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4.2 Jornal Gota D’Água

4.2.3 Análise dos modos de organização do discurso enunciativo e descritivo

Quanto ao modo enunciativo, verificamos que a modalidade delocutiva aparece na maioria das matérias das edições analisadas. A seguir mostramos alguns exemplos das notícias em que encontramos a delocutividade:

A Copasa esteve presente em acontecimentos esportivos, sociais e culturais no decorrer de maio. (Jornal Gota D’Água, jun. 2008, p. 8).

Como parceira do Estado para promover o desenvolvimento social em Minas, a Copasa esteve presente no lançamento do projeto Vozes do Morro, que beneficia músicos moradores de vilas, favela e aglomerados da capital e cidades vizinhas. (Jornal Gota D’Água, abr. 2008, p. 8).

A Copasa foi a grande vencedora da 14ª Corrida de Pentecostes, realizada em Divinópolis, sede do Distrito do Alto Pará (DTAP). Tendas, pipinha, viseira, copinhos de água e estrutura para a organização do evento foram providenciados pela companhia. (Jornal Gota D’Água, jul. 2008, p. 5). Observamos que embora o enunciador use formas delocutivas na maioria dos textos do jornal interno, aparecem marcas indicando uma descrição de subjetividade, conforme afirmamos no item anterior. No segundo parágrafo citado acima, o emissor usou o adjetivo “parceira” evidenciando um ethos de competência da empresa que tem capacidade para ser parceira do Estado. No terceiro trecho, o enunciador narrou a participação da empresa no campeonato esportivo, mas usou a abertura metafórica “grande vencedora” que coloca a Copasa como uma atleta campeã, por ter dado as condições de realização do evento. Poderíamos dizer que, também neste caso, a metáfora indica um ethos de competência.

Também em um editorial a modalidade delocutiva aparece:

A Copasa investe, cada dia mais, em capacitação para promover a evolução de seus profissionais. (Jornal Gota D’Água, maio 2008, p. 2).

Mas neste trecho observamos outra vez que o enunciador deixa marcas de subjetividade, pois o sintagma adverbial “cada dia mais” parece enfatizar o cuidado da Copasa com seu empregado e isso sugere a intensificação do ethos da responsabilidade social, que tem como base fundadora o imaginário socidiscursivo da valorização do funcionário.

Isso também ocorre nas matérias a seguir:

ACopasainvestenacapacitaçãodesuaequipe,paramelhorar,aindamais, osserviçosprestadosàpopulação.(JornalGotaD’Água,15dez.2008,p.2).

Por meio desta citação vemos que o Se usa a forma delocutiva, mas apresenta suas impressões, como o sintagma adverbial, “ainda mais”, que parece destacar que a Copasa já presta um bom serviço e quer ainda melhorá-lo.

Neste trecho a seguir o Se usa qualificativos para elogiar o empregado e finaliza com a modalidade alocutiva “parabéns”. Percebemos neste caso a estratégia de personificação, em que o enunciador é a própria Copasa. Ela atua como uma pessoa que sente orgulho, qualifica e parabeniza o funcionário, evidenciando que seu corpo de empregados é formado por bons profissionais.

O empregado Alexandre Costa, supervisor de manutenção eletrônica e instrumentação [...] ganhou a Menção de Honra ao Mérito pelo 2º lugar geral na graduação do curso de engenharia eletrônica e de telecomunicações da PUC Minas, de Belo Horizonte [...] A Copasa felicita e reitera o seu orgulho por contar com pessoas batalhadoras e esforçadas no seu quadro de funcionários. Parabéns! (Jornal Gota D’Água, ago. 2008, p. 2).

A forma delocutiva por meio do discurso relatado é muito utilizada no periódico. Na edição do Dia das Crianças o enunciador deu voz ao outro, por meio de declarações dos participantes da festa infantil que elogiaram a Associação dos Empregados da Copasa (Aeco), a promotora do evento em parceria com a empresa.

