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3.5. O IMAGINÁRIO DOS JOVENS BRASILEIROS

3.5.3. Análise final

De acordo com os dados apresentados, foi possível perceber que a influência exercida pela internet no imaginário dos jovens brasileiros é de controle e de domínio de um sistema que vigora totalitariamente no cotidiano. Este sistema transpolítico é o capitalismo em seu estágio mais avançado (JAMESON, 2000) que de par com a tecnologia invadiu todas as dimensões da vida humana, anulando, completamente, os princípios e valores

26% 27% 16% 24% 5% 2% Autonomia Liberdade Prazer Alegria Raiva Ódio 23% 20% 12% 18% 4% 23% Fama Dinheiro Paz Felicidade Tranquilidade Beleza

tradicionais, os redutos particulares e a vida privada em detrimento da espetacularização do dia-a-dia promovida pelos meios de comunicação, que deixam vir à tona os sentimentos insondáveis do ser humano.

Estimulados pelos ideais de interatividade e de velocidade, os jovens alimentam o falso sentimento de liberdade e de autonomia durante o acesso a rede. Na verdade, ao consumirem objetos infotecnológicos e utilizarem constantemente a internet, eles perpetuam a lógica do sistema vigente. No entanto, parece que a juventude atual não está preocupada com isso, eles apenas buscam diversão, e a internet é o lugar propicio. Protegido pelo bunker tecnológico e possuindo o pleno domínio das senhas infotécnicas (TRIVINHO, 2001; 2007), o indivíduo pode ser tudo o que quiser: herói ou bandido, famoso ou anônimo.

Ao instituir-se na sociedade por meio da comunicação tecnológica, o capitalismo apropriou-se do imaginário social, transformando-o em imaginário glocal. Esse imaginário é responsável em articular e dar sentido a civilização mediática. E por ser identitário a época, ele não sofre influencia dos elementos que o constituem. Na verdade, esses elementos só tem sentido porque o próprio imaginário produz. Em outras palavras, a internet, como instrumento consitutivo do imaginário glocalizado, só tem valor porque esse imaginário o dar sentido.

Diante disso, pode-se afirmar que as sensações de liberdade e autonomia, assim como, o desejo de fama e de riqueza apontados pelos jovens como sentimentos recorrentes da utilização da internet, tratam-se de respostas diretas das ações imaginárias glocais. Pois, somente por meio delas que a configuração societária mediática, a cibercultura, ganha significado e insere veladamente o capitalismo no âmago da sociedade.

CONCLUSÃO

Diante das diversas transformações pelas quais o mundo tem passado qualquer conclusão corre o risco de equívocos. Ainda assim, é possível e necessário apontar certas tendências que gradativamente parecem cristalizar e marcar singularmente a civilização contemporânea. Uma delas é a irreversibilidade das mudanças operada pela comunicação tecnológica.

O presente trabalho apresentou o contexto histórico e cultural nos quais a comunicação contemporânea está inserida, a fim de colaborar para o entendimento de sua significação social, a partir de uma abordagem crítica focada nas implicações e/ou influências que o fenômeno comunicacional possui no imaginário coletivo. A carga utópica da comunicação pode ser vista como remodulação do ideal cibernético de criar uma sociedade de caráter informacional, na qual computadores, como máquinas de comunicar, teriam funções sociais e primordiais e, para à qual os humanos precisariam se adaptar, tornando-se “máquinas comunicantes”.

Não é necessário grande esforço para notar que a descrição da sociedade cibernética coincide, em parte, com a configuração social da cibercultura. Se, de um lado os computadores gozam de prestígio social e os indivíduos transformaram-se em “máquinas de comunicar”, mediante acoplamentos informáticos de toda a espécie, de outro, o desejo de harmonia e transparência social, resta irrealizável.

Ao longo dos anos, os media de massa foram perdendo espaço para os

media interativos. E, para sobreviver, precisam incentivar as práticas interativas. A velocidade e a interatividade vigem como esteio da cibercultura e, desse modo, funda bases sociais e culturais específicas. A lógica da cibercultura funciona segundo a dinâmica dromocrática. Esta condiciona a vida humana, exigindo forçadamente a ciberaculturação, sem a qual a existência se torna duvidosa e a morte simbólica tende a ser o horizonte (TRIVINHO, 2007). Para acompanhar o ritmo acelerado instituído pela dromocracia, os indivíduos vêem-se pressionados a acoplar o corpo e a mente a diversos dispositivos tecnológicos, na tentativa de não ficar ao largo da sociedade. (Ibidem).

As protetizações e os demais artifícios técnicos e/ou tecnológicos não atendem apenas às determinações da dromoaptidão própria da cibercultura, como também

corresponde ao devaneio mercadológico de superação das limitações intrínsecas à condição humana, sob o pretexto de as máquinas serem superiores aos humanos. Como nem todos podem se equipar devidamente vislumbra-se mais uma vez na história a exclusão em massa.

Diante disso, o presente Trabalho conclui que o imaginário social na atualidade vigora como imaginário glocal, o qual influencia a sociedade e, sobretudo, os jovens com ideais identitários a época regida pela comunicação tecnológica, como a sociabilidade, a teleexistência, o narcisismo e os comportamentos iconofágicos (consumo de imagens artificiais) (BAITELLO, 1995) que apenas servem para fortalecer e perpetuar o sistema capitalista.

Os relacionamentos online lançam novos desafios para a reflexão teórica e também para a constituição de vínculos sociais consistentes, na medida em que o preço da conexão generalizada é o afastamento físico da alteridade, agora percebida como espectro informacional multimediático (TRIVINHO, 2007). Tal sociabilidade é simultaneamente sintoma e causa da intensificação do espírito individualista que gera relações interpessoais descomprometidas, superficiais e efêmeras. Características próprias do contexto pós- moderno. Época em que a cibercultura encontra ambiente propício para sobreviver e se desenvolver.

INTERNET

Ciência avançada Homem que pensa Constrói e destrói, Pensa que é Deus

Perdeu o sentido Perdeu o limite Perdeu a si mesmo Busca o infinito, Amor, amizade, Dinheiro, vaidade, Paixão, rancor. INTERNET... Veículo ingênuo Cultura inocente Vigília da dor, Do horror e da morte, Suicídio em massa, Triste quimera

De quem com loucura buscava Antecipar a “Nova Era...”

Nazaré Sousa28.

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