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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica Dissertação de Mestrado

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Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

Dissertação de Mestrado

Cibercultura, Imaginário e Juventude

A influência da Internet no imaginário de Jovens Brasileiros

Lygia Socorro Sousa Ferreira

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho

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Cibercultura, Imaginário e Juventude

A influência da Internet no imaginário de Jovens Brasileiros

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, sob a orientação do Prof. Dr. Eugênio Rondini Trivinho.

Área de Concentração:

Signo e Significação nas Mídias

Linha de Pesquisa:

Cultura e Ambientes Midiáticos

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BANCA EXAMINADORA

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______________________________________________

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À minha Mãe. Não poderia dedicar esta vitória a outra pessoa. Afinal, ela só foi possível porque você esteve sempre ao meu lado. Nunca serei capaz de retribuir tudo o que tem feito por mim. Mas, qual o filho que consegue retribuir integralmente o amor de uma mãe? Infelizmente, todos nós somos impotentes diante dos gestos de cuidado e de carinho dispensados desde o nosso nascimento. Com o passar dos anos, quando se pensa que os “laços” foram rompidos

com a chegada da rotina da vida adulta, qual a surpresa? Vemo-nos ainda mais ligados aos

ensinamentos da mãe. A ligação umbilical “física”, de fato, foi rompida. No entanto, os laços

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São cinco horas manhã. Já começo a ver, timidamente, os primeiros raios de sol em minha janela. Passei a noite acordada, terminando a Dissertação. Esta é a última página que escrevo. Não por ser a menos importante, pelo contrário, quero cuidadosamente, escrever nela os nomes das pessoas que me acompanharam ao longo deste percurso acadêmico.

Meu primeiro agradecimento é a Deus por ter concedido o dom maior, o DOM da VIDA. Vida cheia de presentes. Presentes representados em forma de experiências e pessoas que me ensinam o quanto é maravilhoso viver.

No transcurso destes dois anos, como qualquer ser humano, deparei-me com situações de alegria, mas também com dificuldades. Não foi fácil chegar ao fim. Muitas vezes, até pensei em não ser capaz de conseguir. Porém, todos que citarei nesta folha, direta ou indiretamente, ajudaram-me a concluir esta etapa. Peço desculpas àqueles que, eventualmente, não serão citados. Acreditem, não foi por esquecimento ou ingratidão. Simplesmente, porque é impossível; falta espaço para escrever todos os nomes das pessoas que são especiais para mim. Mas saibam que tenho todos guardados em meu coração.

No entanto, não poderia deixar de lembrar minha irmã, Lourdes Ferreira, companheira de todas as horas. Não tenho palavras para agradecer o carinho e o apoio nas horas difíceis. Sem essa mão amiga, jamais seria capaz de superar os obstáculos surgidos ao longo do tempo.

Outra pessoa igualmente importante, Prof. Dr. Eugênio Trivinho. Educador na expressão máxima que o termo encerra. Exemplo de dedicação e de competência. Como poderei agradecer a paciência com que me orientou? Sinto-me honrada em ter como orientador e amigo, um dos maiores pesquisadores da área crítica comunicacional da atualidade.

Agradeço a CAPES, pela bolsa de estudos de fundamental importância para a conclusão deste meu percurso acadêmico;

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A minha querida Cida Bueno (PEPGCOS-PUC/SP). Muito mais do que uma secretária, é uma mulher de fibra que abraça o serviço com responsabilidade e amor. É, também, uma amiga cuidadosa. Obrigada por tudo que fez por mim, durante estes dois anos.

Aos colegas do grupo de pesquisa CENCIB (PUC-SP), Edilson, Heloísa, Michele e Ana, e aos colegas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, em especial ao Daniel, a Marlise e ao Romilson, pela partilha intelectual de fundamental importância para o meu crescimento acadêmico;

Às irmãs do Pensionato Santa Marcelina, pelo carinho com que me

acolheram em “terra estranha”; e as colegas de pensionato Fabíola, Rosário, Shizuko,

Paula, Lívia e em especial a Maíra, que – assim como eu – vieram para São Paulo se qualificar. Partilhamos as dificuldades, a saudade da família, as conquistas e as alegrias;

Aos meus amigos fiéis: Ruberval Oliveira, Débora Campos, Júlia Célia, Rosiléia Guedes, Maria Lygia, Arlete, Dédima, Ângela, Claudinha, Alda, Márcia Bragança e outros tantos que, infelizmente, não poderão ser citados por falta de espaço, mas estão presentes em meu coração. Agradeço imensamente a Bárbara Barbosa e Márcio Wariss, pelas “dicas”, pela partilha das experiências acadêmicas e pelas orações. Em especial, aos queridos: Profª. Elomar Alencar, pelo carinho e pela confiança que sempre depositou em mim; e ao Prof. Msc. Mário Tito Almeida, pela amizade, pelo incentivo e pelas boas sugestões que auxiliaram na construção do quadro teórico da dissertação. Obrigada, que Deus abençoe a sua vida e de sua família.

Aos meus colegas professores que abraçam com responsabilidade a missão de educar. Ás irmãs salesianas do Instituto Dom Bosco que me acolhem desde pequena com tanto carinho. Com elas aprendi a colocar em prática os ensinamentos do grande educador Dom Bosco em minha vida. Estendo os agradecimentos às irmãs da Escola Berço de Belém que sempre acreditaram em mim. E a Zenaira, Regina e Ir. Janete do Centro Social Auxilium, pela compreensão e paciência durante esta reta final do curso;

Às escolas que abriram as suas portas para a realização de minha pesquisa. A participação de vocês dá sentido ao trabalho;

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Agora, no final, relembro daqueles que já não me alegram com a sua presença. Meus avós Cacilda e Tertuliano Souza; Vicentina e Raimundo Ferreira e a Maria Ziená, pelo amor com que cuidaram de mim. A minha tia Iraci Sousa, sempre tão preocupada com os meus estudos “na cidade grande” e ao meu tio Eloy. As lembranças permanecem e o amor transcende na certeza de que descansam em paz.

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“Se a velocidade é luz, então aparência é o que se

move. Transparências momentâneas e enganosas, dimensões do espaço que não passam de aparições fugitivas, objetos percebidos no instante do olhar,

este olhar que é, a um só tempo, o lugar e o olho”.

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A presente Dissertação está inserida no atual arranjamento mediático planetário configurado pela convergência entre a comunicação e a informática: a Cibercultura. Hoje, vive-se em uma época marcada por avanços científicos contínuos e, sobretudo, pela imensa utilização de equipamentos infotecnológicos. A interatividade e a velocidade passaram a ser concebidas como processos capazes de dinamizar as relações socioculturais, políticas e econômicas da vida contemporânea. Nesse contexto em que as tecnologias interativas tornaram-se imprescindíveis, tornou-se importante investigar a influência da internet no imaginário dos jovens brasileiros. Atualmente, as relações sociais se fazem sobremaneira com o auxílio da máquina. Então, é imperioso questionar como a web age no imaginário dessa faixa etária. As relações mediadas pela internet colaboram para a autonomia e para a formação da identidade dos jovens? Como a internet os seduz? Os conteúdos explorados na rede auxiliam a formação pessoal desses indivíduos? As respostas para tais questionamentos mostram que o jovem, ao interagir com o mundo virtual, constrói para si um sentimento de autonomia e identidade. Ao mesmo tempo, essa relação jovem-internet também proporciona dependência e solidão, num contexto eventualmente assumido de ausência de criticidade. O Trabalho trata-se de uma pesquisa empírica, em que foram consultados 100 jovens, na faixa etária entre 14 a 17 anos, estudantes de escolas públicas e particulares das cidades de Belém e São Paulo. A apuração dos dados foi feitas por sistematização tematização qualiquantitativa de dados. As perspectivas teóricas mobilizadas para a fundamentação teórica incluem o pós-modernismo reflexivo (Lyotard, Harvey, Kumar e Jameson), o pós-estruturalismo francês (Baudrillard), a teoria critica pós-frankfurtiana da comunicação (Sfez), a teoria sociodromológica (Virilio), a epistemologia da critica da cibercultura (Trivinho), as teorias do imaginário (Castoriadis e autores da área de psicologia), entre outras vertentes coerentes com estas. Os resultados (teórica e empírica) se projetaram na forma de conclusões científicas contextuais sobre o problemático fascínio desse acoplamento entre juventude e ciberespaço.

