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Em 200325, uma pesquisa solicitada pela Fundação Perseu Abramo em

parceria com o Instituto Cidadania traçou o perfil do jovem brasileiro. Foram entrevistados cerca de 3.501 jovens entre 15 a 24 anos (correspondendo – na época – 20,1% do total da população de acordo com o Censo 2000/IBGE) de 198 municípios estratificados por localização geográfica (capital, interior, áreas urbanas e rurais), contemplando 25 estados do território nacional. Os resultados servem como parâmetro de análise do comportamento da juventude brasileira no século XXI.

As questões norteadoras que contribuíram para traçar o perfil dos jovens centraram-se em aspectos emocionais, psicológicos e sociais. De acordo com a pesquisa, é possível perceber certa homogeneidade na forma de pensar da juventude atual. Os indivíduos residentes nas cidades urbanizadas, independente de classe social, gostam das mesmas coisas e possuem comportamento semelhante diante dos problemas sociais. Algumas diferenças são sensivelmente sentidas nos jovens das áreas rurais.

A primeira parte da pesquisa se detém a aspectos emocionais e psicológicos da classe jovem. A pergunta inicial refere-se à existência/condição de ser jovem: Ser jovem é bom ou ruim? Por quê? De acordo com os entrevistados, é bom ser jovem no Brasil. O motivo destacado como ponto positivo nesta fase é a falta de responsabilidade. Para eles, não ter preocupações e responsabilidades contribuem para que se possa aproveitar mais a vida, como se pode perceber no gráfico a seguir:

GRAFICO 1:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

25 A Pesquisa está disponível na íntegra no site www.planalto.gov.br/secgeral/juventude/juventude.pps .

74% 14%

11% 1%

Ser jovem, é bom ou ruim?

GRÁFICO 2:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

A segunda etapa da pesquisa corresponde a aspectos sociais. Para facilitar a compreensão, dividimos os resultados em grupo A e grupo B. O grupo A é formado por jovens da área urbana, independentemente, de sexo, cor e situação econômica. O mesmo ocorre com o grupo B, porém, os indivíduos incluídos nessa classe, são jovens moradores das áreas rurais e/ou interiores. A pergunta 2 (P [2]) refere-se aos assuntos de interesse do jovem.

GRÁFICO 3:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Não ter responsabilidade Viver com alegria Atividades de lazer Estudar para adquirir …

Não ter responsabilidad e Viver com alegria Atividades de lazer Estudar para adquirir conhecimento As melhores coisas em ser jovem 45% 40% 10% 5%

As melhores coisas em ser jovem

38% 37%

17%

8%

2%

GRÁFICO 4:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

De acordo com os gráficos é possível perceber que a maioria dos jovens do grupo A, se interessam por temáticas sobre educação, principalmente, assuntos referentes a vestibulares e faculdades. Os demais entrevistados apontam assuntos referentes ao ingresso no mercado de trabalho e cultura e lazer como seus favoritos. Vale ressaltar que neste no aspecto “cultura e lazer” estão incluídas temáticas referentes a festas, músicas, cinema, televisão, internet, namoro e moda. Apenas 2% dos jovens mostram-se interessados com os problemas sociais. Em alguns itens, o grupo B é igual ao A. O interesse pela educação continua em primeiro lugar. Na sequência aparece o interesse por problemas sociais. Compreensível, por tratar-se de uma classe de pessoas que vivenciam – de perto – as situações abandono por parte dos governantes. Sabe-se que os moradores das áreas rurais e dos interiores vivem em condições precárias (ausência de hospitais bem equipados, educação precária, falta de saneamento básico. E no caso das comunidades ribeirinhas (no norte do Brasil), falta inclusive estuário e alimentação). Nesse grupo, o interesse por cultura e lazer é de apenas 2%.

