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A agricultura constitui-se em uma das atividades econômicas mais complexas e sujeita a aleatoriedade dos vários fenômenos climáticos e biológicos e ao grande número de variáveis envolvidas na comercialização do produto e lucro do agricultor, fazendo com que as decisões quase sempre sejam tomadas, sem que se conheçam, com exatidão, suas implicações e conseqüências (Pastore5 citado por Rodrigues, 1987).

Segundo Hiessl & Plate6 citado por Peiter (1998), a variabilidade final da

produção agrícola é causada, principalmente, devido ao suprimento limitado de água, suprimento distribuído desfavoravelmente ao longo da estação de crescimento e distribuição temporal e quantitativa do suprimento hídrico com alta variabilidade estocástica de ano para ano (Saunders et al., 1997).

Por isso, no caso específico da cultura do feijão, Fancelli & Dourado Neto (1997) recomendam o desenvolvimento de estratégias de manejo com enfoque sistêmico, bem 5 PASTORE, J. Decisões em condições de incerteza na agricultura. São Paulo, Fac. Economia e

Administração da USP, 1974. 27 p (Trabalho para discussão, 9).

6 HIESSL, H.; PLATE, E. J. A heuristic closed-Ioop controller for water dístribution in complex irrigation systems. Water Resources Research, v. 26, n. 7, p. 1323-1333, 1990.

como o emprego de sistemas de produção que visem o máximo rendimento econômico da cultura, como forma de tornar a oferta do __produto mais estável em seu cenário comercial.

Em termos de planejamento, diz-se que existe risco quando há a possibilidade de que ocorram variações no retorno associado a uma determinada alternativa de decisão. Em outras palavras, o risco é a variabilidade dos futuros retornos de um investimento. O nível de risco que um a..,gricultor pode estar sujeito de_pende muito do valor econômico da cultura explorada (Marchetti, 1995) e de seu grau de aversão a riscos (Arruda, 1982). Segundo Grassi7 citado por Franke (1996), para a agricultura irrigada, na qual se realizam investimentos consideráveis, deve-se utilizar nas análises econômicas um nível de risco de 80 % de _probabilidade.

O risco é parte integrante do processo de tomada de decisão e é impossível eliminá-lo, porque não se pode coletar todas as informações relevantes necessárias (Arruda, 1982) ou porque não é possível prever o futuro. A incorporação do risco no processo de tomada de decisão pode ser realizado quando são conhecidos os possíveis estados futuros de uma certa variável e suas respectivas probabilidades de ocorrência (Dias, 1996; Frizzone & Silveira, 2000).

Segundo Pizysieznig Filho (1992) e Franke (1996), o risco econômico da atividade �rícola _pode ser decom__posto em duas componentes: variabilidade de produção e variabilidade de preços. A irrigação, quando manejada de forma racional e adequada, �arante níveis de produção sem flutuações si_gnificativas, independentemente das condições climáticas do período, contribuindo para a redução dos riscos do investimento para a produção a_gricola (Franke, 1996; Peiter, 1998). Com relação aos riscos de preços, a redução da sazonalidade causada pela irrigação é uma grande contribuição para a estabilidade de preços. Entretanto, varia em função da água disponível, dos coeficientes insumo - produto e da quantidade de água necessária por unidade de produto, constituindo-se em um componente decisivo na determinação do ponto ótimo econômico (Arruda, 1982; Saunders et al., 1997).

GRASSL C. J. Estimacion de los usos consuntivos de água y requerimientos de ri.ego con fins de formulacion y diseno de proyectos. Merida: CIDIAT, 1968. 96p.

Contudo, a implantação de um sistema de irrigação introduz riscos econômicos ao empreendimento, em função dos incrementos nos custos fixos e variáveis da produção. Por isso, a produção agrícola, sob condições irrigadas, necessita de um manejo intensivo, com o intuito de evitar que a receita do irrigante seja superada pelos

custos de implantação e manutenção do sistema de irrigação (Peiter, 1998).

Segundo Dourado Neto & Fancelli (1999), a irrigação, normalmente, é viável economicamente quando o fator limitante é água e/ou preço de venda favorável, uma vez que viabiliza a minimização de risco e estabilidade de rendimento. Quando a água é fator limitante, sugerem que a análise econômica seja realizada levando-se em consideração, principalmente, a evapotranspiração, a precipitação pluviométrica ( altura, intensidade, distribuição e probabilidade de ocorrência), rendimento almejado e capacidade de água disponível na profundidade efetiva do sistema radicular. No caso de preço de venda ser favorável, deve-se considerar a época de máxima probabilidade de pico de preço, com base em uma série histórica de preços dos últimos anos.