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The Master dissertation is inserted in the present planetary mediatic arrangement configured by the convergence between communication and the data processing information: cyber-culture. We are currently living in a time impacted by continuous scientific advancements and, moreover, by the huge utilization of info-technologic equipment. The interactivity and speed are now conceived as processes capable of dynamizing the socio-cultural, political and economic relations of the contemporary life. On that context, where interactive technologies became essential, it is important to investigate the Internet’s influence on the Brazilian youngsters’ imaginary. Nowadays, the social relationships are built with the help of digital technologies and the cyberspace. The question arises, then: How does the Internet impact the youth? Do the relationships measured by the Web collaborate for the autonomy and identity formation of young people? How does the Internet seduce them? The contents explored at the Web help in the personal formation of those individuals? The answers for those questions show that when reaching the virtual world, youngsters develop a feeling of autonomy and identity. At the same time, that relationship young people-Internet provides dependence and loneliness in a context occasionally taken over by criticism absence. In addition to the bibliographic research on the studied object, the work involves empirical research, through a specialized consultation with 100 youngsters aging 14 to 17 years old, students of public and private schools of Belém and São Paulo. The data study was done through qualitative and quantitative systemization and the results were posted in elucidative graphic spreadsheets. The theoretical perspectives deployed for the argumentation basis include post-modernism (Lyotard, Harvey, Kumar and Jameson), French post-structuralism (Baudrillard), communication post-Frankfurt critique (Sfez), socio-dromological theory (Virilio), cyber-culture critical epistemology (Trivinho) and the ‘imaginarium’ theories (Castoriadis and authors of the psychological area), among other less relevant sources. The (theoretical and empirical) results reflect as contextual scientific conclusions on the problematic seduction of that coupling between youth and cyberspace.

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FIGURAS

FIGURA 1-Significados da modernidade ... 17

FIGURA 2- Desenvolvimento do mercado e do sistema capitalista ... 21

FIGURA 3- Imaginário moderno e imaginário pós-moderno: comparações ... 25

FIGURA 4- Os modelos de culturas sustentadas pela comunicação ... 28

GRÁFICOS

GRÁFICO 1-Ser jovem, é bom ou ruim? ... 83

GRÁFICO 2- As melhores coisas em ser jovem... 84

GRÁFICO 3- Assunto de interesse dos jovens (grupo de jovens da área urbana)... 84

GRÁFICO 4- Assuntos de interesse dos jovens (grupo de jovens da área rural) ... 85

GRÁFICO 5-Preocupação do jovem... 86

GRÁFICO 6- Assunto discutido com os amigos ... 87

GRÁFICO 7- Assunto discutido com os pais ... 88

GRÁFICO 8- A função da escola ... 89

GRÁFICO 9- Mídia utilizada pelo jovem ... 90

GRÁFICO 10- Quantidade de entrevistados - Belém ... 97

GRÁFICO 11- Quantidade de entrevistados – Belém ... 97

GRÁFICO 12- Quantidade de entrevistados – São Paulo... 98

GRÁFICO 13- Quantidade de entrevistados – São Paulo... 98

GRÁFICO 14- Renda familiar – rede particular Belém e São Paulo... 99

GRÁFICO 15- Renda familiar – rede pública Belém e São Paulo ... 99

GRÁFICO 16- Participação na renda familiar - Belém ... 100

GRÁFICO 17- Participação na renda familiar – São Paulo ... 100

GRÁFICO 18- Objetos infotecnológicos - Belém ... 101

GRÁFICO 19- Período de acesso a rede - Belém ... 102

GRÁFICO 20- Período de acesso a rede- São Paulo ... 102

GRÁFICO 21- Horas dedicadas a internet – Belém ... 103

GRÁFICO 22- Horas dedicadas a internet – São Paulo ... 104

GRÁFICO 23- Preferência dos jovens – Belém ... 104

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GRÁFICO 27- Opinião do jovem sobre a internet – Belém ... 107

GRÁFICO 28- Opinião do jovens sobre a internet– São Paulo ... 107

GRÁFICO 23- Experiencias na internet ... 108

GRÁFICO 30- Sentimentos proporcionados pela a internet ... 109

GRÁFICO 31- Desejos dos usuários ... 110

(13)

INTRODUÇÃO ... 14

COMUNICAÇÃO E A CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA

CONTEMPORANEIDADE ... 16

1.1. FENÔMENO MODERNO E PÓS-MODERNO ... 17

1.1.1. Modernidade e pós-modernidade: definições e interpretações ... 17

1.1.2. A lógica do capitalismo e o imaginário social pós-moderno ... 20

1.1.3. O imaginário social pós-moderno: transformações e desafios ... 24

1.2. DOS MASS MEDIA AOS MEDIA INTERATIVOS: A TRAJETÓRIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO IMAGINÁRIO SOCIAL ... 28

1.3. A CIBERCULTURA ... 36

1.3.1. O sistema dromocrático cibercultural ... 39

1.3.2. O fenômeno glocal ... 42

IMAGEM E IMAGINÁRIO ... 45

2.1. O IMAGINÁRIO EM REPRESENTAÇÃO ... 47

2.1.1.. As imagens: definição ... 47

2.1.2. Origem das imagens: o mito da caverna ... 48

2.1.3. A sedução das imagens ... 51

2.2. CONTRIBUIÇÕES DO IMAGINÁRIO ... 55

2.2.1. Desvendando o imaginário: conceitos ... 55

2.2.1.1. Fase de sucessão ... 56

2.2.1.2. Fase de subversão ... 57

2.2.1.3. Fase de autorização ... 57

2.2.1.4. As significações imaginárias: imaginário radical e imaginário social ... 59

2.3. O IMAGINÁRIO NA CIBERCULTURA... 62

2.3.1. A ditadura do imaginário: o imaginário tecnológico ... 66

2.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO TECNOLÓGICO: O FENÔMENO GLOCAL ... 69

2.4.1. As práticas glocais interativas ... 69

2.4.2. A máquina como alteridade ... 71

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3.1. CONCEITO DE JUVENTUDE ... 76

3.2. PÓS-MODERNIDADE E CIBERCULTURA NO CONTEXTO BRASILEIRO ... 80

3.3. RETRATO DA JUVENTUDE BRASILEIRA ... 83

3.4. UTOPIAS DO IMAGINÁRIO GLOCALIZADO ... 91

3.4.1. Recontando a história de Narciso ... 91

3.4.2. As relações na rede... 93

3.5. O IMAGINÁRIO DOS JOVENS BRASILEIROS ... 96

3.5.1. Caracterização ... 96

3.5.2. Apresentação dos dados ... 96

2.5.2.1. Dados pessoais ... 96

2.2.1.2. Utilização da internet ... 102

3.5.3. Análise final ... 109

CONCLUSÃO ... 110

(15)

INTRODUÇÃO

Com o advento dos meios de comunicação inaugurou-se a era da civilização mediática. Época histórica marcada pela presença da tecnologia em todas as dimensões da vida humana, incluindo a esfera do trabalho até a esfera do tempo livre e de lazer. Indivíduos (jovens, adultos, crianças), instituições (educacionais, religiosas, fundações), empresas (públicas e privadas), Estados (desenvolvidos ou subdesenvolvidos) são convidados ou pressionados a adequarem-se as modificações sociais, culturais e imaginárias provocadas pelos media, principalmente, após terem tornado-se o principal vetor de articulação da vida humana.

