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Início da liquidação – 2º evento

6 RESPONSABILIDADES FISCAIS DO AJ: ANÁLISE DA SEQUÊNCIA DOS CINCO EVENTOS NO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA

6.2 Os cinco eventos ao longo do percurso principal

6.2.2 Início da liquidação – 2º evento

Chegando o processo à Assembleia de Credores, caso o AJ se manifeste no sentido de que será difícil arrecadar para a massa insolvente pelo menos os 5 mil euros, a quantia legalmente necessária para pagar as custas do prosseguimento do processo, [art.39º CIRE] o tribunal deverá ordenar o fim do processo de insolvência nos termos do art. 232º do CIRE. Este é o momento apropriado para o AJ pedir ao tribunal que encerre a atividade pelo art. 65º, nº 3, do CIRE e que simultaneamente ordene o registo da sua sequente destituição na Cons.RC.

Se o processo avançar diretamente para a liquidação do estabelecimento comercial, é de recordar que, neste momento, já há muito a Cons.RC dissolveu a sociedade, tendo já comunicado aos serviços da AT que esta tinha iniciado a sua liquidação e indicado qual o seu novo gestor responsável pela empresa, o AJ. Cabe agora ao tribunal diligenciar no sentido de comunicar à Cons.RC que o processo foi encerrado e referir qual o valor dos bens encontrados, e se assim o entender pode ainda ordenar à AT a extinção fiscal da empresa, e ordenar o registo conservador do encerramento da liquidação. De facto, a AT apenas pode legalmente extinguir uma empresa 120 depois de alguém, reconhecidamente habilitado para tal, certificar a inexistência de mais bens da entidade, nos termos do art. 160º do CSC, através de uma de três formas:

• Os sócios em liquidação administrativa concretizada na Cons.RC; • O liquidatário nomeado pela própria Cons.RC em liquidação oficiosa;

• O Tribunal comunica o resultado das diligências do AJ, no âmbito do processo de insolvência.

120 O art. 160º do CSC determina que apenas após o registo conservador do fim da liquidação (venda) dos bens se

considera a empresa extinta, com os respetivos efeitos fiscais, afetando também indiretamente a dissolução da sociedade caso esta ainda não tenha sido dissolvida por alguma anormalidade.

Assim, apenas depois de a entidade habilitada para tal ter certificado a ausência de bens da empresa, é que o serviço de finanças pode formalizar a extinção fiscal da empresa nos termos dos art.s 35º do CIVA, 112º do CIRS, e 118º, nº 7 do CIRC. Neste caso, terminam aqui as responsabilidades fiscais do AJ, sem efeitos retroativos.

No entanto, caso o processo prossiga sem ser determinada a extinção por insuficiência da massa, regressam as duas situações anteriores e equivalentes descritas no ponto anterior:

• os credores decidam apreciar qualquer tipo de plano de viabilização;

• os credores decidam avançar para a liquidação, sem apreciar mais planos (art. 207º do CIRE). No caso de se manter a administração pelos anteriores devedores, continua a mesma situação prevista no ponto anterior. Resumidamente, mantém-se a obrigação dos gestores pagarem os novos impostos atempadamente, e mantém-se a responsabilidade do AJ em garantir que o CC é pago atempadamente e o dever do AJ fiscalizar que nada mais é pago antes de serem atempadamente pagos os novos impostos referentes a novos factos tributários, impostos estes da inteira responsabilidade da massa. Mas por vezes o processo não segue diretamente para liquidação. De facto, o início da liquidação não significa o encerramento da atividade. Os credores podem aprovar um plano de insolvência121 (distinto da recuperação) que preveja a longo prazo a liquidação, mas que a curto prazo preveja continuar a vender os stocks, consumir a matéria-prima ou terminar obras e contratos delimitando quaisquer indemnizações contratualmente previstas, por forma a maximizar a massa a ratear, ou reduzir os prejuízos dos credores.

