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5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO

5.3 Análise dos discursos dos docentes dos cursos investigados

Para compor o Discurso do Sujeito Coletivo, como já explicitamos nos capítulos anteriores, foram criadas por Lefevre e Lefevre as seguintes figuras metodológicas: Expressões Chave (ECH), Ideias Centrais (IC), Ancoragens (ECH) e o DSC propriamente dito.

Neste item, mostraremos o trabalho realizado sobre o material verbal coletado via entrevista aberta com os atores sociais/sujeitos da pesquisa. Para apresentação sistemática dos dados qualitativos, optamos por utilizar um instrumental que possibilita a síntese do material verbal e dos operadores do DSC num quadro do depoimento discursivo que denominamos Introdução a Análise do Discurso 1 (IAD1).

Vale mencionar que a sistematização que apontaremos na sequência, resulta de uma síntese e segundo momento de leitura exaustiva do material verbal coletado. No primeiro momento agrupamos os depoimentos por perguntas, totalizando a sistematização das nove perguntas que compunham o roteiro de entrevista em nove respostas. Vale mencionar que na primeira etapa de análise dos dados agrupamos as expressões chaves de cada entrevistado que correspondia a resposta a cada pergunta e/ou provocação do discurso e trabalhamos em cada depoimento as ideias centrais (APÊNDICE B).

No segundo tratamento dos dados, optamos por trabalhar, em vez das perguntas, separadamente, as temáticas do discurso. Para tal fim, elegemos quatro grandes temáticas: 1. Fundamentos Epistemológicos do Projeto Nacional de Formação Profissional e dos Projetos Pedagógicos dos cursos de Graduação em Serviço Social; 2. Formação e Prática Pedagógica Docente; 3.Concepção de Currículo e 4. Avaliação da Formação e Prática Profissionais.

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Assim, optamos por uma visão de totalidade e, ao mesmo tempo, trabalhamos com uma visão de síntese e reagrupamento dos discursos.

Essa foi uma fase sem dúvida, trabalhosa, pois exigiu nova leitura dos discursos e a seleção do material verbal, das expressões-chave do discurso que se referiram a cada temática. Outro esforço de análise nesse momento foi à revisão das ideias centrais e sua a realocação para a análise das temáticas.

É importante ressaltar que as expressões-chave, para os autores da metodologia do DSC, são trechos ou transcrições literais selecionados do material verbal de cada depoimento, e que revelam a essência do depoimento dos sujeitos pesquisados, ou, precisamente do conteúdo discursivo dos segmentos em que se divide o depoimento e que melhor descreve o seu conteúdo. É o resgate da literalidade do depoimento.

Tratando da importância do resgate da literalidade do depoimento, Lefevre e Lefevre ensinam que:

Esse resgate é fundamental na medida em que, através dele, o leitor é capaz de comparando um trecho selecionado do depoimento com a integralidade do discurso e com as afirmativas reconstruídas sob a forma de ideias centrais e ancoragens – julgar a pertinência ou não da seleção e da tradução dos depoimentos. Ou seja, as expressões chave são uma espécie de prova discursivo-empírica da verdade das ideias centrais e das ancoragens e vice-versa. (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005b, p. 17).

A ideia central (IC), por sua vez, segundo Lefevre e Lefevre (2005a, p. 17), é a expressão linguística que revela e descreve, de maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada conjunto homogêneo de expressões-chave, configurando-se, pois, numa descrição do sentido de um depoimento e não uma interpretação. Assim sendo, as ideias centrais são fórmulas sintéticas que descrevem, de forma o mais precisa e fidedigna possível, os sentidos dos depoimentos de cada resposta e também os conjuntos de respostas de várias pessoas, que expressam sentido semelhante ou complementar. A ideia central revelou-se na pesquisa como o primeiro tratamento analítico da fala dos atores sociais da pesquisa/os docentes e tornou-se, por sua vez, o primeiro espaço de síntese dos discursos.

Essas ICs podem ser resgatadas através de descrições diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito ou através de descrições indiretas ou mediatas, que revelam o tema de cada depoimento ou obre o que o sujeito enunciador está falando. Nesse último caso, será preciso, após o levantamento do tema, identificar a ou as ICs correspondentes a cada tema. (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005b, p. 17).

Aqui a atenção se voltou para as expressões- chave contidas no material discursivo de cada entrevistado, buscando também a relação com o material verbal dos outros

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entrevistados, à medida que, quando percebíamos que o discurso era semelhante ou convergente, colocávamos a mesma ideia central, possibilitando o momento de análise seguinte com a escolha das ancoragens.

Assim sendo, o terceiro momento do trabalho com os operadores do discurso foi retirar do material discursivo das expressões-chave e ideias centrais, as ancoragens. Tal como os autores da metodologia a descrevem, as ancoragens referem-se a uma “[...] manifestação linguística explicita de uma dada teoria ou ideologia, ou crença que o autor do discurso professa e que, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma situação específica.” (LEFEVRE; LEFEVRE, 2005a, p. 17).

As ancoragens também se caracterizam por serem fórmulas sintéticas que descrevem não os sentidos, mas as ideologias, os valores, as crenças do material verbal das respostas individuais ou agrupadas, sob a forma de afirmações genéricas, destinadas a enquadrar situações particulares. Assume a forma de uma Lei, ou seja, é sempre uma afirmação genérica sob a inspiração da Teoria das Representações Sociais.

A escolha das ancoragens foi um aspecto significativo da análise, que exigiu acuidade nas ideias centrais dos discursos e sua natureza convergente ou divergente. Esse foi um movimento de muitas idas e vindas ao material discursivo, até que chegamos a uma sistematização satisfatória de, em média, cinco ancoragens por quadro discursivo.

Esse momento exigiu-nos ainda, uma visão do que era ancoragem e do que era ideia secundária, elegendo as ancoragens daquilo que é mais representativo e forte no discurso e do que se pode qualificar como categoria emergente dotada de crenças, ideias e significados, algumas vezes convergentes, outras divergentes. Quando houve convergência, foi possível aproximar e juntar vários depoimentos/discursos em uma categoria/ancoragem; quando divergentes, foi necessário compor outra ancoragem significativa das ideias daqueles discursos.

Optamos pela exposição do material discursivo em tabelas discursivas/instrumentais de análise para que fique claro todo o trabalho realizado sobre o material discursivo. No entanto, a exposição de toda essa analise encontra-se em apêndice, para que o leitor fique livre na consulta a este trabalho analítico. A construção do último operador: o DSC proporiamente dito encontra-se no capítulo seguinte da tese.

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5.4 Análise documental: o discurso dos documentos de referência para a formação e