O tema principal do presente Trabalho é investigar a influência da internet no imaginário de jovens brasileiros de 15 a 17 anos. Sabe-se que nessa faixa etária, os indivíduos gostam de viver em grupo, buscam conquistar a autonomia e firmar a sua identidade. Por isso, tornar-se pertinente os seguintes questionamentos: será que o espaço

virtual é o “lugar” propício para o desenvolvimento dos anseios da juventude? ou esse “novo mundo” alimenta o imaginário dos adolescentes com a falsa sensação de liberdade e de autonomia?

Na tentativa de responder a esses questionamentos, estruturou-se a análise em três momentos. No primeiro Capítulo é apresentado o contexto societário articulado pelos meios de comunicação que instituem-se no imaginário social por meio do sistema invisível e totalitário denominado por Virilio (1997) e Trivinho (2001) de dromocracia e pela ação interativa provocada pelo fenômeno glocal (TRIVINHO 2001, 2007) que vigora como o imaginário próprio da cibercultura. Mas, para a compreensão desses conceitos, foi necessário, anteriormente, discorrer sobre as significativas transformações sociais provocadas pela passagem da modernidade para a pós-modernidade e abordar a trajetória dos meios de comunicação, enfocando o percurso social e histórico dos mass media

até os media interativos que impulsionaram o surgimento da configuração social tecnológica denominada de cibercultura.

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radical (individual) e social (coletiva). (CASTORIADIS, 1986). Com a emergência da cibercultura, a tecnologia apropria-se do imaginário social e o transforma em imaginário tecnológico ou imaginário glocalizado. Criado e desenvolvido somente por meio da tecnologia, o imaginário glocal possibilita a concretização de todas as utopias ciberculturais (a interatividade, a teleexistência, sociabilidade), como também colabora para o fortalecimento do sistema que a promove, o capitalismo.

O terceiro e último Capítulo trata sobre a juventude. Apresentam-se conceitos e traça-se o perfil dos jovens brasileiros no século XXI, para então mostrar os dados da pesquisa norteadora deste Trabalho. O corpus da pesquisa que pretende analisar a interação jovem e internet é constituído de duzentos jovens, entre 15 a 17 anos, estudantes de ensino médio de escolas públicas e particulares nas cidades de Belém e de São Paulo. As diferenças culturais, geográficas, econômicas e sociais existentes entre as duas cidades anulam-se ao perceber que a comunicação tecnologia possue o poder de padronizar comportamentos em qualquer lugar em que se faça presente. No espaço virtual, obliteram-se as características individuais em detrimento das coletivas, por isso, o jovem deixa de ser um indivíduo local para ser um usuário global. Em busca da liberdade total, o jovem encontra no ciberespaço o

“lugar” para transgredir todos os limites impostos pela sociedade, visando concretizar (pelo

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CAPÍTULO

I

COMUNICAÇÃO E A CONTEXTUALIZAÇÃO

SOCIAL-HISTÓRICA DA CONTEMPORANEIDADE

A imagem do homem sentado, contemplando, num dia de greve, sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da antropologia

do século XX”.

(BAUDRILLARD, 1990, p. 19)

Este primeiro Capítulo tem a finalidade de apresentar o contexto sócio-histórico em que o corpus da pesquisa está inserido. Nele será tratado o tema relativo à passagem da modernidade para a pós-modernidade, observando as transformações sociais e imaginárias ocorridas durante o processo de transição, sobretudo, dando destaque à comunicação tecnológica que – a partir do século XX – tornou-se o principal vetor de articulação da vida humana.

Após a Segunda Guerra, a humanidade descrente nas metanarrativas modernas, vê na comunicação (eletrônica e informática) a possibilidade de reedificar o mundo

destroçado. Com a promoção das “tecnoteleologias” (TRIVINHO, 1999, p. 380), a comunicação de base tecnológica penetra no cerne da sociedade e assume status de valor social, cultural, político e econômico, vigorando com poder totalitário.

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1.1.

FENÔMENO MODERNO E PÓS-MODERNO

1.1.1. Modernidade e pós-modernidade: definições e interpretações

Historicamente, a modernidade é definida como a época marcada por transformações de ordem política, econômica e social. No entanto, a mais significativa transformação ocorreu primeiramente no campo do imaginário. Sabe-se que durante a antiguidade clássica e, sobretudo, na idade média, o homem encontrava-se totalmente ligado às crenças religiosas. Com a emergência da era moderna, ele rompeu com o dogma religioso, descobriu as suas potencialidades e passou a creditar na técnica e na ciência a sua liberdade. Essa nova forma de pensar desencadeou, na prática, revoluções de âmbito político-econômico e sociocultural fundamentada em três núcleos de significações norteadoras do imaginário moderno, como mostra a ilustração abaixo.

FIGURA 1: Tripé de significações do imaginário moderno

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cidades, para o surgimento dos estados nacionais e dos movimentos de “massa” e para a

promoção dos princípios democráticos.

É válido explicitar que nas significações imaginárias estão imbricados os projetos idealizados e a prática diária, ambos misturam-se e constroem uma rede de sentidos que norteiam a vida humana. No caso da modernidade, esse tripé de significações é constituído de propostas revolucionárias e de práticas que – apesar de inovadoras – não conseguem converter em realidade o sonho iluminista. Essa contradição existente entre o real e o ideal é característica preponderante do período moderno, podendo ser percebido logo em sua fase inicial, quando a humanidade “liberta-se” das amarras religiosas e eleva o homem ao

status messiânico, acreditando na possibilidade do sujeito racional –“eu cogito” – apoiado no princípio de liberdade, igualdade e fraternidade, desenvolvido sobre o tríplice pilar razão-ciência-técnica, construir um mundo altamente civilizado. No entanto, o tão sonhado projeto de emancipação humana não se concretizou, pelo contrário, converteu-se em barbárie.

Para David Harvey (2004), a lógica iluminista, desde sua origem, estava fadada ao fim trágico. Como já ressaltado, na contradição dos discursos ideológicos residia a fragilidade da condição moderna. O excesso de racionalidade, a crença absoluta no ente humano e a exacerbada valorização da técnica aprisionaram o homem, ao invés de libertá-lo. Trivinho (2007) analisa a ineficiência dos projetos teleológicos justificando que isso ocorre devido toda razão revelada guardar em seu íntimo sonhos, assim como a técnica tende a virar

objeto de fetiche. O autor ainda enfatiza: “o problema da utopia é a própria utopia”

(TRIVINHO, 1999, p. 383). Afinal, durante anos, a sociedade tem testemunhado o desfecho trágico de seus projetos de emancipação.

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colocam-se como repetições cínicas da catástrofe pregressa de seus originais. (Ibidem).

Diante da contínua incapacidade de concretização, os discursos teleológicos caíram em descrédito, possibilitando a emergência da pós-modernidade. Historicamente, existem divergências quanto ao surgimento dessa época. Não é possível apontar uma data ou um acontecimento específico capaz de explicar com precisão o seu surgimento. Apenas sabe-se que o fenômeno pós-moderno surgiu silenciosamente em meio aos escombros deixados pela Segunda Guerra e estabelece significativas transformações ao trazer consigo a comunicação tecnológica. A dificuldade em apontar um fator determinante para a ascensão pós-moderna reflete na complexidade de conceituá-la com precisão. Para Trivinho (2001), a maioria das literaturas ensaísticas define a pós-modernidade enfocando três aspectos distintos: [1] Época histórica relativamente definida: nesse caso, a pós-modernidade é compreendida sob o ponto de vista da economia. Então, é definida como momento histórico em que o sistema capitalista se perpetua; [2] Condição cultural da época: ou seja, o sprit du temps. É a maneira de ser e atuar no mundo. Esta amplamente relacionada com a sensibilidade de uma nova época com características específicas: efêmera, fragmentada e massificada; e [3] Corrente de pensamento propositivo-instituinte: definições específicas e variadas que justifiquem novas manifestações na área da literatura, da filosofia e da arte.

