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2 Representações e saberes sobre educação de infância

3.2 Análise dos dados

Algumas conceptualizações estruturantes consensuais no campo da educação sobre a for- mação de profissionais indicam como aspetos a considerar: a centralidade da prática peda- gógica em contexto, como eixo estruturante da formação de profissionais, quer inicial quer contínua; a convocação de todas as componentes científicas, científica-didáticas e curricula- res do saber profissional docente, não como “aplicações” desgarradas de um leque de conheci- mentos teóricos a uma prática supostamente diversa, mas agregadas e integradas em torno da teorização e questionamento dessa prática, pautada por rigor e profundidade, dando sen- tido ao trabalho formativo para o futuro profissional; a opção por uma lógica de projeto na organização do trabalho formativo; a supervisão e o trabalho colaborativo da equipa, sendo os especialistas das diferentes didáticas elementos articuladores de todo o processo de pro- blematização, teorização e reorientação da prática em contexto do formando (Roldão, 2009). A opção pela lógica de projeto possibilita também a implicação das crianças no processo. A metodologia de trabalho de projeto tem precisamente como orientação fundamental dar um sentido às aprendizagens, pela motivação profunda e grande implicação das crianças nas suas realizações. As aprendizagens tornam-se mais significativas por surgirem dos interesses das crianças, estando neles a intencionalidade educativa (Vasconcelos, 2009).

Mais, considerando que o tipo de saber que está presente na prática profissional é o “saber em uso” (saber de articular na ação os saberes teóricos, procedimentais, práticos e o savoir-

faire), a análise e reflexão das práticas é um procedimento de formação fundamental. Desta forma, dividimos esta seção em três grandes partes: o lugar, a função e o papel do PCI na formação de educadores/as de infância.

3.2.1 O lugar do PCI e a construção da profissionalidade do/a educador/a de infância

Da análise dos dados, 26,1% dos/as estudantes afirma que a UC correspondeu às suas ex- pectativas (nível 7) e 17,4% classifica no valor 5, 6 e 9 (numa escala de 1 a 10). Registam-se igualmente valores bastante elevados às respostas às questões: “proporcionou-me conheci- mentos sólidos sobre Metodologia de Trabalho de Projeto em Educação de Infância” (56,5% entre os níveis 8 e 9) e “A especificidade de cada área científica contribuiu para o desenvolvi- mento de metodologia de trabalho de projeto” (53,5% entre níveis 8 e 9). Como afirmam algu- mas estudantes: ”Forneceu-me estratégias para trabalhar com as crianças as diferentes áreas de conteúdo indo ao encontro dos interesses das mesmas” (I1); “De uma forma multidiscipli- nar, permitiu dar respostas aos interesses das crianças e às suas questões e/ou curiosidades; A oportunidade de desenvolver um trabalho em que a criança participa e constrói de forma ativa o seu conhecimento; A oportunidade de melhorar e aperfeiçoar o nosso conhecimento, como educadoras, pela partilha dos trabalhos da UC entre os estudantes” (I9).

As orientadoras cooperantes consideraram de forma unânime que a UC correspondeu po- sitivamente às suas expectativas. Afirmam que a UC proporcionou aos/às estudantes conhe- cimentos sólidos sobre Metodologia de Trabalho de Projeto em Educação de Infância (8,2 de média) e que a especificidade de cada área científica contribuiu para o desenvolvimento da metodologia de trabalho de projeto (7,8 de média).

Os/as docentes da ESELx afirmaram que a UC correspondeu às suas expectativas onde 70% se situa nos níveis 8 e 9 e 30% entre os níveis 6 e 7. Consideram ainda que a UC promove, junto dos/as estudantes, a possibilidade de encontrar estratégias inovadoras para o trabalho com crianças dos 3-6 anos (100% das respostas entre os níveis 7 e 10).

3.2.2 A função do PCI para o desenvolvimento de um currículo integrado em educação de infância

No que diz respeito à função do PCI, há uma concordância dos três grupos, ao considerar que possibilita o desenvolvimento de um currículo integrado em Educação de Infância.

As orientadoras cooperantes consideraram que a UC prepara os estudantes para trabalhar com crianças dos 3-6 anos em contexto de JI (7,7 de média), que a organização da UC (equipas de docentes - estudantes - orientadores/as cooperantes) favoreceu o processo de formação dos/as estudantes na área da educação de infância (7,7 de média). Referem, ainda, que a UC promove o pensamento e uma ação pedagógica multidisciplinar (7,7 de média) e possibilita o desenvolvimento e gestão curricular de forma integrada e holística (7,8 de média).