A segunda pergunta da segunda etapa da pesquisa está voltada para aspectos sócio-políticos. Refere-se à preocupação do jovem: O que preocupa o jovem? Nessa pergunta não houve ponto de contradição. Todos os jovens afirmaram que a preocupação está na violência.

38% 37%

17%

8%

2%

GRÁFICO 5:

FONTE: Fundação Perseu abramo

É importante refletir sobre os fatores que desencadeiam a violência. O século XX foi marcado por barbáries mundiais. E o século XXI, os atos violentos só fizeram aumentar, principalmente na classe jovem.

Alguns fatores contribuem para o aumento do índice da violência. Libâneo. (2004) afirma que as novas gerações têm mostrado estrutura psíquica frágil e instável. Um dos motivos seria a falta de referência familiar. As multiplicações dos modelos de família acabam gerando conflitos nas relações e estimulando o indivíduo em formação a fazer o mesmo. Além desse motivo familiar, também existe os problemas sociais. Ainda de acordo com o autor, a atenção dispensada pela sociedade à juventude é bastante contraditória. Ao mesmo tempo em que ampara, legalmente, seus direitos e deveres, impõe condições etárias e de experiência para o ingresso nas atividades laborais. Não raramente, é possível ver jovens passando por situações de subordinação e submetidos à marginalização social. A ausência de emprego, a despreocupação com a educação, a ausência de interesse político, dificuldades econômicas e demográficas são alguns dos fatores que tem contribuído para o prolongamento dessa fase. Ao viver numa sociedade fundada na desigualdade e na exploração, o jovem vê seu futuro com desconfiança, embora – muitas vezes – não seja capaz de verbalizar. Afinal, sente-se, ao mesmo tempo, apto e inepto para a vida social.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% A violência Emprego Drogas Educação Saúde

Preocupação do jovem

No entanto, não raramente, ainda, se vêem jovens vivendo situações de subordinação e submetidos à marginalização social. Segundo Libâneo (2004), a falta de emprego, a despreocupação com a educação de qualidade, a ausência de interesse político, dificuldades econômicas e até demográficas, são fatores que tem contribuído para o prolongamento dessa fase. Ao viver numa sociedade fundada na desigualdade e na exploração, o jovem vê seu futuro com desconfiança, embora – muitas vezes – não verbalizada. Afinal, sente-se, ao mesmo tempo, apto e inepto para a vida social.

A terceira pergunta refere-se ao conteúdo dos assuntos tratados pelos jovens com os amigos e com os pais. De acordo com os entrevistados, o tema mais frequente nos grupos de amigos é o “relacionamento amoroso”, em seguida, costumam conversar sobre drogas, esporte, arte, incluindo moda, música, cinema, televisão e internet. Por último aparece o interesse em discutir sobre educação. Com os pais, a pesquisa revela que a temática das discussões sofre alterações. Isso demonstra que, apesar, das transformações sociais ocorridas na pós-modernidade, o diálogo entre pais e filhos ainda é carregado de tabus. Nem sempre o jovem sente-se a vontade de conversar sobre assuntos polêmicos com a família, procurando os amigos para partilhar suas dúvidas, como mostra os gráficos.

GRAFICO 6:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Relacionamento amoroso Drogas Esporte Arte Educação

GRAFICO 7:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

A pesquisa aponta também o nível de importância que a escola tem para os jovens. Segundo eles, a função dos estabelecimentos de ensino é prepará-los para ingressar no mercado de trabalho.

No contexto atual, a escola assume o desafio de continuar exercendo a função de propagar os valores morais e éticos instituídos na sociedade e atender as expectativas impostas pela nova configuração social. Como discernir com lucidez os binômios certo/errado, legal/ilegal, normal/anormal, moral/imoral, numa época marcada pela quebra dos conceitos opostos? Como falar de normas, regras e respeito, em um momento marcado pelo individualismo e pela perda de entusiasmo pelas grandes causas? É um grande dilema manter a educação dentro de princípios tradicionais em meio a uma situação que leva os jovens a vivenciar, no dia-a-dia, experiências contrárias a tudo o que é ensinado.