Conforme Trivinho (2001, p. 43), o fenômeno pós-moderno não pode ser compreendido com base em apenas um dos enfoques elencados acima, porque, na

verdade, é a soma de todos eles; “nutre-se de todos os fatores a um só tempo” (ibidem). Para Lyotard (2002), essa multiplicidade de sentidos também é decorrente do processo de ruptura com as crenças passadas. O consenso exercido pelas grandes narrativas esvai-se e cede lugar aos pequenos relatos, impulsionando a construção de percepção de mundo fluida. Bauman (2001) compara a fluidez do espírito pós-moderno com o efeito característico dos líquidos. Estes ao serem submetidos às pressões externas têm suas partículas facilmente modificadas.

De acordo com o autor, o mesmo ocorreria com o “clima” da pós-modernidade. A cada nova situação, as formas de pensar e de agir transformam-se provocando o embaralhamento dos sentidos e dos sentimentos humanos.

Jameson (2000) enfatiza que a liquidez da condição pós-moderna aumenta a avidez pelo consumo, favorecendo o enraizamento da lógica capitalista no cerne da sociedade por meio de dois fatores conexos: [1] a globalização do comércio impulsionado pelo avanço da tecnologia informática e [2] a forma com que os indivíduos interagem com os

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de privilégios no âmbito cultural, político e econômico, atuando como promotora dos ideais das grandes corporações empresariais que transformam a cultura em produto de consumo, perpetuando a lógica do sistema capitalista no imaginário da sociedade. A discussão a cerca da contribuição dos media no fortalecimento do capitalismo no imaginário social, será matéria tratada no item a seguir.

1.1.2. O imaginário social pós-moderno e a perpetuação da lógica capitalista

Para melhor compreensão do tema abordado neste item, será necessário, primeiramente, definir o significado de imaginário social. Castoriadis (1986) o concebe como a operação mental responsável em conduzir à práxis humana, exercendo a função de organizador do comportamento e das relações sociais independente da consciência moral e dos valores pessoais dos indivíduos. Para Freud (1976), o imaginário possui uma “influência

magnética” capaz de levar o grupo social ao delírio. A personalidade consciente e individual desvanece em detrimento da personalidade consciente e coletiva. Os comportamentos se modificam por meio da sugestão e do contágio dos sentimentos, ocasionando o nascimento das idéias e dos atos coletivos, construindo a rede simbólica que sustenta o “pensar e o operar” dos sujeitos. (CASTORIADIS, 1986, p. 159).

Fundamentada nessas definições, é possível reescalonar o sentido do capitalismo, retirando-o do reduto da teoria política e econômica e introduzindo-o no campo do imaginário. Nesse caso, ele pode ser concebido como a principal rede imaginal articuladora da vida humana. Desde sua introdução na história ocidental, logo após o ocaso do feudalismo no final da idade média, o capital expandiu-se velozmente e conduziu a humanidade para uma verdadeira revolução. É importante ressaltar, o crescimento voraz do sistema impulsionou Marx1 a criar uma proposta ideológica objetivando libertar o homem das amarras do sistema.

Com o passar do tempo, o discurso ideológico marxista enfraqueceu diante das imensuráveis transformações sócio-históricas impostas pelo capitalismo, sobretudo, após a Segunda Guerra. Segundo Castoriadis (1986), o fator desencadeador da falência do projeto socialista residia na tentativa de Marx apropriar-se de parte do pensamento tradicional

1

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burguês com a intenção de aplicá-lo em uma teoria voltada aos anseios da classe trabalhadora. Para o autor, o problema das grandes narrativas é não conseguir acompanhar o processo de evolução da humanidade. No momento em que novas situações surgem, exigem –

conseqüentemente – alterações no comportamento e na forma de pensar, sendo

completamente inviável continuar “olhando” o mundo sobre o prisma da linha tradicional imposta pelo “pensamento herdado” (ibid., p. 65). Então, apesar dos trabalhadores compartilharem dos mesmos desejos, almejarem a liberdade proposta por Marx, eles não conseguiam viver de acordo com o que a teoria postulava. Diante disso, o proletariado não tardou em perceber que a ideologia jamais conseguiria cumprir a promessa de emancipação humana, apenas conduziria o sujeito ao processo de alienação. (CASTORIADIS, 1986).

A incapacidade dos projetos teleológicos adequarem-se as mudanças contribuiu para que os ideais marxistas sucumbissem, assim como impulsionou a falência de todos os outros postulados totalizantes. A derrocada das grandes visões de mundo aliada às heranças do pós-guerra (a parafernália tecnológica, a fragilidade da população e a ascensão do império capitalista) favoreceu o surgimento da pós-modernidade. Época marcada pelo desenvolvimento da tecnologia informática, pelo domínio da comunicação e pela perpetuação do capitalismo. Segundo Jameson (2000), a característica preponderante do fenômeno pós-moderno está relacionada ao enraizamento do sistema capitalista. Hoje, o capital deixou de restringir-se ao plano econômico e político e invadiu a esfera simbólica e cultural. Aprofundando o pensamento do referido autor, Baurdillard (1991) analisa que no transcurso da história, o mercado e seu elemento identificador, o valor de troca, passou por três estágios, como mostra a ilustração a seguir:

(23)

De acordo com a ilustração, a primeira fase está relacionada à forma de produção primitiva. Momento sócio-histórico em que as mercadorias eram comercializadas visando somente à subsistência humana. A segunda fase refere-se à modernidade, período de introdução de novas formas de produção e de valorização da técnica. O homem é forçado a migrar do campo para a cidade, deixando de trabalhar no cultivo da terra para enfrentar a jornada de trabalho nas indústrias em troca de salário para garantir sua sobrevivência. A terceira fase é sem dúvida a mais complexa. Tudo passa a ser comercializado, inclusive os sentimentos humanos e as expressões culturais viram produto de consumo. Os meios de comunicação como o principal articulador da produção e da venda desses produtos. Os media

permitem que qualquer produto exceda a sua concretude e atinja o plano simbólico, favorecendo o consumo primeiramente na dimensão imaginária, para somente depois ser concretizado eficazmente no plano real.

Para Kumar (1997), mesmo a comunicação tecnológica vigorando como principal vetor de disseminação do capitalismo, proporcionando a geração de lazer cada vez mais industrializada, ela ainda encontra-se submetida à lógica de racionalização presentes nos modelos tayloristas e fordistas. Os antigos procedimentos industriais exigidos na linha de montagem mostraram-se eficazes na produção e no consumo e, por isso, foram mantidos, sofrendo apenas algumas modulações. Os media apropriaram-se dos conceitos estabelecidos na relação compra-venda e construíram uma linguagem estratégica persuasiva capaz de agir no imaginário dos indivíduos, “convidando-os” adquirir os produtos ofertados. A publicidade, as pesquisas de opinião pública, as notícias dos telejornais e a necessidade de atualização constante para aprender a manipular os equipamentos infotecnológicos, são exemplos de que hoje se vive sob a égide do “taylorismo social”. (TRIVINHO, 2001).

O processo de desaparecimento do espaço físico do mercado e a associação do objeto com sua marca favoreceram a simbiose entre comércio e media. Os produtos saíram das prateleiras das lojas e passaram a flutuar no tempo e no espaço das programações televisivas ou nas janelas pop up dos sites. Eles perderam a referência concreta e passaram a estar imbricados na linguagem promocional dos programas de televisão. Um exemplo bem comum, o merchandising: estratégia comercial que se faz presente em quase todos os programas de televisão, principalmente nas telenovelas ou nos reality shows. Nesse caso, não são os produtos que atraem o consumidor, mas a própria narrativa reificada e transformada em mercadoria.

