para o aluno.

96 Para que tais mudanças se efetivem na prática, segundo P16 é necessário mudar a

prática pedagógica do professor e melhorar as condições de trabalho.

Capítulo 6 - Conclusões

A partir: i) da leitura minuciosa e análise dos autores selecionados da literatura pertinentes ao tema interdisciplinaridade; ii) da análise dos documentos oficiais educacionais brasileiros; iii) da elaboração dos mapas cognitivos e análises a partir de entrevistas com professores universitários e professores do Ensino Médio foi possível agrupar as idéias apresentadas em duas categorias principais, as quais dispomos abaixo:

1) Interdisciplinaridade sendo construída por diversos professores de disciplinas diferentes (Interdisciplinaridade entre professores);

2) Interdisciplinaridade sendo construída pelo próprio professor, admitindo a possibilidade de se conhecer o conteúdo de outras disciplinas (Interdisciplinaridade

do professor).

O quadro 1 representa como esses conceitos predominam na literatura, nos documentos oficiais e no discurso dos entrevistados.

Os autores selecionados em nosso trabalho de pesquisa de acordo com suas ideologias podem ser separados nas duas categorias elaboradas. Eles atribuem ao movimento positivista e de certa forma ao pensamento cartesiano, uma grande influência sobre o processo de especialização, disciplinarização e por decorrência, a fragmentação do saber. Eles também são unânimes em considerar que interdisciplinaridade depende fundamentalmente da existência das disciplinas, superando, de certa forma, o equívoco instaurado na década de 70, quando se cogitou acabar com as disciplinas em busca de uma

pseudo-integração. Os que defendem a interdisciplinaridade entre professores, consideram

que ela deve se constituir numa integração entre os participantes em todos os momentos, ou seja, início, meio e fim de uma pesquisa e ressaltam que o produto final de uma prática compartimentada não constitui uma produção interdisciplinar. Tal construção coletiva deve ainda buscar metodologia e linguagem comuns.

As convergências, ao que parece, se esgotam aí, pois as concepções de interdisciplinaridade dos autores se assentam, na sua maioria, em ideologias diferentes.

97

Quadro 1: Concepções de interdisciplinaridade dos autores,

documentos oficiais e professores entrevistados

Interdisciplinaridade

Autores Documentos Oficiais Professores Entrevistados*

entre Professores do Professor

Jean Piaget X

Jantasch e Bianchetti X

Ludwig von Bertalanffy X

Georges Gusdorf X

Hilton Japiassu X

Jurjo Torres Santomé X

Ivani Fazenda X Nilson Machado X Antoni Zabala X - - X X LDB** PCNEM (1999) PCN+(2002) OCEM (2004; 2006) X X X X X X X X P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 X X X P9 P10 P11 X X X X X P12 P13 P14 P15 P16 X

Fontes: Mapas cognitivos das entrevistas; 2005, Documentos Oficiais (1996; 1999; 2002;

2004; 2006) e Literatura sobre a Interdisciplinaridade.

* Refere-se: (P1 a P8 professores/pesquisadores), (P9 a P11 alunos da pós-graduação) e (P12 a P16 professores do

Ensino Médio).

98 Para Gusdorf, a interdisciplinaridade é uma proposta essencialmente filosófica/antropológica, pois o conhecimento existe para e em função do Ser. Piaget coloca a interdisciplinaridade numa categoria essencialmente epistemológica, ao afirmar que a superação do domínio conceitual de outras áreas está relacionada à forma de se conhecer comum, subjacente às diversas disciplinas. Japiassu aborda o conceito de interdisciplinaridade em âmbito epistemológico, evidenciando uma excessiva especialização no tocante ao conhecimento acadêmico. Para Santomé, esse conceito está posto em uma perspectiva epistemológica e metodológica ao afirmar que a interdisciplinaridade é uma metodologia de pesquisa, que não depende somente das disciplinas, pois está associada a certos traços da personalidade. No entender de Fazenda, o fazer interdisciplinar evoca no seu conceito a influência de caráter antropológico e metodológico, que se traduz na identificação de características de “personalidades interdisciplinares”, tais como: respeito, humildade e atitude. Já para Machado, ainda que pesem os diversos motivos, a causa precípua do fazer interdisciplinar está decisivamente marcada pela concepção filosófica/epistemológica de conceber a maneira de se ensinar, a qual acaba por ditar a forma dos currículos. Para Zabala, a interdisciplinaridade é uma forma de se conhecer pela interação das disciplinas, sendo uma das maneiras de se organizar os conteúdos, ou seja, âmbitos epistemológicos e metodológicos.

Essas ideologias com vieses diferentes acabam por trazer, na prática, proposições interdisciplinares distintas. Senão vejamos, a concepção epistemológica de Piaget que a interdisciplinaridade pode ser obtida a partir do sujeito encontra eco nas proposições de Jantasch e Bianchetti, bem como na de Bertalanffy.

Por outro lado, observamos a defesa de uma proposta de interdisciplinaridade obtida pela reunião de saberes num grupo. Isso poderia ser entendido numa prática na escola feita