O panorama da educação brasileira não é dos melhores. São muitos os problemas e, até o momento, poucas soluções. A decadência do ensino público, a inadimplência nas escolas particulares, o “comércio” que envolve o ensino médio, os processos de avaliação que dificultam o ingresso no ensino superior, os salários vergonhosos dos professores, a falta de policiamento nas escolas, entre tantos outros. Além de todos esses dilemas de aspecto político, social e econômico, a educação ainda necessita descobrir estratégias que a possibilite atrair os alunos. Os métodos utilizados em sala de aula, já não conseguem atrair crianças e jovens acostumados a interagir com as TIC (tecnologias da

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Educação Drogas Ética e Moral Sexualidade Desigualdade Social

informação e comunicação). Pesquisas especificamente ligadas a educação revelam que os recursos tecnológicos têm colaborado na melhoria do processo ensino-aprendizagem26. Mas,

fica a pergunta: será que a melhoria do ensino brasileiro reside apenas na inclusão das tecnologias nas escolas? Qual o lugar das tecnologias na educação brasileira? A pergunta é polêmica e, com certeza, dividiria opiniões. Como não é interesse deste Trabalho adentrar no campo educacional, a indagação serve como estímulo para novas reflexões e, quem sabe, abre caminho para novas pesquisas acadêmicas.

Na pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, os jovens destacaram que a escola é o espaço onde o indivíduo deve se preparar para ingressar no mercado de trabalho. A crise econômica força o jovem, principalmente, de baixa renda, a começar a trabalhar cedo, muitas vezes, sujeitando-se ao subemprego, sem direitos trabalhistas garantidos, sem remuneração adequada e sem segurança. Por isso, o jovem acredita que a qualidade educacional o impulsionará a melhor condição de vida. Como aponta o gráfico a seguir.

GRAFICO 8:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

26O campo teórico está rico em obras dedicadas ao tema. Muitas delas discutem o assunto e outras ensinam

como manual – o educador a fazer bom uso das tecnologias da informação e comunicação. Recentemente, a Revista Nova Escola dedicou quatro páginas com uma reportagem “ensinando” os profissionais da área de educação a utilizarem as tecnologias em benefícios das aulas. A reportagem apresenta modelos de plano de aula e sugestões de sites.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Preparar para o mercado de trabalho

Para entender a realidade Para ajudar no dia-a-dia Para fazer amigos

A função da Escola

A última etapa da pesquisa refere-se ao lazer dos jovens. No ano em que foi realizada a pesquisa, 2003, os entrevistados afirmaram que o “melhor” lazer era assistir televisão. É importante ressaltar que após cinco anos, o crescimento de acesso a internet tornou-se superior a 41, 5 milhões, somente nos primeiros meses de 2009, segundo IBOPE/NetRatings.

GRAFICO 9:

FONTE: Fundação Perseu Abramo

De forma sucinta, a pesquisa mostra que o jovem brasileiro, mesmo diante dos problemas sociais, ainda compreende a juventude como “uma etapa da vida sem responsabilidades e preocupações”. Não demonstra interesse por questões de âmbito social, gasta parte do tempo assistindo televisão, gosta de conversar com os amigos sobre relacionamentos amorosos, vê a escola apenas como “lugar” importante para capacitá-lo para o mercado de trabalho e não conversa com os pais e/ou responsáveis sobre assuntos relevantes para sua formação pessoal. Parece não se preocupar com o amanhã. Vive o hoje, sobretudo, pensando em seu bem estar. Diferentemente, da classe jovem das décadas de 50 e 60 que se uniu em busca de um ideal, o jovem da cibercultura acostumou-se a ser um SER ÚNICO em frente às telas do computador ou da televisão.

Mídia utilizada pelo jovem?

Televisão Rádio Jornal Web