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consumo, conduzindo-os ao campo do imaginário. Cazeloto (2008) lembra que apesar de todas essas mudanças, o sistema capitalista continua vigorando sob as mesmas bases. As hierarquias, as zonas privilegiadas, os pólos de produção e toda sua estrutura não se encontram em estágio autocrático, pelo contrário, livre dos constrangimentos da circulação concreta (máquinas, moeda etc.) e do espaço físico (fábricas, mercado etc.), o sistema capitalista continua cumprindo seu papel totalitário por meio da lógica da mais potência (a velocidade é o produto). O sujeito deve estar sempre atualizado, obter os objetos infotecnológicos disponíveis no mercado e dominar todas as linguagens necessárias para seu acesso. O autor ainda enfatiza, a forma cultural e imaterial do capitalismo que age num campo fluido e indeterminado geograficamente, buscando possibilidades mais rentáveis que a civilização mediática possa oferecer. (cf. CAZELOTO, 2008).

Na relação imaterial entre mercado e media, as transações comerciais e

o valor das mercadorias são ocultados. O que vem à tona é a utopia “sui generis” da comunicação, denominada por Trivinho (2007) de “tecnoteleologias”. Elas são definidas pelo autor como “utopias condicionadas pela tecnologia, fundadas na tecnologia e desenvolvidas até a sua realização com base e por meio da tecnologia” (ibid., p. 380), com o interesse de beneficiar as grandes corporações.

Ao contrário das metanarrativas modernas que eram propostas ideológicas inalcançáveis e contraditórias, a tecnoteleologia revela-se plenamente possível de ser realizada. Por meio da freqüente utilização dos aparatos tecnológicos, o indivíduo sente-se parte integrante do processo de construção, de disseminação e de concretização de todas as utopias tecnológicas. Até mesmo o sonho de emancipação humana torna-se real ao ser mediado pela tecnologia. Diante do computador ou com o celular na mão, ambos conectados a rede, o ente humano pode ingressar num espaço em que tudo é permitido, onde os limites geográficos e temporais são facilmente ultrapassados e para singrar nesse mar de possibilidades basta apenas apropriar-se da função mais complexa e completa do ser humano, a imaginação.

Levando em consideração esse aspecto, Trivinho (2007) chama atenção para o encantamento que os objetos infotecnológicos de tamanho mini estão causando atualmente. Eles transformaram-se em fetiches sociais. Observados pelos consumidores com alegria e deslumbramento, rapidamente, viram alvo de desejo e de “devoção silenciosa, mais emocionalmente intensa” (TRIVINHO, 2001, p. 84). A sedução é alimentada pela promoção

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pela emoção e sutilmente promovem o aumento do consumo. Nessa escalada dos extremos, a tecnologia e a comunicação convertem-se em instrumentos ideológicos de legitimação e dominação do sistema capitalista renovado.

1.1.3. As significações imaginárias do fenômeno pós-moderno: transformações e desafios

Como ressaltado anteriormente, cada momento histórico possui sua própria rede simbólica composta por elementos que lhe são identitários. Essa rede é constituída de significações imaginárias que só podem ser compreendidas dentro do contexto no qual estão inseridas (CASTORIADIS, 1986). Justamente por causa disso, os projetos ideológicos do passado são completamente incapazes de corresponder às necessidades da atualidade.

Esse argumento serve como base para entender o movimento de transição da modernidade para a pós-modernidade. À medida que o projeto iluminista caiu em descrédito, outros característicos da época nascente ocuparam o seu lugar. Porém, as crenças anteriores não desapareceram bruscamente. A transição aconteceu de forma gradual, possibilitando às significações passadas deixarem marcas nas atuais, dentro de uma dinâmica arbitrária. Por esse motivo, ainda hoje se presencia – mesmo sob outras bases – traços da política de exclusão purificadora do passado. Antigamente, a exclusão constava na separação

do “povo eleito” de seus inimigos. O inimigo deveria ser punido por não ser capaz de corresponder aos objetivos da elite dominante (o povo eleito), como é o caso dos “hereges”

para o cristianismo medieval; os burgueses para o marxismo/comunismo e os judeus para o nazismo. Hoje, as experiências excludentes foram reescalonadas, passando a acontecer também no plano simbólico. A principal delas é concebida por Trivinho (2001) como o

apartheid da civilização mediática. Ele configura o fosso existente entre os indivíduos que possuem capital cognitivo e econômico necessário para o pleno domínio das linguagens infotecnológicas e os indivíduos que, por inúmeros motivos, não conseguem acompanhar a frenética transformação tecnológica. Esses, infelizmente, são condenados a viver à margem. Tal fato serve para demonstrar que as significações imaginárias modernas ainda sobrevivem na pós-modernidade, mas ao serem aplicadas num novo contexto sócio-histórico, elas têm os seus sentidos alterados, tornado-se parte constitutiva da nova época.

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fácil de constatar na pós-modernidade, o mesmo sonho de liberdade que movimentou as ações da era moderna. A diferença reside apenas na estratégia utilizada para atingir esse objetivo. Na modernidade, acreditava-se totalmente nas potencialidades humanas. Na pós-modernidade, a tecnologia comunicacional destitui a soberania do homem e assumi o status

messiânico, anteriormente ocupado pelo sujeito. Tal fato desencadeou a notável transformação no imaginário da sociedade atual.

FIGURA 3: Imaginário moderno e imaginário pós-moderno: comparações

Como se pode perceber, as significações imaginárias da pós-modernidade resultam na visão niilista dos modos de encarar a existência humana, favorecendo o “neoindividualismo” 2, a fugacidade nas relações interpessoais, a busca pela satisfação momentânea, a paixão por si mesmo (glamorização da autoimagem) e o narcisismo militante (SANTOS, 2000, p. 87). Martín-Barbero (1996) ressalta que a identidade una da modernidade fratura-se na pós-modernidade. Essa fratura, sobretudo, é resultado da crescente utilização dos recursos tecnológicos.

Encontramo-nos diante de sujeitos dotados de uma elasticidade cultural que se assemelha a uma falta de forma, é mais bem receptivas as mais diversas

formas, e de uma “plasticidade neural” que lhes permitem uma camaleônica

adaptação aos mais diversos contextos e uma enorme facilidade para os idiomas da tecnologia. (Ibid., 1996, p.13).

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Essa ação “camaleônica” define bem a identidade plural e performática da pós-modernidade. Enquanto a identidade moderna era fundamentalmente construída a partir da linearidade dos discursos e da clareza dos valores, a identidade pós-moderna é basicamente calcada no consumo, conforme exemplifica Silverstone (2002, p. 258): “Posso ser homem pela manhã, mulher à tarde e talvez algo completamente diferente após o jantar, e onde meus gostos, estilos e minha pessoa podem mudar com cada momento de consumo”. No

que tange a identidade pós-moderna, o autor ainda conclui:

Falamos da fatura de identidades numa era pós-moderna, das indeterminações de etnias, classes, gêneros e sexualidade em torno dos quais as culturas se formam, oferecendo-nos uma grande coisa agora, outra depois; aqui e acolá, em toda parte, enquanto vagueamos nômades, pelo tempo e pelo espaço. Somos vistos como foliões num carnaval sem fim; num baile de máscaras no hiper-real, e cercados por ele. (Ibid., p.83)

No entanto, a comunicação de par com a tecnologia não apenas invade o imaginário social, por meio de seu discurso persuasivo, incentivando o consumo, a moral hedonista, os estilos e as tendências ecléticas, como “concretiza”todos os possíveis “sonhos”

dessa geração. Diante desse “poder” da comunicação tecnológica, Trivinho (1999) ressalta que na transição da modernidade para a pós-modernidade houve um deslocamento do significado das projeções ideológicas da humanidade. Elas deixaram de ser “aspirações”, para

transformarem-se em “ações” concretizadas no plano tecnológico.