O objetivo da análise econômica é verificar se os beneficios resultantes de um projeto justificam os investimentos. Segundo Marchetti ( 1995), a avaliação de investimentos produtivos pode ser efetuada sob duas abordagens: a determinística e a probabilística. A abordagem determinística baseia-se em informações tidas como certas, originando um único valor para as medidas de decisão, não incluindo a estimativa quantitativa do risco. Por outro lado, a abordagem probabilística quantifica o risco do investimento através de uma distribuição de probabilidade das medidas de mérito.

Existem diversos métodos para a avaliação dos méritos de diferentes projetos, dentre eles destaca-se a relação beneficio/custo (B/C). Por este critério, a viabilidade econômica é verificada confrontando-se os benefícios versus os custos do projeto, podendo ser empregado em qualquer análise econômica e intervalo de tempo. Diz-se que uma alternativa é viável, se os benefícios são maiores que os custos, resultando em uma relação B/C igual ou maior que a unidade. Caso os custos sejam maiores que os beneficios, a relação B/C será inferior a unidade, sendo que a alternativa não apresenta viabilidade econômica (Dorfman et ai., 1988; Frizzone & Silveira, 2000).

Para que um irrigante max1m1ze seus benefícios, minimize seus custos ou maximize sua _produção algum método de _programação de irri_gação é necessário. Entretanto, muitas pesquisas ainda são necessárias para melhorar as tomadas de decisão de quanto e quando irri_gar, a fim de incrementar a eficiência do uso de á_gua e reduzir os custos (Peiter, 1998).

Neste contexto, com o intuito de aumentar a eficiência do uso de água da cultura do feijão Phaseolus irri_gado por _pivô central, Saad et al. (1998) su_gerem a estraté_gia de adotar a irrigação com déficit hídrico em determinados estádios fenológicos da cultura. Concluíram gue o déficit de irri_gação somente é recomendado _para a fase de maturação, desde que o preço do quilo do feijão pago ao produtor seja igual ou inferior a R$ 0,46 e o custo unitário da ii:gua de irr�ação seja i_gual ou superior a R$ 75,00 para cada 1.000 m3 aplicado.

Calheiros et ai. (1996) analisaram as relações entre produção do feijão Phaseolus, lâmina total de á_gua e _preço do _produto com os aspectos econômicos da irri_gação com déficit dessa cultura. Observaram que a irrigação com déficit proporcionou produção e rendas líquidas economicamente satisfatórias, constituindo-se em im_portante estraté...gia no planejamento da irrigação em situações em que a água é fator limitante. Constataram que o preço do _produto foi o fator mais im_portante na definição dessa estraté...gia ótima.

Os aspectos teóricos relativos à incorporação de riscos em modelos de tomada de decisão encontram-se bem a_presentados e discutidos na literatura (Cruz, 1984; Berbel.,

1993; Marchetti, 1995; Bigman, 1996; Dias, 1996). Neste particular, destacam-se os modelos Motad (Hazell, 1971; Andersen et al., 1977; Tauer, 1983; Berbel, 1988; Berbel, 1993 ), os quais são mais indicados para a análise econômica sob condição de risco em situações es_pecíficas, como por exemplo, para o planejamento de _pro_priedades ou otimização de perímetros irrigados (Millan, 1992; Millan & Berbel, 1994; Dias, 1996), dada uma determinada disponibilidade específica de recursos relativos ao _processo produtivo, tais como água, terra, mão-de-obra, dentre outros.

Tendo em vista um contexto mais abrangente da análise econômica do sistema agrícola irrigado, encontrou-se na literatura inúmeros trabalhos com o objetivo de verificar a viabilidade econômica da irri_gação, sob condição de risco, de culturas tais

como: o milho (Apland et al., 1980; Boggess & Ritchie, 1988; Martin et al., 1996; Franke & Dorfman, 1998; Peiter, 1998), o trigo (Saunders et al., 1997), o algodão (Dudley & Hearn, 1993), a soja (Franke, 1996) e o feijão Phaseolus (Faria et ai., I 997) ou de várias culturas conjuntamente em perímetros irrigados (Bernardo et al., 1988; Biserra, 1994). Nestes trabalhos, a estimativa da produtividade das culturas foi efetuada utilizando-se modelos de simulação de crescimento e produção (Apland et al., 1980; Bernardo et al., 1988; Boggess & Ritchie, 1988; Dudley & Hearn, 1993; Martin et al., 1996; Faria et al., 1997; Peiter, 1998) e/ou através do cálculo do déficit de evapotranspiração pelo balanço de água no solo (Pandey, 1991; Mannocchi & Mecarelli, 1994; Martin et ai., 1996; Franke, 1996; Franke & Dorfman, 1998).

