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5.3 A EVASÃO-PERMANÊNCIA SOB O OLHAR EXTERNO

5.3.1 O Olhar do Aluno Evadido

5.3.1.2 Análise dos Questionários Alunos Evadidos

Para a realização dessa etapa da pesquisa, considerou-se como população os 82 alunos evadidos no período 2002-2006, conforme Tabela 3 do Capítulo 4. Destes, foi possível localizar o endereço de 74 pelo registro escolar, aos quais foi enviado via correio um questionário (Apêndice F) dentro de um envelope previamente endereçado e selado, sem conter remetente, com a finalidade de manter o anonimato do respondente e facilitar o retorno. Retornaram sem resposta 17 questionários, por problemas de mudança de endereço e/ou por não ter sido procurado pelo destinatário no endereço (localizados no interior).

Passadas duas semanas do envio, manteve-se contato telefônico com aqueles que possuíam registro de número na ficha e/ou tinham sido localizados na lista telefônica pela filiação, com o objetivo confirmar o recebimento do questionário e salientar a importância do retorno do mesmo respondido. No entanto, a maior parte dos números registrados era inválida, conseguindo-se localizar apenas 25 alunos. Desse contato, houve também oportunidade de reenvio de quatro questionários aos alunos que relataram não haver recebido e/ou perdido. A amostra final foi formada por quinze respondentes, o que corresponde a 26,3% dos alunos localizados.

Os questionamentos iniciais têm por finalidade caracterizar os evadidos em relação aos aspectos sexo, idade, local de residência, conclusão do ensino fundamental e regime de estudo. A maioria dos respondentes é do sexo masculino (86,7%), com média de idade de 16 anos, na época da desistência. Em relação ao regime de estudo, 93,3% estudava em regime de internato enquanto apenas 6,7% eram semi- internos, não havendo nenhum externo. Quanto ao local de moradia, 66,7% é da zona urbana e, em relação à conclusão do ensino fundamental, a escola pública responde pela formação de 93,3% dos evadidos respondentes. Esses dados podem ser mais bem visualizados na Figura 14.

Sexo 86,7% 13,3% Masculino Feminino Local de Residência 33,3% 66,7% Rural Urbana Regime de Estudo 93,3% 0,0% 6,7%

Interno Semi-interno Externo

Municipal 26,7% Estadual 66,6% 6,7% 0 1 2 3 4 5 Público Particular

Conclusão do Ensino Fundamental

Importante registrar que a caracterização da amostra composta pelos evadidos respondentes, nos aspectos acima mencionados, coincide ou está muito próxima das características da população de evadidos. Ou seja, do total de evadidos, 89,5% é do sexo masculino, 68,2% é procedentes da zona urbana e 98% concluiu o ensino fundamental em escola pública.

Na seqüência, questionou-se sobre alguns aspectos que pudessem trazer informações relevantes sobre a evasão, dentre eles, conforme Figura 15, o porquê prestou exame de seleção, o grau de informação sobre a estrutura e funcionamento do colégio quando de seu ingresso e em que série ocorreu a desistência, entre outros. No que tange ao motivo pelo qual o respondente prestou exame de seleção a influência dos pais e dos amigos (40,1%) supera a vontade própria (33,3%) e, 60% deles ingressa no colégio com nenhuma ou pouca informação sobre a estrutura e funcionamento do mesmo. A primeira série é a que apresenta o maior índice de evasão (66,7%), conforme já constatado na análise da evasão sob o olhar interno.