A Filosofia, a Economia Política e as Ciências Sociais cedem lugar à tecnologia e seus discursos comerciais (publicitários, jornalísticos, técnicos, acadêmicos etc.); o que antes habitava o centro do cenário como parâmetro de construção e de uma nova sociedade é desbancado pela tecnociência como meio e fim em si, a mesma que, com efeito, pleiteia a realização de princípios não muito diferentes dos de outrora. (Ibid., p. 381).

Além da efemeridade nas relações sociais, da pluralidade de identidades, do íntimo relacionamento entre sociedade e tecnologia e, da mundialização da cultura, outra característica do contexto da pós-modernidade é a individualidade. O sujeito pós-moderno preza a liberdade, desconsidera as condições concretas disponíveis para o seu exercício e

concebe o “individualismo” como sendo “o valor pelo qual todos os outros valores vieram ser avaliados e a referência pela qual a sabedoria a cerca de todas as normas e resoluções supraindividuais devem ser medidas” (BAUMAN, 1998, p. 09). Se na modernidade a

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pós-modernidade ela prefere a liberdade total em detrimento a qualquer estabilidade. Essa forma de encarar a vida repercute, principalmente, nas relações interpessoais.

A excessiva busca pela liberdade acentua os sentimentos de insegurança, de incerteza e de solidão. A afetividade passa a ser compreendida apenas como fonte de prazer momentâneo, impossibilitando a solidificação dos sentimentos e causando, igualmente, um vazio existencial. Planejar objetivos a serem realizados no futuro não é atitude atraente,

“qualquer oportunidade que não for aproveitada aqui e agora é uma oportunidade perdida” (BAUMAN, 2001, p. 187). Laços e parcerias humanas não são “embalados” pelo utópico

sonho de completude, afinidade, ideais partilhados; pelo contrário, são estabelecidos imediatamente pela lógica do consumo, lê-se de caráter utilitário. Assim, que “melhores oportunidades” surgirem, as relações podem ser extintas. A satisfação individual é regra

maior, tornando as relações duradouras algo inviável diante de uma realidade constantemente

mutável, onde em cada “esquina”, em cada “mudança de canal” ou em cada “link”, um novo

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1. 2. DOS

MASS MEDIA AOS

MEDIA INTERATIVOS: A TRAJETÓRIA

DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO IMAGINÁRIO SOCIAL

Como discorrido nos itens iniciais deste capítulo, a promoção da comunicação tecnológica origina-se do lastro destrutivo deixado pela Segunda Guerra Mundial. Com o descrédito nas grandes narrativas, ela passou a ocupar o centro da cena sociocultural promovendo e articulando três modelos de culturas, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 4: As culturas articuladas pela comunicação tecnológica

Ao comparecer como epicentro impessoal e auto-organizado, a comunicação, estruturada em bases da rede mediática, movimenta-se e ramifica-se no interior de cada uma das culturas, atuando como vetor tecnológico totalitário de produção, ligação e sedimentação das três culturas com a finalidade de atingir concretizar o velho sonho de emancipação humana por meio da promoção de novos discursos ideológicos. Entre eles, destaca-se o apelo à “globalização” (Matellard, 2000) e à “visibilidade total” (Trivinho,

2001). Ambos ligados ao “poder” comunicacional de ultrapassar os limites (temporal e geográfico), obliterando o real convencional, o real cotidiano, da vida prosaica, em proveito do real imagético, fantasioso, fabuloso, fugaz, originado da matrix tecnológica3.

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Essa idéia de articulação e de “integração” do mundo, proporcionada pela tecnologia, principalmente, pela comunicação informática, não é recente. Remonta à concepção da teoria social de Nobert Wiener, a Cibernética4. No livro a “Cibernética e

sociedade: o uso humano dos seres humanos”, o autor afirma que a comunicação e o controle colaboravam na tentativa de impedir a tendência entrópica, isto é, a degradação natural da sociedade5. O empenho de Wiener era buscar alternativas de superação desse óbice, relacionado à termodinâmica6. Ele aplica a lei da física com o intuito de adequá-la às relações sociais. Para o autor, a circulação ininterrupta das informações evita a degradação e o caos

social. “Assim como a entropia é uma medida de desorganização, a informação conduzida por um grupo de mensagens é medida de organização”. (WIENER, 1978, p. 21).

É impossível compreender o pensamento de Nobert Wiener sem reescaloná-lo à dimensão sociopolítica. O imaginário da teoria cibernética consiste em manter o desenvolvimento harmonioso dos laços sociais. Esse paradigma antropológico, vislumbrado por Breton e Proulx (2000), estabelece a máquina como meio de reorganizar

“harmonicamente” a sociedade, transformando-a em sociedade da informação. Nela, o humano comparece pulverizado em bits e em códigos genéticos vulneráveis a técnicas que possibilitam até mesmo a reprodução em série (clonagem). O hommo communicans se despe de conceitos clássicos, como a interioridade, para tornar-se um ser voltado essencialmente para o que vem do exterior.

O valor atribuído à informação pela teoria cibernética contribuiu para a proliferação incontrolável de técnicas e tecnologias comunicacionais que introduziram aparelhos e objetos infotecnológicos em todos os setores da vida cotidiana (TRIVINHO, 2001). Essa proliferação surge na metade do século XX, mais precisamente, no período de

guerra, com a finalidade tática de aniquilamento do inimigo. “A comunicação possui umbilicais relações com o campo bélico” (ibid. 2001) e, por isso, continua exercendo sua finalidade prática de aniquilação. Desta vez, é a aniquilação da realidade em prol de uma

“hiper-realidade” (BAUDRILLARD, 1991, p. 20), uma realidade inexistente, vazia de sentido.

4 Não se trata aqui de aprofundar a teoria cibernética, somente, de apresentar os alicerces lançados por Wiener e analisar, de maneira geral, as respectivas repercussões no cenário social.

5 Argumentação inspirada na aula de Fundamentos da Comunicação, ministrada pelo Prof.Dr. Eugênio Trivinho, em 29/03/2007, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC/SP.

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Segundo Kumar (1997), a humanidade já testemunhou duas grandes revoluções. A Primeira, de acordo com o autor, foi à revolução causada pela utilização da energia (vapor e eletricidade). A segunda, e mais atual, é a revolução da informação (tecnologia e comunicação). Gestada há mais de um século, suas primeiras manifestações assumiram diversas formas: telégrafo elétrico, cinema, rádio e televisão. Mas, é o computador que simboliza o principal motor de transformação, colocando-se ao centro da sociedade da informação. As experiências comuns da vida diária são suficientes para confirmar esse fato: bancos em funcionamento 24 horas, o virtual desaparecimento do dinheiro na maioria das transações bancárias, reservas em hotéis, compras de passagens aéreas, até mesmo check-in; pesquisas em bibliotecas e consultas em catálogos e arquivos de bancos de dados de instituições públicas, resultado de exames laboratoriais, sistemas de segurança monitorado por microcâmeras conectado ao terminal de computador, são alguns dos exemplos de como a tecnologia da informação invadiu o cotidiano.

No transcurso da história7, a comunicação, fincada em bases

tecnológicas, alcança o ápice no século XX. Mas, as primeiras sementes já se faziam presentes ainda no século XIX8. Primeiro, na forma de telégrafo e, posteriormente, na

organização de grupos de imprensa (agências de comunicação), promovendo os primeiros gêneros culturais de massa. Antes mesmo da Primeira Guerra, as indústrias de cinema e música começavam a revelar seu potencial de exportação.