Entretanto, raros são os trabalhos com o intuito de verificar a viabilidade econômica da irrigação desenvolvidos nas condições edafoclimáticas dos locais de interesse para esse estudo. Destacam-se, apenas, os trabalhos de Mattoso & Silva (1989), Cardoso et al. (I 995) e Bastos ( 1999), os quais procederam a avaliação agroeconômica da produção de milho e feijão caupi nas condições de solo e clima de Parnaíba e Teresina, Piauí.

Com relação à cultura da melancia, Andrade Júnior et ai. ( 1998c) conduziram estudo de viabilidade econômica nas condições edafoclimáticas do Litoral Piauiense. Determinaram as estratégias ótimas de irrigação com déficit, considerando diferentes combinações de valores para o preço do produto e custos da energia elétrica. Concluíram que, independentemente do custo de energia elétrica, a utilização de irrigação com déficit foi vantajosa no intervalo de variação de preços do produto de R$ 0,15 kg-1 a R$ 0,40 kg-1. Em condições de preço do produto fora dessa faixa, a cultura deve ser irrigada com uma lâmina total de 3 56 mm, a qual proporciona a máxima produção de frutos.

Contudo, tanto no caso do feijão caupi como da melancia, as análises realizadas não levaram em consideração o risco climático e econômico envolvido no processo produtivo dessas culturas, ou seja, essas análises foram puramente deterministas. Além disso, não contemplaram possíveis combinações entre épocas de semeadura e níveis de manejo de irrigação, que constituam-se em estratégias econômicas alternativas para os produtores.

3.1 Local do estudo

O estudo foi realizado para as condições edafoclimáticas das microrregiões do Litoral Piauiense e de Teresina, situadas na mesorre_gião do Norte e Centro-Norte do Estado do Piauí, respectivamente (Figura 1).

O clima det,sas microrre_giões é influenciado pelos fatores climáticos relativos às massas de ar associados aos fatores geográficos como latitude, relevo e natureza do solo, os quais definem as condições de precipitação pluviométrica, evapotranspiração, temperatura e balanço hídrico (Figura 2). As partes mais baixas, situadas próximas ao Rio Parnaíba e litoral norte estão sujeitas às influências das Massas Equatorial Continental e Equatorial Atlântica Norte. O regime de precipitação pluviométrica é o Equatorial Marítimo, com trimestre mais chuvoso em fevereiro - março - abril e valores médios de precipitação pluviométrica anual variando de 1.000 mm a 1.600 mm. Quanto a temperatura do ar, os maiores valores médios mensais (27 ºC) ocorrem no período de julho a novembro, devido ao aumento da radiação ocasionado pela redução de

nebulosidade (Empresa Brasileira de Pesquisa A_gropecuária - Embrapa, 1989).

A classe de solo predominante na microrregião do Litoral Pia�iense é a Areia Quartzosa, que caracteriza-se por solos ·profundos, arenosos, bem drenados, não pedregosos, quimicamente pobres e ácidos. Ocorre em áreas de relevo plano ou suavemente ondulado (Nogueira & Nogueira., 1993). Ocupa a maior área (9,2 milhões de hectares), correspondendo a 36 % da superficie do Estado, dos quais 20 % mostram aptidão agrícola regular, desde que utilizados capital e tecnologia (Embrapa, 1989).

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Na microrregião de Teresina ocorre, com mais freqüência, a classe Latossolo Vermelho-Amarelo, _geralmente em associação com Areia Quartzosa. Caracteriza-se por solos de textura média, profundos e de baixa fertilidade natural (Embrapa, 1980). Esta classe de solo ocupa uma vasta superficie do Estado, compreendendo a 35 % dos seus solos. Dessa área total, cerca de 77 % prestam-se para algum tipo de utilização agrícola, predominado aquelas que exigem a aplicação de ca_pital e tecnologia (Embrapa, 1989).