6,7% 53,3% 26,7% 13,3% 0 1 2 3 4 5 6 7 8

Nenhum Pouco Médio Muito

Grau de informação sobre a Estrutura e Funcionamento do Colégio 66,7% 26,6% 6,7% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1a. Série 2a. Série 3a. Série

Série em que ocorreu a evasão

Arrependeu-se de evadir? 53,3% 46,7% Sim Não 33,3% 26,7% 6,6% 13,4% 20% 0 1 2 3 4 5 Exame de Seleção

Vontade Própria Influência dos Pais Curiosidade Influência dos amigos Qualidade de ensino

Os 53,3% dos respondentes que se sentiram arrependidos de ter evadido do colégio foram quase unânimes ao mencionar o motivo do arrependimento, ou seja, todos colocam que o “ensino oferecido pelo colégio possibilitaria o ingresso no mercado de trabalho”, salientando ser essa uma boa opção para ser “bem sucedido profissionalmente” e, conseqüentemente, ter uma “relativa melhoria na qualidade de vida”.

Dos respondentes, 60% continua estudando em outro estabelecimento, no entanto, apenas 6,6% dedica-se a um curso técnico, os outros fazem o ensino médio, EJA ou curso superior.

Por considerar importante conhecer qual a atitude do aluno e de sua família quando este decide evadir do colégio, questionou-se se eles haviam conversado com alguém dentro da instituição e qual o posicionamento de sua família diante de sua decisão. Mais da metade dos respondentes (53,3%) saiu do colégio sem conversar com ninguém dentro da instituição sobre o motivo da desistência. Aqueles que falaram com alguém, dificilmente procuraram os setores responsáveis pelo atendimento ao aluno (COE, DPAD e CAE), ou seja, falaram com professores, com a enfermeira do colégio ou com os colegas. Isso justifica a necessidade de todos estarem preparados para atendê-los. Na maior parte dos casos, os pais apresentam resistência à saída dos filhos do colégio, ou seja, são contra (66,7%).

Com o objetivo de detectar quais os principais motivos constituintes da evasão na instituição total de ensino técnico em estudo, foi solicitado ao evadido assinalar três opções dentre as treze apresentadas a ele, e ainda, na opção “outro” acrescentar alguma, se necessário. Na Tabela 14 pode-se observar que a “Infra-estrutura deficitária da instituição” foi o motivo mais evidenciado (24,4%) pelos respondentes. A “Pressão dos veteranos e estagiários (alunos do 2o e 3o ano)“ com um índice de 22% e o “desconhecimento a respeito do funcionamento do colégio”, com índice de 14,6% também foram motivos de desistência segundo os respondentes.

Tabela 14: Motivos da evasão sob o olhar do evadido

Motivos da desistência Freqüência %

Deconhecimento a respeito do funcionamento do colégio 6 14,6

Falta de base para acompanhar o curso 4 9,8

Dificuldade em superar a separação da família 5 12,2

Falta de apdidão para a área agrícola 5 12,2

Infra-estrutura deficitária da instituição 10 24,4

Pressão dos veteranos e estagiários (alunos do 2o e 3o Ano) 9 22,0

Outro 2 4

Total 41 100

,9

Nota: A cada respondente foi solicitado assinalar três opções.

Ao final do questionário, assim como nos anteriores, foi disponibilizado um espaço para que o respondente pudesse manifestar sua opinião e/ou dar sugestões sobre algum aspecto da instituição não abordado nos questionamentos anteriores. Importante salientar que todos os respondentes fizeram algum apontamento, de elogios a críticas, dos quais serão transcritos alguns excertos a guisa de conclusão dessa parte da análise.

“[...] como são alunos menores de idade e de diferentes origens, é indispensável que tenham um maior acompanhamento, principalmente nos momentos de lazer e horas noturnas [...]”.

“[...] na época, percebi que a estrutura da área técnica era precária, faltava material de pesquisa na biblioteca”.

“O Colégio, por ser muito reconhecido, deixa um pouco a desejar em alguns aspectos [...], eu esperava mais do curso técnico e até do ensino médio que o colégio oferece”.

“Foi uma época em que fiz muitos amigos [...]”.

“Parabenizar a qualificação profissional dos professores [...] e salientar a falta de atenção e proteção aos alunos internos no período noturno [...]. Necessidade de melhorar as condições de infra-estrutura física e humana [...]”.

“Melhorar as condições do internato, pois são precárias”.

“[...] a questão do alojamento: armários pequenos, excesso de alunos morando numa mesma peça”.

“Perseguição dos estagiários (3o ano) aos ‘bixos’ (1o ano)”.

“[...] professores qualificados, tanto no ensino médio quanto no técnico”.

“No internato, o aluno aprende a se virar sozinho e valorizar a sua casa e a sua família”.

Na análise dos dados dos questionários aplicados aos alunos evadidos, verifica-se que os objetivos propostos para esse instrumento foram atingidos, ou seja, a validação dos dados obtidos na entrevista e a ampliação do conhecimento sobre a evasão. Ou seja, foi constatado como um dos motivos mais evidenciados para a evasão, na análise das entrevistas, problemas relacionados à infra-estrutura da instituição e, portanto, validado. Ampliou-se o conhecimento sobre a evasão neste estabelecimento de ensino, ao trazer o problema da falta de aptidão para a área agrícola como um importante fator que contribui significativamente para a evasão escolar e que pode ser relacionado ao fato de ser da zona urbana o maior índice de evadidos.

Assim, ao final da análise da evasão-permanência neste estabelecimento de ensino, pode-se constatar que, na percepção dos alunos evadidos:

a) a maioria dos respondentes é do sexo masculino (86,7%), estudava em regime de internato (93,3%), procedentes da zona urbana (66,7%) e, em relação à conclusão do ensino fundamental, a escola pública responde pela formação de 93,3% deles. Durante o período pesquisado, 2002-2006, o maior índice de evasão (66,7%) ocorreu no primeiro ano. E 60% dos respondentes ingressaram no colégio com nenhuma ou pouca informação sobre a estrutura e funcionamento do mesmo;

b) no que tange ao motivo pelo qual o respondente prestou exame de seleção a influência dos pais e dos amigos (40,1%) supera a vontade própria (33,3%); c) os 53,3% dos respondentes que se sentiram arrependidos de ter evadido do

CAFW/UFSM foram quase unânimes ao mencionar o motivo do arrependimento, ou seja, todos colocam que o “ensino oferecido pelo colégio possibilitaria o ingresso no mercado de trabalho”, salientando ser essa uma boa opção para ser “bem sucedido profissionalmente” e, conseqüentemente, ter uma “relativa melhoria na qualidade de vida”;

d) dos respondentes, 60% continuou estudando em outro estabelecimento, no entanto, apenas 6,6% dedica-se a um curso técnico. Isso leva a inferir que a evasão é maior no ensino técnico do que no médio;

e) mais da metade dos respondentes (53,3%) saiu do colégio sem conversar com alguém dentro da instituição sobre o motivo da desistência e aqueles que falaram com alguém, não procuram os setores responsáveis pelo atendimento ao aluno (COE, DPAD e CAE), ou seja, falaram com algum servidor ou com os colegas. Isso justifica a necessidade de todos dentro da instituição estarem preparados para atendê-los;

f) a “Infra-estrutura deficitária do alojamento” foi o motivo mais evidenciado pelos respondentes como a causa de sua evasão. A “Pressão dos veteranos e estagiários (alunos do 2o e 3o ano)“ e o “desconhecimento a respeito do funcionamento do colégio” foram, também, motivos de desistência segundo os respondentes;

g) os veteranos e estagiários têm “poderes” sobre os bixos, isso há muito é instituído no colégio. Nesse sentido, percebe-se a necessidade de forças instituintes, que atuem desde a primeira série, com o objetivo de mudar essas relações de poder, contribuindo, dessa forma, para a melhoria do relacionamento entre os internos;

h) a análise dos questionários ampliou o conhecimento sobre a evasão neste estabelecimento de ensino, ao trazer o problema da falta de aptidão para a área agrícola como um fator que contribui significativamente para a evasão escolar e que pode estar relacionado ao fato de o maior índice de evadidos ser da zona urbana.