Figura 38 – Jornal Gota D’Água, nov. 2008, p. 3

A nosso ver, as declarações dos entrevistados pretendem provar o posicionamento do Se de que a Copasa é uma empresa que presta benefícios aos empregados e familiares, uma vez que todos destacam a ajuda da companhia e da Aeco.

A modalidade alocutiva apareceu seis vezes, provavelmente para provocar uma comunicação direta com o leitor, chamando sua atenção para o texto. Na nota sobre a implantação de redes de água e de esgotamento sanitário da Copasa, no período de 2003 a 2008, em que há uma comparação da extensão das redes com o percurso entre cidades brasileiras e estrangeiras, o texto tem como título: Você

Para informar, detalhadamente, sobre febre amarela, o jornal publicou uma notícia de página inteira sob o título: Febre amarela: tire suas dúvidas (Jornal Gota D’Água, fev. 2008, p. 8).

Na mesma edição uma notícia sobre treinamentos relacionados às alterações no Sistema de Gestão Empresarial (SAP), a alocutividade aparece na última frase do lide: É o SAP trazendo melhorias para você! (Jornal Gota D’Água, fev. 2008, p. 7).

No título da notícia sobre um projeto vinculado ao Programa de Atendimento ao Sujeito em relação ao Álcool e às Drogas a modalidade alocutiva faz um convite ao leitor: Você quer parar de fumar? (Jornal Gota D’Água, mar. 2008, p. 8).

Na nota intitulada Voz do empregado, o texto informa sobre o canal de comunicação criado para que o empregado possa se comunicar com a empresa.

O espaço continua aberto para você enviar suas críticas, sugestões, comentários [...] Participe! (Jornal Gota D’Água, maio 2008, p. 2).

Vale ressaltar, neste ponto, que apesar do convite à participação do funcionário, não houve ou não foi veiculada nenhuma contribuição do público leitor nas edições de 2008.

Por fim a modalidade elocutiva, que tem a licença de ser utilizada em house organs, na forma da primeira pessoa do plural, com o efeito de sentido de que “a empresa é o conjunto de trabalhadores”, apareceu em três editoriais:

No último carnaval fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento de nosso colega Roberto Mariani, vítima de acidente automobilístico. (Jornal

Gota D’Água, fev. 2008, p. 2).

Vivemos atualmente, numa economia baseada em conhecimento. Isso significa que qualquer empresa que queira sobreviver no mercado precisará ter uma grande capacidade de inovar. (Jornal Gota D’Água, set. 2008, p. 2).

Esta última edição do Gota D’Água de 2008 é um bom resumo do que foi mais este ano da nossa Copasa e de toda a família Copasiana. (Jornal Gota

D’Água, 15 dez. 2008, p. 2).

Neste último parágrafo verificamos o uso da elocutividade por meio do possessivo “nossa”, que parece querer causar no Sd um sentimento de pertencimento à empresa. Além do pronome, a expressão “família Copasiana” também procura levar ao empregado e familiares a ideia de que a Copasa, mais que

uma empresa, é uma família. Podemos inferir que esse discurso busca um fazer sentir no Sd que a companhia é composta por empregados unidos e que recebem da organização apoio, benefícios, valorização, conforme costuma fazer uma família. A nosso ver esse discurso transmite uma idéia de solidariedade da empresa.

Parece-nos que o uso das modalidades no discurso do Jornal Gota D’Água evidencia que o lingüístico/retórico está a serviço do ideológico, do intencional. Quando o Se utiliza a alocutividade parece propor uma aproximação com o leitor para que ele se sinta parte da empresa e do jornal. Quando lança mão da modalidade elocutiva indica uma intenção da empresa em persuadir, convencer o leitorado a partilhar, comungar dos valores cultivados pela organização, como mostra Morillon (2009), citado no levantamento teórico do capítulo 2.

