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4.1. CAUSAS DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

4.2.3. Análise dos Mecanismos de Governança Adotados

O segundo objetivo específico da pesquisa busca levantar os mecanismos de governança adotados pelas empresas para lidar com as causas dos custos de transação identificadas. Os mecanismos apontados pela literatura são divididos em dois grupos, mecanismos transacionais e mecanismos relacionais. O primeiro grupo é formado pela existência de contratos formais e completos, pela ocorrência de investimentos específicos, pela determinação de padrões e parâmetros e pelo monitoramento do comportamento e dos resultados. O segundo grupo é formado pela intenção na preservação dos relacionamentos, pela compreensão dos papéis e

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expectativas mútuas, pela resolução harmoniosa dos conflitos, troca abrangente de informações e estabelecimento de atmosfera de confiança e colaboração.

Não há homogeneidade neste grupo de empresas no que se refere aos mecanismos de governança adotados. Duas empresas se destacaram das demais na variedade do uso de mecanismos de governança: os casos E7 e E8. Ambas geram os mais altos volumes de soro, possuem estruturas de concentração de soro, seja própria (E7) ou em parceria com o cliente (E8) e comercializam com exclusividade todo o seu soro para grandes beneficiadores (secadores) de soro. A empresa E8 atribui importância grande a contratos, e os adota nos relacionamentos com clientes do soro e irá adotá- los no relacionamento com fornecedores de soro. Ambas E7 e E8 adotam a definição e imposição de padrões e parâmetros técnicos de qualidade para o soro a ser captado para suas plantas de concentração, repetindo assim o que é adotado de modo geral pelos seus clientes de soro. Estas são as duas empresas que se destacam no uso de mecanismos transacionais ou formais de governança.

Além disso, estas duas empresas também se destacam das demais no uso de mecanismos relacionais associados ao aprofundamento dos relacionamentos. Pode ser verificado que ambas desempenham papéis no atendimento às expectativas mútuas de expansão do volume de soro dentro dos padrões de qualidade exigidos, distribuindo-o de forma pré-concentrada – já que soro fluido tem dificuldades em remunerar os custos de frete.

Tudo indica que há uma relação entre o volume e maturidade do laticínio no que se refere à comercialização do soro e a adoção de mecanismos de governança. Como dito anteriormente, as duas empresas que se destacaram nesses aspectos são aquelas de maior volume de soro gerado e que mantém relacionamentos estáveis com seus clientes de soro. Sendo assim, entendem que os relacionamentos tendem a ter um papel estratégico em seus negócios, especialmente envolvendo algo tão sensível a riscos ambientais como o soro do queijo. Por fim, estes dois laticínios são os únicos a possuírem planta de concentração de soro em suas unidades – no caso de

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E7, a planta já existe há pelo menos dois anos, enquanto E8 está em fase de inauguração da sua planta.

De modo geral, as empresas deste estudo adotam mecanismos de preservação e aprofundamento dos relacionamentos com os produtores rurais fornecedores de leite, em busca de atingir objetivos de garantia de suprimento e padrão mínimo de qualidade. Um dos recursos mais disseminados é o pagamento por qualidade, além da disponibilização de equipe técnica de acompanhamento e orientação ao produtor rural.

No entanto, há poucas iniciativas relativas ao aprofundamento das relações entre os próprios laticínios. A exceção fica por conta de iniciativa recente de criação de uma associação de laticínios da mesorregião do Campo das Vertentes. Tal iniciativa foi elaborada e coordenada pelo SEBRAE-MG e foi considerada por vários respondentes como um movimento bem sucedido no sentido de aprimorar a governança dos relacionamentos entre os laticínios da mesorregião, no que se refere ao soro do queijo. A retirada do apoio concedido à iniciativa por parte do SEBRAE-MG levou ao seu fim como tentativa de formação de uma associação formal de laticínios.

Apesar da associação ter encerrado prematuramente as suas atividades formais, ficaram alguns resultados em termos de projetos conjuntos e, principalmente, expectativas futuras de associação e cooperação conjunta. Pelo que pode ser percebido, a existência breve desta associação ajudou a criar uma atmosfera colaborativa entre os laticínios, uma vez que os relatos mostram que uma certa descrença por parte de alguns no início se transformou em confiança no sucesso da iniciativa após algum tempo. Esta atmosfera cooperativa não existia até ocorrer esta iniciativa do SEBRAE-MG, tornando-se assim um mecanismo de governança com grandes perspectivas de ser mais efetivo no futuro.

No entanto, o padrão atual ainda é de troca escassa de informações entre os laticínios, o que prejudica a criação de laços de cooperação efetivos e o reforço daqueles já existentes.

136 4.3. ARRANJO INSTITUCIONAL

O arranjo institucional do negócio do soro do queijo deve ser descrito a partir da identificação e análise dos elementos das interações sociais que o formam, ou seja, dos relacionamentos estabelecidos (OSTROM, 2005). Tais elementos ajudam a compreender o repertório de regras e estratégias pelas quais os atores envolvidos selecionam diferentes comportamentos, dada a sua compreensão da natureza da situação em torno deste negócio específico (MCGINNIS, 2011b).

Uma parte crucial desse esforço de análise institucional é a identificação da situação da ação e do padrão resultante das interações e resultados (BUSHOUSE, 2011). Tomando como base o argumento de que existe uma rede de situações da ação adjacentes (MCGINNIS, 2001b), foi escolhida para esta análise institucional do negócio do soro do queijo as situações envolvendo a produção e o fornecimento do soro do queijo.