Contudo, as significativas transformações sociais promovidas pelos meios de comunicação, realmente, só foram sentidas com maior efeito a partir da década de 20. O advento das programações de rádio contribuiu para o aparecimento de novos estilos musicais e para o crescimento da indústria de discos e gramofones. A população, principalmente, a elite acostumada a ouvir música erudita, passou a escutar melodias mais ligeiras, estilo relacionado à agitação das cidades em crescimento. Claro que no início houve resistências. Chegou-se a levantar hipóteses de que esse “modismo” não iria adiante. Porém,

rapidamente, o “novo estilo” atingiu as camadas populares e dominou a sociedade. Durante o

período de guerra, os programas radiofônicos foram utilizados como instrumento sutil no processo de manipulação da opinião pública. As programações dividiam-se em transmissões

de propagandas do sistema de governo, músicas e as “campeãs de audiência”: as rádios

7 Não é o objetivo deste tópico, recontar a história dos mass media e a dos media interativos e, nem tão pouco, aprofundar reflexões a respeito de sua função social. Devido entender que a temática já foi bastante desenvolvida, esmiuçada e, por hora, superada. O contexto histórico dos meios de comunicação, a ser brevemente abordados, será analisado sobre a ótica do imaginário.

8 Argumento baseado nas obras de Armand Matellard, “História da Utopia Planetária: da cidade profética à

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novelas. Histórias românticas contadas pari passu em capítulos de curta duração, capazes de unir a família em torno do rádio, aguçando o imaginário do ouvinte. Se o rádio deixava o

ouvinte “livre” para criar suas próprias imagens, o cinema passou a encantar o telespectador

ao dar vida às imagens, transformando a ficção em realidade.

O cinema surgiu no século XIX com os irmãos Lumière. Inicialmente era mudo, tornou-se sonoro no final dos anos 20. Pouco tempo depois, as cores invadiram o

écran. A partir de então, o cinema transformou-se em uma indústria de entretenimento, movimentando muito dinheiro e atraindo multidões fascinadas pelo mundo espetacular. Foi a indústria cinematográfica que instituiu no imaginário do público o conceito de “star system”, as estrelas e astros do universo ficcional da comunicação. Atores e atrizes transformados em

“modelos de seres humanos”. Imagens artificiais construídas pelo comércio comunicacional

para serem endeusadas e consumidas pelo imaginário. Os artistas ao se tornarem pessoas públicas, passaram a dividir com os fãs, muitas vezes forçadamente, a sua privacidade. A vida prosaica destas pessoas foi descortinada e virou objeto da mídia. Não são poucos os exemplos

de “famosos”, vítimas de invasão de privacidade em nome da “necessidade” de deixar o

público informado.

A televisão criada no período entre guerras, e melhor desenvolvida depois de 1945, possui total conformidade com intentos da teoria cibernética. A manutenção dos laços sociais é uma delas. Wolton é grande entusiasta desse pensamento.

O espectador, ao assistir à televisão, agrega-se a esse público potencialmente imenso e anônimo que assiste simultaneamente, estabelecendo assim, como ele, uma espécie de laço invisível [...]. Trata-se, portanto, de um laço social tênue, menos forte e menos forte e menos limitador do que as situações institucionais ou as interações sociais vêm justamente do seu caráter ao mesmo tempo restritivo, lúdico, livre e espetacular. (WOLTON, 1996, p. 124).

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(emissora mexicana) e a Rede Globo (emissora brasileira). Ambas exibem seus seriados e suas telenovelas muito além de seus países de origem.

Com o crescimento dos media interativos, a televisão de modelo centralizador, a TV analógica, começou a sofrer alterações quanto à forma de transmissão. O mercado mediático, com a intenção de atender aos ideais de interatividade, apropria-se das tecnologias digitais e cria a TV digital (HDTV).

A movimentação em torno da TV de alta definição começou em 1987, nos Estados Unidos. No ano de 1991, as empresas européias produtoras de equipamento eletrônico e os órgãos reguladores começaram a discutir a viabilidade do desenvolvimento da televisão digital. Mas foi no Japão, em 1995, que ela concretizou-se. O governo japonês e as principais redes de televisão investiram cerca de trinta milhões de dólares na digitalização das transmissões televisivas do país. No Brasil, as primeiras experiências com os sinais digitais já existentes foram iniciadas no segundo mandato de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso; em 2003, já na gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi baixado decreto autorizando as universidades realizarem pesquisas com a finalidade de verificar a possibilidade da construção de um padrão nacional da televisão digital. Em 2007 ocorreu à inauguração da primeira transmissão com sinal digital e em 2008, iniciou-se a campanha em prol da popularização da TV digital no país.

A televisão digital surge com as seguintes promessas de [1] alta qualidade em imagem e som. Os primeiros aparelhos de TV tinham apenas 30 linhas de vídeo. Enquanto um monitor analógico possui entre 480 a 525 linhas, um monitor digital chega a 1080 linhas, possibilitando maior definição sonora e imagética; e de [2] interatividade. O telespectador passa a ter a liberdade para interferir nos dados armazenados no receptor ou estabelecer troca de informações por meio de uma rede à parte do sistema, no caso a linha telefônica ou a rede de banda larga. Em outras palavras, é possível navegar na internet, interagir com o comércio eletrônico e estabelecer contatos por meio dos comunicadores instantâneos.

Não será realizada neste Trabalho, a análise das prováveis transformações que a televisão digital poderá ocasionar. Mas com certeza, esta nova forma de

“fazer” televisão dividirá opiniões. Principalmente, no que tange à aquisição do produto, já é

possível vislumbrar mais uma forma de “estratificação sociodromológica cibercultural” 9.

(TRIVINHO, 2001, p. 226).

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Seja no modelo digital ou analógico, a televisão continua encantando o telespectador por meio de programações variadas que simulam a vida real. Atualmente, público tem acompanhado a novelização do cotidiano. Todos os fatos, desde os mais prosaicos aos mais inusitados, são contatos e recontados pari passu, cena a cena, exaustivamente, em todos os veículos de comunicação. Se as emissoras utilizam desse recurso com a justificativa de serem promotoras do direito inalienável à informação, elas – na verdade

– promovem o crescimento do fenômeno hipertélico (BAUDRILLARD, 1996). As imagens e informações veiculadas de maneira desordenada ultrapassam o sentido de sua existência e perdem a funcionalidade. Por isso, não raramente, é possível observar a indiferença do telespectador diante das notícias. Mesmo que a principio, elas causem impacto e comoção, como é o caso do ataque às Torres Gêmeas (2001), acidente com o avião da TAM (2007), assassinato de Isabela Nardoni (2008), os consecutivos erros nas ações policiais (2008), escândalos políticos etc. Após algumas semanas, caem na rotina. Almoça-se assistindo aos desfechos dos casos com tranqüilidade, como se fosse o último capítulo de uma telenovela.

Nos programas de entretenimento, a exposição da alteridade vira motivo de “chacota pública”. Os segredos, a intimidade, o escuso, o ilegal, a obscenidade, o criminoso, tudo vem a luz da visibilidade mediática.

O direito à informação aliada à ordem de que “nada deverá ficar

escondido” possibilita rumos incontroláveis ao ideal cibernético da transparência social. Não é de estranhar que a exposição pública do universo privado cause tanto interesse ao imaginário social. A possibilidade de desvendar os segredos alheios, de ver o escuso, proporcionada pela tecnologia facilita ao ser humano concretizar o desejo de adentrar num terreno íntimo e proibido. As câmeras escondidas, os paparazzi, os programas de auditório que mostram diuturnamente a vida das pessoas, famosas ou anônimas, é a prova irrefutável da

realização de uma “barbárie” silenciosa e violenta que assassina a privacidade alheia sem a menor chance de defesa, em prol de um ideal de verdade e de imparcialidade inatingível que apenas mascara a vontade primária do homem de derrotar o seu semelhante, fortalecendo os interesses do sistema.