Portanto, o art. 65º, nº 3 do CIRE apenas é acionado depois de os credores, além de decidirem avançar para a liquidação da empresa, decidirem também encerrar imediatamente a atividade corrente do estabelecimento. Só neste caso (habitual122) terminam imediatamente as obrigações declarativas e fiscais da entidade insolvente. Mas chama-se a atenção para o facto de se manterem as obrigações tributárias da massa insolvente, como se verá no próximo ponto. Portanto, se os credores decidirem manter a atividade provisoriamente para apreciar um qualquer plano, ou para terminar obras e trabalhos em curso, as responsabilidades declarativas e fiscais do AJ mantêm-se, nos termos do art. 65º, nº 2 do CIRE e 110º do CIRC.

Mas, caso os credores aprovem um plano de insolvência, decidindo manter a empresa em funcionamento durante a sua liquidação, por forma a esgotar stocks e terminar obras e evitar o acionamento de garantias, sem o imediato encerramento da atividade, aumentam as responsabilidades

121 O plano de insolvência destina-se a encerrar o estabelecimento de forma controlada (art. 192º, nº 2 vs nº3, do CIRE). 122 Isto acontece com frequência, mas não é obrigatório que assim seja. O plano de insolvência destina-se precisamente a

do AJ 123, e as obrigações dos anteriores gestores terminam com a aprovação desse plano com vista à liquidação ordeira do estabelecimento.

Desta forma os anteriores gestores podem mesmo pedir a demissão assim que entregarem as contas até esta data, o IVA e o IRC reportados ao período entre as últimas contas “normais”. Este encerramento intermédio reporta-se à data em que os credores, reunidos na sua assembleia, decidem avançar para a liquidação.

É de enfatizar que a partir de agora o AJ está sozinho na administração da entidade insolvente, ainda que podendo ser assessorado por quem quiser, mas com a responsabilidade plena e pessoal pela sua gestão. É, assim, nesta situação, o responsável máximo e único pela fiscalidade da empresa enquanto o estabelecimento continuar em atividade comercial corrente, até à formalização da devida e necessária comunicação da cessação da atividade corrente.

Cabe salientar que os credores podem deliberar implementar um plano de insolvência124, mantendo o AJ em gestão corrente contra a sua vontade, fixando assim as potenciais responsabilidades fiscais do AJ. Mas também é de referir que o magistério da administração de insolvências é voluntário, pelo que se o AJ não concordar com o rumo das soberanas decisões dos credores, não se pode opor, mas tem fundamento para pedir a sua renúncia ao mandato.

Os credores na sua assembleia podem sempre encontrar alguém que aceite o mandato de implementar o plano de insolvência que os credores votaram, ou podem modificar os termos do mandato. Não podem é decidir sobre as implícitas implicações fiscais dos seus planos de insolvência, pois estão sempre limitados pelo art. 30º, nº 3 da LGT, que refere explicitamente os planos do CIRE.

Terminada esta fase de implementação do plano de insolvência, deve o AJ proceder ao encerramento da atividade comercial corrente e inicia-se então a segunda fase da liquidação do ativo não corrente (equipamentos, edifícios, etc.) e restantes ativos não afetos à exploração. .

No entanto, subsistem outros problemas potenciais que extravasam o delimitado âmbito desta dissertação. De facto, agora pode emergir da contabilidade um enorme imposto em sede de IRC, nos termos do art. 19º do CIRC, nos casos raros de empresas que se mantêm a trabalhar até acabar as obras plurianuais em curso (Pinto J. A., 2004, p. 17).

No entanto, este imposto (IRC) pode ser mitigado quando se deixa de avaliar os ativos segundo o princípio contabilístico da continuidade, como defende o ROC Pedro Carvalho(2013, p. 20). O

123 Esta situação é ainda rara, mas cada vez mais comum, pois é a solução determinada no art. 1º, nº 1 do CIRE.

124 Não se refere ao plano de recuperação do art. 192º, nº 3 do CIRE mas sim ao plano de insolvência dos art.s 1º, nº1, e

princípio da continuidade deixa de se aplicar a partir do momento que se antecipa a possibilidade de uma insolvência (Silva, 2015, p. 17)125.