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Outra font� de variabilidade muito importante nos estudos de viabilidade econômica de culturas irrigadas diz respeito aos preços dos produtos agrícolas e do custo da água de irrigação, os quais oscilam bastante no cenário agrícola brasileiro.

Em função do estágio atual de gestão dos recursos hídricos no Piauí e no País como um todo, o custo da água de irrigação pode ser considerado zero. Entretanto, para fins de análise econômica das culturas sob regime irrigado, este foi considerado igual ao custo da energia elétrica consumida pelas eletrobombas na sucção e recalque da água nos sistemas de irrigação pressurizados. Dependendo da região, constatou-se que este componente representa até 60 % dos custos variáveis de produção das culturas irrigadas. Segundo Frank.e (1996), a estimativa do custo de energia elétrica pode ser efetuada pela equação (72):

Sendo que, segundo adaptação de Frizzone (1999): em que: 10- Iijklp -Hm · Ya Ebijklp = 6 3,6-10 ·ri Hm·Q•y Dp= a 1000· A·rt (73) (74) CEijklp - custo de energia elétrica na cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k, com manejo de irrigação 1 e probabilidade de ocorrência p, US$ ha·1 (p = 95 %, 90 %, ... , 60 % );

Ebijklp - energia requerida pela unidade de bombeamento na cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k, com manejo de irrigação 1 e probabilidade de ocorrência p, kWh ha·1;

Tckp - tarifa média mensal de consumo de energia elétrica referente ao período coberto pela época de semeadura k e com probabilidade de ocorrência p, US$ kWh-1;

Dp - demanda de potência da unidade de bombeamento, kWh ha·1;

T dkp - tarifa média mensal de demanda de potência referente ao período coberto pela época de semeadura k e com probabilidade de ocorrência p, US$ kWh-1;

y - coeficiente aplicado à demanda faturável = 0,1 da maior demanda verificada por medição nos últimos 11 meses;

x - número de meses que o sistema opera pelo menos uma vez ( suficiente para o medidor re$istrar 100 % da potência instalada);

Iijklp - lâmina bruta de irrigação suplementar ou total na cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k, com manejo de irrigação l e probabilidade de ocorrência p, mm;

Hm - altura manométrica total (60 m); Ya - densidade da água (9806,65 N m"3);

Q - vazão do sistema de irrigação (0,01 m3 s-1); A - área irrigada pelo equipamento (6 ha).

Contudo, cerca de 99,5 % das propriedades rurais piauienses enquadram-se na classe rural de consumo de energia elétrica, sobre a qual incide apenas a tarifa de consumo denominada B2, que independe da potência elétrica instalada na propriedade. Sobre esses produtores não incide a cobrança da tarifa de demanda, bem como não aplicam-se as tarifas horo-sazonais. Por isso, o consumo de energia elétrica foi quantificado pela equação (75), que representa uma simplificação da equação (72):

CEijklp = Ebijklp · T Ckp (75)

Para a estimativa do custo de energia elétrica, os preços mensais da tarifa de consumo foram obtidos na Companhia Enei:gética do Piauí (CEPISA), contemplando um período de dez anos de registros (1990-1999), e representam os valores cobrados sem os subsídios assegurados pela Lei Estadual de Incentivo à Irrigação (Lei nº 4.542, de

28/12/1992, posteriormente alterada pela Lei nº 4.995, de 30/12/1997), devido à

dificuldade de sua implementação nesse estudo,já que os subsídios concedidos variam conforme a dimensão da área irrigada. Quanto a estimativa da energia requerida pela unidade de bombeamento, considerou-se uma situação hipotética de um projeto de sistema de irrigação representativa das condições edafoclimáticas das microrregiões do Litoral Piauiense e de Teresina.

Nesse caso, foram obtidos os valores mais comuns de altura manométrica total e de vazão, normalmente, verificados nos projetos de sistemas de irrigação por asper_são convencional dimensionados para essas duas microrregiões, os quais foram conseguidos junto a empresas privadas de elaboração de projetos.

Os preços mensais de venda do feijão caupi e melancia foram coletados junto às Centrais de Abastecimento do Estado do Piauí (CEASA-PI), contemplando o período referente aos últimos seis anos de registros (1994-1999) e representando os preços de venda praticados no atacado. Para �arantir uma margem maior de segurança nas análises

econômicas, considerou-se que preços pagos ao produtor egüivalem a apenas 50 % do preço de venda dos produtos no atacado. Os preços das tarifas de energia elétrica e de venda dos produtos foram convertidos em dólar, utilizando-se a cotação do câmbio comercial médio mensal na época de sua ocorrência.

Para a inclusão do risco econômico na análise de viabilidade econômica da irrigação, os preços mensais da tarifa de consumo e de venda do feijão caupi e melancia foram ajustados à função de distribuição de probabilidades triangular, conforme comumente utilizada em estudos econômicos (Brunelli, 1990; Biserra, 1994).

Processou-se mensalmente as estimativas dos preços da tarifa de energia elétrica e de venda dos produtos utilizando-se a inversa da função de distribuição de probabilidade triangular (equações 51, 52 e 53), apresentadas pelas equações (76), (77) e (78), respectivamente.

em que:

p * = �(m _-_a-'-)

(b-a)

P - nível de probabilidade de ocorrência limite Pi= a+.JP(b-aXm-a) quando

quando em que:

P - probabilidade de ocorrência desejada, decimal;

(76)

*

P<P (77)

*

P>P (78)

Pi - preço mensal de venda da cultura i (US$ kg-1) ou o preço mensal da tarifa de

*

consumo de energia elétrica (US$ kWh-1), conforme o caso. Quando P = P , o valor de Para a simulação desses preços foram fornecidos os parâmetros da distribuição (valor máximo, valor mínimo e moda) e o nível de probabilidade de ocorrência desejado

(95, 90, 85, 80, 75, 70, 65 e 60 %). Quando não foi possível a determinação da moda, efetuou-se as simulações usando-se a média.