Se o arranjamento mediático configurado pelos mass media foi corrompido pelos ideais do mercado, frustrando o sonho de liberdade, os media interativos

surgem para transformar o sonho em realidade. A interatividade proporcionada pelas

possui capital econômico, cognitivo e informativo suficiente para acompanhar a lógica da mais-potência

proposto pelo mercado, a “nova miséria técnica”, os que vivem à margem por não ter condições de acompanhar os avanços tecnológicos. Os temas relativos à “dromocracia”, suas características e conseqüências, serão

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tecnologias da informação pretende concretizar as promessas de democracia e liberdade não cumpridas pelos meios de massa.

Os media interativos oferecem total flexibilidade em função do modelo comunicacional descentralizado. Devido possuir uma estrutura infoeletrônica rizomática que a possibilita não vincular-se a um controle central, a web proporciona ao usuário a interação direta com os elementos constitutivos do espaço virtual. Os links, as janelas pop-up, os domínios de endereçamento permitem os usuários interagirem facilmente com a máquina, postando fotos, participando de bate-papos em chats ou nas inúmeras comunidades existentes na rede. Desta forma, concretizando o ambicioso sonho humano de ultrapassar os limites geográficos e temporais e transformar o planeta numa pequena aldeia global. Nessa aldeia, a humanidade unida, vive plenamente a liberdade de expressão. Porém, sabe-se que isso não é verdade. As questões de democracia e de liberdade precisam ser bem analisadas, já que o pleno acesso à rede é prerrogativa de pouquíssimos. Para utilizar os objetos infotecnológicos,

sobretudo, o computador, é necessário acompanhar a “lógica da reciclagem estrutural” da

cibercultura. Aqueles que não acompanham, vivem à margem. Os indivíduos com receio de serem discriminados fazem o possível para atender as exigências impostas pela tecnologia. Um bom exemplo é a utilização das comunidades virtuais que tem proporcionado a inclusão de milhares de pessoas no totalitário sistema dromocrático cibercultural (tema a ser aprofundado no item 1.3.1. desta Dissertação).

Diante das relações efêmeras da pós-modernidade, as comunidades virtuais surgem como possibilidade de unir aquilo que se distanciou. A carência humana incentiva o imaginário a buscar formas de pertencimento na vida de outros. Muitas vezes, os usuários nem se conhecem pessoalmente, tão pouco dividem o mesmo espaço geográfico, mas agregam-se por meio da rede. Eles criam parâmetros de afinidades (gostam do mesmo estilo musical, de filmes, novelas, escritores etc.), expõem sem receio algum os seus hábitos e a sua imagem. Nessa busca pela superação de suas carências, o indivíduo também reflete a necessidade própria de sua época, a exposição extrema de tudo o que é de fórum intimo. As

comunidades deixam vir à tona todos os desejos, os segredos ocultos e a “obscenidade do excesso das aparências” em máquinas de dissimular. (BAUDRILLARD, 1996, p. 63).

Os meios de comunicação acostumaram o imaginário social a sobreviver da ficção e do espetáculo. As novelas, os filmes, as transmissões esportivas, os

vídeoclip‟s, as propagandas, os sites, ou seja, todo o universo mediático encontra-se

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1. 3. CIBERCULTURA

A irradiação da cultura pós-moderna aliada ao domínio dos meios de comunicação, à expansão absoluta de produção, circulação e consumo de objetos infotecnológicos e a propagação da web nos últimos anos, são alguns dos fatores que

contribuíram para o aparecimento de um fenômeno de “longevidade indeterminada”, a

cibercultura (TRIVINHO, 2001, p. 59). Consolidada na segunda metade do século XX, o fenômeno cibercultural se faz presente em todos os setores da vida humana, na medida em que procedimentos e processos usuais do cotidiano dependem de alguma forma da tecnologia informática. Em termos conceituais, a cibercultura pode ser definida como “modelo tecnológico de cultura” e pela sua amplitude e flexibilidade acabou por construir um “mundo próprio”. (Ibid., p. 60).

De acordo com Trivinho (2001), a cibercultura está implicada em tudo

“o que é de mais importante socialmente” na vida contemporânea. Ela impulsiona descobertas na área das ciências biológicas (clonagem, conservação e experiências com células-tronco embrionárias etc.). Sua maquinaria é requerida na área das ciências exatas e na área da educação, servindo como ferramenta de apoio no processo ensino-aprendizagem. Faz-se presente nos tratamentos estéticos, na segurança pública e também nas organizações criminosas. Está inserida no ambiente de trabalho e até na esfera do tempo livre e do lazer. A cibercultura modifica todas as formas de relacionamento e práticas sociais. Não por acaso,

essa “tecnocultura tem implicado em complexos debates de questões sobre direito e ética”.

(Ibid., p. 58).

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acordo com Breton, surgiu após 1970, é identificada pelo aparecimento dos microcomputadores e das redes telemáticas.

Para Breton (ibidem), é no primeiro estágio que os princípios essenciais se estabelecem e surgem as grandes inovações. As pesquisas embasadas na teoria cibernética eram realizadas em universidades e patrocinadas por verbas militares. Além das inúmeras empreitadas a favor da criação de tecnologia que servissem às Forças Armadas e, portanto, ao Estado norte-americano, as atenções se voltavam para a tentativa de desenvolver “máquinas pensantes”, dotadas de “inteligência artificial” que simulassem o funcionamento do cérebro e o do comportamento comunicacional dos seres humanos. De acordo com o autor, o segundo é caracterizado pela ruptura entre a informática e a cibernética. Enquanto esta se concentra no desenvolvimento de máquinas simuladoras do comportamento humano em situações relativas à comunicação no âmbito social, aquela se traduz em pura técnica de manipulação de informação por meio do computador que, como o próprio nome indica, tinham o objetivo de computar, de calcular, e controlar informações10. Também o fato da cibernética ter se tornado

abrangente demais, abarcando várias áreas distintas (matemática, física, psicologia, biologia etc.), e não conseguir concretizar suas promessas iniciais permitiu que a informática rompesse com ela. Nesse período, a informática necessitava de credibilidade do público para estabilizar-se enquanto ciência, disciplina e paradigma, definindo sua identidade e estabilizar-seus limites.

Se na primeira informática os computadores eram praticamente restritos aos interesses estatais e militares. Na segunda, apesar das pesquisas, majoritariamente, serem fomentadas pelo escalão militar, havia interesse em popularizá-lo. Não por outro motivo, eles foram introduzidos nos setores governamentais, até que as corporações empresariais adotaram-no e financiaram o desenvolvimento do microcomputador. O microcomputador e, conseqüentemente, a microinformática, foi um convite à ruptura com os sistemas burocráticos e centralizadores, representantes de uma informática controlada e inacessível para a maioria dos indivíduos. (BRETON, 1991).

Sabe-se que o microcomputador começou a ser comercializado na metade da década de 70, mas a grande expansão só aconteceu no início de 80. Essa fase, Breton caracteriza como terceira informática. Fase marcada pela fusão entre a informática, as telecomunicações, a interação entre a microinformática e as grandes corporações empresariais. Esse estágio possui marcos significativo como o aparecimento do IBC-PC (personal computer – computador pessoal), em 1981, e a criação da Word Wide Web,

Imagem

FIGURA 1: Tripé de significações do imaginário moderno
FIGURA 2: Fases do desenvolvimento do mercado.
FIGURA 3: Imaginário moderno e imaginário pós-moderno: comparações
FIGURA 4: As culturas articuladas pela comunicação tecnológica
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