Os/as docentes da ESELx consideraram que trabalham numa perspetiva multidisciplinar nesta UC, onde 60% se situa nos níveis 9 e 10 e 40% entre os níveis 5 e 8, numa escala de 1 a 10. A maioria afirmou ainda que a UC intensificou o trabalho de equipa (80% das respostas entre os níveis 7 e 10), promovendo pensamento e ação multidisciplinar entre os docentes que constituem as equipas (50% situa as suas respostas entre os níveis 8 e 10 e 40% entre os níveis 5 e 7). Na opinião de 80% dos docentes, a UC possibilita o desenvolvimento e gestão curricular de forma integrada e holística (respostas entre os níveis 8 e 10).

3.2.3 O papel do PCI na promoção de uma conceção participativa da criança em educação de infância

No que diz respeito ao papel do PCI na promoção de uma conceção de criança em Educa- ção de Infância, é unânime aos três grupos a opinião de que o trabalho desenvolvido na UC

potencia uma conceção de criança participativa, com especial enfoque no processo de apren- dizagem em contexto de JI (orientadoras cooperantes e estudantes), uma vez que o diálogo colaborativo nas equipas e a supervisão promovem o encontro de estratégias inovadoras para o trabalho com crianças dos 3-6 anos, e a opção pela metodologia de trabalho de projeto per- mitiu perceber e dar resposta aos interesses das crianças.

4 Conclusões

A presente investigação constitui o primeiro resultado sistemático de um trabalho mais amplo que pretende fazer uma avaliação densa e contínua do processo de formação de edu- cadores/as de infância na ESElx. O objetivo central deste texto foi identificar e analisar as representações que estudantes, cooperantes e docentes têm acerca da UC PCI no ano letivo de 2014/21015.

Esta primeira etapa possibilitou determinar as constelações de fatores explicativos para o sucesso da referida UC. Não obstante, e ainda que não tivéssemos referidos os dilemas, desa- fios e obstáculos, sobretudo por uma questão de espaço, esta avaliação possibilitou contribuir para o avanço do conhecimento, em particular no domínio específico da UC, e da melhoria das práticas de ensino-aprendizagem no ensino superior, mas também no âmbito da forma- ção em educação de infância, nomeadamente através da exploração das virtualidades da UC reconhecidas por todos os intervenientes no processo - estudantes, cooperantes e docentes - a aquisição de conhecimentos sólidos sobre Metodologia de Trabalho de Projeto em Educa- ção de Infância; uma conceção de criança participativa no seu processo de aprendizagem em contexto de JI; o reconhecimento da especificidade de cada área científica para o desenvolvi- mento da metodologia de trabalho de projeto; o desenvolvimento e gestão curricular de forma integrada e holística; e o densificar de um pensamento e uma ação pedagógica multidisciplinar no trabalho com crianças dos 3-6 anos em contexto de JI.

5 Referências

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Benavente, A. (1992). A reforma educativa e a formação de professores. In A. Nóvoa & T. Popkewitz (Orgs.), Reformas educativas e formação de professores (pp. 47-55). Educa: Lisboa.

Coelho, A. M. (2004). Educação e cuidados em creche conceptualizações de um grupo de educadoras. Tese de doutoramento. Universidade de Aveiro, Aveiro.

Folque, M. A. (2014). Qualidade e identidade da educação de infância em Portugal: processo e desafios atuais. Cadernos de educação de infância, APEI, 102, 7-9.

Formosinho, J. (2009). A academização da formação de professores. In J. Formosinho (Org.), Formação de professores – aprendizagem profissional da ação docente(pp. 73-92). Porto. Porto Editora. Roldão, M. C. (2009). Prática pedagógica sustentada - cruzamento de saberes e competências. Lis-

boa: Edições Colibri/Instituto Politécnico de Lisboa.

Sarmento, M. J. (2015). Para uma agenda da educação da infância em tempo integral assente nos di- reitos da criança. In V. C. Araújo (Orgs.), Educação infantil em jornada de tempo integral (pp. 59-89). Vitória: EDUFS.

Vasconcelos, T. (2009). Prática pedagógica sustentada - cruzamento de saberes e competências. Lisboa. Edições Colibri/Instituto Politécnico de Lisboa.

Experimentação na formação inicial e atuação de professores de ciências: