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7 AS PRÁTICAS DOS AJ: INVESTIGAÇÃO POR QUESTIONÁRIO

7.3 Análise dos resultados

As respostas ao inquérito sintetizam-se em termos percentuais para o “Sim” e “Não”, com análise para cada uma das perguntas, no Apêndice 3 desta dissertação.

O resultado mais significativo foi a percentagem de respostas obtida, pois cerca de um quarto do universo respondeu, o que foi extremamente positivo para esta análise. Responderam 72 AJ de um conjunto de 280 ativos, ou seja, 25,71%.

Das três medidas identificadas em capítulos anteriores, que os AJ podem usar para se protegerem fiscalmente, constatou-se que praticamente a totalidade (excluindo duas respostas) se preocupa em solicitar sempre ao tribunal que este comunique às finanças a extinção fiscal da empresa. Contudo, menos de metade verifica a posteriori se a conservatória e a AT formalizaram e concretizaram a dissolução e destituição solicitada e ordenada pelo tribunal.

Alguns resultados realçam a necessidade deste estudo, pois muitos dos AJ já enfrentaram a situação fiscalmente mais responsabilizadora, que ocorre quando se encontram sozinhos a gerir uma empresa ainda em atividade, já sem os anteriores gestores na gestão corrente.

Os resultados permitem perceber que a maioria dos AJ tem uma reduzida perceção da importância que a apreensão da contabilidade tem na sua responsabilidade fiscal, durante e depois da fase em que se tenta aprovar um qualquer plano. Esta constatação é complementada com o facto de, depois de os

planos serem reprovados, cerca de um terço dos AJ não confirmarem o cumprimento das obrigações fiscais que são obrigados a fiscalizar ativamente.

Das respostas obtidas também se pode depreender que apenas um terço dos AJ se preocupa em cessar fiscalmente a atividade comercial com a ajuda do CC, acionando o art. 35º do CIVA.

Por fim, percebe-se que, em mais de metade dos processos, os AJ não fazem uma revisão ao caso antes de se arquivarem os processos.

Verifica-se ainda que os AJ não confirmam se o seu nome foi retirado da conservatória e, portanto, formalmente, in juris, libertado das suas responsabilidades fiscais.

7.4 Nota conclusiva

No estudo realizado percebe-se que a atual legislação exige aos AJ uma miríade de pequenas tarefas fiscalmente relevantes, que no seu conjunto formam uma tarefa gigantesca.

Neste contexto legal, constatou-se que, na prática, os AJ realizam algumas das tarefas que mitigam a sua responsabilidade fiscal.

No entanto quase nenhum confirma a posteriori, antes de arquivar um processo, se os requerimentos e as determinações judiciais foram executadas pelas conservatórias e pelos serviços de finanças da AT.

Fica assim em aberto um espaço legal para que os procedimentos automatizados da AJ procedam a reversões contra os AJ, reversões que poderiam ser evitáveis, e que depois de despoletadas levarão anos a esclarecer.

CONCLUSÕES

Cumpre-se agora a necessidade de extrair conclusões da análise realizada ao longo deste trabalho. Este trabalho constituiu um esforço por identificar a generalidade dos pequenos pedaços de legislação que acometem ao AJ responsabilidades fiscais diretas ou indiretas. Estes pequenos pedaços de legislação, quando vistos um a um, são aparentemente inócuos e podem passar despercebidos pela utilização de distintas nomenclaturas e expressões. Mas estas referências, dispersas nos vários códigos e diplomas, quando apreciadas em conjunto mostram a enorme carga de diferentes responsabilidades fiscais que estão acometidas ao AJ. É nossa opinião que, no seu conjunto, exigem- se ao AJ responsabilidades incompatíveis com os poderes e incomportáveis com os recursos colocados à sua disposição pelo legislador.

A responsabilidade fiscal do AJ está claramente delimitada temporalmente entre a declaração inicial de insolvência e o encerramento do processo. Mas, durante o processo, estas responsabilidades alteram-se radicalmente com a declaração de fim da atividade comercial do estabelecimento, sendo que este momento não é presentemente sujeito a registo, com a consequência de tornar impreciso o momento a partir do qual as responsabilidades fiscais plenas do AJ são reduzidas à simples prestação de contas aos credores.

Com a análise realizada, identificaram-se cinco eventos marcantes numa insolvência que alteram a responsabilização ou mesmo a responsabilidade fiscal dos AJ. Mais relevante, é a identificação dos momentos e os atos processuais aos quais o AJ deverá estar atento por forma a evitar ser responsabilizado fiscalmente. Da mesma, sublinha-se o alerta para a necessidade de a declaração de cessação de atividade comercial de uma entidade passar a ser um ato sujeito a registo.

Deste trabalho sobressai a necessidade de o AJ se precaver de forma proativa, pugnando pela clareza das nomeações e decisões que o podem afetar fiscalmente e pelo correto desenrolar dos registos conservadores, requerendo que, atempada e sistematicamente, sejam realizadas todas as correções que se adivinhem necessárias.

• As limitações do estudo

O conteúdo desta dissertação foi afetado pelo facto de ter sido difícil ao autor deste trabalho ter uma conversa desapaixonada com os AJ, para a realização do estudo empírico. De facto, de tão incomodados com os problemas fiscais suscitados pelo exercício da sua profissão, percebe-se alguma dificuldade em realizar uma análise “fria” sobre este tema que tanto os perturba, o que se refletiu, por conseguinte, nas limitações ao inquérito realizado.

• Sugestões para possíveis trabalhos futuros

O estudo da responsabilidade do AI poderá ainda ser aprofundada imposto a imposto, e ou em cada um dos planos de viabilização.

O caso mais interessante a estudar seria o caso previsto no art 31º CIRE no qual a gestão é atribuída ao AJP com imediata suspensão da anterior gestão.