Previamente, utilizou-se o teste de aderência de Kolmogorov-Smirnov para verificar o ajuste desses dados à função de distribuição de probabilidades triangular.

Considerou-se na análise os preços mensais de venda praticados por ocasião da colheita do feijão caupi e melancia, pois foram simuladas diferentes épocas de semeadura ao longo do ano. Na estimativa do custo da energia elétrica com irrigação, quando necessário, simulou-se ao lon_go do ciclo, o preço médio mensal da tarifa de consumo no período coberto pelas diversas épocas de semeadura.

3.9 Análise econômica sob condição de risco

Para a análise da viabilidade econômica das culturas de feijão caupi e melancia sob irrigação, considerou-se o risco climático e econômico. Estes riscos foram incluídos em função das estimativas probabilísticas dos valores de lâmina bruta de irrigação (suplementar ou total)_, produtividade real da cultura, preço de venda dos produtos e custo da energia elétrica.

Com as estimativas de produtividade real, obtidas durante o período chuvoso sem o uso de irrigação, e do preço de venda dos produtos, estimou-se a rentabilidade econômica das culturas sob condição de sequeiro, de forma a constatar-se a viabilidade econômica da irrigação suplementar dessas culturas. No caso de ser viável, definiu-se ainda o nível de manejo de irrigação suplementar mais econômico em função da época de semeadura adotada nas duas microrre_giões.

Neste estudo, os níveis de riscos analisados (5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 %) constituíram o complemento percentual para se atingir uma condição de certeza (100 %) em relação aos valores de probabilidade de ocorrência (95, 90, 85, 80, 75, 70, 65 e 60 %) utilizados na estimativa das variáveis acima citadas. Para tanto, utilizou-se a inversa das funções de distribuição de probabilidade normal e triangular (Frizzone & Silveira, 2000).

Tendo em vista as diferentes combinações entre culturas, microrre_giões, épocas de semeadura e nível de manejo de irrigação associados a uma determinada probabilidade ou nível de risco, os possíveis valores de receita líquida foram quantificados através da seguinte equação adaptada de Frank.e (1996):

sendo que:

em que:

RLijklr = RBijklr -CFj -CEijklr -CAE RL··kr -RB··kr -CE lj - IJ l

RBijklr = Y lijklr · Pir RBijkr = Y lijkr · ?ir CAE = C·J J= j(l +

jf

(1 +

jf

-1 ( com irrigação) (79) ( sem irrigação) (80) ( com irrigação) (81) (sem irrigação) (82) (83) (84) RLijklr - receita líquida auferida pela cultura i, na microrregião j, na época de

semeadura k, com manejo de irrigação 1 e nível de risco r, US$ ha-1 (r = 5 %, 10 %, ... , 40¾t

RLijkr - receita líquida auferida pela cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k e com nível de risco r, US$ ha-1;

RBijklr - receita bruta auferida pela cultura i, na microrregião j, na época de

semeadura k, com manejo de irrigação 1 e nível de risco r, US$ ha-1;

RBijkr - receita bruta auferida pela cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k e com nível de risco r, US$ ha-1;

Pir -preço mensal de venda da cultura i com o nível de risco r (US$ kg-1}; CFí - custo de formação da lavoura para a cultura i, US$ ha-1;

CEijklr - custo de energia elétrica na cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k, com manejo de irrigação l e nível de risco r, US$ ha-1;

Y rijklr - produtividade real da cultura i, na microrregião j, na época de semeadura

k, com manejo de irrigação l e nível de risco r, kg ha-1;

Y rijkr - produtividade real da cultura i, na microrregião j, na época de semeadura k e com nível de risco r, kg ha-1;

CAE- custo anual de amortização do equipamento, US$ ha-1; C - valor de aquisição do equipamento (2230,0 US$ ha-1);

J - fator de recuperação de capital, adimensional; j - taxa anual de juros, decimal (0,12);

n - período ou número de anos do empréstimo ( 1 O anos);

Os custos de produção11 ou de formação da lavoura das culturas de feijão caupi e

melancia, sem considerar os custos da aplicação da lâmina de irrigação, foram de US$ 322,91 ha-1 (Cardoso et al., 1995) e US$ 672,43 ha-1 (Andrade Júnior et al., 1998c), respectivamente. Estes custos foram obtidos em condições normais de cultivo nas duas microrregiões e empre_gando-se as cultivares, densidade de plantio, correção e adubação do solo, controle fitossanitário e demais tratos culturais recomendados por trabalhos de pesqmsa locais (Cardoso et al., 1991; Cardoso et al., 1995; Andrade Júnior et al., 1998d).

Não considerou-se os custos de mão-de-obra, comercialização, conservação, reparos e manutenção, pois estes _geralmente apresentam pequena participação no custo total da lavoura irrigada. No caso da cultura do milho irrigado por aspersão com pivô central, considerando-se todas as combinações entre épocas de semeadura, nível de manejo da irrigação e nível de risco avaliadas, representaram apenas de 2,5 a 3,5 %, 5,5 a 8,8 % e 0,5 a O, 7 % do custo total da lavoura irrigada, respectivamente (Frank.e, 1996).