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As relações entre sociedade e cultura adquirem, hoje, total relevância. No âmbito acadêmico, especialmente, existe a preocupação em entender as características próprias do contexto latino-americano levando em consideração o multiculturalismo. Especialmente no Brasil, torna-se evidente as diferenças étnicas e culturais proveniente da miscigenação dos povos.

Canclini (2003) recorre à história para responder algumas questões importantes do contexto brasileiro, como da América Latina. Segundo o autor, as contradições latino-americanas revelam que muitos dos problemas enfrentados nos dias de hoje, ainda são resultados do período de colonização.

Os países da América Latina e o Brasil foram colonizados por nações européias atrasadas, submetidas à Contra-Reforma e a outros movimentos modernos. Após essa situação, nunca houve plenamente uma manifestação moderna, mas, “ondas de modernização” (ibid., p. 67). Essas ondas modernas foram impulsionadas por fatos ocorridos entre o século XIX e início do século XX, como:

[...] a oligarquia progressiva, pela alfabetização e pelos intelectuais europeizados; entre os anos 20 e 30 deste século, pela expansão do capitalismo e ascensão democratizadora dos setores médios e liberais, pela contribuição de migrantes e pela difusão em massa da escola, pela imprensa e pelo rádio; desde os anos 40, pela industrialização, pelo crescimento urbano, pelo maior acesso à educação média e superior, pelas novas indústrias culturais. (ibidem)

Apesar desses movimentos, a América Latina e o Brasil não conseguiram atingir o patamar de desenvolvimento moderno europeu. Pode-se perceber que o Brasil e os países latinos americanos sobrevivem num contexto em que é visível o desajuste entre “modernidade” e “modernização”. De acordo com o autor, esse “desajuste” não é apenas um fator resultante do processo histórico da colonização – não deixa de ser, mas não se limita a isso –, outros fatores colaboraram para que os efeitos da modernização não fossem vivenciados como na Europa. Um deles, ou o mais importante, seria a utilidade que “os desajustes” possui no estabelecimento da ideologia dominante. A modernização com expansão restrita de mercado, democratização para minorias, renovação das idéias, mas com baixa eficácia nos processos sociais são exemplos de condições que fortalecem a hegemonia das classes dominantes nos países da América Latina e no Brasil.

Enquanto a modernidade européia propagava o desenvolvimento científico, a autonomia pessoal e a remuneração pelos serviços pessoais, o Brasil ainda vivia em clima de “escravidão”. A dependência econômica agrária latifundiária brasileira com o mercado externo influenciou o surgimento da racionalidade econômica burguesa ainda nos moldes serviçais. Se a intenção era introduzir a prática do trabalho com retorno de remuneração proporcional com o serviço realizado, o que aconteceu foi a dominação da classe dirigente condutora das forças de trabalho, acostumadas a conduzir o disciplinamento integral da vida dos escravos, preferiu prolongar o serviço ao máximo de tempo e não dar a remuneração cabível. Essa falta de remuneração compatível com a força de trabalho revelou- se, mais tarde, o maior fator dos problemas sociais vivenciados no Brasil.

As horas de dedicação exclusiva ao serviço e os salários incompatíveis com que era realizado conduziu o grupo de “baixa renda” a margem da sociedade. Sem direito a educação e saúde de qualidade e de moradia com infra-estrutura adequada para a sobrevivência digna, os sujeitos marginalizados socialmente procuraram “as formas escusas” para sobreviver. A violência que tanto preocupa a sociedade atualmente é fruto das discriminações vivenciadas ainda nos momentos iniciais da história brasileira.

Se por um lado o Brasil não conseguiu viver plenamente a modernidade e a modernização, por outro, já nasceu pós-moderno. A pós-modernidade é compreendida pelas (con)fusões de sentidos e na forma de ver o mundo e pela multiplicidade cultural. Nesse sentido, a sociedade brasileira vive a pós-modernidade desde a sua colonização. Misturas étnicas, religiosas e culturais caracterizam o povo brasileiro.

No que diz respeito à relação com os media e a influência deles no contexto social, o Brasil também possui comportamento pós-moderno. Apesar de todas as desigualdades sociais, o atraso em alguns aspectos sociais e econômicos, o Brasil destaca-se pelo número de acessos a internet. É cada vez maior o uso de microcomputadores domésticos e consumo de aparelhos infotecnológicos pelos brasileiros.

Pesquisa realizada pelo IBGE, em 2007, mostra que o Brasil ocupa 5ª posição no uso da internet. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 32,1 milhões de brasileiros, cerca de 21, 9% da população acima de 10 anos de idade, utilizam a rede mundial de computadores. O número é expressivo e coloca o Brasil como o primeiro país da América Latina e o quinto no mundo. Se for levado em consideração o número de internautas em relação à população do país, a situação muda um pouco. O Brasil cai para a 62ª posição, sendo ultrapassada pela Costa Rica, Guiana Francesa e Uruguai. Segundo o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações

(Anatel), isso ocorre devido a população de baixa renda não tem poder aquisitivo suficiente para adquirir uma máquina, utilizando somente por algumas horas em lan house ou cyber

café. Mas existe a promessa do governo de desenvolver mecanismos para favorecer a aquisição de computadores e acesso à internet por pessoas de baixa renda.

Na interpretação desse paradoxo – vale lembrar que pesquisa realizada pelo MEC, em 2008, revelou que o Brasil tem cerca de 16 milhões de analfabetos, ou seja, 16.295 milhões de pessoas são incapazes de ler e escrever. E se levado em consideração o conceito de analfabetismo funcional, o número salta para 33 milhões – não pode ser ignorado o fato de que para se comunicar no ciberespaço é necessário dominar a linguagem de acesso a rede (sociossemiose).

Diante desse panorama paradoxal, é importante perceber como a cibercultura é um fenômeno que não pode ser desprezado. E se já movimenta estudos quanto a sua importância, com certeza ainda não foi desvendada todas as suas possibilidades de atuação e de significação social. Nesse sentido, a afirmação de Rüdiger (2004) é conveniente: “a cibercultura é o movimento histórico, a conexão dialética entre sujeito humano e suas expressões tecnológicas, através da qual transformamos o mundo e, assim, nosso próprio modo de ser interior e material em dada direção (cibernética)” (ibid., p.54)