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CAPÍTULO III -APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.5 Apresentação e análise das entrevistas com as professoras

3.5.3 Análise da entrevista da “Professora C”

Ao ser indagada sobre suas propostas pedagógicas embasadas no Modelo Cognitivo- Interacionista, a “Professora C” assegurou que ocorreram avanços em relação ao mundo percebido, consigo mesma e com o outro, assim como em relação à sensibilidade nas ações pedagógicas, ao relatar que “foram diferentes momentos para balizar a relação pessoal com o entorno, com os outros e comigo mesma”.

A “Professora C” trabalha, especificamente, com a linguagem musical e destacou que em suas aulas “mesmo tendo o elemento sensibilidade e percepção muito dentro da linguagem musical, colocando a ‘lente’ da referida teoria, proporcionou um refinamento nessa verificação”. E, ainda destacou que a “mudança de lente” a fez repensar o cotidiano das práticas utilizadas em cada atividade.

A afirmação da “Professora C”, evidenciou que as suas ações foram enriquecidas quando teve acesso ao MCI ao afirmar que houve um refinamento, um aguçar de sensibilidade

e percepção de forma diferenciada. A professora ainda relatou que “foi possível trazer elementos artísticos vividos de maneira mais contextualizada, retomando situações que necessitavam de uma leveza e sensibilidade maior... estamos eu e o outro em um diálogo mais profundo”.

A análise dos dados evidenciou a percepção da “Professora C” em relação às necessidades das crianças em aprender de forma contextualizada, reiterando as palavras de Martins, Picosque e Guerra (Cf. 2010) quando explicam que conhecer e compreender a música como uma produção cultural supõe também a criação de contextos significativos para a conversa sobre os conceitos e a história da linguagem musical, nas diferentes culturas, no decorrer do tempo, bem como dar atenção especial aos seus produtores, seja o compositor, o intérprete – o instrumentista ou o cantor – o maestro, entre outros, muitos deles habitantes do universo da criança.

Quanto à importância dos movimentos corporais, aguçar da percepção, valorização dos sentidos, propriocepção, gestos, no processo de ensino e aprendizagem, “Professora C” relatou que em suas aulas de música:

Os elementos de trabalho da linguagem musical partem do uso da matéria- prima som e silêncio. [ ] o movimento, maior ou menor; o olhar, penetrante ou relaxado; o sorriso, largo ou contido; o uso dos diferentes músculos do corpo, proporcionam para as crianças uma relação não apenas de tranquilidade, de pertencimento, mas também de um aprendizado musical que será reconhecido não apenas naquele momento, mas será identificado e perceptível em outros momentos e em diferentes gêneros musicais. (PROFESSORA C)

As informações dos excertos de dados da entrevista evidenciaram que a “Professora C” desenvolveu as propostas pedagógicas com uma percepção mais aflorada em relação à criança e sua aprendizagem. A mudança de lente, mencionada, a fez aproximar-se das crianças, respeitar o seu tempo de aprendizagem e, segundo ela, seu “olhar está mais singular e direcionado para um entendimento maior em conhecer, entender, compreender os próprios limites, dando mais profundidade com o que se faz tendo uma seleção mais balizada”.

Nesse sentido, reiterando o enfatizado por (SCHAFER, 2011) quando afirmou que o professor precisa permanecer uma criança grande, sensível, vulnerável e aberto a mudanças, e que a melhor atitude a se tomar seria colocar na cabeça dos alunos a centelha de um tema que faça crescer, mesmo que esse crescimento tome formas imprevisíveis, possibilitando pela sua prática pedagógica que a descoberta entusiástica da música preceda a habilidade de tocar um instrumento ou de ler notas, sabendo que o tempo adequado para introduzir essas habilidades é aquele em que as crianças pedem por elas.

A professora também discorreu sobre tal atitude em sua ação pedagógica pela sensibilidade demonstrada ao relatar que:

[...] os elementos de trabalho da linguagem musical partem do uso da matéria- prima som e silêncio. Também, a música é uma linguagem artística que só existe, só consegue ser sentida, por meio de um executor (instrumentista ou cantor). Enquanto na partitura, ela é uma vida em silêncio, uma história para ser contada, um papel escrito que nem todos conseguem ler, e, conseguindo, todos os sentimentos ali postos, precisam ser conversados e não ditos. (PROFESSORA C)

Ao ser indagada se suas propostas pedagógicas musicais possibilitaram à criança aprender brincando e percebendo a “Professora C” assegurou que houve avanços na aprendizagem de seus alunos, relatando que eles aprenderam fazendo, destacando em sua fala que: “Se aprende a cantar cantando, se aprende a tocar tocando, se aprende a falar falando, se aprende a interpretar percebendo, ouvindo a si e ao outro”.

Quanto às considerações aos movimentos corporais e exploração dos sentidos nas aulas de música a “Professora C” constatou que: “A Música leva ao movimento! E, dependendo da atividade desenvolvida, a música cantada, todos os sentidos são explorados de forma lúdica, pulante e cantante”.

A análise dos dados evidenciou o enfatizado por Schafer (Cf. 2011) quando salientou que a música pode também correr, saltar, claudicar, balançar. Pode ser sincronizada com bolas que pulam, com ondas do mar, com galopes de cavalos e com centenas de outros ritmos cíclicos ou regenerativos, tanto da natureza quanto do corpo.

Quanto às artes e suas linguagens como eixo integrador do currículo e suas possibilidades de aprender brincando e interagindo “Professora C” assegurou que foram significativos, pois:

[...] as linguagens artísticas “carregam” em si estruturas de aprendizagem e entendimento que coadunam com o aprender de maneira participativa, de interação, criação de regras, movimento. Esse tipo de abordagem diferencia das estruturas comumente apresentadas em outros modelos de aprendizagem e instrumentos educativos imprescindíveis para a aprendizagem infantil.

A “Professora C” revelou que as artes e suas linguagens como eixo integrador do currículo proporcionaram avanços com relação ao processo de alfabetização e letramento das crianças destacando, nesse sentido, a importância do trato vocal em seu relato:

A abordagem pela linguagem da música trabalha colocação correta da voz falada e cantada, propiciando a verificação poética e sonora dos textos e sons que se ouvem, desenvolvendo a acuidade auditiva encaminhando para uma

escuta mais acurada, perceptiva para o entendimento e apropriação da alfabetização e letramento. (PROFESSORA C)

O relatado pela “Professora C”, evidenciou os argumentos de Brito (Cf. 2003) quando afirmou que o sentido da audição foi, desde o princípio, responsável por significativa leitura das coisas deste mundo, já que sons e silêncios são fornecedores de informações e significados. Quando indagada sobre a aprendizagem dos seus alunos, a professora qualificou a ocorrência de Aprendizagem Significativa, pois, segundo ela, os conhecimentos prévios das crianças foram sempre considerados num processo relacional que:

[...] deve prosseguir ao longo de cada encontro, pois no desenvolver do trabalho no cotidiano é que conheceremos mais sobre o que eles sabem. É muito comum os alunos se manifestarem mostrando coisas e situações que às vezes no momento inicial não se vê. As condições, caminhos, apresentados no trabalho são pontos iniciais que devem ser alimentados em todo o processo e não apenas nesse momento inicial. (PROFESSORA C)

A análise dos dados evidenciou que a “Professora C” demonstrou compreensão do processo, percepção e sensibilidade aguçadas, quando destacou a importância de investir no levantamento dos conhecimentos prévios das crianças em todo o processo educativo, reiterando o enfatizado por Masini (Cf. 2003) quando afirmou que a aprendizagem do aluno só poderá ser adquirida com clareza, se apoiada naquilo que ele já sabe e, evitando-se o fracasso da aprendizagem. Como exposto por Masini e Moreira (Cf. 2008) não é fácil memorizar grandes quantidades de conhecimentos conceituais e procedimentais sem nenhuma relação com conhecimentos prévios, sem entender, sem compreender, e por isso, segundo eles, os alunos fracassam. No caso da “Professora C”, a análise evidenciou que os alunos tiveram êxito no processo educacional por sua postura sensível e percepção aguçada.

A “Professora C”, relatou algumas atividades que contribuíram para a ocorrência da Aprendizagem Significativa, e uma delas foi a de percepção auditiva, que consistia em reconhecer a altura do som, grave e agudo, verificando o “movimento sonoro” da escala musical:

Cada aluno tinha o seu momento de reconhecimento sozinho. Utilizando para isso sinos que reproduzem a escala, um dos alunos percebeu esse movimento quando disse: “Gente, quando fica mais fininho o som está subindo. Era quando a Prô ensinou a mover as mãos” – Manosolfa, solfejo com as mãos, “cantar” os sons com as mãos. (PROFESSORA C)

Também apresentou em seu relato a dança: “Estávamos brincando de roda ao som de uma ciranda”. O objetivo era que eles percebessem o tempo certo de bater o pé, o tempo forte.

Depois de alguns giros (diversos dias brincando de ciranda), ouve-se: “você bate o pé como se tivesse tocando o tambor, bum!”. Encontrou o lugar.

A análise dos dados evidenciou o enfatizado por Martins, Picosque e Guerra ( Cf. 2010) ao expressarem que a criança está atenta e aberta às experiências e ao mundo, ela olha, cheira, toca, ouve, se move, experimenta, sente, pensa, desenha com o corpo, canta com o corpo, sorri com todo o corpo, chora com todo o corpo, com a improvisação de movimentos expressivos a partir de diferentes formas corporais, como curvar, esticar, torcer, balançar, sacudir, respondendo a pulsações internas rítmicas e alternâncias de tempo. O corpo é ação e pensamento. Suas percepções iniciais influenciarão toda a sua compreensão de mundo.