Também chegamos a conclusões semelhantes ao observarmos o modo de organização descritivo, no trecho da notícia abaixo, intitulada Destaque do mês: dedicação e determinação:

Na Copasa desde 1984, Soter participou de momentos históricos da companhia, sendo pioneiro na implantação, em Montes Claros, do Serviço de Atendimento Integrado (Sati). O supervisor também idealizou o projeto do que viria a ser o primeiro ‘pipinha’, que se tornou um grande sucesso, passando a ser utilizado por toda a companhia em eventos apoiados pela Copasa, com a distribuição de água tratada e bem geladinha. (Jornal Gota

D’Água, jun. 2008, p. 2).

Os procedimentos linguísticos neste trecho foram utilizados pelo Se para nomear, localizar/situar e qualificar o funcionário. O destaque do mês foi identificado pelo sobrenome Soter e pelo cargo de supervisor na empresa. Para localizar-situar, o enunciador destacou a cidade na qual o empregado trabalha e o ano que ele ingressou na Copasa, além da informação de que ele “participou de momentos históricos”. O uso da categoria de qualificação parece construir uma visão subjetiva do Se a respeito do funcionário, quando destaca no título que ele é dedicado e determinado. Esses procedimentos linguísticos aparecem bastante nas notícias analisadas no item anterior, principalmente nas matérias associativas, em que os empregados são sempre identificados pelo nome e sobrenome, pelo cargo na organização, pelo local onde trabalha e pela qualificação do Se, ressaltando atributos como: dedicação,compromisso, pioneirismo, profissionalismo, entre outros.

A qualificação é também mobilizada nas matérias sobre a própria empresa, como vemos a seguir.

A Copasa comprovou mais uma vez que está no caminho certo, sendo referência do setor de saneamento e modelo de gestão de corporação pública. (Jornal Gota D’Água, ago. 2008, p. 5).

Neste trecho identificamos os adjetivos “referência”e “modelo” que qualificam a companhia como uma empresa competente.

A categoria linguística que mais apareceu para referir-se à Copasa foi a denominação. A organização foi identificada em maior número de vezes pelo nome próprio, Copasa, e em seguida pelos nomes comuns referentes ao papel social desempenhado na narrativa: companhia e empresa. A utilização do nome próprio pode ser justificadapelo fato de se tratarde um jornalinstitucional, portantoo nome da “instituição” deve aparecer o máximo possível nos textos. Já a nomeação “companhia” apareceu em maior número do que o sinônimo “empresa” porque se tratadepartedonomedaCopasaMG:CompanhiadeSaneamentodeMinasGerais. Alocalização-situaçãoéoutrocomponentedomodode organizaçãodescritivo usado peloSedoJornalGotaD’Águaparaidentificareexplicitaraempresa.Onome das cidades eregiões mineiras nasquais aCopasa atua, como RibeirãodasNeves, Esmeraldas, Brumadinho, Caxambue Nortede Minas,tambémidentifica eempresa. Isso se justifica na medida em que esses locais compõemas regionais da Copasa. Verificamos, ainda, que o Se usa grande quantidade de siglas de cada setor ou regionaldaempresaparaidentificá-la,conformeosexemplosabaixo.

As obras de ampliação do sistema de abastecimento de água da cidade de Ribeirão das Neves, que envolvem recursos da ordem de R$ 60 milhões, vão beneficiar moradores de vários bairros, entre eles Franciscadriangela, Jardim Colonial, Jardim Verona, Liberdade, Vale das Acácias, Veneza e Santa Cecília (Esmeraldas) (Jornal Gota D’Água, ago. 2008, p. 3).

A Diretoria Financeira e de Relacionamento com o Cliente (DFI) está desenvolvendo um treinamento e capacitação para a Superintendente Adjunta Financeira (SPFI) Andréa Thereza Pádua Faria, selecionada no último concurso gerencial. (Jornal Gota D’Água, set. 2008, p. 3).